Maga, Bruxa ou Semideusa? - Hiatus escrita por Marina Leal


Capítulo 2
Capítulo 2 - Ganho uma festa surpresa


Notas iniciais do capítulo

aqui está, o segundo cap, que na verdade é o primeiro.



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4 de Abril de 2011, Londres

Olhei para o céu chuvoso com irritação e curiosidade atravessando meu corpo enquanto caminhava apressadamente pela calçada com Linda e Eliza, ou Liz para mim e Linda, uma de cada lado meu, minhas amigas piradas.

– Ei! Calma Nat! – Falou Linda do meu lado direito parecendo preocupada, voltei meu olhar para ela e minha irritação aumentou.

Veja bem, nossos amigos diziam que eu era bonita, mas não era nada comparada à beleza estonteante de Linda, dã, acho que o nome dela já dizia tudo, mesmo com onze anos minha amiga conseguia fazer virar a cabeça de muito marmanjo quando ela passava, mas enfim, Linda era alguns centímetros mais baixa que eu, cabelos pretos lisos e longos, o rosto era maravilhoso, livre de acne e na medida certa entre o anguloso e redondo, e nunca a vi usando maquiagem. A cor dos olhos era de um azul-céu perfeito.

Acredito que nem a roupa que ela estava usando conseguia fazer com que ficasse feia: botas de caminhada, calça jeans e um suéter salmão com uma jaqueta de frio por cima.

Eu achava muito bonito um pequeno colar dourado com um pingente em formato de pombo que ela sempre usava, era um presente que a mãe ausente dela deixou com o pai da Linda para ele entregar à minha amiga quando ela crescesse.

– A Linda está certa, a escola não vai sair do lugar! – Liz falou fungando do meu outro lado e eu olhei para ela. – E a gente não está nem atrasada, Nat. Por que a pressa? É só porque o Peter não pode vir com a gente?

Liz era uma pessoa um tanto desconcertante a princípio, não pela aparência, mas pela forma como tratava você, quer você a conhecesse ou não, a primeira vez que eu conversei com ela na escola foi... interessante, para dizer o mínimo. Ela tinha cabelos ruivos, ondulados e volumosos. Possuía algumas poucas sardas no rosto e estava um tantinho acima do peso, mas mesmo assim tinha vários admiradores e não apenas na nossa turma. Seus olhos eram de um verde-esmeralda muito lindo. Em seu pescoço repousava um amuleto estranho em marfim, parecia um anjo, ou talvez um robô alienígena do mal.

Não respondi.

– Alô? – Chamou novamente a voz de Linda, dessa vez em português, ela sabe que eu não gosto muito do acento britânico nas palavras em inglês, afinal meu pai é norte-americano, se algum dia eu o conhecesse (o que, cá entre nós, eu duvidava muito) gostaria de não achar estranho quando ele falasse algo para mim. – Terra chamando Nat! 1, 2, 3 testando! Câmbio.

– O que foi? – Murmurei e desacelerei o passo, faltava pouco para chegarmos à escola agora.

– Você está estranha. – Decidiu Liz mudando para o português também e parou na minha frente com os braços cruzados, a encarei um pouco surpresa, ela estava vestida de maneira bem parecida a Linda, mas o suéter que ela usava era verde-escuro ao invés de salmão. – Vai, desembucha o que houve.

– Não é nada gente, sério! – Respondi tentando me esquivar do interrogatório. Na verdade estava um tanto chateada com elas por terem esquecido meu aniversário, mas tinha decidido que não ia culpá-las, também estava curiosa para saber o que minha mãe queria me dizer quando chegasse da escola.

As duas se entreolharam rapidamente então olharam para mim e concordaram uma vez com a cabeça. Não houve mais conversa enquanto andávamos os metros restantes até o arco de pedra que ficava bem na frente da escola.

Passamos pelas portas de entrada e reparei que havia muita gente nos corredores, alguns de nossos colegas passaram por nós e nos cumprimentaram rapidamente, incrivelmente todos pareciam ter esquecido meu aniversário, isso estava realmente me deixando deprimida.

Joguei minha mochila de qualquer jeito no meu armário que ficava entre os armários de Liz e Linda, peguei o material que iríamos precisar no primeiro tempo e segui pelo corredor em direção à sala.

Quando parei na frente da porta estranhei muito quando vi a luz da sala apagada. Afinal já estava quase na hora do sinal bater, onde estava o resto do pessoal? Olhei para elas, mas as duas pareciam quase tão preocupadas quanto eu.

– Você na frente Nat. – Falou Liz e sua voz tremeu, ela era uma medrosa.

Olhei para Linda e ergui uma sobrancelha, ela não se assustava tão fácil quanto Liz, mas parecia preocupada com algo, pois seus lábios estavam franzidos e suas sobrancelhas pareciam querer se unir em uma só.

– Primeiro você. – Eu a ouvi murmurar.

Revirei os olhos sem querer mostrar que estava assustada e girei a maçaneta.

A luz foi acesa e eu demorei alguns segundos para processar o que meus olhos estavam vendo. Nossa sala de aula estava irreconhecível, enfeites de aniversário cobriam cada superfície possível, balões coloridos tornavam impossível ver o chão, na mesa da professora estavam dois bolos e pelo formato de cada um eu soube quem os havia feito.

– SURPRESA! – Gritaram meus colegas de classe enquanto eu assimilava toda a cena, em seguida alguns vinham até mim para me parabenizar enquanto outros se serviam de salgadinhos e refrigerante, mas meus olhos buscavam por Linda e Liz enquanto eu sorria e acenava para os meninos e meninas da nossa turma.

