The Last Taste - Season 1 escrita por Henry Petrov


Capítulo 23
The Debt That All Men Pay


Notas iniciais do capítulo

Oi povo bonito!
Esse capítulo ficou triste e dramático, eu sei. Desculpa pela raiva de alguns, ok? Bom, o negócio é que eu to sentindo falta de vocês. Comentem pra gente pode discutir um pouco, certo? O "assunto" tá nas Notas Finais. >SÓ LEIA APÓS TERMINAR DE LER O CAPÍTULO< Tem spoiler. Bom, era só isso. Boa Leitura :)



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Sophie arregalou os olhos, olhando estática para onde o colar deveria estar se não tivesse virado pó. Ela começou a ofegar. Wendell estava sério, com o nariz um pouco retorcido. Ele encarava Sophie, como se pudesse derretê-la com o olhar. “Estamos mortos.”, pensei.

–Calma, Wendell... - pedi

–Calma?! - ele vociferou, se aproximando – Você quebrou sua promessa e tentou me sabotar com um pedaço de lixo!

–Não, não! Por favor, acredita em mim! - suplicou Sophie – Eu juro que eu não sabia que a alma não estava mais aí, eu jurava que estava, estava nas gavetas, eu juro!

Seu rosto suavizou e ele sorriu, acariciando o rosto de Sophie com um dos dedos restantes da mão esquerda.

–Eu acredito em você. - ele disse, lentamente e com uma voz tristonha.

Seu rosto se contorceu em raiva e ele se desfez no ar em um pó roxo e brilhante, que flutuou no ar acima de nós.

–Corram!

Sophie não gritou a tempo, antes que pudéssemos fazer alguma coisa, o pó caiu sobre nós como se de repente, a magia tivesse acabado. Minha visão rodou e me senti tonto, até que perdi o controle de meu corpo e caí no chão, inconsciente.

Passei pelo que pareceram segundos desacordado. Quando reabri meus olhos, senti minha bochecha contra o chão frio. Levantei e percebi onde eu estava: em uma gaiola. Era feita de bambus amarrados por um tecido verde, que acreditei ser uma folha. Forcei as barras, mas elas não cederam. Tentei fazer algum tipo de magia (Que Sophie, mesmo eu não podendo fazer magia em Anakyse, me ensinou os movimentos), mas não funcionou. Foi então que eu olhei para fora da gaiola. Eu estava em uma caverna, em uma espécie de penhasco, como se todos os caminhos em minha volta tivessem caído e só tivesse sobrado um pedestal de pedra. Olhei em volta e vi Hanna e Sophie, caídas dentro de gaiolas diferentes, em penhascos diferentes. Além delas, a uma boa distancia, haviam outros pedestais, com outras gaiolas, só que vazias. Porém, havia uma cantoria de choros e lamentos que, pelo que deduzi, vinham das almas dos pobres que venderam sua alma a Wendell que agora estavam presas nas gaiolas, longe de seus corpos e pior: longe da paz.. No centro, um tanto abaixo de mim, havia outro pedestal com um corpo caído, mas sem gaiola. Era Joe.

–Sophie! - gritei – Hanna! Joe!

Eles não me ouviram. Gritei seus nomes por mais um tempo, mas eles permaneceram imóveis. Cheguei a pensar no pior. Então, Sophie grunhiu, se levantando aos poucos. Ela se assustou ao ver onde estávamos. Ela olhou, subitamente, para um dos pedestais atrás dela e de Hanna: uma gaiola aberta. Ela olhou para mim e murmurou: “Paris.”. Mordi o lábio, apreensivo. Hanna se levantou em sua gaiola com a mão na cabeça, confusa.

–O que...? -ela perguntou. Na verdade, eu não ouvi, estávamos muito longe um do outro, mas entendi pelo movimento de seus lábios.

Ela olhou para as outras gaiolas e para mim. Balancei a cabeça, negativamente. Ela suspirou. Então, ao olhar ao corpo de Joe caído no centro, ela pressionou seu rosto entre as barras, como se tentasse passar pelo espaço entre elas.

–Vejo que todos já acordaram!

Ao ouvir sua voz, estremeci. Era a mesma voz que eu ouvira da primeira vez, mas dessa vez, ela não ecoava na minha mente. Ela estava ali, presente em algum lugar. Então, o pó roxo brilhante apareceu voando pela caverna e pousou ao lado de Joe, onde se uniu e formou um corpo.

Era um homem, de meia-idade. Ele tinha cabelos escuros que caiam como uma samambaia em seu rosto. Sua pele era enrugada, seu nariz era torto e seus dentes eram amarelos. Em compensação, seus olhos eram azuis, a única coisa que me dizia que um dia ele devia ter sido um homem de bem. Ele usava uma jaqueta de couro. Seus dedos tinham longas unhas escuras, como se não tivessem sido limpas em décadas. Aquela era a verdadeira forma e face de Wendell, com um sorriso estampado no rosto e rindo de nós.

–Deixa ele em paz, Wendell! - Sophie gritou – Seu problema é comigo, não com ele.

