O Jogo do Cristal escrita por Rumplestiltskin


Capítulo 1
Capítulo 1




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Distante, imenso e infinito. Assim é Eoron, um lugar onde não existe tempo nem espaço. Um imenso nada no centro do qual uma fortaleza imponente, majestosa, se ergue à luz brilhante do astro rei. Bebe os seus raios com uma sede imensa de resplandecência e fogosidade quase egoísta mas ao mesmo tempo tão segura e tão pura. Deixai que a sua sumptuosidade vos fascine; aproximai-vos, mas sem quebrar o silêncio. O Oráculo vai falar.

“Já não há muito tempo, irmãos e irmãs. A Muralha está outra vez em perigo. Chegou o momento de os guardiões voltarem a defender a ordem do Universo.”

“Quem serão os eleitos desta vez, senhor?”- Perguntou um ser amistoso e curioso. Um elfo, de seu nome Baldwin, levantou-se. Ali estavam reunidos os treze membros do conselho.

“Cinco jovens, Baldwin.”

“Seres humanos?”

“Não Piera, seres mágicos.”

“Acredita, meu senhor, ser prudente incumbir a esses cinco jovens uma tarefa tão arriscada, tão perigosa e com tamanha importância como esta? Estamos a falar da Muralha, algo que separa o Nékros de nós. Não creio que eles estejam preparados para assumir tal responsabilidade.”

“Piera, minha irmã, porque duvidas da força e da natureza lutadora dos humanos?”- Perguntou, calmamente, o Oráculo.

“Sabe bem como correu a última vez que os guardiões foram chamados. Devemos correr tal risco novamente?”

“Não percebo se estás preocupada com eles ou não.”- Declarou Valdec já um pouco irritado.

Aquele comentário fora o suficiente para instalar a confusão entre os conselheiros que tanto defendiam a atribuição dos poderes aos jovens, como a espera até que estes atingissem a maturidade para o cargo. Muitas vezes, as idades das pessoas são tomadas como sólidas, pretendendo «ligar» o tempo que o corpo tem ao tempo da alma. Contudo, esquecem-se de que a alma é mais antiga, mais sábia, mais experiente do que este sobretudo de pele, sangue, ossos e músculos. Que é aprisionada nele por algo superior, como se de um castigo se tratasse para punir dos pecados de uma outra vida, pelos vícios extremos e pela felicidade não aproveitada nas pequenas coisas.

“Irmãos, irmãs… Peço-vos que se acalmem. A decisão foi tomada e, como tão bem sabem, não nos coube parte ativa nesse campo. Eles serão acompanhados por nós. A Natureza será sua amiga, a Terra, sua mãe e os elementos os seus aliados. Ser guerreiros está-lhe no sangue, nunca se esqueçam disso.”

“Eles nem são amigos, nem se conhecem…”

“Por pouco tempo, Piera. Vai haver algo a juntá-los, circunstâncias da vida e do acaso.”- disse o Oráculo, levantando-se serenamente. A sua figura de estatura média transmitia tranquilidade, como um rio que corre serenamente para o mar; a sua pele, branca como a neve e os seus olhos azuis cor de mar observaram a sala. Os treze conselheiros olhavam-no, calados. Todos eles vestiam uma batina cor de esmeralda, ligeiramente escurecida, com um símbolo bordado na frente. O Símbolo tratava-se da representação material do poder que, em tempos, possuíram. Todos os membros do Conselho foram, outrora, Guardiões do Muralha.

Os Guardiões do Muralha eram escolhidos pelo Cristal, que lhes ocultava a verdadeira identidade mágica que possuíam no seu interior. Nascidos como falsamente humanos (a maior parte deles), em Eoron, assumiam a sua forma natural. Apenas um Guardião nascera humano e, em ambos os tempos e espaços, permanecera dessa forma, algo estranho e curioso. Ainda que de gerações diferentes, todos defendiam o mesmo propósito, o mesmo objetivo. Sabendo da cumplicidade que a maior parte dos conselheiros detinham uns com os outros, o Oráculo levantou as mãos e sorriu.

