A New Life in NY ll - We're the lucky ones escrita por Sam


Capítulo 3
Something old, borrowed and blue


Notas iniciais do capítulo

Não tenho nem como me desculpar pela demora do capítulo, mas muitas coisas aconteceram nesses últimos meses e não espero que me perdoem, mas que me entendam.
Também espero que gostem, estou tentando compensar vocês com um longo capítulo (o maior que já escrevi).

Aproveitem!
P.S.: o outfit da Liz está incrível, tenho certeza que irão amar ( http://www.polyvore.com/52_anliny_liz_moms_wedding/set?id=129290308 ). Obrigada, May! Você tem sido a pessoa mais incrível do mundo me aturando nas minhas crises.



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A casa de Michael era incrível. Não muito grande, mas era o que ele podia pagar.

O primeiro cômodo era enorme, a sala ficava acoplada com a cozinha que eram determinadas pelo balcão iluminado por grandes iluminarias penduradas ao teto. Mas ele moveu os sofás para mais perto da TV no canto do lugar para ampliar seu espaço preferido da casa.

O chão era de uma madeira não muito escura, a mobília era parte nova e parte antiga, vários quadros estavam espalhados pelas paredes junto com inúmeras prateleiras repletas de livros, a cozinha era extremamente bem iluminada o que tornava iluminar a sala ao lado desnecessário, o então balcão ficava no meio do lugar e servia como mesa de jantar, havia um outro mais baixo e grande com um fogão junto onde ele cozinhava, vários DVDs estavam espalhados na mesa de centro da sala e algumas almofadas descansavam no chão perto do sofá principal.

Eles começaram a conversar sobre o restaurante e depois sobre o que planejavam sobre seus futuros, aquilo me fez sentir completamente deslocada. Então me levantei pedindo licença para ver o resto do lugar, já que eu era a única que ainda não o conhecia.

Havia um pequeno corredor com uma porta de cada lado com o quarto de Mike e o banheiro, então, virando à esquerda mais uma pequena porta com um quarto de hóspedes, uma dispensa e, no fim do corredor, havia uma pequena varanda com algumas flores e um banco de madeira.

Me apoiei na grade cinza de ferro e encarei Manhattan a minha frente, os carros corriam, as pessoas passavam acompanhadas delas mesmas ou de outras pessoas, algumas conversavam animadamente e as luzes brilhavam ao fundo. Nova York, a cidade onde tudo é possível... O clichê mais verdadeiro que poderia existir.

Não era para ser assim, mas não estava me sentindo do mesmo jeito com eles. E como poderia? Onde eu estava com a cabeça quando achei que tudo seria o mesmo? Eu fui embora e não deveria ter voltado.

Talvez eles não queiram mais ser meus amigos. Talvez eles me odeiem por ter me mudado. Talvez Nova York não era mais a mesma e eu ainda não havia percebido. Talvez eu havia mudado demais ou eles haviam mudado demais. Talvez eu tenha cometido um grande erro indo embora. Talvez eu esteja apenas me enganando, enganando Peter e o meu coração mais uma vez. Talvez...

— Liz? – meu coração saltou mais forte por um segundo e Chuck se aproximou se apoiando no parapeito da varanda.

— Oi – respondi vagamente.

— Já faz algum tempo que você está aqui... Tudo bem?

— Desculpa, não percebi o tempo passar.

— ...

— ...

— Estou feliz por ter voltado, todos nós estamos. Mas parece que você não.

— O quê?

— Você não queria voltar, queria? – aquilo estava, sem dúvidas alguma, estampado em letras bem grandes e iluminadas em minha testa.

— Chuck...

— Escuta, sei que faz tempo... Mas nenhum de nós, em nenhum momento, deixou de ser seu amigo. Se a qualquer hora você precisasse de nós nesses últimos anos, estaríamos lá. Pegaríamos o primeiro voo até a Austrália atrás de você.

Sorri me sentindo culpada:

— Eu sinto muito por não ter estado aqui... Eu não sabia de nada do que aconteceu.

— Está tudo bem.

— Se quiser conversar, eu estou aqui.

Ele assentiu:

— Se você também quiser conversar, eu vou estar aqui... Antes de tudo nós éramos amigos, não éramos? – concordei.

Um vento frio soprou e eu estremeci.

— Ainda não se acostumou com o clima de NY?

— Como se eu já tivesse chegado há um mês- ironizei.

Chuck riu:

— Vamos entrar, o jantar está pronto.

— Vamos.

— Sabe, não precisa nos tratar diferente agora. Ainda somos os mesmos... A Blair ainda briga com o Nate, a Serena ainda dá trabalho ás vezes e eu continuo sendo Chuck Bass.

Nos sentamos ao redor do balcão:

— Senti falta de todos nós juntos – disse afinal. – Quero cada um no casamento, ok?

***

 

— VOCÊS ESTÃO LOUCOS? ESTÁ TUDO ERRADO! – abri os olhos com minha mãe aos gritos.

Respirei fundo, apertei meus olhos para me proteger da luz que atravessava as cortinas e tateei a bagunça de lençóis e colchas ao meu lado até encontrar meu celular.

O tão esperado dia havia chegado: o casamento. Seriam vinte e quatro horas de loucuras e ataques.

Respirei fundo, me levantei com muito esforço, me espreguicei e me arrastei até o banheiro enrolada em um lençol com uma cara de zumbi.

Depois de um longo processo para me tornar alguém apresentável, bocejei mais uma vez, prendi meu cabelo em um coque desarrumado e desci as escadas com um casaco de lã enorme que chegava quase nos meus joelhos e era uma das poucas roupas extremamente quentes que eu tinha naquele momento no meio da bagunça em que minha malas ainda se encontravam.

Ainda não eram nem seis da manhã e a casa já estava de ponta cabeça.

— Anne? O que foi agora?

— Eles entregaram um buquê com oito flores a menos do que sua mãe pediu.

Suspirei e caminhei até onde a noiva estava:

— Bom dia – sussurrei. – Vai dar tudo certo, ok? Não precisa ficar assim.

— Talvez eu devesse desistir. Talvez eu esteja cometendo a maior besteira da minha vida... Estou velha demais para me casar.

— Você não lembra do que o Juiz Conway disse? Você e Julian serão felizes e vão fazer isso dar certo. Agora vamos, precisa relaxar e deixar que Anne e eu, que sou sua madrinha, cuide de tudo.

— Tá bom – ela disse deitando no sofá e afundando a cabeça nas almofadas.

***

 

Peguei minha bolsa com tudo o que eu precisava incluindo um pequeno porta-joias e olhei o relógio na parede, os ponteiros marcavam uma da tarde. Fiz um coque mal formulado no topo da cabeça novamente enquanto corria até o elevador, já era para eu estar no Four Seasons.

