The Last Taste - Season 1 escrita por Henry Petrov


Capítulo 37
One Last Step


Notas iniciais do capítulo

ESSE É O MELHOR CAPÍTULO ATÉ AGORA
Pode ter certeza. Eu acho que muita gente vai tipo, adorar esse capítulo num altar, porque realmente ficou muito bom. Estou orgulhoso. Lembrem-se: Vale a pena a esperar. Juro. Só que, como sempre, eu não queria demorar muito falando de uma coisa só, mas também não queria que o capítulo ficasse muito grande, então eu reduzi a descrição um pouco. Comentem suas reações. Bom, era só isso. Boa Leitura (:

PS: De acordo com meus cálculos, a Primeira Temporada vai até o capítulo 40 :D



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Acordei em uma cama larga. Não tinha ideia to tempo passado. O momento me trouxe à nostalgia do meu primeiro dia em Kraktus. Foi a primeira vez que vi Sophie. Pelo menos, a primeira vez que me lembro.

Sophie.

As memórias da noite anterior faziam fila para me causar desespero. Sentei com um sobressalto.

–Amber! - gritei

Sophie apareceu à porta, sorridente. Ela usava jeans e uma blusa polo vermelha, com um brasão estampado em seu peito.

–Hey.

Ela pulou na cama e eu a beijei. Ela encostou a cabeça em meu peito e permanecemos em silêncio. Por mais que fosse um tanto estranho, eu não me impressionava com a facilidade com que consegui voltar ao que tinha antes. Sophie me olhava com os mesmos olhos. Nada mudara. Era como se o que sentíamos fosse contra, passasse por cima de qualquer rancor ou mágoa deixada do último encontro. Tempo. Tempo nos curara. E agora, em pouco tempo de reencontro, estávamos deitados em uma cama, como um casal de recém-casados.

–Você dormiu, hein? - ela riu, me arrancando de meus pensamentos.

–Não entendi a piada. - disse, confuso.

Ela sentou para me encarar.

–Você dormiu por seis dias.

Minha boca se escancarou.

–Seis dias?! - exclamei

–Você fez duas viagens interdimensionais, transformou uma humana em um demônio e lutou contra um demônio completo, tudo isso em um dia, sem pausa pra soneca. - ela resumiu, se levantando. - Dá um tempo.

Suspirei, seguindo-a para fora do quarto.

–Muita coisa pode acontecer em seis dias. - lembrei, sentando no sofá enquanto Sophie enchia dois copos de Scotch.

Ela soltou um “hum”, dando abertura para que eu continuasse.

–Um grupo de demônios super-hostis podem rastrear O Escolhido e persegui-lo para recrutá-lo como o general de seu exército de demônios em seis dias.

Ela riu e sentou na poltrona à minha frente.

–Que roupa é essa? - perguntei, rindo

–Isso? - ela apontou para a camiseta. - Cheguei da aula de hipismo. Estava lendo quando você gritou.

–Hipismo? - bufei. - Sério?

–Bom, sei usar o Poder muito bem, sou uma ótima espadachim e sou especializada em luta corpo a corpo... Acho que cavalgar é uma boa aquisição para o meu currículo.

–Eu nem sabia que havia cavalos em Kraktus. - tomei um gole do Scotch

–Cale a boca. - ela mandou. - Não, sério. Temos alguns animais terrestres aqui sim. Cavalos, peixes, insetos... Alguns. Não todos, claro.

–Não quer mesmo que eu acredite que está fazendo hipismo pra aumentar seu currículo, quer? - perguntei, sabendo a resposta

Ela não respondeu.

–Já aprendi que tudo pode dar errado. - foi o que disse. - Preciso estar preparada.

–Não vejo a hora de acabar com esses selos. - confessei, respirando fundo.

–Só falta um, não é? - perguntou ela, apoiando os cotovelos nos joelhos.

Assenti.

–Graças a nós. - falei.

Sophie não esboçou reação alguma. A preocupação era visível no frequente chacoalhado de seus pés. Ela levantou e saiu da sala, sem dar a mínima.

–Ei, aonde vai? - perguntei, levantando também.

–Tomar café, ora. - ela respondeu, com um tom óbvio. - Não está com fome?

O The Grill era mil vezes melhor que o Peep's.

