The Last Taste - Season 1 escrita por Henry Petrov


Capítulo 30
Knockin' On Animus' Door


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal.
Sim, me matem. Semanas sem postar nada. Muito bonito. Mas foi só uma recaída. Vou tentar postar com mais frequência.
Bom, muita gente vai querer me matar depois desse capítulo. Mas não se preocupem, é temporário, beleza?
Ah, e mudamos o Peter, beleza? Aquele do primeiro capítulo é muito engomadinho. Peter é V1D4 L0K4, tem que ter cara. Bom, é só isso. Boa Leitura (:



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–Morrer?

Eu parecia ter levado um choque. Não, não era possível. Eu não podia simplesmente morrer. Não depois de tudo que eu tinha sobrevivido. Bella voltou a limpar o balcão.

–Não, não. - resmunguei. - Tem que ter outro jeito.

–Bom, a não ser que prefira sair correndo por aí atrás de uma galinha dourada... - retrucou Sophie

Suspirei, impaciente.

–Peter, eu não achei...

Hanna andava apressada, mas parou ao ver Sophie.

–Nada.

–Hanna. - cumprimentou Sophie.

–Sophie.

–Você atualiza. Eu bebo. - falei para Sophie, que revirou os olhos. - Eu quero uma dose de uísque, Bella.

Ela riu e virou-se para preparar a bebida.

–Faça dois. - corrigi.

Hanna sentou ao lado de Sophie e esta explicou tudo. Eu bebi as duas doses e ainda pedi outra cerveja quando finalmente terminaram. Hanna estava aterrorizada.

–Mas não precisamos morrer, certo? - perguntou Hanna, esperançosa. - Tem outro jeito.

–Não que eu conheça. - respondeu Sophie

–Não existe nada como, sei lá, uma morte temporária? - perguntou Hanna

Sophie arregalou os olhos. Então, sacudiu a cabeça.

–O quê? - perguntei

–Nada. Esquece.

–Tá, tá. - suspirou Sophie. - Você é um anjo, Hanna. Nada pode te matar.

Hanna pareceu entender.

–Oh.

Pisquei.

–Oi? Por que eu sou sempre excluído das conversas implícitas?

Hanna tombou a cabeça para um lado.

–Você lembra da primeira vez que vimos Patrick? - perguntou Hanna, um pouco atordoada. Assenti. - Você lembra o que aconteceu com ele? O que... O que você fez com ele?

Então eu entendi. “NADA pode matar um anjo! Nada!”, a voz ecoou em minha mente. Eu matara Patrick. Lembro de seu coração escorregando pela parede de sua sala. Ele estava morto. Então do nada, não estava mais.

–Hanna tem que morrer. - conclui.

Sophie assentiu.

–Pelas mãos de um demônio. - disse ela. - Isso é muito importante. Se ela for morta por um anjo, não vai voltar. Nem se for pela Lâmina de Cain.

–Então nós temos que matá-la. - falei. Hanna comprimiu os lábios.

Houve silêncio. Nem tomei a outra cerveja que eu pedira. Não demos uma palavra. Nenhum de nós se atreveu a falar.

–Eu aceito. - Hanna quebrou o gelo. - Eu aceito em ser morta por um de vocês. Temporariamente.

–Qual de nós? - perguntou Sophie

–Você, Sophie. - falou Hanna. - Não acho que Peter queira me matar. Por mais que seja temporário.

–Isso é um insulto? - perguntei, com as sobrancelhas erguidas

–Não. - respondeu Hanna. - Só acho que você já tem muito sangue em suas mãos.

Sophie olhou para mim, confusa.

–Longa história. - resumi e ela pareceu se contentar com isso.

Sophie tomou a dose de Scotch (que fiquei impressionado com o tempo que ela demorou pra tomar) e se levantou do banco.

–Certo, me encontrem na Baía de Judas às quatro da tarde. - disse ela, colocando a bolsa no ombro. - Tenho umas coisas pra fazer.

Então ela saiu do bar, apressada.

Hanna ainda estava um tanto paralisada.

–Você está bem? - perguntei

–Estamos falando de morte. – ela confessou. – Tenho 50% de chance de vida.

–Como assim 50? – perguntei. – É 100%. Sophie foi bem clara.

–Peter, estamos falando de morte. – ela repetiu. – Há chances de não funcionar.

–Então 99,9% de não funcionar. – retruquei

Ela baixou a cabeça, preocupada.

–Ei. – ergui sua cabeça pelo queixo. Arrumei seu cabelo atrás da orelha e fitei seus olhos. – Vai dar certo. Não vou deixar você morrer. Confie em mim.

Ela deu um sorriso tímido.

–Vamos. – sorri e coloquei meu braço por trás de sua cabeça.

Ela assentiu. Terminei a cerveja e levantei do banco, saindo do Peep's. Sim, saí sem pagar, algum problema? Ninguém notou. Provavelmente, foi para a conta da rainha. Quando cheguei à calçada da estrada, Hanna me parou.

