Sobreviventes do Apocalipse escrita por SuzugamoriRen


Capítulo 31
Imperatrix Mundi




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Êvanes Ribeiro... Considerado por muitos o homem que mudou o mundo. Não por causa de algo benéfico à população mundial, mas sim devido a sua criação. Findada a guerra fria, o principal governo do mundo procurou novas formas de mandar soldados para o campo de batalha de modo que as baixas fossem reduzidas. Nominalmente, tentaram-se compostos e inovações tecnológicas da indústria bélica, todavia aquele conhecido como Thanatos convenceu a ambiciosa cúpula militar a liberar verbas para um projeto ligado à química, física e biologia. O mensageiro da morte seria a face do projeto, o negociador, o político só que o físico responsável pela criação das novas formas de guerra, desta vez humanas, era um cientista saído da Universidade Federal da Bahia, cuja pós-graduação havia feito na Universidade de São Paulo.

Gênio. Era como Thanatos gostava de abordar o jeito de descoberta do baiano. Ele queria isolar o composto químico da Desomorfina, a qual possuía um composto muito semelhante a da heroína. A formação dos famosos supersoldados passaria pela indução de genes animais junto à opiáceos poderosos. O Krocodil era um deles. Pedaços de carne nos locais aplicados, que tinham uma coloração escura e começavam a descamar, como se fossem pele de um crocodilo – advento dessa forma do nome da chamada droga. Através da necrose e descamação, imbuir-se-ia na pele um composto animal com o gene dos lagartos – especialistas em regeneração. Aparente impossível dada às condições normais entrou então, dessa forma, a engenharia das coisas pequenas. A Nanotecnologia foi capaz de catalisar as reações e mutações de genes, uns com os outros.

Muitos morreram no processo de produção de supersoldados. Naturalmente, presos no corredor da morte de muitos países aliados norte-americanos foram utilizados como cobaias. O Krocodil era uma droga pesada. Nos locais em que a ela era injetada, via-se com frequência que os vasos sanguíneos se rompiam, que o tecido começava a apodrecer e, algumas vezes, descolasse dos ossos e caísse em pedaços. Para Êvanes tudo aquilo, todo o sofrimento das cobaias era necessário em nome da ciência, pois após esses eventos, ele induziria novos genes – regeneração animal – e peles mais espessas, fortes, com diversas camadas musculares renascendo-as. Os pequenos robôs, servindo de catalisador as enzimas de produção desses genes, tornaram alguns presos, mais fortes. Não só eram mais fortes, como eram mais ágeis, como eram mais inteligentes. O sucesso do projeto se deve ao isolamento do Gene H8, no genoma humano, o gene que facilitava a formação de novos soldados.

Novos supersoldados.

Os anos que se passaram foram de incumbência de testes nos campos de batalhas. Eles se tornaram verdadeiras maquinas de matar com muito poucas baixas. Até ai, o projeto vinha caminhando para uma virada sem precedentes da história da humanidade... Mas o criador dos supersoldados juntamente a face política e propagandista do projeto tinham outros planos ao projeto.

Começou ai a nova história humana. A história de sobrevivência. O brasileiro isolou as principais funções cerebrais a partir das próprias nano bactérias. Elas fizeram a sua parte e passaram a deixar de funcionar. Os supersoldados deixaram de ter aparência humana, o efeito da regeneração havia passado e agora o Krocodil-H atacava todas as células do corpo como se fosse um amontoado de formigas saciando o açúcar derramado. E assim os primeiros zumbis foram criados. Eles não poderiam morrer a não ser um golpe contundente.

Um golpe fortíssimo na região onde a locomoção e sentidos ainda se mantinham operacionais. A cabeça.

Como os mortos foram despertados com esta droga era um mistério ainda a ser descoberto. Não pelo criador, e sim pelas outras pessoas – incluindo Thanatos – visto que Êvanes não quis revelar seu segredo, nem para seus aliados. Talvez por segurança de não morrer pelo cientista político que se identificava como a morte. Ou seria por causa de ter a sensação de ser deus? Essa pergunta pertinente permeava o convés inteiro de seguranças, humanos, injetados com a enzima que fabricava a substância necessária para que eles continuassem humanos após as mordidas ferrenhas dos monstros conhecidos como “Zumbis”. A substância detinha similar efeito ao gene H2, o gene da Divergência segundo o criador do conhecido “Vírus Zumbi”.

– Êvanes, o que você quer fazer agora? – indagou Thanatos entrando no convés do capitão – Já concluímos tudo o que você queria fazer.

