Sobreviventes do Apocalipse escrita por SuzugamoriRen


Capítulo 35
Caçadores de Sombras




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À medida que Elaine entrava – novamente – ao séquito e grupo comandado de fato por Júlia Dalboni, esta, sentada defronte a uma mulher de cabelos flamejantes, começara a inquirir suas perguntas e indagações a respeito da criação de subgrupos de sobrevivência. Para isso, ela precisou recorrer à bem fundo em sua memória para saber do que realmente detinha de informação, tanto nos meses que passara sobre o comando de Juno como nos meses em que sobrevivera a frente de um grupo que procuraria por seus principais amigos antes de unir-se ao Obreiro, nome dado a Vinicius Ribeiro, o cara responsável por ser o “mensageiro” e o facilitador de recursos operacionais das diversas resistências ao redor do mundo. Lá escutou sobre a existência dos Shadowhunters, as quais eram pessoas ligadas a uma saga de um determinado livro, porém se tornou uma seita, de certa forma, segura a sobrevivência do apocalipse zumbi e o caos que se formara. O lema deles era: Proteger os amigos a todo custo, e desconfiar de tudo e de todos do lado de fora. Pois, não sabiam de onde o inimigo poderia vir.

Eram dessa forma devido aos seus embates contra a força do Governador, cujo nome era desconhecido. O referido conseguira reunir um numero grandessíssimo de seguidores e fieis no interior do Brasil. Usou-se da oratória e retórica e convenceu boa parte de quem se sobressaiu da primeira leva de zumbis de que o Obreiro não ligava para quem morava no interior, dada à política dele de nunca adentrar-se e embrenhar-se no território nacional, ficando apenas de litoral em litoral, percorrendo distâncias seguras. Tendo a esperança quase esvaída, o povo teve que se agarrar a alguma coisa e a sistemática de punições e recompensas do Governador tornou ele uma força a ser considerável no conflito político que poderia ser formado caso zumbis fossem aniquilados e o vírus fosse superado. Além dos dois – Vinicius e o Governador – havia o líder da maior resistência humana na América do Sul como um todo: Bruno Portinari. Era nessa trinca de poder que os fãs de outras sagas de outros livros procuravam mexer com o surgimento de seus grupos.

E para Júlia, saber sobre eles era de vital importância, porque uma amiga sua desde antes do inicio do apocalipse adentrara em um desses grupos...

– Natália...

– Júlia... Você me nocauteou, e olha que eu já fiz kungfu. Parabéns.

A garota estava muito bem amarrada a uma cadeira. Sua algoz mantinha o olhar fixo sobre ela de forma reprovativa.

– Quando pega de surpresa, Golpes rápidos e sufocantes te nocauteiam. Aprendi isso da melhor forma – a carioca sorriu enquanto cruzou as pernas – A gente poderia conversar a parte, poderia até ser amigas, mas você atacou o Elileudo. E isso eu não permito.

– E eu lá sei quem é esse Elileudo. Talvez ele tenha saído na época que eu entrei no grupo, logo não reconheci...

– Isso não é desculpa para atacar um cara que estava procurando por suprimentos médicos. Eu procuraria saber da história dele, compararia com a minha para então pensar num plano para nos ajudar. Somos sobreviventes, Natália. Temos que nos ajudar.

A jovem continuou em silêncio. Realmente pensando daquela forma, Júlia estaria certa.

– Então, Natália Kauer Pecorari, qual a sua história?

A descendente de alemães suspirou e fitou os olhos da líder daquele séquito da resistência.

– Você sabe que minha cidade, Piracicaba, é de certa forma pequena não é? Mas quando começaram os ataques, as pessoas se desesperaram querendo sair a qualquer custo da cidade cujo acesso era até tranquilo, porém o próprio fluxo fez com que tudo congestionasse e as pessoas virassem um prato feito a aqueles mortos vivos...

– Continue.

– Eu, a Bianca e a Lorena nos separamos para tentar salvar nossas famílias, mas eles não estavam nos lugares que deveriam estar. Nos desesperamos, procuramos, sobrevivemos. Passamos três dias inteiros dentro da sitiada cidade a procura de alguma notícia de nossos entes queridos. Nada. Nenhuma coisa.

– Assim como aconteceu comigo. Meus pais estavam no trabalho, quando tudo aconteceu. Depois disso, nunca mais ouvi falar deles.