James havia acabado de estacionar e eu se quer o esperei descer do carro para abrir a porta para mim, não havia tempo para isso. Minha mãe provavelmente estava desesperada naquele quarto de hotel sem mim ou a Anne.

Joguei a bolsa no banco ao lado e enchi uma taça com vinho e logo depois outra. Seria um longo, longo dia. E pensando sobre isso, enquanto olho através da janela, talvez fosse bom que o dia fosse longo, porque eu não tinha a menor a ideia de como seria minha vida no dia seguinte.

Quer dizer, o Julian iria morar conosco? Eu não tive a menor chance de conhecê-lo de verdade nesse tempo que fiquei fora e eu só havia encontrado o filho dele uma única vez. Como poderíamos ser uma família desse jeito? E ainda havia a universidade para me preocupar.

James estacionou e bebi minha última taça de vinho.

“ Boa tarde, Upper East Side!

Hoje é o grande dia, o casamento de Penelope Redford. Quem está animado para a enorme festa no Four Seasons Hotel? Bom, como tudo o que tem como anfitriões pessoas que fazem parte de um seleto e pequeno grupo dentro da elite de Manhattan, são poucos que terão o prazer de se deliciarem com o evento. E é exatamente por isso que eu ainda existo: irei informá-los de cada único detalhe de um dos casamentos mais comentados do ano.

Foram gastos alguns milhões para o casamento, porque como já disse Candace Bushnell: ‘Talvez vinte anos atrás um milhão de dólares pagasse um belo apartamento na Quinta Avenida, mas hoje mal paga uma festa de aniversário’.

E, claro, esses milhões precisam render algumas fofocas. Aguardando ansiosamente, dear L.

Falando na L... Universidade; velhas pessoas de volta em nossas vidas; novas pessoas entrando na família; velhos e novos hábitos, antigas e novas amizades se colidindo... Ás vezes coisas demais se amontoam em um curto espaço de nossas vidas e nem sempre sabemos como lidar com tudo isso, porque ninguém nos ensina como fazê-lo. Do mesmo modo como ninguém nos ensina de que forma devemos lidar com a perda ou com a felicidade, talvez por isso os sentimentos ruins insistam em permanecer mais do que os bons. E justamente por não sabermos como devemos lidar com coisas assim, nos vem aquele sentimento de incerteza, de como será daqui para frente.

Bem, esse é um tópico também sem resposta. Precisamos descobrir por nós mesmos e, na maioria das vezes, é difícil demais enfrentar o futuro por ser tão incerto. E chegar ao momento de nossas vidas em que não conseguimos traçar nosso próprio futuro, é uma das piores sensações que alguém pode ter.

É por isso que adolescentes não enxergam nada de bom em mudanças, existem mudanças em um número muito grande acontecendo e mesmo que hoje tenhamos dezenove e dezoito anos, ainda existem mudanças acontecendo e só queremos que elas parem. Porque, querendo ou não, mudanças são assustadoras.

And who am I? That’s one secret that I’ll never tell.

You know you love me.

Xoxo Gossip Girl.”

***

 

Após muito spray para cabelo, que intoxicaram os pulmões de todos que estavam naquela suíte e da Anne tendo um ataque gravíssimo de tosse por causa disso e eu apavorada abrindo todas as janelas, estávamos todas quase prontas. Faltava ainda colocar o vestido, olhei para ele pendurado na parede e decidi que seria melhor fazer tudo o que tinha para fazer antes de finalmente vesti-lo.

Fui encarregada de me certificar de que estava tudo bem com Julian, se ele precisava de algo, se estava pirando no quarto dele no andar de baixo, se o padrinho dele havia chegado com a gravata, se o filho dele tinha conseguido desembarcar em Nova York a tempo ou se tudo estava dando errado ao mesmo tempo.

Peguei o elevador e desci um andar, procurei pela suíte dele e a encontrei no fim do corredor. Ameacei bater na porta, mas não o fiz. Respirei fundo primeiro, relaxei meus ombros e com a melhor expressão possível estampada em meu rosto bati três vezes.

Logo alguém abriu:

— Olá... Liz, certo?

Assenti:

— E você é Hank, o filho do Julian.

— Olhe só, a Barbie lembra de mim – e ele riu, mas só ele.

— Você e o Michael deveriam parar de me chamar de Barbie – cruzei os braços.

— Desculpe-me então. Deixe eu corrigir a frase – ele tossiu limpando a garganta. – Olhe só, a Princesa Redford se lembra do pobre, humilde e lindo Hank.

— Você é um tapado – disse entredentes passando por ele.

— Aceitarei isso como um elogio vindo de Vossa Alteza.

— Liz! – Julian disse animadamente quando me viu pelo reflexo do espelho em que ajeitava a gola da camisa classicamente branca.

— Oi, Julian. Como está se sentindo?

Ele se virou para mim com um grande sorriso:

— Ansioso, feliz e extremamente animado.

— Resumindo: ele mal consegue respirar – Hank tagarelou despreocupadamente se jogando na poltrona da primeira sala da suíte e pegando uma revista para folheá-la. – Tem algum médico convidado, certo? É capaz do meu pai desmaiar no altar. Precisamos estar prevenidos.

— Engraçadinho você, meu filho. Agora pare de ser mal educado, a Liz está aqui.

— Não se incomode em brigar com o Hank, – disse rápido – só vim ver se está tudo bem ou se precisa de algo.

— Só que se certifique que sua mãe chegará ao altar.

Sorri:

— Claro.

— Liz, eu quero falar com você por um minuto a sós.

— Já entendi minha deixa. Adeus, meus fãs que me amam tanto – e ele fechou a porta jogando beijos no ar.

Ri e me sentei onde antes meu futuro irmão postiço se encontrava.

— Sobre o que você quer conversar? – perguntei.

— Bem... – ele começou – Sei que nós dois nunca tivemos tempo para nos conhecermos de verdade e sinto muito por isso, mas quero que saiba que eu amo a sua mãe. Claro, não deve ser fácil para você me aceitar e não espero que o faça agora, nem mesmo daqui um ano. Só espero que um dia isso aconteça.

Ele se sentou no sofá ao lado:

— E também quero que saiba que não quero tomar o lugar do seu pai.

— Julian, não estive aqui nos últimos anos, mas até onde eu sei você tem sido muito mais presente na vida da minha mãe do que o meu pai conseguiu ser em toda a minha vida – parei de falar por um instante e suspirei. – Sabe, minha família sempre foi muito complicada e diferentes de outras, não estou dizendo que gostaria de mudar algo na minha infância, acredito que tudo o que acontece serve para nos direcionar até algo maior, melhor e que precisa acontecer.