Era mais limpo, mais arejado e tinha mais mesas. Era mais estreito, confesso. Havia um balcão de metal na parede direita, onde uma garçonete e uma senhora idosa atendiam aos clientes e gerenciavam o estabelecimento. Na parede esquerda, mesas de aço com assentos almofadados eram ocupados por vários clientes. Ninguém pareceu dar a mínima para a presença da Rainha de Kraktus, Sophie Hough. No fundo, havia um corredor minúsculo, que dava para o estoque da cafeteria, deduzi. A luz do Sol tocava nossos rostos através de vidraças ao lado das mesas.

Sentamos em uma mesa próxima à porta. Pedi um café e Sophie pediu um Latte, com panquecas para dividirmos. Enquanto esperávamos, Sophie permaneceu pensativa.

–O quê? - perguntei

Ela me fitou, como se decidisse se contaria ou não. Por fim, suspirou e disse:

–Estive pensando em Amber.

Praguejei em silêncio.

–Como sabe sobre Amber? - perguntei, irritado. Então, lembrei de como recitou tudo que acontecera com a mesma facilidade que diria sobre o que almoçara no dia anterior. - Aliás, como sabe de tudo?

–Fui ao Peep's ontem e me atualizei com Bella. - respondeu. - Estou com medo de ela tentar nos impedir.

–Por que ela faria isso? - perguntei, enquanto a garçonete depositava o pedido em nossa mesa.

–Ela é um demônio completo, certo? - perguntou ela.

Assenti.

–E se ela tentar alguma coisa?

–Que motivos ela teria, Sophie? - perguntei, mordendo uma das panquecas.

Sophie piscou.

–Porque ela é um demônio, talvez? Levar dor, crueldade e frustração para os quatro cantos do mundo faz parte da natureza dela.

Revirei os olhos.

–Somos demônios. - lembrei.

–Não somos completos. - ela retrucou, com a cara de uma criança de 5 anos exibindo seu picolé

–Demônios não são monstros sem cabeça, Sophie. - disse, tomando um gole de café. - Eles não atacam seus iguais. Principalmente quem está tentando libertar seu mestre.

O silêncio predominou por alguns segundos.

–Enfim. - suspirou ela, tomando um gole do Latte. - Eca, frio... Afinal, qual o próximo selo?

–Desse eu lembro. - forcei a memória, enquanto ela empurrava o copo para um canto. - 'Os primeiros a chegar, devem ser os primeiros a sair.”

–Essa é fácil. - ela riu, comendo uma panqueca. Ela hesitou um pouco. - E Amber?

Soltei um muxoxo.

–Voltamos a isso? - perguntei, tombando a cabeça para trás

–Ela pode estar por aí agora, matando gente. Temos que pará-la!

–Poupe-se o trabalho, Sophie. - disse, dando de ombros. - Estamos a um selo de libertar Deus. Ele pode cuidar de Amber em um piscar de olhos. Amber se foi. Já superei. Agora vamos nos concentrar no selo. Certo?

Ela assentiu, sem retrucar.

–Certo, então, o que entendemos por primeiros a chegar? - perguntei

–O primeiro demônio e o primeiro anjo. - ela respondeu. - Se chegar significa “vir à vida”, então sair, significa morrer. Temos que matá-los.

–Essa foi fácil. - ri.

–Fácil dizer. Difícil fazer. - ela disse, pedindo a contagioso.

Estranhei.

–Você não é a Rainha Sophie Toda-Poderosa? - perguntei.

–Não sou de privilégios. - respondeu ela, entregando o dinheiro à garçonete, junto com um rápido sorriso.

–E o que fazemos agora? - levantei do assento e ela fez o mesmo.

–Voltamos a Redmont.

Ela saiu da cafeteria e a segui.

–O que Redmont tem a ver com isso? - perguntei, empurrando a porta

Ela suspirou.

–O primeiro anjo se chama Metatron e a primeiro demônio, novidade, se chama Lilith. - ela explicou, seguindo pela calça em direção ao castelo. - Por serem os primeiros, são diferentes dos comuns. Mais fortes. Mesmo com a prisão de Lúcifer e Miguel, esses dois mantiveram seus poderes. Por serem mais fortes, foram presos em cavernas, em dimensões opostas. Metatron está em Redmont e Lilith em Anakyse, no Monte Mefesto. É bem simples.

Murmurei um “hum” e seguimos em frente.

–Mas espera. - continuei . -Você disse que eles estão presos em cavernas. Preso tipo, mais selos?