– Exato. – ela abaixou a cabeça e começou a procurar uma memória que ela nunca mais iria esquecer – Daí a Bianca disse que teríamos que sobreviver a qualquer custo e se unir a uma força qualquer, pois unidos poderíamos vencer. Eu ainda queria procurar minha família, mas ela, mais forte que nós na época no psicológico convenceu a gente que se nos mantivéssemos vivas poderíamos procurar por pistas e descobrir qualquer indício do paradeiro deles.

– E o que aconteceu depois? – indagou Júlia após longos segundos de silêncio.

– A Bianca recebera mensagem da Marcela. Lorena foi sequestrada e eu fiquei só. Fui atrás de quem sequestrou a Lorena, mas não obtive respostas e por isso me unir a um grupo que se considerava shadowhunter. Somente fãs mesmo, para sobreviver. Nosso objetivo é conseguir um lugar livre de zumbis e livre de luta. Não que sejamos maus para os outros grupos, mas confiamos mais em nós do que nos outros. E já fui salva diversas vezes, bem como salvei muitas pessoas também.

– Como você disse, não é bem essa a visão que se tem das seitas menores.

– Como o nosso líder diz: a história e os boatos são feitos pelos que tão em cima. Pelo general do sul, pelo tão falado obreiro e pelo porco do governador.

– Porco?

– Sim. Ele procura exterminar com nossos grupos por considerarem eles uma afronta aos três poderes que se formarão após o desastre. Dizem que ele é visionário, mas...

– Mas isso não importa para mim – Julia se aproximou de Natália – Tem uma Malu Teixeira em seu grupo?

– Malu? Como você conhece a Malu? Ela é a vice-líder nacional dos Shadowhunters. Se quiser eu te levo até ela, mas teria que me soltar obviamente.

E Júlia se viu confrontada com a maior escolha que poderia fazer desde a fuga do Rio de Janeiro. Seguir e confiar em Natália e deixar seus amigos a mercê das intempéries alheias da formação dos grupos hegemônicos ou seguir seu instinto e coração em salvar mais uma amiga das garras de um dos grandes? Ela teria que fazer sua escolha rapidamente bem como refletir se poderia confiar em uma pessoa a qual ela acabara de nocautear e que faria de tudo para se libertar. Se estivesse mentindo? Se estivesse usando a informação dada por ela mesma a fim de ser livre novamente? A história dela condizia? Muitas perguntas para nenhuma resposta e duas possibilidades. Às vezes, queria livrar-se do peso de ser uma líder com escolhas. Só que, ao olhar seus amigos sorrindo e felizes ao seu lado, observava que tinha algo de bom de ser a mais eloquente e com decisões acertadas.

***

Vinicius acordara depois de um dia inteiro de descanso. Bianca descascava uma maçã e só havia ela dentro daquele grande quarto que era o seu. Ouvia barulhos de gaivotas do lado de fora e de movimentação. Talvez decidissem reconstruir a cidade de Rio Grande, e ele concordaria com isso. O Brasil precisaria de uma capital a alocar as pessoas. Uma terra prometida de seguridade e respeito. As quais as pessoas pudessem sonhar em ter um pouco de paz e prosperidade. E, partir dali, começar o avanço para a eliminação de zumbis. Já fora difícil alocar-se ali, logo para que mudar?

– Bia...

A mulher nascida no interior de São Paulo pulou de susto. Ela colocou a faca e a fruta em cima de uma bandeja inox e verificara a temperatura de seu corpo. Era normal.

– Vini... Como eu disse antes, nunca mais me de um susto desses. Pensei que estivesse precisando de algo... Não gosto quando você usa essa tonalidade em sua voz.

– Acalme-se mulher – ele sorriu – O que está havendo lá fora?

– Reconstrução da cidade, apesar dos esforços contrários da Thallita.

– Ela já se encontrou com a Lau?

– Sim. As duas estão lá fora conversando... Quer que eu as traga?

– Não agora. – ele se levantou com dificuldade e ainda sentindo seu braço dolorido – Tenho mesmo que falar com você.

– Sobre?

– O que iremos fazer a partir daqui... Quero que chame todos para a sala de reuniões. Irei abrir parte das cartas que tenho a todos vocês.

– Assim você está me deixando curiosa...

– Como sempre. Agora vá, antes que lhe deixe mais.

E após a saída de sua nova guardiã, Vinicius suspirou. O mundo mudava como o tempo em uma cidade cujo clima era instável. E o melhor a fazer essa adaptar-se para ser levado, como uma corrente ascendente, para os anais da história e, obviamente, da sobrevivência.


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