O Jogo do Cristal escrita por Rumplestiltskin
“Como assim ela não sabe?”
Alice abriu a porta do quarto, incrédula. Em cima da grande cama de madeira branca, decorada com uma colcha vermelha, branca e preta, estava Alf, o gato preto. Assim que avistou a dona, soltou um miado doce, movendo ligeiramente do sítio onde se encontrava para a almofada, dando espaço aos três adolescentes para se sentarem.
“Sim, ela não sabe. Nem tão pouco tem ideia do que lhe anda a acontecer. Mas a Phoebe tem razão, é ela.”- declarou o rapaz atirando-se para cima da cama.
“Como podes ter tanta certeza disso?”- perguntou Alice despindo as calças e a camisola, ficando em roupa interior. A sua calcinha era preta, lisa, de algodão macio e suave, com um pequeno laço de renda na frente enquanto o soutien era todo preto rendado. Alice era o tipo de rapariga que conseguia tudo o que desejava, e isso incluía a satisfação do seu desejo sexual. Durante muito tempo sofreu de bullying por parte dos colegas por ter excesso de peso e ser uma pessoa reservada e tímida. Contudo, há três anos decidira que a sua vida iria mudar radicalmente. E assim fora: perdera peso, mudara de atitude e aparência. Outrora de cabelo castanho, agora ostentava uma vasta e encaracolada cor violeta cabeleira, que lhe dava pelo meio das costas.
O rapaz levantou a mão para as duas amigas: a pele da palma da mão estava enrugada, negra e queimada. Apesar de não lhe doer, fazia-lhe impressão ter assim o membro.
“Eu sabia que não estava errada. O Oráculo disse…”
“Já estou farta dessa conversa sobre o Oráculo! Porque é que havíamos de confiar em alguém que nunca vimos? Porque haveríamos de arriscar a nossa vida por algo que pode já nem existir?”- Exclamou Alice.- “E porque é que ele te aparece a ti e não a nenhum de nós? Ou porque não é ele a contar à miúda nova o que ela tem que saber? Porque temos que ser nós? Tens resposta para estas perguntas?”
Phoebe manteve-se em silêncio durante um bom bocado. O quarto era iluminado pela luz do final de tarde. Da grande janela podia ver-se a linha alaranjada do pôr-do-sol, assim como este a descer no horizonte, iniciando a sua habitual navegação até ao outro lado do planeta que, por aquela altura, deveria de estar quase a começar um novo dia. O painel vermelho por cima da cama de Alice fazia-lhe lembrar de sangue fresco, exatamente como aquele que sai de um corpo quente e vivo, que é esfaqueado. Aí, o sangue é quente e rápido, como a água que sai de um geiser. Ethan, ainda deitado de costas na cama, tamborilava os dedos na sua zona abdominal e Alice esperava impaciente, batendo o pé, pela resposta da amiga.
“Não, realmente não.”
“Vês? Eu sabia. Vamos ao Lord’s Lake?”
“O que é isso?”
“O novo bar que abriu junto ao lago. Vai haver a festa de inauguração.”
*
O ar começava a esfriar, dando sinal de que a noite estava próxima. As luzes do bar ligavam-se e Sam atendia ao balcão, esperando pela cria. Estava atrasada quase uma hora e ele começava a fica preocupado. O bar enchia cada vez mais e ele era apenas um para tantas pessoas.
“Sam! Sam, desculpa. Distraí-me.”- disse Alana entrando de rompante no estabelecimento.
“Mas o que aconteceu?”
“Nada, apenas me distraí com umas coisas.”
“Tudo bem. Vá, vai lá atrás trocar de roupa e pôr o avental. Tenho um bom pressentimento em relação a hoje.”
Alana «voou» até aos arrumos, mudou de camisola para uma preta simples e pôs o avental pela zona da cintura. Estava pronta para trabalhar.
A sonoridade da porta do Lord’s Lake a abrir já não despertava a atenção de Alana, que estava ocupada demais a servir às mesas, apontar pedidos e a não se enganar nos trocos. Apesar de não ser a primeira vez que o fazia, sentia que era uma grande responsabilidade para ela. Afinal, tratava-se do sonho de Sam e ela não queria que nada corresse mal. Uma vez mais, a porta abriu, fazendo o seu habitual tilintar devido ao pequeno sino que se encontrava preso a ela.
“Boa noite. Bem vindo ao Lorde’s Lake. O que vai desejar?”- perguntou a rapariga sem nunca levantar os olhos.
“Queria uma cerveja, por favor.”
“Muito bem, trago já.”- disse, afastando-se a escrever no seu bloco de notas.
“Quem era aquele rapaz?”- perguntou Sam assim que a filha alcançou o balcão.
“Hum?”
“Sim. Quem era?”
“Não sei, nem lhe vi a cara.”
“Vê agora.”- declarou o homem, apontando.
