Jandugard, Lembranças Eternas escrita por Faraó


Capítulo 3
Capítulo III - A chama eterna




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Muito além de Porto Prateado, além das Ilhas Perdidas e dos recifes de coral vermelho dos Sehijin, erguem-se altos picos semelhantes a colossais agulhas rochosas, em seus topos as grandes aves Morka vivem, em seus ninhos feitos com os restos dos navios que caçaram como águias caçam aves menores. Mas nas bases destes picos, sobre uma terra de solo negro e infecto e sob uma névoa tão sombria que luz alguma trespassa, Shinik reina soberano.

O vale de Murghuir é a própria perdição para os inimigos do espírito sombrio, ele lá reside e seu poder infecta o local, os poucos que sobreviveram a visão do interior da névoa perderam sua sanidade e, em meio aos seus fritos e uivos de loucura, poucas palavras podiam ser entendidas, palavras de horror e medo inomináveis, um medo que nunca deixava o espírito dos pobres e azarados homens.

Neste vale maldito onde a noite é sombria como um pesadelo de uma mente atormentada o dragão negro criava seu primeiro descendente, pouco tempo havia passado desde a reunião que resultou na origem da trama da magia e Shinik achou que era finalmente o momento de criar alguém como seu filho.

Começou então o ritual sombrio, arrancou escamas de si próprio e as moldou como a si próprio, então soprou sua chama sobre a estátua negra, e seu sopro segui por dias, por estações e por anos, quando, enfim, viu que seu poder dera vida ao seu filho parou, e com sua voz poderosa falou:

—Meu filho, finalmente podes me ouvir, voa! Voa para oeste, torna-te sábio, sê tu senhor de teu reino, que os humanos, feras e a própria terra te cultuem, és sangue de meu sangue e chama de meu sopro, agora vá e desbraves Jandugard!

E algo saiu da densa névoa, ainda envolto em fumaça ele voou por sobre os picos e mergulho no mar para limpar-se dos restos de sua criação.
Tão quente era a chama que ardia em seu peito que assim que a água não foi para ele nada além de um refresco, logo estava limpo e voou sobre o mar para ver-se refletido nas águas.

Suas escamas eram douradas e belas, com belos símbolos antigos, suas asas faziam-no planar sobre as águas, belas e imponentes, possuía quatro chifres e uma longa cauda serpenteante. Viu que era belo e poderoso, sentiu o ardor de suas chama pronta para seu primeiro sopro, e sentiu a fome por destruição vinda do dragão negro. Voou por toda a noite e quando o sol negro despontava no horizonte encontrou o que queria, humanos.

Uma grande fortaleza se erguia em uma ilha que um dia fora um refúgio, infelizmente, para Al'marok, esses homens eram treinados para combater inimigos vindo do céu, e mal aproximou-se das muralhas um arpão voou e cravou-se em uma de suas asas, o dragão rugiu e se debateu, mas foi capturado, foi trazido ao chão e logo inflou o peito pronto para queimar seus inimigos.

—Nem tente, lagarto voador.- um homem vestindo uma armadura completa de aço e com um grande martelo aproximou-se dele e outros soldados lançaram ganchos e o prenderam, impedindo-o de fugir.- Foi tolo se aproximando de nosso território, homens soltar!- os soldados aproximaram grandes tonéis de bronze fervente da cabeça de Al'marok e o terror deste foi algo angustiante. O rugido, o liquido fervente cobrindo o dragão e depois a água endurecendo o metal. Dentro da couraça de bronze o dragão tentava rugir e se mover, mas não podia, sentiu suas escamas sendo arrancadas da pele e a chama em sua garganta começou a ser incômoda.

—Homens, coloquem essa estátua no topo da muralha, o que mais cairá sobre nós? Peixes voadores ou talvez vacas.- brincou o guerreiro enquanto voltava para seus treinamentos ao lado de seus companheiros.