O homem de poucos cabelos escuros e de mais ou menos cinquenta anos me ouvia atentamente:

— E por isso acredito que você e minha mãe serão muito felizes juntos. Meu pai nunca foi muito além disso, ser um pai. Quer dizer, ele nunca foi um amigo, o cara que faz adolescentes passarem vergonha na frente dos colegas ou alguém que pega as chaves do carro e leva as crianças para um passeio. Ele achava que ter o sobrenome dele e pagar a escola e me dar cartão de credito eram mais que o suficiente. Do mesmo jeito ele era com a minha mãe, um marido no papel e só. O Sr. Redford está reformulado agora, mas ninguém nunca vai ser capaz de suprir dezessete anos... E ver como você e o Hank se dão tão bem, como minha mãe me contava nas nossas conversas diárias pelo telefone suas histórias com ele, me faz ter certeza de que ela não poderia escolher ninguém melhor.

Ele sorriu e se levantou para me abraçar:

— Faço o que posso para ser maravilhoso.

Nós dois rimos.

— Sabe, sempre quis ter uma filha. E eu seria o pai mais feliz do mundo se ela fosse tão inteligente, linda, educada, não panaca igual ao Hank, tivesse um coração tão bom e fosse tão pé no chão como você é.

— Não sou tudo isso.

— Sim, você é... Obrigado por essa conversa.

Sorri e me despedi:

— Só mais uma coisa – ele me chamou a atenção antes de eu sair. – Temos a sua benção?

— Só se você me trazer da lua-de-mel em Milão um modelo do último desfile da Dolce & Gabbana.

— E se eu fizer melhor? – ergui uma sobrancelha esperando uma explicação – Eu sou amigo do Stefano...

— Stefano Gabbana? – o interrompi – Aquele Stefano?

— Exatamente. Por isso posso muito bem pedir para ele um modelo exclusivo de qualquer coisa que você quiser. Um vestido talvez?

***

 

Voltei para a suíte do andar de cima e enquanto minha mãe estava distraída peguei minha bolsa, mas o porta-joias não estava lá. Entrei em um pequeno estado de pânico e respirei fundo, respirei fundo, respirei fundo, respirei fundo, respirei fundo...

— Anne! Anne!

— A Anne saiu – uma das mulheres que transformaram o quarto em um spa respondeu.

— E o James não está aqui?

— O de olhos verdes? – assenti – Também saiu.

“Aqueles dois... Respire! Com certeza caiu no banco do carro quando joguei a bolsa. Precisa estar lá.”

Mexi na bolsa da minha mãe, havia comprimidos para dor de cabeça (precisaria de alguns mais tarde), calmantes, aspirinas e... A chave reserva da limo! Peguei-a e olhei o relógio do celular, era quase hora do casamento, precisaria correr. Coisa que não seria nada fácil com os meus sapatos.

Entrei no elevador e desci até o térreo dando de cara com Hank.

— Hey, o que está fazendo aqui em baixo? – ele me interrogou.

— O que você está fazendo aqui em baixo? – retruquei.

— Vim procurar minha namorada. Não é o mesmo que você devia fazer?

— Am? Namorada? Eu não tenho namorada.

— Estou falando que você não deveria estar procurando seu namorado?

Isso me fez lembrar que Peter ainda não havia chegado. Então olhei os convidados entrando e eu precisava ir logo atrás do porta-joias.

— Hm... Hank?

— Sim.

— Se importa se conversarmos depois, estou muito atrasada.

— Percebi – ele falou olhando para os jeans e a camisa de seda branca que eu usava. – Somos os padrinhos, não acho que você deveria chegar lá vestida assim.

— Você vai ser o padrinho do seu pai? Não importa, eu realmente preciso ir.

E sai pela enorme recepção. Mas então me deparei com um cabelo castanho um pouco a minha frente de costas conversando com uma garota, sem dúvidas sua namorada. Era Chuck.

Senti meu coração falhar por um instante e parei atrás de um grande pilar.

— Amy, por favor...

— Você disse que não viria – ela disse nervosa e um pouco magoada. Ao menos acho que aquilo era magoa.

— Eu sei, mas isso foi antes dela convidar todos nós pessoalmente.

— Ela, ela, ela... Sempre é ela. Estou me cansando disso.

Já não sabia mais definir pelo tom da voz se era magoa, raiva ou... Ou ciúmes.

— Quem é ela? – eu literalmente pulei e sem querer atingir minha mão no dono da voz.

— Hank! – sussurrei extremamente brava.

— Elizabeth! É feio bater nos outros.

— Fique quieto!

— Desde quando você ouve a conversa dos outros?

— Desde sempre, assim como você. – respondi colocando a mão em sua boca.

Voltei a me concentrar neles, mas havia um silencio. Talvez ela tivesse ido embora, talvez estivessem... Não, que coisa horrível de se fazer. Se beijar, que grande absurdo.

Arrisquei olhar além do pilar e ela estava com a cabeça baixa enquanto ele passava a mão por seu cabelo. Então Amy levantou os olhos e pude vê-la, finalmente pude saber como ela era e... E...

Meu coração falhou mais uma vez e uma angustia misturada com raiva, desprezo e um calor horrível tomou meu corpo.

Não, definitivamente não. Não dava para acreditar. Não era ela, não podia ser.

Minha mão caiu da boca de Hank e me segurei apoiei no enorme pilar para não cair.

— Agora você precisa ir, se não perderá o voo para ver seus pais. – Nesse ponto eu nem prestava mais atenção neles.

— Olá – ouvi uma voz familiar que me fez voltar a escutar.

— Boa noite – Chuck e aquela garota responderam.

— Vocês sabem em que andar será...

— O casamento?

— Isso. Eu perguntaria para a recepcionista ou para uma das pessoas que estão trabalhando lá fora, mas está uma confusão enorme.

— Entendo. É só pegar qualquer elevador e mostrar o seu convite para o ascensorista que ali estiver, ele te levará até o andar correto – Chuck explicou muito gentilmente.

— Obrigado – agradeceu a voz familiar.

— Não há de quê...

— Peter. Peter Cranwell. É um prazer – a voz respondeu.

Senti meu estomago revirar, eu poderia morrer ali e naquele exato instante que não faria diferença.

— Chuck Bass... – ouve um silencio – E essa é a minha namorada, Amy.

Eles se cumprimentaram.

O clima estava tão pesado que eu poderia tentar cortá-lo com um machado e ainda assim não conseguiria.

Mas nada me preparou para o que ainda aconteceria.

Vi Peter andar em nossa direção e em uma fração de segundos arrastei desesperadamente Hank até um elevador que estava ocupado, olhei os outros e também estavam ocupados.

— Tudo isso está realmente acontecendo?

— Acho que sim – ele respondeu.

— Foi uma pergunta retorica!

— Liz? – Peter me chamou e imediatamente fingi que havia acabado de sair do elevador.

Engoli em seco, coloquei um sorriso em meu rosto, o melhor que pude e me voltei para ele:

— Oi, Peter! Que surpresa.