–Ué? Mas vocês não são cúmplices? - Wendell perguntou, confuso. Então, ele ergueu a sobrancelha e tapou a própria boca com os quatro primeiros dedos. - Oops! Desculpa pelo spoiler! HAHA!

Ele riu, olhando para mim. Sophie engoliu seco. Sinceramente, eu não acreditei que Joe e Sophie tivessem algum plano maligno. Ela era honesta e sincera comigo, ela nunca iria me trair. Então, não dei ouvidos. Eu sabia que estava certo em confiar nela.

–Cala a boca, Wendell! - ela gritou de volta

–Bom, vamos ao que interessa: Sua dívida! - ele apontou para Sophie, com o nariz contorcido. Ele começou a falar, enquanto andava pelo pedestal em volta de Joe- Senhorita Hough me fez um acordo, a passagem segura pela alma muito prezada de Robert St. Germain. A ré não só deixou de cumprir sua parte do acordo, como tentou, com tamanha desonestidade, me passar a perna com um talismã falso. O que a senhorita tem a dizer em sua defesa?!

–Eu não sabia que era falso! - Sophie respondeu, com as costas apoiadas nas barras da gaiola.

–O que prova que você não sabia? - ele voltou a perguntar, com os olhos apertados.

Sophie abriu a boca diversas vezes, mas não tinha resposta para dar.

–Foi o que pensei. - ele falou, enfim. - Bom, eu não posso ficar no prejuízo, posso?

Ele estalou os dedos e Joe acordou, assustado. Ele se levantou rápido e ficou olhando para os lados, atordoado. Seu rosto pingava de suor e sua blusa estava encharcada.

–Acalme-se, anjo. - mandou Wendell e Joe obedeceu, ficando parado no centro do pedestal. Sua respiração estava pesada. Ele encarou Wendell

Hanna estava assustada pra caramba. O medo era visível em seu rosto, enquanto ela tentava forçar as barras para sair e salvar Joe.

–Deixa ele em paz! - gritou ela. - Por favor!

–Não machuca ele! - Sophie gritou junto

–Não se preocupem, o Trato não vai se quebrar. - ele falou, abanando a cabeça. - Ele só se quebra se um de vocês estiverem em perigo e os outros não fizerem nada para salvá-lo. Mas vocês não podem fazer nada, então assim que o amiguinho aqui se for, vocês continuaram aqui. Não se preocupem.

–Não estou preocupada com a droga de um Trato! - gritou Hanna, desesperada. - Ele é meu amigo e eu não vou deixar você tocar em um fio de cabelo dele!

Ela segurou duas barras com as mãos e tentou entortá-las, mas pareceu inútil.

–Essa caverna é a minha casa. - falou Wendell. - Ninguém pode usar magia nem fazer nada que eu não queria enquanto estiver aqui dentro. Então guardem seus baralhos e suas cartolas, pois não vai funcionar. Onde eu parei? Ah, sim! O pagamento da dívida!

–Eu faço o que você quiser! - gritou Hanna. - Eu te dou o que você quiser se você deixar ele em paz! Eu tenho ouro, muito ouro! Anakyse é uma terra rica!

–Eu não quero seu ouro. - ele respondeu. -Eu quero uma alma. E a sua não vale o bastante.

Ele puxou Joe pelos cabelos e fechou os olhos. Ele parecia ter uma visão. Vez ou outra, Wendell murmurou um “hum”, como se gostasse do que via. Por fim, ele sorriu e soltou o menino.

–Como você está encrencado, menino. - ele falou. - Tantas mentiras, nossa... Eu ganharei tanto com a sua morte! A desolação, a tristeza, a dor e... Sim, eu posso ouvi-lo!

Ele riu e olhou para o alto, como se tivesse perdido o foco. Então, ele estalou os dedos e murmurou:

–Crack!

Wendell riu alto e puxou uma faca do bolso. Era longa, bem afiada, com um cabo de madeira junto com vários desenhos alinhados em volta. Ele rapidamente encostou a lâmina na garganta de Joe, mas não chegou a cortar, como se sentisse prazer em estar tão perto, mesmo sem tocar na alma do rapaz. Ouvi Sophie dar um grito abafado.

–O som de um coração. Um coração se partindo. - ele falou, lentamente com ênfase em cada palavra. - Se um é bom, imagine...

Ele tocou o rosto de Joe com a outra mão e voltou a “olhar para dentro”.

–Três! - ele riu, alto, como um bobo da corte. Ao fim, ele exibiu um sorriso amarelo. - Vamos logo com isso, sim? Como se diz?... Ah, sim! Últimas palavras?

Ainda segurando-o pelos cabelos, Wendell ergueu a cabeça de Joe. O anjo olhou para Hanna e falou, rápido, como se não pudesse segurar mais aquelas palavras.

–Quando você ama, você deixa ir. Foi isso que eu fiz. Faça o mesmo.

Wendell deu um sorrisinho cínico. Ele ergueu a lâmina sob a cabeça de Joe. Eu via a lâmina descer devagar, como câmera lenta. Milhares de coisas passaram pela minha mente e pelos meus olhos nos últimos segundos de vida de Joe.