–Não. Imagine que as cavernas são casas. Lilith e Metatron estão em um, Lúcifer e Miguel em outro. Tudo que fecha a casa de Lilith e Metatron é uma lona de pano. O que fecha a casa de Lúcifer e Miguel é uma porta de aço. Para libertar Lilith e Metatron, precisamos de uma tesoura: Poder para Metatron, Graça para Lilith. Para libertar Lúcifer e Miguel, precisamos de uma chave: Poder e Graça, juntos.

–Qual vamos primeiro? - perguntei

–Metatron. - disse ela, nos levando pela multidão dentro do mercado do castelo. - Ele está em Kraktus mesmo.

Sophie seguiu pela direita, em direção à Baía de Judas. Eu entendi o seu raciocínio. Se fossemos pela floresta, poderíamos contar com a agradável presença de Wendell, mas pela baía, chegaríamos a Redmont sem muitos problemas.

Ao sentir o toque de meus pés na areia, as más lembranças vieram. A morte de Hanna. Parei para observar. Sophie fez o mesmo.

O vento batia em meu rosto e o belo som das águas me acalmava. As águas azuis vinham até a praia antes de recuar, formando pequenas ondas. O forte cheiro de mar me trazia de volta àquele dia em que Jason trouxera as notícias.

–Peter, você está bem? - Sophie perguntou

–Desculpa.

Ela franziu o cenho.

–Nunca me desculpei pelo modo com que te tratei naquele dia. - disse, sem tirar meus olhos do lago (lago, mar, enfim...). - Devia ter dito isso mais cedo.

Sophie sorriu.

–Tudo bem. - ela disse, segurando meu ombro. - Estávamos... Mal.

Assenti. Ela abraçou meu braço e encostou a cabeça em meu ombro. Sophie suspirou.

–Eu queria ter sabido. - ela disse. - Queria ter sabido que não daria certo. Pelo menos, queria entender por quê.

–Por que as pessoas morrem. - pensei alto. - Essa é uma boa. Entender a morte.

–Por que as pessoas mais inocentes, são as privadas de uma boa vida? - ela continuou. - Eu me pergunto se, para onde quer que vamos quando morrermos, é um lugar bonito. Melhor. Por isso só pessoas boas vão para lá mais cedo. Nós ficamos aqui, sofrendo as dores da vida.

–Ficamos aqui. - repeti.

O rosto de Hanna se figurou em minha mente, como uma memória. Baixei a cabeça e senti uma lágrima descer.

Sophie segurou meu rosto e virou-me para ela. Ela limpou a lágrima.

–Mas não vale a pena. - ela disse. - Não vale a pena viver no passado. Se ficamos, é por um motivo. Só vivemos uma vez, Peter. Vamos fazer da nossa vida o melhor.

Ela hesitou.

–Não vamos deixá-la morrer em vão.

Ela me beijou. Foi um beijo longo e demorado, confortante.

–Eu te amo. - ela disse, pronunciando cada letra com cuidado, enquanto olhava fundo em meus olhos.- E é isso que importa.

–Também te amo. - disse, beijando-a outra vez

Risos foram ouvidos de longe.

–Que adoráveis!

Bella saiu de um beco que eu nunca teria notado se ela não estivesse ali. Ela usava uma jaqueta de couro com spikes, uma bota preta e uma blusa vermelha por baixo da jaqueta. Ela parecia uma motoqueira punk.

–Bella? - chamei

–Hey, tudo bom? - ela disse, me abraçando. - Soph, amiga!

Sophie a abraçou, rindo um pouco. Era visível que Sophie passara de uma adolescente de 15 anos para uma mulher madura.

–O que você tá fazendo aqui? - perguntei, em meio às risadas

Seu sorriso sumiu.

–Ué – ela exclamou. - Não somos um trio?

“Não?”, pensei. Mas Bella estava sendo gentil e educada, não tive coragem. Então, preferi não dizer nada.

–Ah, gente, vai lá, né? - ela contestou, tombando a cabeça. - Peter, eu te ajudei a quebrar um selo, acho que sou plenamente adequada para me juntar ao Trio de Ouro.

Sophie e eu nos entreolhamos, ela com o cotovelo apoiado em meu ombro.

–Tá. - Sophie cedeu. - Mas você precisa saber para no quê está se enfiando.

Ela franziu o cenho.