Enfim as localizei paradas próximas aos bolos em cima da mesa. Não sabia se ria ou se brigava com elas por terem mentido para mim. Passei a manhã inteira acreditando que elas haviam esquecido meu aniversário quando na verdade as duas haviam preparado uma festa surpresa para mim.

Aproximei-me devagar delas enquanto as fuzilava com o olhar.

– Feliz Aniversário Nat. – Elas falaram juntas com um leve sorriso para mim.

– Eu devia passar o resto do ano letivo sem falar com vocês. – Falei fingindo estar com raiva e elas baixaram os olhos, sem graça, e eu sorri. – Mas eu estaria sendo injusta, já que possuo as melhores amigas do mundo!

Elas olharam para mim e sorriram, nos abraçamos por alguns segundos, então Linda apontou para o bolo em formato de um dos seres mitológicos que ela havia mostrado para mim poucos dias antes: um pégaso cinzento com as asas abertas. Acho que esqueci de dizer, ela era completamente fascinada por mitologia, grega para ser mais específica.

– O que achou Nat? – Ela perguntou e seus olhos azuis brilhavam de curiosidade.

– Está incrível Linda! – Falei sinceramente e a abracei. – Você caprichou nos detalhes, está demais!

– E o meu? – Liz falou ao meu lado, fazendo beicinho e apontando para o outro bolo.

O bolo que Liz havia levado tinha o mesmo formato que o pingente que ela levava no pescoço. E eu tinha que admitir, estava muito bem feito também, a cor estava entre o perolado e o marfim.

– Está lindo Liz, mas o que é esse símbolo? – Perguntei curiosa e olhei para ela.

– Isso é um tyet. Um símbolo egípcio. – Ela respondeu e eu assenti para ela continuar, se Linda amava mitologia grega, Liz é completamente maluca por mitologia egípcia, não me pergunte, só é assim. – Na verdade é mais um nó mágico, também conhecido como o Nó de Ísis. Um símbolo de proteção no Egito.

Sorri e a abracei.

– Está maravilhoso! – Falei, então alguém limpou a garganta atrás de nós.

– Não é porque a diretora deu autorização para que vocês fizessem uma festinha na sala que vocês podem ocupar todo o meu tempo de aula, senhoritas Olivier, Vasconcelos e Foster. – Me virei lentamente e vi a professora que eu menos gostava.

– Senhora Connoly, já vamos arrumar tudo só... – Minha voz morreu com o olhar que ela lançou em minha direção, ao meu lado pude sentir a mão de Linda tremendo. Por alguma estranha razão a nossa professora a apavorava ainda mais do que a mim.

– Vocês têm cinco minutos para limpar esta desordem. – Ela falou, parecendo muito irritada.

Ouvi as reclamações de meus colegas, mas todos começaram limpar o lugar. Eu ia de um lado para outro e agradecia em voz baixa pela surpresa. Alguns apenas balançavam a cabeça, outros sorriam e me entregavam pequenos embrulhos.

– Feliz aniversário. – Murmuravam e então se afastavam rapidamente.

Eu tentava ao máximo não deixar meus presentes no chão e agradeci aos céus por eles não serem grandes. Por fim eu cheguei perto de Peter.

– Obrigada pela festa. – Murmurei pegando um balão e o estourando para poder jogar no lixo. – Mesmo que a nossa professora tenha mandado a gente desfazer tudo. Eu gostei muito.

Ele voltou aqueles olhos castanhos para mim e sorriu. Peter era (exatos dois meses apenas) mais velho que eu, tinha cabelos castanho-escuros e rebeldes, pele um tanto bronzeada como a minha, era mais alto e quase tão bonito quanto Linda, se minha amiga tinha uma parte masculina, essa parte devia ser Peter.

Ele usava jeans e uma camisa de mangas compridas de cor azul-escuro.

– Que bom, essa era a ideia. – Ele falou em voz baixa, então estendeu a mão na minha direção. – Me dá a sua mão.

– Para quê? – Perguntei, mas estendi a minha mão para ele.

Peter não falou nada, apenas tirou algo prata e tilintante do bolso e colocou ao redor do meu pulso rapidamente. Aproximei dos olhos e examinei os pequenos pingentes prateados da pulseira.

Eram três. Um era aquele símbolo que Liz havia me falado, o nó de sei lá quem. O outro era uma delicada imagem em prata do pégaso que estava no meu bolo. E a terceira imagem prateada era a mais estranha, um chapéu pontudo com aqueles detalhes de fivela perto da aba.

Olhei para meu amigo, sem saber o que dizer.

– Er... Obrigada. – Murmurei um tanto sem graça e ele soltou uma risada para o meu tom indagativo não intencional.

– As meninas me encurralaram anteontem. – Ele explicou ainda rindo enquanto estourava o último balão. – Queriam saber que presente eu daria a você. Eu disse que seria uma pulseira, então elas me entregaram dois pingentes, o pégaso e esse outro para colocar no meu presente, eu concordei, mas não achava que nenhum dos dois combinava com você, foi aí que encontrei esse. – Ele deu de ombros enquanto fitava o terceiro pingente com um leve sorriso nos lábios. – Não se ofenda, mas achei a sua cara.

Eu sorri.

– Eu não me ofendi, na verdade adorei, obrigada. – Falei ainda sorrindo antes de abraçá-lo.

– Fico feliz que tenha gostado. – Ele murmurou enquanto me afastava para sentar à minha mesa.

Olhei para a professora, mas ela já havia começado sua aula monótona e não prestava nenhuma atenção em mim.


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Notas finais do capítulo

Como eu disse antes, se chegou até aqui, não cai a mão deixar um review, além disso me fará muito feliz



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