–Peter, espera.

Virei para falar com ela.

–Ontem. - falou ela. - Nós não tivemos tempo para falar sobre isso, mas... Por quê? O que significa?

Franzi o cenho, confuso.

–O quê?

–O beijo.

Minha mente se clareou com aquela memória. Na verdade, o momento era um borrão em minha mente, provavelmente porque eu estava bêbado e tinha acontecido, praticamente no escuro.

–Eu não sei. - respondi.

Houve silêncio. Por mais que nenhum de nós falasse nada, ainda permanecíamos parados, um de frente para o outro, enquanto as pessoas nos desviavam pela calçada.

–Acho que sei sim. - disse, enfim

Agarrei-a pela cintura e beijei-a, sentindo a surpresa em seus lábios e a sedução em seu corpo. No início, ela parecia tentar se afastar, mas agora, ela cedia, beijando de volta, com a mão em meu pescoço. Ao fim, de testas coladas, sorrimos.

–Foi uma boa resposta? - sussurrei

–Uma ótima resposta. - respondeu ela, voltando a me beijar

Ela entrelaçou seu braço no meu e seguimos pela calçada.

–E agora? - perguntei – Para onde vamos? De acordo com meu relógio, são nove e meia da manhã e só vamos nos encontrar com Sophie às quatro horas.

Hanna suspirou.

–Eu tenho uma sugestão. - disse ela. - Que tal darmos uma olhada na cidade?

Seu olhar era travesso traduzia sua “olhadinha”. Ergui sobrancelhas e resmunguei:

–Hum.

Sorri de volta. Ela riu e seguimos pela calçada, procurando em volta por um motel. Por incrível que pareça, foi bem fácil. Havia um enorme, cheio de luzes, um muro escuro e um letreiro luminoso que dizia: Motel Helly. Entramos, animados. Parecíamos um casal em sua lua-de-mel.

Na verdade, não era muito diferente. Eu sabia que as chances de que eu estava me enganando, que era o selo mexendo com meus sentimentos, eram muitas, mas alguma coisa dentro de mim me dizia que era aquilo que eu desejava. Era o amor, era o sexo, o calor de dois corpos, atraídos pelo amor. Sexo é muito bom. Sexo apaixonado é perfeito. E era isso que eu queria. O meu próprio selo, que me confirmaria todo o meu amor por Hanna. O selo tentara me afastar dela, me trazendo um sentimento de repulsão. Agora, eu sentia um amor, uma paixão enlouquecedora que eu não conseguia segurar. Se isso era o selo, não importava. Eu só queria aproveitar.

Nos aproximamos do balcão e da moça atrás dele. Ela parecia uma garçonete, com um colete vermelho sobre uma blusa branca e um laço preto de garçom em seu pescoço. Seu cabelo era preso por um coque e ela sorria, enquanto trabalhava em um computador.

–Um quarto, por favor. – falei.

Ela piscou e olhou para mim.

–Vinte e cinco kultos a hora. – retrucou ela. – Vocês tem mais de 18 anos, certo?

–Sim. Kultos? – perguntei, confuso

–Acho que é a moeda daqui de Kraktus. – falou Hanna

Ela remexeu os bolsos, impaciente. Sua mão saiu de lá com uma nota de 100 dólares.

–Vale em dólar? – perguntou ela, com um sorriso esperançoso

A mulher deu de ombros e pegou a cédula. Levantou-se e foi até um quadro preso na parede, cheio de pregos com chaves penduradas. Cada chave tinha um número. Ela pegou o número 211 e jogou para mim, sobre o balcão.

–Divirtam-se. – riu a atendente

Rimos juntos e subimos ao quarto, animados.

Sinceramente, eu não tenho palavras para descrever (mentira, tenho, mas prefiro não usá-las).

Não foi um sexo selvagem e memorável, como o de Sophie. Foi amoroso. Não teve aquelas estocadas rudes. Mal me lembro. O toque era mais suave, o movimento mais leve. Não era algo impuro e sujo como normalmente. Parecia mais uma celebração. O anúncio de que tudo voltara ao normal. Estava tudo certo.

Pelo menos eu achava.

Fomos acordados por uma mal-humorada atendente, que nos disse para sair porque já estávamos excedendo o horário pago. Não sei quantos dólares fazem um kulto ou quantos kultos fazem um dólar, só sei que foi bem mais do que eu tinha.

–Coloque na conta da rainha. – disse eu.

Hanna ergueu as sobrancelhas, enquanto eu assinava papéis sobre o balcão.

–O quê? – perguntei, um tanto irônico. – Ela me deve três meses da minha vida, não é?

Hanna tombou a cabeça, em desaprovação. Observei-a por alguns instantes, esperando que ela fosse tentar me mudar de ideia.