“O Cristal decidiu e é nosso dever respeitá-lo.”

Os conselheiros levantaram-se, desceram até ao Oráculo fazendo um círculo à sua volta e deram as mãos.

“Agora limpamos, purificamos e selamos com proteção os novos Guardiões que virão pela Muralha, pela justiça do Universo e do Tempo e por ti, Cristal. Que a Água se una com Phoebe Collins; que o Fogo renasça em Ethan Mason; que o Ar envolva Killian Foster; que a Terra se ligue a Alice Jackson… E que tu, Alana Dixon, protejas o Cristal de Eoron e que juntos protejam a Muralha.”

“Terminus pendeo in exordium.”

“Terminus pendeo in exordium.”- repetiram os conselheiros.

“Ita et nos, et faciet.”- proclamou o Oráculo.

Ita et nos, et faciet.”- repetiram, novamente, os conselheiros.

Um forte remoinho de vento gerou-se no meio do círculo. Os cabelos e as batinas balançavam fortemente à medida que crescia em altura mas tal coisa parecia não incomodar quem ali se encontrava.

“Leva-lhes o que lhes pertence.”- declarou veemente, o Oráculo. E, de súbito, a ventania cessou. – “Agora, caros irmãos e irmãs, esperemos pelo desenrolar da história.

O remoinho percorreu quilómetros de distância e, a meio, dividiu-se em cinco rajadas mais pequenas, atingindo em simultâneo, Phoebe, Killian, Ethan, Alice e Alana. Todos sentiram algo a entrar-lhes no corpo, como se os perfurasse e se instalasse bem perto do coração. Uma sensação semelhante àquela que temos quando levamos um ligeiro choque elétrico.

*

“O que se passa?”- perguntou, a certa altura Rose, uma rapariga de cabelos loiros platinados.

“Não sei, parece que algo me queima. Vou à casa de banho.”- respondeu agarrando na sua mala e levantando-se da mesa do café. Uma sensação estranha fazia com que Phoebe quase arrancasse a pele do braço de tanto se coçar.

Nas casas de banho femininas de qualquer estabelecimento encontram-se as mais variadas coisas: raparigas maquilham-se, outras choram porque os namorados as traíram e há ainda aquelas que vão à casa de banho para lhe dar o seu devido uso. A divisão era ampla, com azulejos azuis e brancos, alternados como se se tratasse de um grande tabuleiro de xadrez sem as peças habituais. Havia três compartimentos individuais e um espelho enorme que ocupava metade da grande parede do local. A rapariga de cabelos escuros ondulados e cara redonda, pousou a mala no lavatório e arregaçou a manga da camisa olhando para o braço.

“Mas…”- aquela fora a única palavra que Phoebe conseguiu proferir ao olhar para o pulso do braço direito. Um símbolo estranho estava cravado nele, como se de uma tatuagem se trata-se: duas linhas curvas e uma linha reta que as atravessava pelo meio. Numa tentativa frustrada, esfregou o braço com sabão tantas vezes quanto aquelas que pode mas sem sucesso. Aquilo tinha vindo para ficar.

*

“Ethan! ETHAN!”- gritou uma voz feminina do fundo das escadas. O rapaz de cabelo encaracolado desceu-as pesadamente. Os seus olhos escuros e brilhantes, como se se tratassem de um diamante de cor de petróleo, continuavam semicerrados e, pela sua cara, dava para perceber que tinha adormecido a fazer algo.

“Sim, mãe.”- disse num bocejo.

“ Não te vens despedir de mim?”

“O quê?”

“Vou hoje para Angola, estás esquecido?”

“Não mãe. Faz boa viagem e quando lá chegares liga.”

“Assim o farei.”- respondeu a mulher abraçando carinhosamente o filho e dando-lhe um beijo em cada face.- “Vê se te portas bem. Vou-te mandar dinheiro todas as semanas e não te esqueças de pagar as contas da casa.”