– Exatamente. Agora é o que você quer fazer – ele levantou-se da cadeira, e foi até uma estante pôr suas anotações e cálculos em um dos diversos vãos – Já fiz o que tinha que fazer que era testar a nova mutação. Agora só bastamos verificar como a terceira vertente do vírus atua.

– Depois daí – murmurou Thanatos.

– É a sua vez de incrementar a morte do mundo. Existem pessoas com o gene da divergência espalhados em todos os lugares do mundo. Seu sangue é capaz de curar o vírus em termos momentâneos. Não é uma vacina contra o vírus.

– É um soro?

– Não. Uma espécie de antissoro - o irmão do conhecido obreiro pegou um papel e começou a desenhar em cima da mesa de mogno utilizada por quem fica na sala “Capitania” – Quando a substância que está presente no sangue dos divergentes atua, ela não consegue sobreviver dentro do organismo após isso e termina sendo excretada por vias normais. Somente as pessoas naturais desse gene podem reproduzi-las.

– E a Thallita Santana?

– Eu injetei nela cento e cinquenta mil nanorrobôs, se ela for mordida, só um deles irá atuar. Ou seja, ela precisaria ser mordida cento e cinquenta mil vezes para simplesmente morrer por atuação do Krocodil.

– Você fez algo do tipo nos EUA?

– Fiz. Claire Daniels e Kate Morgan são os nomes das divergentes artificiais dos Estados Unidos.

– Passando por cima da minha autoridade, depois de todo o trabalho que eu tive que fazer para matar e aniquilar com os divergentes de lá, deixando apenas um para contar a história.

– Lembre-se que não foi você que deixou, ela que escapou e lutou até o final contra você – Êvanes sorriu – Foi à barganha que tive que fazer para tirar você do país onde surgira tudo.

– Deu a divergência a elas?

– Mas não expliquei isso que expliquei agora.

– Então quer dizer que nem Thallita, nem ninguém sabem desse fato.

– É mais interessante assim não? Agora se ficarmos observando as mutações e as coisas que podem acontecer, podemos mudar as regras do jogo.

– “Imperatrix Mundi”

– O plano para nos tornamos imperadores do mundo...

– ...Só está começando.

***

Em um galpão abandonado, Claudio e o homem que ele considerava Leônidas caminhavam até uma cama. Nela um homem estava amarrado a várias fivelas de cintos, correntes e parecia um maluco de tanto que gritava e urrava. Desde quando se aproximou da localidade, podia escutar sua voz de socorro ao longe. Primeiramente pensou que o estavam torturando, claramente, não o caso à medida que pôs seus olhos naquele homem.

– O que é isso?

– Meu irmão – disse rápido e seco, “Leônidas”.

O homem, de meia idade, tinha pernas escamadas e grossas. Não eram pernas de ser humano. Seus dentes e músculos descamados lembravam a boca dos zumbis à medida que a pele inteira de seu braço havia sido descascada por estar simplesmente morta. Os músculos apareciam em forma completa e Claudio não sabia o porquê ou até mesmo como ele estava vivo.

Como se escutasse e lesse seu pensamento, o homem apelidado de Leônidas esboçou um sorriso.

– Ele somente sobrevive graças a uma camada de gordura excretada pelo vírus. Ou seja, por incrível que pareça, o vírus mantém ele vivo. Essa é a terceira fase, de todos os experimentos feitos pelo homem da morte.

– E qual a vantagem disso?

Leônidas retirou um dos facões e golpeou a cabeça de seu irmão. Porém o crânio parecia inquebrável. A sequência de golpes, todos localizados na região da cabeça, fez com que Claudio virasse o rosto por alguns momentos...

– Ele não morre. A não ser decepado.

O homem apontou a duas outras camas que tiveram pessoas acorrentadas. O corpo se mantinha na cama, porém a cabeça...

– É a nova forma do supersoldado. Mas eu não quero que ele viva dessa maneira.

– Você quer que eu use meu sangue para curar seu irmão?

– Seu sangue contém o gene da divergência. Irá curá-lo com certeza.

– Mas e se não curar? Você mesmo disse que o vírus está mantendo ele vivo. Se ele morrer?

– Eu assumo a responsabilidade.

– Parece um daqueles episódios de uma série de vampiro que tenho que dar o sangue para o humano sobreviver.

– Se fosse tão fácil assim...

Claudio teria que tomar uma decisão de vida ou morte. Por que ele teria que ter o gene da divergência. Não seria mais simples se ele não tivesse e morresse logo? Assim não teria que viver no purgatório que o mundo se tornou.

Ele suspirou e olhou uma placa que tinha em cima da cama antes de assentir para a retirada de seu sangue.

Na placa tinha apenas duas singelas palavras, em latim – ou ele assim pensava:

“Imperatrix Mundi”


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