–Ótimo. – conclui, virando o rosto para dar um sorriso rápido para a recepcionista

Um casal entrou enquanto Hanna e eu saímos. O relógio pendurado na parede indicava quatro e quinze da tarde. Sophie já nos esperava. Fomos andando pela calçada, despreocupados. Estávamos alegres. Mas era uma alegria distorcida, uma alegria cruel, pois tínhamos muitas coisas bem sérias e consideradas tristes para fazer. Eu não me importava. Eu tinha Hanna do meu lado. A luz que eu perdera. E agora eu estava feliz porque tinha oficializado isso.

Minha alegria durou pouco, pois minha mente teve seus pensamentos varridos para dar espaço a uma única coisa: um santuário no centro do Mercado.

Hanna e eu entramos, sem notar nada de esquisito. Os feirantes ainda arrumavam suas tendas, organizavam suas frutas... Algumas crianças roubavam, por mera pirraça. Nada fora do comum. Porém, todos pareciam rodear uma alta placa de mármore, ilhada em um espelho d’agua. Várias velas boiavam na superfície, suas chamas dançando com o vento da tarde. A pedra tinha um formato pentagonal, como um caixão. Havia uma mulher desenhada, uma mulher sem rosto, com seus cabelos flutuando em volta de sua cabeça, esculpida com pétalas delicadas em suas costas, como se brochasse de uma bela flor. Apenas um, um único dedo de seu pé esquerdo tocava o chão desenhado. Como se emanasse poder, caules rudes escapavam por volta do local tocado pelo dedo. O lago refletia cada detalhe. As pessoas passavam em volta e acendiam velas.

Sinceramente, aquele era o pior local para se ter um santuário. Um monte de gente, vindo de cá pra lá, a maior zoeira e, olha, um santuário. “Vamos rezar?”. Não fazia sentido.

–Quem é? – perguntei

Hanna deu de ombros. Deixamos isso pra lá e pegamos um caminho secundário no castelo para a Baía de Judas.

–Finalmente! – exclamou Sophie, irritada

–Estávamos... – começou Hanna, mas ela se auto interrompeu. – Bem...

Sophie ergueu as sobrancelhas. Hanna comprimiu os lábios. Sophie olhou para mim, engoliu seco e suspirou.

–Não precisa.

Revirei os olhos. Minha vista caiu sobre a bainha no cinto de Sophie.

–Isso é...? – perguntou Hanna, arregalando os olhos. – Você está louca?!

–Claro que não é a Lâmina de Cain. – falou Sophie, impaciente. – Não estou ficando louca. É um facão de cortar carne.

Hanna suspirou, relaxada.

–Ei, qual é a do templo no meio do mercado? – perguntei

Sophie suspirou.

–Era pra ser um templo para Paris. – falou Sophie. – Ela era boa pra caramba no que fazia e vendo ela, usada pelo Wendell, simplesmente... Bom, o que importa é que a semanas tenho tentado expulsar os feirantes, mas eles sempre voltam. Parecem aquelas coisas que grudam no casco de barcos.

–Ah. – falei. – Mas ela era tão amada assim?

–Era quase uma bruxa sênior aqui. – respondeu ela, passando a lâmina pelo seu dedo. – Tinha um contato sobrenatural com a natureza.

–Ah. – repeti.

A areia corria pelos meus pés, fazendo cócegas. A brisa do mar tocava meu rosto, renovando minha cara de sono pós-sexo. O vento trouxe um leve cheiro de sujo. Contorci o nariz, enquanto Sophie desembainhava a faca. Hanna posicionou-se em frente à ela, apreensiva.

–Vamos. – disse Hanna. – Faça.

Sophie molhou os lábios, nervosa. Segurou a faca com uma mãos e eu me afastei. Não estava com vontade de sujar minha blusa de sangue. Já estava com um cheiro horrível de... Esquece.

Hanna fechou os punhos e os olhos, como se não quisesse ver. Então, Sophie tomou impulso e ouvi um grito esganiçado vir de Hanna. Ela sufocou, buscando ar. Sophie torceu a faca, com os olhos marejados. Hanna parecia lutar para manter os olhos abertos. Então, Sophie soltou a faca e Hanna tombou no chão. Morta.

Sophie e eu nos entreolhamos. Ela fungou, como se tentasse esconder o que sentia. Hanna não fez nenhum som ou movimento nos segundos que se seguiram.

O vento soprou mais forte. Sophie fechou os olhos e uma lágrima caiu. Ela abriu e observou o mar, apreensiva.

Então, seu cenho franziu. Ela tombou o rosto um pouco, como se não acreditasse. Virei-me para ver o que ela olhava. Tive a mesma reação.

A alguns metros de nós, um corpo estava na praia. Um corpo vestido no que um dia fora um vestido branco. Estava sujo de lama e rasgado. Era uma mulher. Seus longos cabelos loiros caiam na areia, como uma cachoeira. O corpo se movia devagar, como se tentasse continuamente respirar. Eu sabia quem era. Eu reconhecia aquele corpo que se contorcia levemente na areia cascalhada. Aquele corpo que eu vira esculpido no templo.

Paris. Paris estava caída aos pés do mar, lutando pela sua vida.


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