Hoje está me parecendo um dia muito confortável, não tenho notícias de Tia Rosa desde o acidente e não tenho visto ninguém além dos enfermeiros. Já se passou muito tempo e esse tratamento está me rendendo bons frutos, pela manhã consegui cruzar os braços mas agora já está difícil descruza-los novamente, acho que demorei de mais (risos).

_Olá, desculpe a demora.- como era bom ver aquela careca novamente.- Percebi que você não recebe visitas, então eu vim aqui te ver. Ficar o tempo todo só é muito ruim, as pessoas podem pensar de mais.

Ele sorriu e se sentou na cama muito próximo de meus braços, e olhando para eles disse:

_Conseguiu sozinha!? Você está se mexendo?

Eu apenas dei um meio sorriso, foi o suficiente. Ele descruzou os meus braços e ficou alguns segundos pensando. Quando pulou da cama:

_ Dessa vez, eu não vou demorar!

E saiu feito um raio corredor a fora.

Não fico curiosa assim a muito tempo. O que será que Marcos anda fazendo pelas alas do hospital? Acho que ele é meio doido que nem eu (risos).

Mais tarde a enfermeira me trocou de posição disse que ficar o tempo toda meio deitada assim não era tão bom, agora eu podia ver todo o quarto, minha cortina já não estava em volta da cama; só de um lado. O que me aliviava de certa forma.

Tenho tido muitos enjoos, como o Doutor avisou. Espero que isso seja realmente um bom sinal, me sinto tão positivista por esses dias.

A noitinha está caindo e Marcos ainda não apareceu, “esse breve dele é um tanto longo”. Mas ele bem que pode demorar, não vou a lugar nenhum mesmo, não assim.

A porta foi se abrindo de vagarinho, ouvi uns passos e lá estava ele novamente com a mão fechada a altura do rosto

_Trouxe alguns amigos para te ver.

Esticando os dedos um a um lá estavam os desenhos de rostinhos:

_Zé, Zezé, Zezinho, Zézão e esse ainda não tem nome.

Eu ri.

_Ela gostou de vocês rapazes! - Disse ele aos seus dedos, olhou bem pra mim e falou:

_Parece que você esta pegando o jeito. Daqui a pouco vai estar até me batendo (risos).

Virei meus olhos pra baixo e lá estava minha mão no meu colo, mas não me lembrava de ter me esforçado para mexê-la.

Ouvi a porta e quando olhei Marcos já não estava mais lá.

“Adorei a visita, volte sempre”. Era o que eu teria dito se pudesse falar.

Digamos que a noite não foi muito interessante, meu corpo estava muito dolorido e suei muito tive calafrios, e não preguei os olhos por um minuto se quer.

Pela manhã eu peguei no sono, após a visita da enfermeira que me trocou e trocou também meus curativos, esse não era meu dia, acordei no corredor passando para outra sala, e adormeci novamente.

_Está tudo certo? – Disse uma voz de homem a qual eu não estava familiarizada.

_Sim doutor.

Ótimo, ela não demora a acordar, vamos para o próximo.

“Outra cirurgia, mas o que será que aconteceu? Eu estava melhorando, não?”

Levei a mão no rosto e senti uma venda em meus olhos, agora movia minhas mãos com mais facilidade, mesmo assim me cansava, mas porque vendar meus olhos?

Não ouço um sinal de vida há muito tempo, nem a enfermeira. Mas posso bater meus dedos no lençol e pensar numa canção. Estou sentindo cada nervo novamente, posso virar o rosto fechar as mãos levantar a perna, tudo bem lentamente, muito lentamente pra falar a verdade.

_Vamos movê-la agora?

_Sim, ela já está recuperada.

E lá vou eu novamente para outra sala. Senti tanto sono que nem acompanhei nada. Acordei em um quarto, talvez o mesmo de antes com o doutor conversando comigo, no inicio era apenas sussurros, mas logo a voz foi vindo aos meus ouvidos.

_... E quando o dia amanheceu novamente ela não volto... Olha quem está acordando!

Fui abrindo meus olhos lentamente, a luz estava um tanto forte. Lá estava ele o mesmo Doutor de sempre.

_Bom te ver ferinha. Está bem melhor agora né? Pode tocar aqui? Acho que quase né?

–Sss

Eu bem que arrisquei uma palavra, ele riu.

_Talvez mais tarde você consiga dizer que sim! Agora tenho que ir, tenha uma boa tarde.- E lá se foi ele novamente.