Eu olhava para todos os lados, esperando alguém, algum ser desconhecido, vir nos salvar, vir salvar Joe, nos manter a salvo daquele monstro. Sophie estava sentada sob os joelhos, com a cabeça enfiada nas mãos, chorando. Hanna pressionava seu rosto nas barras da gaiola, com lágrimas caindo em suas bochechas como uma chuva de inverno. Ela encostou a testa na parede da gaiola e chorou ainda mais, murmurando por misericórdia.

Naquele momento, eu sabia. Ninguém viria salvar Joe. Tudo o que nos restava agora era esperar. Olhei para ele, o encarei. Hanna e Sophie choravam. Eu o olhava com seriedade. Não era por orgulho, por machismo ou por qualquer coisa do gênero. Era por respeito. Eu sabia da gravidade daquele momento, mas eu também sabia que Joe merecia um apoio. Algo para mostrar para ele que sim, ele poderia passar por isso e que a morte não era só um rio de lágrimas deixados no caminho daqueles que um dia o amaram, mas o fim de tudo o que ele já viveu. Por fim, murmurei:

–Tá tudo bem.

A lâmina desceu e o corpo de Joe caiu para trás, enquanto sua cabeça pendia pelos cabelos na mão de Wendell. Eu não conseguia pensar. Hanna gritou. Um grito de dor e lamento, longo e doloroso, que me fez ver o que Wendell sentia: o som de um coração partido. Enquanto as lágrimas nos olhos de Hanna desciam como nunca, eu sentia algumas se formarem em meus olhos. Mas eu não choraria. Não havia motivo.

A verdade é que eu nunca suportei a morte. Minha vida, desde que entrei no nono ano, tinha sido uma vida, uma rotina de festas e garotas. Todas ali, precisando de mim para preencher o vazio de suas vidas inúteis e insignificantes. O pensar de que um dia eu morreria, de que um dia aquilo acabaria, me entristecia. Não por saudade daqueles momentos, mas pelo fato de que, não importa o que você se torne, um construtor da história do seu país um coveiro, no fim, todos viramos pó, todos nós viramos nada a não ser... Memória. Isso eu não suportava.

Por isso, naquele momento, as lágrimas faziam fila e empurravam umas as outras para saírem. Eu não deixaria. Sentei no fundo da gaiola e ergui minha cabeça, tentando me manter forte. Meu lábio tremeu, as lágrimas se jogavam pelas minhas pálpebras, mas eu ainda as segurava. Abaixei minha cabeça sobre meus braços e elas caíram. Eu chorei como um menino que perde um brinquedo. Ergui a cabeça novamente e enxuguei as minhas lágrimas. Eu tinha que ser forte. Hanna precisava de mim. Eu não mostrara um pingo de cordialidade com ela nos dias que haviam se passado e eu seria um completo imbecil se continuasse com isso agora. Além disso, eu me sentia ridículo e infantil chorando. As últimas palavras de Joe ecoaram em minha mente e eu entendi o seu último pedido: “Não chorem por mim.”. Se realmente nos preocupávamos com ele, tínhamos de deixá-lo ir. Tínhamos de seguir em frente. Foi o que ele fez. Resolvi fazer o mesmo. Não só sobre ele, mas sobre a minha vida, a vida que eu deixara para trás. Estava atrás. E era lá que ficaria.

Voltei a frente da gaiola e encarei Wendell.

–O que você quer agora, seu pedaço de m...

–Não! - ele me interrompeu, com o indicador erguido para o alto – Não vamos ser indelicados, sim? Agora, eu quero conversar com a Rainha de Copas aqui.

Ele apontou a faca para Sophie. Um caminho de pedra se formou entre os dois penhascos e Wendell seguiu aos pulos para sua gaiola. Ela se encolheu no fundo.

–Se você tocar nela, eu juro que...

–Você não sabe o significado da palavra conversar, sabe, garoto? - Wendell voltou a me interromper.

Ele se aproximou da gaiola e girou a mão em um movimento rápido e ela se dissipou no ar. Sophie ficou de pé, observando cada movimento de seu corpo, tentando prever um ataque. Wendell contorceu o nariz.

–Vocês não tem dicionário em casa não? - ele falou. Sophie acalmou seus olhos e ficou encarando Wendell.

Ele a segurou pelo pescoço e ergueu-a no ar, com um sorriso maldoso.

–Você ainda me deve a alma de Robert. - ele falou. Sophie arregalou os olhos. - Você tem até o último dia da sua vida para me dá-la. Se não, eu mesmo faço uma intervençãozinha no seu caminho para o Inferno e faço de você meu novo... Pássaro.

Ele riu e soltou Sophie, que caiu de joelhos no chão.

–Chega de favores pra você.

Ele estalou os dedos e tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

Me respondam: O que vocês acharam da morte de Joe? Queriam que tivesse sido algum outro personagem? Lucy, Hanna, Sophie, Peter... Expressem o que vocês acham!



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