— Surpresa? Você sabia que eu viria.

— Claro, claro.

— O que está fazendo aqui em baixo?

— Eu esqueci... Esqueci algo no carro, o Hank estava indo comigo buscar. Não é mesmo, Hank?

— Claro, claro – o fiz concordar e o apito do elevador se abrindo se fez ser ouvido

— Mas agora deixa para lá, vamos subir.

Entramos e...

— Ah, olá de novo – Chuck balbuciou meio sem graça.

— Vocês se conhecem? Ah, ótimo. Isso despensa apresentações.

— É, nós nos encontramos perto da entrada... – C começou a explicar, mas o cortei.

— Hm... Na verdade, eu realmente preciso ir no carro buscar algo. Vejo vocês depois.

— Eu vou com você, Liz.

Olhei para Hank agradecendo.

— Não precisa, eu vou – Peter disse saindo do elevador.

— Eu também vou.

Lancei um olhar reprovador para o Chuck.

— Acho que já vai muita gente, eu vou subir e ver se meu pai precisa de algo. Ah, aproposito eu sou Hank Westmore, é um prazer conhecer vocês, “cunhado” e “não cunhado”.

Eles se cumprimentaram e fomos nós três até a limousime enquanto Hank ria consigo mesmo.

Viramos a esquina e meu celular tocou, uma mensagem.

“E só para esclarecer a minha piada: o meu ‘cunhado’ é o tal Bass, não o tal Cranwell. Eu sei que quando aquela garota disse ‘ela’ estava se referindo a você e, sinceramente, você ficou bem abalada com tudo isso. Se quiser conversar, eu e o Mike estamos aqui, principalmente se quiser que batamos em algum babaca (é o nosso dever como irmãos mais velhos).

Hank.”

“Só tenho algo a dizer sobre isso: você é só alguns meses mais velho do que eu! No máximo sete meses, provavelmente menos. Portanto isso não conta.

P.S.: E se eu quiser que vocês batam em uma garota?

Liz.”

— Algo importante? – C me questionou.

— Não – respondi imediatamente.

Chegamos na limo, peguei a chave e a abri.

— Vocês dois ficam aí fora – e entrei para pegar a caixinha e fiquei aliviada ao encontra-la ali.

Estávamos voltando para o hotel e eu não aguentava aquele silencio:

— Então... Como estão o Chris, Walter, Amber e todos lá em Sidney?

— Bem, mas com saudades de você – Peter respondeu pegando minha mão.

— Também estou com saudades.

— Eles disseram que virão te visitar assim que conseguirem.

— Sério? – falei animada – Conversarei com eles depois para vermos um dia e todos vocês podem ficar em casa, já que minha mãe e Julian estarão em Milão.

Então fiquei quieta, por alguma razão eu sabia que não deveria falar sobre meus amigos da Austrália perto do Chuck. Não eram coisas que eu queria que se misturassem.

— O pessoal veio com você, Chuck? – perguntei, mas voltando a me arrepender.

Peter estava ali e... E eu finalmente percebi que Sidney e New York eram dois mundos, dois mundos completamente diferentes e complexos, não havia como se misturarem. Eram simplesmente insolúveis e heterogêneos.

— O Mike veio comigo, o Nate disse que passaria para buscar a B, o Dan iria vir com a Jenny e S daria carona para a Megan, Philip não deu certeza se conseguiria chegar a tempo.

— Entendo, a universidade tem ocupado muito o tempo dele, não é?

— Isso e o pai dele.

— O Sr. Collins? Por quê?

— Logo o filho dele se formará e, você sabe, ele quer que o Philip também siga carreira na política...

— Mas o Phil não quer, – o interrompi – ele nunca quis.

— Exatamente.

— Precisamos fazer alguma coisa para ajudá-lo.

— Eu sei, – C concordou – mas o quê?

Não consegui responder porque chegamos ao Four Seasons. Pegamos o elevador, desci no andar que minha mãe estava e os deixei ali para irem até onde o casamento aconteceria.

— Vejo vocês daqui a pouco – e sai andando, porque meus pés não me permitiam correr desesperadamente dali, já estavam doendo por eu ter passado quase o dia todo em pé.

Abri a porta e minha mãe estava ali, simplesmente sendo a noiva mais linda que eu já havia visto em toda a minha vida, simplesmente sendo ela. Sendo a mulher mais encantadora de qualquer lugar que estivesse e eu esqueci de tudo, esqueci de qualquer coisa que estivesse me deixando mal.

— Filha! Por onde você andou? Preciso que fique aqui comigo e...

— Você está linda, exageradamente linda – não deixei-a completar a frase.

Ela desabrochou um grande sorriso:

— Obrigada.

Era um vestido creme, comprido, sem extravagancias, sem tule, sem a aparência de um bolo. Era simples, mostrava suas curvas, havia um decote em coração nada vulgar e lindo, uma discreta fenda do lado direito que mostrava de leve suas pernas e seu maravilhoso sapato presente de Christian Louboutin que o desenhou especialmente para ela.

Os cabelos foram presos em um coque delicado e romântico onde, sobre eles, repousava um acessório também exclusivo feito por Eleanor Waldorf, a mãe da Blair.

— Sabe, toda noiva precisa de algo velho, algo novo, algo emprestado e algo azul – falei como quem não quer nada.

— Liz, estou tão velha para essas coisas.

— Tenho duas coisas a falar sobre isso, a primeiro é: você parece estar com trinta anos. Segunda: você me ouviu? Eu disse toda noiva.

— Já me basta tudo de novo que estou usando.

— Não, não basta – disse pegando a pequena caixinha surrada que havia deixado na mesinha ao falo do sofá quando entrei e a entreguei.

— O que é?

— Abra. – Ela o fez e seus olhos se encheram de lágrimas.

— É o colar que minha mãe te deu...

— No último dia que a vimos antes de partir.

— Ah, querida – ela suspirou. – Não acredito que guardou isso por tanto tempo.

— Foi para dar sorte e quero que use-o hoje.

Minha mãe riu:

— Algo velho, emprestado e azul – conseguiu falar enquanto segurava as lágrimas e passava um dos dedos pela pequena pedra azul clara rodeada por três fileiras de minúsculos diamantes. – Sinto falta dos seus avós.

— Também sinto – e a abracei.

— Seu vestido poderia ser mais apertado, minha mãe diria.

— E seu decote poderia ser maior.

Rimos juntos.

— Estou com tanto medo, Liz – sua expressão em um segundo ficou séria.

— Medo de quê?

— De estar cometendo um grande erro me casando de novo... Sua avó disse que seu pai e eu nunca daríamos certos, que nos divorciaríamos em quatro anos e você sabe que aconteceu exatamente isso.