–Primeiro: - comecei. - Sabe o Peep's? Pois é, há 90% de probabilidade de você ou não sobreviver ou não ter tempo ou paciência pra cuidar dele até que terminemos tudo.

–Segundo: A vida é muito mais frágil do que se pensa. - disse Sophie. - Somos demônios? Sim, mas uma pequena labareda, ou uma decapitação ou um coração arrancado, o que é bem fácil de fazer, te mata. Sem falar que existem certos ferimentos que, mesmo com a capacidade de cura rápida que temos, pode durar dias para serem curadas.

–Bom, não que isso já tenha acontecido conosco, mas esses são os riscos que sabemos que pode nos afetar. - completei.

Bella não esboçou alguma.

–Qual o último selo? - ela perguntou, com um sorriso malicioso.

Depois de alguns minutos, Bella foi atualizada. Recebeu um up-grade de Sophie nas informações sobre o quinto e último selo.

–Metraton, hum? - ela pensou alto

–Metatron. - corrigiu Sophie.

–Beleza. - ela disse, esfregando as mãos e seguindo pela costa, em direção à Redmont.

Seguimos ela. Eu estava nervoso. Já tinha perdido demais. Bella era uma das únicas coisas que ainda me restavam. Perdê-la poderia ter resultados arrasadores em mim. Mas eu não me importei. Ela era forte. Passaria por isso.

Bom, não foi difícil encontrar a caverna. Foi difícil chegar à caverna. Veja bem, fomos contornando a costa, o que durou cerca de duas horas até chegarmos à Redmont. A caverna ficava escondida nos remanescentes da floresta, na lateral da montanha, numa área escura, em que tudo que se via era apenas a entrada da caverna, iluminada pela luz da Baía. Fui na frente, por mero cavalheirismo. Sabia que ia me ferrar mesmo.

–Calma. - disse Sophie

Ela tomou a frente e sacudiu a mão.

–Incendia.

Quase fiz um escândalo ao ver sua mão pegar fogo.

–Lanterna improvisada. - ela disse, encostando o queixo no ombro.

Revirei os olhos, rindo. E assim seguimos, Sophie, eu e Bella, nessa ordem.

Estava tudo ótimo. Poderíamos ter continuado assim até o fim do dia. Entretanto, Sophie encontrou uma pedra barrando a entrada. Ela ergueu a “luz” e pude ver um desenho. Era uma escrita antiga.

–Toqeph - leu Sophie.

–Oi? - perguntei

–Poder. - ela falou, virando-se para mim. - Está escrito Poder.

–Dá licencinha. - pedi, abrindo caminho entre as duas.

Sophie se afastou e me alonguei um pouco. Pus minha palma sobre o desenho e me concentrei. Senti meu corpo estremecer.

Então houve um alto barulho de rachadura. Ao abrir os olhos, notei que a pedra se partira em duas, abrindo um espaço grande o bastante para uma pessoa passar.

–Vamos. - chamei.

Bella e Sophie me seguiram, com atenção ao passar pela rachadura. Chegamos numa sala ampla e redonda, onde não conseguíamos ver muita coisa. Sophie jogou a chama em suas mãos para o alto e ela se dividiu em quatro, voando para os quatro cantos da sala.

Parecia uma masmorra antiga. Correntes estavam espalhadas pelo chão. As paredes eram feitas de blocos de pedra como se, algum dia, Redmont fora um castelo. Encostado no chão, havia um corpo imóvel, de um homem quase reduzido a ossos. Sua cabeça, encostada em seu ombro, parecia quase sair bolando no chão.

–Ele está... Morto? - perguntou Bella

–Acho que não. - disse Sophie.

Ela se aproximou, mas eu a impedi, erguendo meu braço como uma barreira. Puxei a Lâmina de Cain da bainha invisível (agora visível) de Sophie e me aproximei. Ele não pareceu notar minha presença. Então, quando meu rosto estava a poucos centímetros do seu, senti-o agarrar-me pela nuca.

–Peter! - Sophie gritou.

Não hesitei. Tudo que se ouviu foi um forte som de perfuração. Cravei a lâmina em seu peito sem pensar duas vezes. Ele gemeu, tentando respirar, então desmaiou de vez, reduzindo-se à pó, como se estivesse apenas esperando a morte.

–Uau. - falei. - Isso que é o primeiro Anjo descente.

Sophie tombou a cabeça.