A rapariga olhou discretamente para trás. Um rapaz bem-parecido, com grandes olhos castanhos penetrantes e cabelo castanho pelos ombros estava sentado numa das mesas do bar. Trazia a barba devidamente aparada, o que lhe dava um ar distante. Vestia uma camisola de manga comprida bege (que parecia ser de malha) com riscas horizontais de vários tipos de azul e verde. Ostentava um ar misterioso e calmo, como se tudo o que estivesse a acontecer tivesse sido planeado por ele.
“Aqui tem.”- disse pousando o copo com a bebida em cima da mesa.
“Obrigado, Alana.”
“Como… Como sabe o meu nome?”- perguntou a rapariga confusa.
“Está aí escrito.”- O rapaz fez um gesto apontando para junto do omoplata direito.
Alana olhou para baixo: trazia a chapinha com o seu nome.
“Oh, Oh! Pois. Se precisar de mais alguma coisa, diga.”
O rapaz anuiu em sinal de compreensão e concentrou-se no copo com a bebida, deixando Alana presa com os seus pensamentos e perguntas.
Novamente a porta do bar abriu-se, mas desta vez a rapariga olhou instantaneamente para o local. Três adolescentes tinham entrado.
“Tu aqui?”
“Que maneira educada de tratar os clientes.”- declarou Ethan, num tom de fingimento chocado impressionante.- “É assim que falas com quem te ajudou?”
“O que queres?”- perguntou a rapariga a contragosto.
“Eu quero um café.”- pediu Phoebe.
“Eu quero uma vodka maracujá.”
“E eu quero o que me trouxeres.”- disse o rapaz piscando o olho.
“Importas-te de fazer o teu pedido? Tenho mais mesas e clientes que servir, não és o único aqui.”- replicou Alana.
“Wow, que ela é agressiva. Gosto disso.”- aplaudiu Alice.
“Já te disse: quero o que me trouxeres. Surpreende-me.”
“Muito bem.”- respondeu secamente a rapariga, escrevinhando algo imperceptível no bloco.
“Um café e um copo com gelo.”
“O quê?”- Alana olhou em volta. Ninguém parecia ter falado com ela ou estar perto dela o suficiente para que esta pudesse ouvir nitidamente fosse o que fosse.
“Achas que era vai mesmo conseguir acertar no que queres?”
“Se acertar, teremos a certeza de que é ela.”
“Mas não temos já a certeza? O Oráculo não to disse?”
“Isto é irreal, devo de estar a alucinar.”- pensou a rapariga esfregando os olhos. Contudo, fez o que julgou ouvir.
“Aqui têm: uma vodka maracujá, um café simples e um café com gelo.”- declarou, pousando as bebidas.
“Muito bem. Obrigado.”
A rapariga afastou-se vagarosamente até ao balcão. Só podia ter sido ela a imaginar. É normal: quando se está cansada, o cérebro começa-nos a pregar algumas partidas.
“Hey, Rose. Aqui!”- acenou Phoebe a uma recém-chegada. Uma rapariga de cabelos platinados acabara de se juntar ao grupo.
Uma onda de mal-estar invadiu Alana. Sentia que ia desmaiar a qualquer momento, que as suas pernas não eram capazes de sustentar o peso do seu corpo. Encostou-se bruscamente ao balcão, tentando encontrar um ponto de equilíbrio para não se estatelar redondamente no chão. O que se estaria a passar? Porque motivo se estaria a sentir fraca, exausta e assustada?
FLASHBACK
“Finalmente acabaram as aulas por hoje!”- exclamara alegremente Rose.
“Estávamos a pensar ir até casa da Alice, alinhas?”- perguntou Phoebe que se espreguiçava ao sol.
“Não me parece. Tenho outros sítios onde estar.”- respondeu misteriosamente.
“Tais como?”
“Ora, não sejas cusca. Depois conto-te. Vemo-nos logo!”- declarou a loira, iniciando a sua marcha corrida, deixando a amiga plantada a olhar para o local onde outrora, tinha estado.
“Ele disse às cinco horas em ponto. Não me posso atrasar.”- disse para consigo mesma.
Rose ia ter um encontro. Ela nunca namorara, nunca estivera com nenhum rapaz, não sabia o que havia de esperar daquela situação repentina e súbita. No dia anterior, tinha encontrado aquele rapaz no parque enquanto corria. Achara-o tão irresistível, tão doce e misterioso que, não sabe bem como, metera conversa com ele. Acabaram por falar durante horas até que a rapariga se apercebeu de que deveria de voltar para casa. Combinaram, então, que no dia a seguir se encontrariam junto do Cibercafé, às cinco e ponto da tarde.
Pouco tempo depois, havia chegado. Estava ofegante por ter corrido durante o tempo todo, mas valia a pena o esforço. Pigarreou, soltou o cabelo e ajeitou-o com as mãos: não devia de estar muito mal. Empurrou timidamente a porta do estabelecimento.
“Posso entrar? Está alguém?”
“Estou aqui, Rose. Estava à tua espera.”
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