— Mãe, se a vovó não aprovasse esse casamento, de onde quer ela esteja, teria dado um jeito de impedir. Ela não infernizou a sua vida para não se casar com o papai? – ela assentiu – Pois bem, a conhecendo como nós a conhecíamos, sabemos que ela faria chover hoje, faria o carro do Julian capotar ou qualquer outra coisa, mas ela impediria isso. Porque a vovó está nos protegendo o máximo que ela pode e, ainda assim, você está aqui há apenas alguns minutos de dizer “sim”, não está? – a observei concordar, peguei em suas mãos e olhei em seus olhos. – Você vai ser tão feliz.

***

Me olhei no espelho, arrumei um fio de cabelo que estava fora do lugar, retoquei o meu batom e estava estava pronta.

— Sra. Penelope? – Anne disse abrindo a porta da suíte.

— Sim.

— Já está na hora.

— Pode avisar que já estamos descendo – respondi. – Pronta?

Então ela inclinou a cabeça para o lado e disse sorrindo:

— Como nunca estive antes.

Toda a comitiva formada por um segurança, James, uma maquiadora e um cabelereiro (ambos no caso de emergências) nos acompanharam. Pegamos o elevador até o andar onde se encontrava o salão onde cerimonia seria realizada e o outro salão onde a festa ainda estava sendo preparada.

Os outros entraram primeiro e o segurança junto com James aguardaram do lado de dentro perto da porta fechada.

Olhei para minha mãe e estava extremamente feliz por ela, nenhum problema existia mais pela próxima hora.

Então esperamos juntas a marcha nupcial começar. O toque inicial foi dado, James puxou um dos lados da porta e o segurança puxou o outro. Com um pequeno buque na mão respirei fundo e entrei primeiro, o corredor não era tão longo e agradeci mentalmente por isso. Me posicionei no altar ao lado do juiz e minha mãe entrou.

Pude ver os olhos de Julian brilhando e sentir um suspiro de admiração emanar da plateia pela noiva mais linda que eles já haviam visto.

Então dei meu buque para Anne para que pudesse segurar o de minha mãe no altar.

Olhei para o lado, não sabia quem era o padrinho do meu novo padrasto e ele olhava para mim:

— Olá – ele disse com os lábios.

Estreitei os olhos:

— Você? Você não me disse seria o padrinho.

— O que é que tem? – Hank deu de ombros.

— Tanto faz – revirei os olhos.

— O meu cunhado está aí – e apontou com os olhos para Chuck.

— Cala a boca!

O juiz tossiu para limpar a garganta e começar a falar e isso nos fez voltar a prestar atenção no casamento.

— Estamos aqui esta noite...

Aquela garota, por que C estava namorandp aquela garota?

— ... esse lindo casal, Penelope Redford e Julian Westmore. – Olhei para Hank quase tão distraído quanto eu.

Resolvi parar de pensar naquilo e começar a ouvir o que o juiz falava.

— ... Eu e Julian somos amigos há mais tempo do que eu aparento ter de idade - a plateia deu uma curta risada -, ele esteve lá para mim nos piores e melhores momentos da minha vida, por isso não tenho como dizer o quanto fiquei honrado quando ele e Penelope, uma das pessoas mais encantadoras que já tive o prazer de conhecer, me pediram para fazer parte de algo tão importante para os dois. Mas eu nunca fui bom com palavras, por isso não sabia o que diria aqui hoje. Então, depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que precisavam ser as minhas mais sinceras palavras, apenas isso; elas não precisavam ser emocionantes, não precisavam ser extremamente felizes ou qualquer outra coisa. Apenas sinceras.

Ele respirou por um momento e continuou:

— Sabem, eu caso jovens casais o tempo todo, na maioria das vezes eles acabaram de completar vinte e um anos ou nem isso. Mas eles são crianças, acham que sabem de tudo e, na verdade, não sabem nada. Então, a única coisa que eu faço é me preocupar com eles e não ficar feliz por eles; estão tentando ser adultos e quebrando a cara. Entretanto hoje, especialmente hoje, eu não estou nenhum pouco preocupado com vocês. A verdade é que eu os admiro tanto por casarem agora, vocês já tiveram suas vidas, aprenderam e erraram, tropeçaram e se levantaram, souberam esperar... Estou dizendo tudo isso porque para fazer um casamento dar certo é preciso apoiar um ao outro, saber ouvir e entender, serem capazes de pararem e lembrarem o quanto se amam quando tudo o que os cercam parece estar desmoronando e juntos conseguirem atravessar qualquer coisa. Só que jovens casais não conseguem fazer nada disso, eles vivem em um mundo de sonhos, onde tudo precisa ser perfeito e maravilhoso, se não eles apenas desistem. E fazem isso por não entenderem, são inexperientes demais e nada ainda os machucou de verdade. Então se eu os admiro tanto, é porque sei que vocês serão capazes de fazer este casamento dar certo e que saberão como serem felizes.

Vi Chuck olhar para mim enquanto o juiz fazia seu discurso e eu tentei não retribuir olhar, por mais que eu tenha quase certeza de que falhara na missão.

Hank tirou as alianças do bolso e as entregou ao seu pai.

— Penelope, você aceita se casar com Julian Westmore?

— Sim – ela respondeu mais feliz do que nunca colocando a aliança do dedo dele.

— Julia, você aceita se casar com Penelope Redford?

— Sim. – Pegou a aliança de ouro branco e com um lindo diamante e a colocou no dedo de sua agora esposa sussurrando – Não acredito que demoramos tanto para fazer isso.

— Então com o poder investido em mim, eu os declaro marido e mulher.

Eles se beijaram, o primeiro beijo depois de casados. A plateia se levantou aplaudindo e eu sorri encontrando meus olhos com os de Chuck que se sentara na segunda fileira.

Os papeis foram assinados, as fotos tiradas e me preparei para sair do salão acompanhada de Hank logo atrás de minha mãe e Julian.

Meu agora irmão estendeu o braço para mim e caminhamos pelo corredor coberto por um longo tapete vermelho:

— Está bem? – ele cochichou em meu ouvido.

— Sim, por que não estaria? – respondi confusa.

— Por causa do que aconteceu lá embaixo.

— Ah... – consegui pronunciar me lembrando de tudo o que eu havia conseguido esquecer por alguns minutos. – Se importa se eu não quiser falar sobre isso?

— Não... Mas se quiser conversar, é só ligar.

***

— Não sei como lembrou das alianças – falei só para provocá-lo.

— Como se eu fosse o mais irresponsável da família.

— O que você quer dizer com isso, Hank? – disse brava.

— Nada.

— Hey! – Nate cantarolou alegremente se aproximando da mesa onde apenas eu, Hank e Peter estávamos sentados.

— Nate! – me levantei para abraça-lo e logo atrás estavam Blair, Serena, Dan, Jenny, Megan e Michael – Estou muito feliz por todos vocês terem vindo.