Olhei para minha mão direita e a levantei, fechei como Marcos fechou, abri dedo a dedo e sorri.

“Como pode uma pessoa ficar tão feliz só por poder mover os dedos?”

Isso eu não sei, mas eu estou sim muito feliz hoje. Minha cama fica tão longe da janela, a única luz aqui é dessa lâmpada tão branca.

Voltei a bater os dedos no lençol :

–Humhumhum

“Espera ai? Humhumhum... como assim... Haha isso foi sim, eu estou cantarolando. Não acredito!!!”

Passei o resto do dia tentado cantarolar novamente mas não tive muita sorte, uma outra enfermeira apareceu a noite, ela veio aplicar uma injeção no meu soro, dormi feito criança.

_Ei preguiçosa! Hora de abrir esse olhos!

Eu já conhecia essa voz, era Marcos. Abri meus olhos e logo o vi, ele foi se sentando enquanto conversava comigo:

_Foi muito difícil te encontrar de novo sabia? Tem uma senhora no seu antigo quarto. Esse aqui é bem melhor não é? Só duas camas. Como foi a cirurgia?

Fiz um sinal positivo com a mão direita que estava próxima a ele.

Marcos então mudou totalmente sua expressão ficou com cara de curioso:

_O que mais você pode fazer? - Ele perguntou descendo da cama e se inclinando com as mãos sobre os joelhos.

_Ela pode por exemplo, apontar para você sair do quarto e voltar pra o seu mocinho.

Era o doutor que estava sorrindo de braços cruzados, encostado na porta do quarto:

_Agora eu sei por onde você anda, veio plagiar Louise?- ele levantou as sobrancelhas.

_Haha Doutor você é tão engraçado, Louise agora é minha amiga, pelo menos é o que eu acho (risos).

O doutor olhou pra mim e eu fiz um sinal positivo pra ele.

_Eu não devo permitir que você continue a visitando, mas como você é pimenta vai continuar vindo do mesmo jeito. Então você esta se movendo ferinha. O que mais pode fazer?

–Espera ai, - disse Marcos- essa frase é minha!!!

Os dois se olharam e riram, eu ri também.

Aquela com certeza foi a melhor manhã que passei no hospital desde o dia em que acordei ali, pena que passou tão rápido.

No dia seguinte trocaram meus medicamentos. E eu me sentia mais zonza quando a enfermeira chegou. Não sei se eu estava delirando mas posso jurar que chamei ela da Márcia. Pra falar a verdade eu estava bem mal e teria sido difícil que eu falasse qualquer coisa.

Meu corpo pede por um pouco de sol, devo estar mais branca que esses lençóis. Ficava me perguntando por que minha cabeça nunca parava de doer.

Marcos apareceu novamente, foi uma visita muito rápida, ele não parecia muito bem hoje, estava com a respiração pesada como se estivesse muito cansado. Tentei articular algumas palavras, o máximo que consegui foi fazer umas caretas e ele riu. Ao menos valeu a visita.

Finalmente apareceu minha nova companheira de quarto, dessa vez uma senhora de cabelos grisalhos, ela tem um péssimo humor. Nunca torci tanto pela recuperação de alguém antes.

_Ola ferinha- Era o doutor - trouxe algo pra você.

Era uma bolinha parecia de borracha.

_Isso é pra você mastigar, acha que consegue?

Ele colocou em minha boca e eu comecei a mastiga-la.

_Isso vai te ajudar um pouquinho, vou só fazer algumas anotações, rapidinho.

Ele pegou a bola de volta e saiu da sala, “ta né”.

Essa manhã resolvi levantar meu cobertor, estava entediada e aquela velha chata só sabia resmungar e roncar. Foi quando Marcos apareceu:

_Isso não parece muito interessante (risos).

Ele foi entrando como sempre, hoje ele estava meio triste.

_Trocaram a cor da sua pulseira, sabe? Essa cor aqui é bem melhor - ele apontava para o meu pulso - significa que você está se recuperando como o esperado.

Olhei em seu pulso e sua pulseira era roxa, a minha era rosa, nunca tinha reparado isso “o que será que significa a dele?”.

Marcos abaixou a cabeça por um momento, ele ia se virar para ir embora mas segurei sua mão ele me olhou;

_S-s-s siim,

Sua feição mudou completamente, ele deu um largo sorriso.

_Realmente você está melhorando. Mas não se esforce muito.

Ele colocou a mão na cabeça , eu o soltei e sorri, ele também. então se virou e foi embora.