'Quando nada mais importa, descobrimos o valor que damos a cada coisa, a lembrança de um balanço ou de um animal de estimação que nos acompanhou durante grande parte da infância e todos os presentes de Papai Noel, tudo ou qualquer coisa parece ser de extrema importância.
        Sabe, vivi a minha vida inteira empenhada na minha vida profissional, para cuidar do meu trauma de infância. Fui abandonada e esquecida até os dezoito anos num orfanato vendo todos os meus amigos irem sendo adotados, um a um, e eu sempre sobrando. Felizmente, aos 12 anos depois que saí de lá, posso dizer que me tornei uma grande empresária do ramo de comunicação e tecnologia, tenho minha empresa e não dependo de ninguém. Mas trocaria tudo isso por mais 2 anos de vida.
Faz 1 ano e meio que descobri que tenho câncer no coração, ou melhor tumor cardíaco, já está avançado e se espalhou pro fígado e para os rins. Tenho no máximo 20 meses de vida. Mas não pense que sou uma coitadinha, pois não sou. Tenho 1 metro e 80 centímetros, ombros largos e cabelo curto preto com mechas pintadas de loiro. Nunca fui engraçada ou muito alegre, sempre fui séria e fechada, talvez tenha sido esse o porquê de ter passado 17 anos da minha vida largada em um orfanato.
Bem, a partir da notícia do meu câncer, tive que fazer uma escolha, me submeter a passar os últimos meses da minha vida dentro de um hospital fazendo exames experimentais ou ir aproveitar a vida de verdade.
Nesse exato momento estou dentro do meu trailer ao rumo do topo do Monte Everest, a qual deve ser minha última aventura. Faz 19 meses que fui avisada da minha doença, ou da minha salvação para a vida como gosto de chamar, esse é o meu último mês de vida, estou com dor no peito, mas prefiro ignorá-la. Então já sabemos qual a escolha que fiz.
Durante esses 19 meses fiz tudo que vinha na cabeça, viajar para os lugares mais belos do mundo, para contemplar as melhores visões que muitos ignoram. Assisti filmes como Star Wars, porque neles o bem sempre ganha e quis me convencer de que se me tornasse melhor daria certo, mas quando vi meu cabelo cair, desisti de pensar nisso.
Minha alimentação é saudável por recomendação médica, mas passei toda minha vida me alimentando de forma errada, hoje é um alívio ser obrigada a comer bem. Não tenho filhos e nem família, por isso não tenho para quem deixar meu dinheiro, mas quando morrer deixarei tudo para o orfanato onde vivi.
Novamente repito, não sou coitadinha, fui feliz, não por toda a vida, só depois que descobri que tinha câncer. Agradeço ao câncer ele foi meu único amigo porque graças a ele fui feliz.’

O homem terminou de ler e toda a igreja estava em silêncio. Rose morrerá 2 segundos depois de chegar ao topo do Monte Everest, foi encontrado com ela essa carta, a história de como o câncer salvou sua vida.