A chama agora consumia o dragão por dentro e este urrava da dor torturante, mas mesmo o filho de Shinik não pode resistir à chama, e em pouco tempo a vida se esvaiu de seu corpo e a chama apagou. Enquanto isso, no vale de Murghuir Shinik encontrava-se preocupado com Al'marok, "Faz um bom tempo que ele voou...", pensava, e envolto em preocupação e uma certa curiosidade decidiu procurar seu primogênito. Com suas magníficas asas negras lançou-se ao céu e logo avistou a fortaleza na ilha, não teve interesse algum na construção humana, mas quando avistou a estátua logo sentiu-se tomado pela ira, sabia que nenhuma outra criatura além dos quatro irmãos poderia fazer, pensar ou criar tal ser. Perdido em seus pensamentos e raiva sentiu algo trazê-lo de volta, um arpão humano golpeou uma de suas asas, olhou para a fortaleza com desprezo e viu soldados humanos atirando arpões e flechas contra ele.

—Devem ter capturado-o com essas brincadeiras, vou ensinar que nunca deveriam ter irritado o dragão sombrio!- já ensandecido pousou sobre a muralha e soprou suas chamas negras contra o armamento humano.

Os homens corriam, urravam e agonizavam enquanto o sopro de Shinik parecia dilacera-los como uma besta faminta. Com o sofrimento e medo dos homens, Shinik tornava-se maior e mais forte, logo era tão alto quanto a própria muralha.

—Vou incinerar vocês, insolentes!- bradou o espírito sombrio.

—Não enquanto eu estiver aqui, demônio!- respondeu o homem que carregava um grande martelo de guerra.- Não sei o que está está acontecendo, mas será o segundo lagarto voador que matamos hoje! Soldados, arcos!- com a ordem de de seu líder os soldados sobreviventes retomaram o controle e começaram a se armar com as armas restantes, logo flechas e lanças eram lançadas contra Shinik, mas as escamas negras sequer foram arranhadas pelas armas humanas.

O guerreiro com o martelo rapidamente começou a subir as escadas para a muralha, confrontaria o réptil cara-a-cara, mas enquanto ele subia os homens eram chacinados pelo sopro do dragão negro.

—Eu matei seus companheiros guerreiro! Onde você se escondeu?!- urrou Shinik pouco antes do guerreiro subir até a muralha.
—Estou aqui criatura!- respondeu o homem golpeando uma das patas do dragão com um poderoso golpe do martelo, mas Shinik sequer reagiu.

—Você irá pagar por sua insolência, humano!

—Mande tudo o que pode, demônio!- gritou o guerreiro avançando contra o espírito sombrio, mas mesmo a vontade humana não foi capas de se comparar a ira do dragão e o guerreiro logo tombava às chamas negras.

—Não importo que eu morra, que você fuja ou que destrua o meu povo, dia após dia eu vivi nessa prisão e agradeço por morrer em combate..- disse enquanto caia e era lentamente consumido pelas chamas.

A sede de destruição de Shinik estava saciada, retornando a sua consciência foi até ao corpo de seu filho.

—Al'marok, como ousas morrer dessa forma, não te criei para desistir dessa forma, não permitirei que a morte ceife sua vida!- Enquanto bradava perante a estátua algo dentro dela parecia responder.- Sua vida é a chama que soprei em ti e meu sopro...- começou a voar para o alto pois sabia o que ia acontecer.- Nunca... Apaga!

Em uma explosão de chamas espectrais e um rugido aterrador a estátua foi partida e toda a ilha foi tomada pelo incêndio, o ser lançou-se ao ar irado e sedento por destruição.

—Al'marok!- bradou Shinik observando o primogênito, o corpo do filho de Shinik fora consumido pela sua chama e agora não passava de ossos e músculos, parecia mais um ser morto que vivo, e a única coisa que o mantinha vivo era a chama azul-espectro que queimava todo seus restos mortais, mas sem consumi-lo.- Tens sede de caos e destruição meu filho?- indagou com um sorriso.- Voe e sacie-se!


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Notas finais do capítulo

O observador narra estas palavras com cansaço, suas memórias do passado se misturam com suas visões no presente e ele se perde no tempo pouco a pouco.



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