O Jogo do Cristal escrita por Rumplestiltskin


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá caros leitores **
Hoje encontro-me um pouco desanimada. A partir de agora, só irei postar uma vez por semana ou uma vez de duas em duas semanas. Vou entrar numa época extremamente importante na faculdade e tenho que conciliar o estudo com o trabalho. Espero que entendam e vou ter saudades!



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A lição terminara com toque ensurdecedor da campainha. Tudo aquilo que Alana apanhara na aula fora as últimas palavras de Mrs. Parnell: “E espero bem que estudem, pois daqui a duas semanas têm o primeiro teste escrito.” Sim, porque em Sociologia iriam fazer dois testes escritos e apresentar uma teoria que a própria Mrs. Parnell iria contra-argumentar com os alunos e dar-lhes as notas que bem entendesse.

A hora de almoço no secundário, assemelhava-se a um campo de batalha dividido hierarquicamente pelos status das forças militares: os soldados-recrutas (os renegados e “escórias” da vida académica), os praças, os sargentos, os capitães e os oficiais generais (os desportistas, ricos e populares). Alana nunca tivera que enfrentar problemas de exclusão ou repressão social na sua antiga escola Benjamin Franklin International School, uma escola internacional para crianças com idades entre os três e os dezoito anos, em Barcelona, que oferecia uma educação regida pelas linhas e princípios americanos em multiculturalidade e configuração multilingual. O refeitório do Instituto de St. Laurel assemelhava-se quase a um restaurante de alta qualidade, cotado com estrelas Michelin, não fosse a falta dos empregados de mesa, preciosamente vestidos com calças pretas de fato e camisa branca, com os punhos atados, bem como a falta de todo o glamour e esplendor característicos desses locais de requinte. Havia quatro grandes mesas redondas, e uma série de mesas retangulares, agrupas três a três, dispostas em linha ao longo do refeitório. A rapariga dirigiu-se ao lado direito da divisão: pegou num tabuleiro e num dos pratos que uma das cozinheiras (mulheres que vestiam uma farda branca com um avental azul por cima, com o símbolo do Instituto, e uma toca de rede) servira num gesto monótono, repetitivo e diário.

Encaminhava-se, pesada e vagarosamente, em direção a uma mesa quando sentiu algo a queimar-lhe a nuca. Voltou-se instantaneamente para trás: um rapaz com os olhos cor de ouro negro, fixavam-se nela. A rapariga sentia a raiva a atingir-lhe, o desdém ou, quiçá, o respeito e a admiração fortemente disfarçados. O individuo tinha cara de poucos amigos e Alana percebia porquê: aquele olhar feria, como se conseguisse ler a alma e penetrar nos mais sombrios dos seus pensamentos.

“Alana.”

A rapariga olhara em todas as direções, mas ninguém passara suficientemente perto dela para lhe falar. Aliás, ninguém sabia qual o seu nome.

“Devo ter sonhado.”- pensou. Dirigiu-se até à mesa mais próxima e sentou-se numa cadeira aleatória olhando, espantada para a sua sopa: os bagos de arroz uniam-se e desenhavam um pentágono, a mesma marca que estava cravada na sua pele, o mesmo símbolo que se encontrava desenhado no seu caderno. Levantou-se, transtornada, pegou na sua mala e saiu abruptamente do refeitório.

“Mas o que é que se passa comigo?”- reclamava Alana. Odiava não ter o controlo das situações, encontrar-se em um ambiente que lhe fosse estranho e desconhecido, sem ter nenhuma informação prévia sobre ele. De súbito, sentiu uma dor forte e aguda nas suas costas, como se alguém lhe tivesse espetado uma mão dentro do corpo e lutasse para arrancar algo que estava pregado. Tombou sobre os seus joelhos, tremendo de dores, assistindo ao próprio festival tétrico do seu ser. Um líquido fluído e espesso começou a brotar-lhe do nariz, ao mesmo tempo que a rapariga se esforçava para se levantar, numa tentativa desesperada de vencer aquela força que a reprimia.