Então eles se espelharam pela grande mesa redonda com uma toalha branca, várias taças, alguns pratos e talheres e um pequeno arranjo no centro.

— Peter – chamei sua atenção –, esta é a Blair e o namorado dela, Nate. Esta é Serena e o namorado dela, Dan. Jenny, irmã do Dan e... Bom, você já conhece o Michael e a Megan.

Ele cumprimentou todos.

— Onde está o Philip? – perguntou a Megan.

— Ele vai chegar daqui a pouco, espero – a ouvi responder desanimada.

A decoração estava impecável, uma mesa de frios quase dava a volta no lugar, haviam flores de variados tons espalhadas por todo o lugar e a luz baixa deixava o grande salão mais aconchegante.

Olhei em volta e não o vi, talvez ele tivesse ido embora. Não o culparia se o tivesse.

— Já volto, Pepe. – Dei um pequeno beijo em Peter rindo, havia acabado de dar um enorme motivo para Hank e Michael se ocuparem o resto da noite zoando Peter por causa desse apelido.

— Você me paga – ele sussurrou em meu ouvido.

— Hoje à noite em casa?

Não o esperei responder e fui até o bar. Eu precisava beber para fingir que estava tudo bem.

— Olá – disse para um garçom que voltava para o bar com uma bandeja vazia. – Está vendo aquela mesa ali? – apontei para onde estava sentada e ele assentiu. – Bom, eu estarei lá na maior parte do tempo. Eu te pago mil dólares se você me manter sempre com o copo cheio o resto da noite.

Abri minha bolsa e tirei o dinheiro, claro que isso levou embora todo o dinheiro vivo que eu tinha comigo, mas o que eu podia fazer? Era uma questão de vida ou morte.

O garçom pegou o dinheiro:

— Será um enorme prazer servi-la esta noite, senhorita...

— Liz.

— Certo – ele concordou pegando uma taça de champanhe para mim. – A senhorita pode me chamar de Will.

— Obrigada.

— Liz? – achei que ele havia ido embora.

Me virei:

— Chuck! Por que você não se sentou lá com todo mundo? – perguntei me aproximando.

— Acho que não sou bem vindo por todos naquela mesa.

— Está falando do Hank? Ah, ele adorou você.

Bebi toda a taça de uma vez.

— Você sabe que eu não estou falando do Hank.

— Srta. Liz – Will me estendeu outra taça e sorri agradecendo. – O senhor gostaria de beber algo?

— Vodka talvez seja uma boa ideia.

O encarei:

— Vodka nunca é uma boa ideia, Bass.

Ele riu:

— Talvez o Peter também não seja.

— O quê?

C apenas deu de ombros e eu revirei os olhos:

— Talvez a Amy também não seja uma boa ideia.

Isso o fez arquear uma das sobrancelhas.

Bebi o champanhe e o garçom voltou com a bebida de Chuck.

— Will – chamei-o –, me traga algo mais forte que isso. – Entreguei a taça em sua mão.

— Talvez esteja bebendo muito, Redford.

— Eu nem comecei, Bass.

Ele me encarou:

— Você está bem?

— Por que não estaria?

— Não foi isso o que eu perguntei.

— Bom, eu posso ser muitas coisas, mas não sou surda. Minha resposta foi muito clara a sua pergunta.

Will voltou novamente, desta vez com um copo de cerveja.

— Will, eu não tenho certeza se cerveja é exatamente muito mais forte do que champanhe. Mas definitivamente não era o que eu tinha mente.

— Sinto muito, Srta. Liz. Esse é o copo errado.

Ele colocou o copo novamente na bandeja e me entregou um com whisky e foi embora.

— Por que está agindo assim?

— Agindo como? – eu amava como ele ainda se estressava quando o respondia com outra pergunta.

— Agindo assim. Essa não é a minha Liz.

Parei por um instante e voltei a fitá-lo:

— Dois anos. Posso ter mudado nesse tempo, já pensou nisso?

— Não, porque você não mudou.

— Dois anos – repeti.

— Não importa.

— Eu sempre bebi, nós sempre brigamos... É, acho que nada mudou.

Tentei ir embora, mas ele me segurou pelo pulso:

— Você não bebe um monte à toa.

— Você não me conhece tão bem quanto acha.

— Ah, sério? A primeira vez que você bebeu para valer foi quando seu pai sofreu aquele acidente, então você bebeu de novo e tomou remédios fortíssimos e ficou louco só porque você não queria largar o Philip...

— Ok, já entendi. Talvez tenha algo acontecendo, mas não importa.

— Por que não importa?

— Porque eu não quero lidar com isso agora. Talvez amanhã ou depois, mas não agora.

Peguei meu copo para voltar à mesa:

— Você não vem?

— Já disse...

— Qualquer coisa mande o Peter se ferrar – Chuck estreitou os olhos. – Você é meu amigo, não é? – ele assentiu – Então meu namorado vai ter que te aguentar. Agora vamos.

E o puxei pelo braço.

***

— Obrigada, Will.

Provavelmente aquela era a quinta vez que eu falava isso em uma hora, só não falara mais por causa do Peter.

Eu não gosto que você beba tanto, ele disse.

Quem liga? Eu pensei.

Então o fiz beber também, mas ele simplesmente bebida uma taça de champanhe ou vinha a cada meia hora enquanto Chuck se sentou na cadeira a minha direita e virava um copo a cada cinco minutos. Então essa era a minha situação: meu namorado, eu, meu ex-namorado, meus irmãos do lado e meus amigos. Sendo que metade daquela mesa estava bêbada.

Serena estava bêbado porque, bom, é a Serena; Megan estava triste por Philip não ter aparecido; Chuck porque ele é, bem, o Chuck; Hank por ter brigado com a namorada e a Jenny simplesmente porque ela quis beber.

O jantar já havia sido servido há algum tempo e logo os noivos cortariam o bolo, haveria a valsa, mais música e eu estava a um passo de aceitar ficar ali até amanhecer. Mas uma dor de cabeça estava ameaçando piorar cada vez mais.

Entretanto permaneceria ali até o fim da valsa e foi o que eu fiz.

A última nota foi tocada pela banda que estava ali e minha cabeça começou a explodir, eu precisava tomar algo. Lembrei dos remédios na bolsa da minha mãe e decidi ir até o quarto. Disse a todos que voltaria logo e com um pouco de dificuldade causada pelas pessoas no meu caminho, chequei até o corredor para pegar o elevador.

As portas se abriram e me dirigi até a suíte onde havíamos nos arrumado. Eu não estava cambaleando ou parecendo um hipopótamo em cima de uma bola, mas minha cabeça estava girando, meu estomago se encontrava em um estado “já estive melhor”, eu tinha certeza que o meu bafo estava horrível e minha visão ameaçava falhar ás vezes.