“Eu não tenho 10 anos mãe.”

“Eu sei, eu sei. Às vezes gostava que ainda tivesses… Parece que foi ontem que ainda andavas de fralda e comias do chão…”- lamentava-se a mulher com uma lágrima ao canto do olho.

“Não vamos divagar. Ainda perdes o voo.”

“Tens razão. Tenho que ir.”- disse olhando para o relógio.- “Está atento ao telefone. Beijo, amo-te.”

“Adeus mãe. Amo-te.”

A porta bateu e Ethan deixou-se simplesmente ficar ali. Ia estar seis meses sem ver a mãe. Era-lhe difícil uma vez que nunca se tinham separado. Ela tinha-lhe dado a opção de também ele ir para Angola mas, por muito que a amasse, não conseguia deixar tudo para trás para viver a vida da mãe. Respirou fundo, trancou a porta de casa e subiu as escadas em direção ao quarto. De subido, sentiu algo quente a perfurar-lhe a pele. Levou a mão ao braço e puxou a manga do pijama para cima. Um arco e uma flecha apareceram desenhados em ponto pequeno no seu antebraço.

*

Era o dia de Killian e do seu colega de trabalho fazerem o fecho da pizzaria. Como de costume, era preciso lavar todas as covetes onde os alimentos tinham estado durante o dia, pesá-los, coloca-los em caixas e pô-los no frigorífico. Para o rapaz, aquela era a única parte chata do trabalho.

“Estou farto disto.”- queixou-se Dylan, o seu colega de trabalho enquanto limpava a mesa da farinha.

“Temos que o fazer. Também nos pagam para isso.”

“É a segunda vez esta semana, acho que estão a abusar.”

“Não, tu é que só queres atender ao balcão para fazeres sorrisinhos às meninas e para sacares uns números de telemóvel.”- riu-se Killian que limpava o forno.

“Claro, faz parte do meu charme natural. Elas não conseguem resistir.”

“Convencido.”- troçou Killian-“Sssss…”

“Então?”

“Acho que me queimei no forno.”

“Vês? Acidente de trabalho. Se fosse a ti punha baixa.”

Depois de praticamente uma hora para limpar a cozinha da pizzaria, os dois rapazes despediram-se no parque de estacionamento. Assim que Killian entrou no carro olhou para o braço: um símbolo que parecia o número dois em numeração romana aparecera-lhe no antebraço. Que raio seria aquilo?

*

A divisão era fracamente iluminada pela luz que provinha da luz cheia daquela noite. Alice puxou o rapaz até à cadeira que estava junto da secretária e sentou-se em cima dele, beijando-o e tirando-lhe a camisola. O rapaz envolveu-a nos seus braços, apertando-a e levando-a até à cama, onde a deitou bruscamente. A rapariga mordia os lábios de satisfação enquanto Henry lhe desapertava as calças, beijando-lhe levemente a zona da barriga. Ele subiu pelo seu corpo até encontrar a zona húmida dos seus lábios e a beijar. Alice levantou-se sensualmente e parou aos pés da cama, tirando a camisola. Henry gatinhou até à rapariga, beijando-a fortemente. Separando-se dele, encaminhou-se até ao outro lado do quarto parando em frente ao espelho. Gostava de se ver antes de fazer sexo.

"O que...!"- exclamou aproximando-se um pouco mais. - "Porque não me disseste que eu tinha isto?"- perguntou irritada.

"Isto o quê?"- Henry estava confuso.

"Esta... Mancha, marca...?"- barafustava apontado para o seu corpo.

"Mas tu não tens aí nada!"

Um pequeno círculo com uma semi-lua desenhava-se ligeiramente abaixo da zona do coração. O seu corpo nu permaneceu ali, simplesmente, a contemplar o novo sinal.


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Notas finais do capítulo

Tradução do Latim - Português
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“Terminus pendeo in exordium.” -- "O fim depende do inicio e dos meios."

“Ita et nos, et faciet.”-- "Assim se fez, e assim se fará" OU "Então vamos."