Talvez o céu seja mais azul amanhã escrita por liza H


Capítulo 6
Pesadelo


Notas iniciais do capítulo

A cada capitulo Louise está aprendendo mais
espero que também estejamos aprendendo com ela ;)



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Acho que é verão, as enfermeiras estão mais bronzeadas por esses dias.

Já fiz outra troca de quarto e esse aqui é bem menos silencioso. O que eu acho ótimo. Talvez devesse mostrar ao doutor que eu já estou falando alguma coisa, afinal, ele tem me feito visitas diárias e está visivelmente muito entusiasmado com minha recuperação.

O que me deixa um tanto curiosa é que Marcos não apareceu por aqui, penso se ele está bem, ultimamente ele andava muito cansado.

A enfermeira trouxe um café da manhã, não como nada consistente há muito tempo, e é claro que não demorou pra que eu devolvesse o pouco que comi, acho que é efeito do tratamento.

Essas vitaminas não vão me manter por muito tempo, preciso reaprender a comer.

_Boa tarde mocinha, como estamos hoje? – Perguntou o doutor entrando na sala – já posso ouvir alguma coisa?

Fiz um esforço e lá foi um:

_Melhor.

O doutor ficou uns segundos parado com uma expressão um tanto positiva:

_Ótimo, Já estava na hora de ouvir sua voz.

Ele ficou calado nos minutos seguintes fazendo algumas anotações e lendo a ficha de sempre.

_A senhorita tem que voltar a comer ferinha, se não, não vai ter forças para tagarelar por aqui.

A expressão do Doutor lendo as anotações não era das melhores, me lembrou a mim quando errava equações e encontrava meu erro na segunda de quinze linhas.

Ele foi embora sem dizer nem mais uma palavra, “estranho” pensei comigo mesma, “espero que seja apenas impressão minha”.

À noitinha fiquei um longo tempo tentando me sentar na cama, minhas costas estavam doloridas e eu louca pra me espreguiçar.

Foi quando chegou uma nova garotinha em meu quarto, a enfermeira me deu uma bronca e me ajudou a deitar novamente.

Fiquei observando todo o cuidado que eles tinham com a menina, sempre achei que as crianças ficavam na ala infantil, mas ela não; estava na cama ao lado. Não pude reparar nada além de muitas e muitas faixas enroladas por todo o seu corpo. Ela era miúda, e não pude ver nem mesmo a cor de seus cabelos. Parecia estar dopada, mas mesmo assim gemeu a noite toda enquanto dormia.

Foi assim por mais ou menos três dias, passei horas virada para o seu lado esperando um movimento que fosse, acho que fiquei um tanto traumatizada depois da ultima garota que esteve por perto.

Fiquei tão entretida que nem dei muita atenção as minhas dores ou melhoras.

_Quase te confundi com o lençol - Marcos estava à porta de meu quarto com o braço esquerdo enfaixado- Está tão branca que mal dá pra te ver. Haha.

_Muito engraçado, haha.

_Gostava mais quando você só sorria e fazia caretas. Brincadeira. - ele olhou para a cama ao lado - Quem é a nova paciente? Parece tão pequena! – ele se dirigiu a ela.

_Ainda não sei. – respondi.

_Nossa. - ele olhava para o papel aos pés da cama e franzia o rosto.

Voltou ao lado da minha cama e sussurrou:

_Ela com certeza não está nada bem, por que será que a trouxeram pra cá? São queimaduras muito graves.

_Eu também não entendi, parece ser uma criança, devia estar em outra ala.

_Estranho- disse Marcos alisando a careca. - Mas então, eu trouxe um mp3 você já viu um?

Eu ri:

_Claro, adorava essas coisinhas. Isso já foi febre.

_Acho que estou preso ao passado então, haha.

Ele se sentou e me deu um lado de seu fone para ouvirmos um pouco de música.

Passei o dia todo relembrando minhas canções prediletas, as tardes lá em Minas com meus amigos, tocando violão e comendo batata frita.

Senti tanta falta de lá, deles. “Será que eles também sentem minha falta?”