A mesma figura encapuçada, com um turbante vermelho escarlate, apareceu-lhe diante dos olhos, impávida e serena. Estava tão tranquila como uma mãe a ler um livro enquanto o seu filho dorme pesadamente no seu berço.

“Não és tão forte como todos pensam, pois não? Desta vez, o Oráculo fez asneira.”

“O q… O que queres dizer? Não sei do que estás a falar.”- disse, a todo o custo.

“Ora, não mintas. Devias de saber que não deves de dizer mentiras. E não te esforces ao tentar chamar alguém, porque ninguém virá. Ninguém sabe que estás aqui, ninguém te conhece e ninguém irá dar pela tua falta.”

Era verdade: Alana ainda não fizera amigos, era o seu primeiro dia no Instituto St. Laurel e somente Sam poderia dar pela sua falta, mas estava demasiado ocupado com a abertura do novo café. Ela iria morrer ali, sem mais nem menos.

“Estás… Enganada na pessoa. Eu não sei do que falas e muito menos o que queres!”

“Ai não?”- perguntou retoricamente o ser.-“Então explica-me o significado da marca que tens no teu pulso direito.”

O sangue de Alana congelou. Como é que aquele ser que ela só tinha visto duas vezes, sabia do símbolo do qual ela era portadora? O que significaria tudo aquilo? Por que razão a estavam a sujeitar a tanto tormento?

Bruscamente, uma lavareda de um fogo vivo circundou o individuo encapuçado. A força que proibia praticamente Alana respirar, desapareceu. Levantou-se com dificuldade, apoiando-se à parede indiferente e despida.

“Estás bem?”- perguntou-lhe uma voz rouca e profunda.

Alana olhou para cima. Era o mesmo rapaz de cabelos e olhos escuros, brilhantes que ela vira no refeitório. A sua pele brilhava palidamente sobre a luz solar. As suas feições eram duras, seu rosto oval e a sua barba perfeitamente aparada, conferiram-lhe um ar misterioso e assustador ao mesmo tempo.

“S… Sim, acho que sim.”- respondeu a rapariga. Sentia a cabeça a latejar-lhe devido à quantidade de sangue perdido em tão pouco tempo.

“Ainda bem, porque estou farto de te tirar de problemas.”

“O quê?”

“É isso mesmo que ouviste. Trata de crescer e aprender a olhar por ti. Não estejas sempre à espera que alguém venha em teu auxílio.”- atirou-lhe o rapaz voltando costas.

“Porque eu adoro ser atacada, sobretudo quando não estou à espera. Excita-me tanto!”- repostou Alana.

“Não devias de dizer isso com essa convicção. Posso começar a acreditar que queres levar-me para a cama.”

A rapariga franziu o sobrolho e soltou uma gargalhada fria e sem graça. Quem é que aquele rapaz se julgara ser para estar a falhar-lhe naqueles modos? Apanhou a mala do chão e começou a juntar as suas coisas que lhe tinham caído.

“Dá-me isso!”- exclamou Alana.

“Porquê? É o teu diário?”

O rapaz ostentava na mão direita, um caderno de capa preta como se fosse um trofeu. Aquele era o seu caderno, o mesmo caderno onde, infinitas vezes, havia aparecido desenhado o misterioso pentágono. Uma estranha vaga de pânico começou a apoderar-se dela, algo como ela nunca antes sentira. Só queria o caderno de volta, agarrar na sua mala e ir odiar todo aquele dia descansada em casa.

“Dá-me isso imediatamente!”- exigiu.

“Como queiras, princesa.”- disse o rapaz, fazendo uma pequena vénia, esticando a mão para lhe devolver sebenta.- “A propósito, chamo-me Ethan.”

“Mantém-te afastado de mim!”- Alana apressou-se a pegar no seu pertence e correu para fora do Instituto.

Ethan sorriu. Aquilo era sem dúvida o tipo de jogo do qual ele gostara. Ao ajeitar o casaco, sentiu que algo lhe queimara a palma da mão. Voltou-a para cima e analisou: faltava-lhe pele no sítio onde o caderno lhe tocara.


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