–Ele já estava morto, Peter. - disse Sophie.

Franzi o cenho.

–De algum jeito, alguém conseguiu entrar aqui. -ela explicou. - Não me pergunte como, pois a pedra estava intacta quando chegamos, mas ele não estava em seu perfeito estado. Algo está errado.

Ela pensou um pouco. Bella nos observou, atenta.

–Vamos logo atrás de Lilith. - resmunguei.

Elas assentiram e me seguiram para fora da caverna. Não consegui tirar da minha cabeça o pensamento de que alguém mais poderia estar atrás de nós.

Não demoramos muito para voltar à Anakyse. Não estávamos muito afim de prolongar as coisas. Desta vez, Sophie sugeriu que uníssemos forças durante a viagem de Kraktus à Anakyse. Deu perfeitamente certo. Em vez de um de nós cair no chão e se contorcer até parecer que está morto, cada um de nós sentiu apenas uma leve vibração.

Em poucos minutos, estávamos de volta ao Monte Mefesto. Sinceramente? Eu sentira falta dali. Fazia quanto tempo que eu não ia à Anakyse. Não que fosse uma cidade que me trouxera várias lindas lembranças, mas era um lugar que fazia parte da minha nova vida e eu já aceitara isso. Descemos o Monte à procura da caverna. Diferentemente de Metatron, a caverna de Lilith estava muito mais escondida. Quem a achou foi Bella, que estava vagando por um canto no extremo leste do Bosque. Já era tarde a esta altura e eu já tinha fome. Bom, eu já passara por muita coisa pior. Fome era o menor de meus problemas.

Entramos na caverna de Lilith. Estava um odor insuportável lá dentro, um cheiro horrível de enxofre. Enxofre. Que clichê. Bella tapou o nariz, com nojo. Sophie e sua luzinha foram na frente, mesmo sabendo que, em algum ponto, teria de abrir caminho para mim.

Porém, não foi necessário. Quando demos por nós mesmos, já estávamos na “masmorra” de Lilith e, mesmo quando Sophie iluminou todo o cômodo...

Não tinha ninguém.

–Isso não está me acontecendo. - murmurou Sophie. - Isso não tá acontecendo!

–O quê? - perguntei, abismado

–Lilith fugiu. - anunciou ela.

Senti meu coração disparar. Estávamos mortos. Lilith não era conhecida pela sua bondade. E eu não estava nem um pouco afim de esbarrar com ela fora de sua caverna.

–Precisamos sair daqui antes que ela chegue. - disse.

–Tarde demais. - disse Bella

Olhei para os lados, atrás de um ser demoníaco e ensanguentado. Mas nada.

–Onde?! - exclamei.

–Peter... - Sophie começou, me puxando para trás.

–Aqui. - disse Bella.

Ela ergueu sua mão e grades de ferro surgiram do chão, enquadrando a mim e a Sophie.

–Bella... - chamei

–Não. - ela disse, com um sorriso malicioso.

Suspirei.

–Lilith. - disse enfim

Bella sorriu.

–Olá, Peter. É um prazer te conhecer.

Seus olhos ganharam uma tonalidade vermelha, assim como aqueles demônios que haviam me atacado em minha casa. Assim como Amber, no reflexo do seu olhar eu vi sangue. Dor. Agonia. Virei o rosto, evitando encará-la.

–O que fez com Bella? - Sophie perguntou

–Nada. - ela disse. - Bella morreu faz mais de um ano.

Aquilo me atacou como um choque elétrico. Um ano. Um ano que eu não notara que Bella, quem eu conhecia há anos, já se fora fazia muito tempo.

–O incêndio foi causado por ela sim. - contou Lilith, andando de um lado para o outro da caverna. - Seus pais morreram. Ela quase morreu. Porém, eu a salvei. Ela está aqui dentro em algum lugar, mas assim que eu sair, ela morrerá. Meu Poder é o que a mantém viva. Porém, ela levou uma queda da escada tentando salvar os próprios pais e acabou derrubando um dente, fazendo aqueles idiotas da polícia acreditarem que estava morta.

Ela riu.

–Fizeram velório e tudo, acredita?

–Como se libertou? - perguntei

–Nunca estive presa. - ela riu. - Ninguém nunca tinha notado, só isso. E sim, fui eu quem deixou o pobre Metatron na beira da morte naquela caverna. Eu estava com fome e quase matei seu recipiente.