Entrei no quarto a procura da bolsa, estava em uma cadeira perto da cama, fucei e fucei, haviam muito remédios ali. Mas o comprimido para dor de cabeça era o do potinho laranja, tinha que ser o do potinho laranja, me lembro de algo sobre um potinho laranja... Tomei um com o resto de agua que havia deixado ali antes de sair. Minha cabeça latejou e decidi tomar mais um. Comprimidos para dor de cabeça não podiam fazer mal, certo? Então tomei outro.

Olhei para a cama e decidi me sentar um pouco, então tudo ao meu redor começou a girar e me deitei.

Respirei fundo, ficar ali por cinco minutos não faria mal.

“Amy, Amy, Amy... Eu conheço aquela garota. Eu acho que conheço. Eu não tenho mais tanta certeza. Talvez seja ela. Talvez não seja. Mesmo se for...”

— Liz? Liz, você está aqui? Elizabeth!

— É Liz – balbuciei me virando para o outro lado na cama e me encolhendo de frio.

Fosse quem fosse, deu um suspiro de alivio:

— Todo esse tempo você estava aqui? – a voz perguntou.

Então com algum esforço abri meus olhos:

— Chuck... O que você está fazendo aqui?

— Procurando você. O que você está fazendo aqui?

— Eu estava com dor de cabeça e – comecei a explicar enquanto me sentava na beirada da cama – vim aqui tomar algo. Mas acho que não adiantou.

— Por quê?

— Porque eu ainda estou com dor de cabeça, seu idiota – falei como se fosse a coisa mais óbvia de todo o universo.

— Você sabia que faz mais meia hora desde que você subiu aqui para tomar o remédio para dor de cabeça?

— Claro que não, faz uns cinco minutos que eu subi – disse colocando a mão na minha cabeça.

— Não, faz mais de meia hora.

Olhei o relógio digital no criado-mudo:

— É, você tem razão – respondi baixinho.

— Você está bem, L?

— É claro que não! Como você acha que estaria bem? – explodi ficando de pé. – Agora eu tenho um padrasto, um irmão que eu mal conheço...

— Mas eles são legais, não são? – ele perguntou franzindo o cenho.

— Não me interrompe! – gritei sem me importar com a minha cabeça.

— Desculpe.

— Não, não desculpo. E sim, eles são legais. Mas não muda em nada.

— Por quê? – estreitei meus olhos nervosa. – Pode continuar.

— Bom, fora isso, tem você e o Peter dividindo o mesmo lugar e respirando mesmo ar, o quanto esses sapatos machucam o meu pé, você e a sua namorada, a faculdade, as chances que existem do meu namorado querer vir mais vezes pra Nova York e isso não é algo que eu queira que aconteça, eu sinto que o meu cabelo está um desastre, eu bebi tanto que provavelmente vou precisar trocar de fígado e depois três comprimidos minha cabeça continua doendo! – parei para respirar. Então não, eu não estou bem.

— Obrigado por ser sincera. Vou ligar para o Mike e dizer onde você está.

Então minha cabeça latejou novamente. Com muita calma, me levantei da cama e sentei no chão.

Chuck voltou e ele me olhou cuidadosamente enquanto eu o encarava com a mão na cabeça.

— Tenho várias perguntas, mas me contentarei em fazer apenas duas – ele disse com calma. – Primeira e inevitável: por que diabos você está no chão e não na cama ou em qualquer lugar que pessoas normas se sentam?

— Eu estava escorregando da cama.

— E...

— E como eu iria parar no chão uma hora ou outra, eu decidi ir direto ao ponto.

— Ok... Segunda pergunta: você tem certeza que você tomou o remédio para dor de cabeça?

— Sim. Quer dizer, acho que sim.

Ele olhou em volta e foi até o potinho laranja que eu deixara fora da bolsa:

— Serio, Liz? De novo? – sua voz parecia preocupada.

— O que de novo?

— Calmantes. Aquilo eram calmantes.

— Ah, – disse me lembrando – os potinhos laranja são os de calmantes. Agora eu me lembro.

E comecei a rir enquanto C se sentava ao meu lado no chão:

— Parece que eles vão demorar um pouco para chegar aqui... Sabe, eu encontrei o Channing algumas semanas atrás. Ele estava em Manhattan a trabalho e se hospedou no Empire.

— O Channing? O Channing que eu beijei? – perguntei toda animada batendo palmas o que o fez rir.

— Esse mesmo. Ele perguntou de você. Perguntou como você estava, se estávamos juntos...

— O que você respondeu?

Chuck’s POV

—x-

Flashback on

— Primeiro me pede para trair a minha mulher e depois nem olha na minha cara – ouvi alguém atrás de mim rindo.

Me virei e ri junto ao ver quem era.

— Channing, eu expliquei a situação a sua mulher e obtive permissão da mesma por aquele beijo.

— Não importa, a sorte foi toda minha aquela noite no baile.

— Você que se engana – respondi passando por ele e dando soco em seu braço.

— Ah, então eu fiz você levá-la pro seu quarto? Acho que isso não é justo, Bass.

— Não, digamos que nós já éramos mais que amigos naquela época. Mas você me ajudou a fazer ela terminar com o namorado. Portanto obrigado.

— Agora eu sou um destruidor de corações?

— Digamos que sim.

— Acho que você precisará me pagar uma bebida depois dessa notícia.

Ri:

— Vamos. O bar do hotel é um dos melhores que tem.

Caminhamos até lá e nos sentamos em uma mesa.

— Então, - ele começou a dizer – como ela está? Liz, certo?

— Am... Eu acho que ela está bem – respondi chamando alguém para nos atender.

— Acha? Vocês não estão juntos?

— O que os senhores desejam? - um homem com uma roupa preta nos perguntou.

— Whisky – respondi sem pensar.

— O mesmo.

— Am... Não, nós não estamos juntos.

— Mas você ainda está totalmente apaixonado por ela, não está?

Passei os dedos pelo cabelo sorrindo ao me lembrar dela:

— E tem como esquecer alguém como ela?

Flashback off

—x-

Omiti certas partes por motivos óbvios ao contar para ela.

— Eu adoro o Channing! Ele é tão lindo e gostoso – Liz começou a falar olhando para o ar.

— Eu também sou – a interrompi.

— Claro que é – e me deu um soco de leve como se todo mundo soubesse disso.

— Então eu ainda sou gostoso para você? – decidi abusar um pouco da sorte.

— Am... Mais do que você era dois anos atrás.

— É mesmo? – segurei um sorriso.

— É mesmo.

— Então você me acha mais gostoso do que o Tatum?

— Hm... Acho.

— Eu adoro o quanto você fica sincera quando se droga – ela riu. – Você está linda hoje, especialmente linda.