Não aguentava mais aquelas dores nas costas e me sentei na cama para me espreguiçar. Tinha certeza de que a enfermeira não apareceria por ali nos próximos minutos a não ser é claro que a garotinha tivesse outra crise de dor.

A porta foi se abrindo, era o doutor que estava com sua prancheta embaixo do braço, ele deixou a porta entreaberta e disse:

_Que bom que está acordada. É com você que preciso falar.

Parou ao lado da minha cama e se inclinou à minha altura:

_Chegaram os resultados de seus últimos exames, eu andei analisando e o que eu tenho pra te falar não é muito proveitoso. Você deve ter notado sua dificuldade em se mover e em falar, apesar da sua recuperação nesses meses principalmente depois da ultima cirurgia. - ele virou o rosto por um momento – bom, digamos que de cem por cento o que você conseguiu foi vinte. Essas cirurgias pelas quais você passou podem deixar muitas sequelas, e acredito que pelo menos por um longo tempo esses vinte por cento serão o máximo que você irá conseguir.

Minha barriga congelou, fechei as mãos apertando firme, olhei pros sapatos dele e perguntei:

_Longo tempo, quanto?

_ Talvez meses; anos... Vou movê-la para outra área onde tem mais pacientes, você já pode começar a fazer visitas aos jardins, conhecer mais jovens. Seu tratamento ainda não pode parar, mas irá diminuindo com o tempo.

_Doutor, o senhor acha que eu não vou mais correr, nem fazer mais nada sozinha?

_Lamento Louise, não posso te dizer que não.

Meus olhos se encheram de lágrimas, sentia meu peito queimar.

_Infelizmente você ainda está muito longe de uma alta, mas pense pelo lado positivo, a um tempo atrás você estava em coma, depois imóvel e muda, agora você fala e se move lentamente, está totalmente cociente e não precisa mais ficar tão só.

A garotinha da cama ao lado voltou a gemer, senti as lágrimas escorrem por meu rosto. O doutor se levantou, por um momento podia jurar que vi alguém pela fresta da porta.

_Ela vai ficar bem? – perguntei a ele

_Vou chamar a enfermeira, você não deve ficar mais aqui.

Ele saiu muito rapidamente e em seguida entraram alguns enfermeiros que levaram a garotinha do quarto.

“Eu aqui quase morrendo de tristeza pelo meu estado e a garotinha vivendo de dor com todas aquelas queimaduras. Egoísta, egoísta, tudo o que eu sou nesse momento”.

As enfermeiras me ajudaram em minha troca de ala, andar de cadeiras de rodas ela muito melhor que ficar na cama.

Em meu novo quarto havia mais jovens: uma garota carequinha como Marcos, outra de cabelos bem curtos e bem magra, e por ultimo, uma morena com algum tipo de alergia na pele.

Não conversei com ninguém, ninguém conversou comigo entrei de cabeça meio baixa pedi pra ficar sentada na cama.

Levei as mãos ao rosto apalpando o curativo em volta de minha cabeça e pensava cada vez mais naquela garotinha do quarto, no meu egoísmo e em como seria na minha vida assim.

“Teria sido mais fácil se eu não estivesse mais aqui. Sou uma inútil.”

O que é isso? Alguém me jogou um papel. Desamassei e lá estava escrito:

“Sabe, eu iria aí dentro se pudesse, não que eu não possa, mas acho que minhas visitas terminam aqui. Foi muito bom conhece-la, mas se você quiser me encontrar, estou dois quartos a direita ou na ala infantil. Adoro aqueles pestes ^^ me fazem sorrir.

Abraços, boa sorte.

Marcos."

Guardei o bilhete em baixo do colchão, me deitei e fechei os olhos com muita força, pedindo pra que tudo isso não passasse de um pesadelo.


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Notas finais do capítulo

É, ainda não sabemos porque a pulseira de Marcos é roxa
Egoísmo o dela? Egoísmo o meu que sou saudável reclamo de coisas tão atoas!!!
mal da humanidade rs' :3
acompanhem a Louise galera ^^
obrigada pela força!!!



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