Ela levou a mão à boca.

–Ops.

–Recipiente? - perguntei

–Sim, querido. - respondeu Lilith, me encarando. Seus olhos estavam normais agora.- Quando um demônio ou um anjo possui um corpo, esse corpo se chama recipiente. Vivemos nele. Vivemos sobre suas dependências. Se aquele idiota do recipiente de Metatron morresse, ele estaria livre. Mas não sou burra e tratei de prendê-lo lá com um feitiço. E você o matou. Lindo.

–Olha, eu não estou entendendo. - disse Sophie, segurando as barreiras da grade. - Você é filha de Lúcifer. Era pra se ajoelhar e nos implorar para que a matemos. Sem sua morte, seu mestre nunca vai se libertar.

–É aí que você se engana. - disparei.

Lilith pareceu confusa.

–Eu achei um jeito de libertá-lo sem libertar Miguel, Deus ou precisar matar minha senhora. - continuei

Sophie parecia se arrasada a cada palavra que eu dizia.

–Como é? - ela perguntou

–Desculpe, Sophie, mas eu não estou do seu lado. - expliquei, encarando o chão. - Todo esse tempo, desde o ataque à minha casa, tenho me dedicado a libertação de Lúcifer. Ele é o Senhor do Inferno. Ele sim pode trazer as almas de volta.

–Peter... - ela tentou falar.

–Eu nunca te amei.

Sophie recuou. Uma lágrima desceu, mas ela limpou rapidamente.

–Uau. - disse Lilith, impressionada. - Estou maravilhada. Vejo que você não é o que os outros dizem. Vejo que será um ótimo general para meu Senhor.

–Nosso Senhor. - corrigi.

Lilith exibiu um sorriso e tamborilou seus dedos no ar.

–Venha.

Franzi o cenho. Ela gesticulou para que eu andasse. Fui em frente e passei pelas barreiras como se elas fossem fumaças.

–Bem-vindo ao lado vencedor, Peter. - disse Lilith, sorrindo.

Ela se aproximou e segurou meu rosto com suas duas mãos.

–Vamos conseguir. - ela disse. - Lúcifer conta conosco.

Assenti. Ela aproximou seus lábios. Eu pude sentir o forte cheiro de seu perfume.

Assim como Metatron, não hesitei.

Dei a primeira investida com a Lâmina contra o coração de Lilith, mas ela parecia ter previsto. Sua mão agarrou meu pulso antes que eu chegasse ao meu alvo. Ela aproximou sua boca do meu ouvido e murmurou:

–Estúpido.

Então, quebrou meu pulso como se fosse um palito de dente e me chutou para o outro lado da sala. Ela tamborilou a faca em suas mãos.

–Cain... - ela disse, como se lembrasse de algo. - Como ousa me atacar com isto?

Aos poucos, me levantei, reajustando meu pulso. Com a cura acelerada, não demorei muito para ter meu pulso de volta.

–Era uma oportunidade. E eu agarrei-a.

A boca de Lilith se escancarou.

–Como... Ousa.... - ela pronunciou cada palavra com cuidado, se aproximando de mim devagar. - Recusar... Ao meu... Senhor?!

–Ele é um idiota! - gritei. - E vai perder! Porque vocês são imprestáveis e inúteis! Me diz, o que são uns demônios sujos ao lado de um bando de Anjos Celestiais, com sua luz branca e suas asas? Hein?!

Ela puxou sua mão e a contorceu e, como um boneco de voodoo, fui jogado aos seus pés e tive minha coluna entortada.

–Você vai sofrer por isso. - ela disse. - Ninguém me desafia e sobrevive. Você está na minha casa, no meu chão! Acabou pra você, Peter Roman.

Ela ergueu a faca no ar. Eu estava morto. Minha espinha não curara ainda. Não havia chance de eu me arrastar para longe e, mesmo que eu o fizesse, não seria longe o bastante. Então, tudo o que fiz, foi fechar os olhos.

A faca caiu ao meu lado. Houve o som de um crec e algo ainda maior caiu. Abri os olhos. Lilith jazia caída no chão, com seu pescoço quebrado.

–Mas essa é minha cidade.

Atrás dela, de pé, irritada e com um leve ar de alívio, estava ela, com seus longos cabelos loiros e seus olhos claros. Hanna.

–E vocês tem muito o que explicar.


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Notas finais do capítulo

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