Isso a fez olhar para mim e inclinar a cabeça:

— Isso é incrivelmente obvio e verdadeiro.

Ela pegou em uma das minhas mãos e meu coração acelerou, como eu odiava ainda sentir algo por ela.

— Hm... Você ama a sua namorada? – a pergunta me pegou de surpresa.

Que facilidade que essa garota tem de mudar de assunto ou de simplesmente ir embora quando estamos conversando.

— Am... É, eu acho. – Tentei responder no mesmo tom despreocupado que a pergunta havia sido feita.

Cocei minha testa confuso com onde ela estava querendo chegar.

— Você ama o Peter?

— Que pergunta idiota – L revirou os olhos.

Então ela me aproximou de mim e eu me inclinei para beijá-la sem pensar ao menos uma única vez. E, de repente, não havia Amy ou Peter, eu não me importava se era errado, se alguém podia nos pegar... Era ela ali e eu estava a beijando, era tudo o que importava.

— Opa, não queria interromper. Da próxima vez seria legal trancar a porta ou... Talvez eu devesse bater na porta.

— Cala a boca, Nathaniel – Blair disse o repreendendo.

Então eu percebi que todos estavam ali nos olhando.

— Eu não queria estragar o momento, mas o Peter está subindo – Dan se pronunciou e mordeu os lábios.

Me levantei em um pulo e ajudei Liz a ficar de pé.

— Você está aí! – Peter entrou no quarto – O que aconteceu?

— A L está com dor de cabeça e ela veio aqui tomar algum remédio para melhorar. Mas ela se confundiu e tomou os calmantes da mãe dela. Então, acho que seria bom leva-la para casa e talvez...

— Eu não preciso da sua ajuda – ele me interrompeu.

— O quê?

Eu iria bater nesse cara.

— Ela é minha namorada, eu posso cuidar dela sozinho.

— Escuta aqui... – comecei, mas Serena me interrompeu.

— Peter, nós podemos te ajudar a cuidar dela, ok? Não é a primeira vez que isso acontece, você não precisa...

— Eu vou levá-la para casa. Agradeço por vocês se oferecerem, mas...

— Não, Patrick – Blair passou na frente de todos e ficou de cara com ele. – A Serena é muito educada, pelo menos a maior parte do tempo ela é, e acho que ela pode ter te passado a ideia errada. Enfim, a questão aqui é que não estamos nos oferecendo para cuidar da Liz, estamos dizendo que iremos cuidar da Liz. Eu não dou a mínima se ela é sua namorada, há quanto tempo vocês se conhecem ou o que aconteceu lá onde os cangurus moram.

Ele abriu a boca para falar, mas B não deixou:

— A única coisa que importa a mim, a S, ao C e ao meu namorado é que ela ainda é uma de nós, e quando um de nós precisa de ajuda, nem mesmo Grace Kelly nos impediria, quem dirá você. E está vendo esses outros cinco aqui? – ela apontou para Dan, Jenny, Michael, Hank e Megan. – Eles também se importam igualmente com ela, portanto saia da minha frente. Porque eu não sei como eram as coisas lá na casa dos cangurus, mas aqui nós somos a família dela.

***

Peter’s POV

Olhei o relógio do celular. Eram 6h47min da manhã.

Cocei meus olhos e me espreguicei, ela ainda estava dormindo na cama. Me levantei de onde havia passado a noite, uma poltrona enorme branca com muitas almofadas azuis e roxas por cima para combinar com a decoração.

O quarto dela era enorme, o apartamento em si era enorme para um apartamento. Havia uma porta de dois metros de largura para o closet dela que eu tive até medo de entrar e a casa toda era extrema e impecavelmente decorada.

Respirei fundo, ela estava de volta à onde ela pertencia, a vida perfeita dela na casa da Barbie dela.

Eu não estava nenhum pouco feliz por ela ter voltado para Nova York.

—x-

Flashback on

Peguei-a no colo e subi as escadas sozinho com ela enquanto os outros procuravam o telefone do médico.

— Chuck, é você? - Liz me perguntou meio tonta e com os olhos fechados.

— Como? – achei ter ouvido errado.

Abri a porta que eles me indicaram, segunda à esquerda, e coloquei-a na cama. As luzes estavam baixas, apenas a luz vinda do corredor iluminava o quarto inteiro.

— Chuck... Sinto muito belo beijo, não deveria ter acontecido. Foi errado.

Flashback off

—x-

Desci até a cozinha com cuidado para não acordar ninguém e peguei um copo de agua. Me sentei em um banco apoiando meus cotovelos no balcão.

— Oi – uma voz disse baixinho.

— Blair, certo?

— Eu não queria ter gritado com você lá no hotel.

— Você queria sim.

Ela riu:

— Você tem razão, eu queria. Ainda assim, espero que não esteja bravo comigo.

Ela se sentou na minha frente e continuou:

— Sabe, quando nós estávamos na escola, criamos algo chamado NJBC e sempre, desde que eu me lembre, era só eu, a Serena, o Nate e o Chuck, nós nunca permitimos que mais ninguém entrasse no nosso grupo. Então a Liz chegou e as coisas mudaram.

Blair suspirou e olhou em meus olhos:

— Ainda hoje, apenas nós cinco fazemos parte do NJBC e isso significa que não importa onde qualquer um de nós esteja ou seja qual for o problema que um de nós esteja passando, iremos ajudar sem julgar. Porque não existe nada pior que possamos fazer que os outros quatro também não tenham feito e não será Coco Chanel, você ou dois anos que mudarão isso.

Liz’s POV

Abri os olhos e Peter estava ali com uma xicara de café.

— Bom dia – disse com dificuldade.

— Bom dia.

Minha cabeça ainda doía um pouco, olhei o relógio e eram nove horas.

— Como está se sentindo? – ele me perguntou.

— Um pouco enjoada, mas nada demais.

— Você me deixou preocupado, deixou todos preocupados.

— Desculpe – respondi me lembrando de coisas que eu preferia não me lembrar.

— Precisamos conversar, Liz.

— Agora, Peter?

— Agora, porque em duas horas eu preciso estar no aeroporto.

— Aeroporto? Por quê? Você disse que ficaria uma semana aqui – falei confusa.

— Não consigo ficar uma semana aqui.

— O que aconteceu?

— Antes de você vir para cá, não sei se você lembra, eu te prometi não acreditar em nada que eu ouvisse sobre você, a não ser que saísse da sua boca.

— Claro que me lembro.

— Então se qualquer um tivesse me dito que você beijou Chuck Bass, eu não acreditaria.

Parei por um momento para pensar:

— Não foi o Chuck que me trouxe para o quarto ontem. Foi você, não foi? – ele concordou. – Sinto muito.


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Notas finais do capítulo

Comentem...
Good Luck.
— xx Sam.



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