Lema de Lorien escrita por Mila


Capítulo 3
Parte III - Lema de Lorien


Notas iniciais do capítulo

Olá, eu voltei! E consegui fazer isso antes do próximo livro ser publicado! Uau! Hahaha.
Eu ia deixar o capítulo maior, escrever mais coisas, mas eu iria demorar mais, e eu vi que o que eu já tinha escrito já era, hm, bom.

Nesse capítulo eu fiz uma coisa diferente do que disse que ia fazer: Coloquei POV de outros lorienos.

Lembrando mais uma vez, SPOILERS, ok?

Não teve nenhuma reescrita dessa vez, mas eu copiei uma parte do quarto livro e coloquei na história. (Eu simplesmente acho essa parte incrível... e mega trágica).
A queda dos cinco, página 268. 277, 278.



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"Fiz o que Lorien queria que eu fizesse: desfazer o dano causado àqueles que não o merecem"
O poder dos seis. Pág 162.

MARINA

Tudo acontece muito rápido.

Cinco mergulha com a lâmina estendida. Nove, com os dentes cerrados, incapaz de se mover, observa o golpe fatal se aproximar.

De repente, Oito aparece na frente de Nove. Ele se teleportou.

–NÃO! - Nove grita.

A lâmina de Cinco atravessa o coração de Oito.

Cinco dá um passo para trás, em choque, quando percebe o que fez. Os olhos de Oito estão arregalados, e um ponto de sangue se forma em seu peito. Ele cambaleia para longe de Cinco, em direção a mim, com as mãos estendidas. Tenta dizer alguma coisa, mas nenhuma palavra sai. Ele cai.

Grito quando uma nova cicatriz queima meu tornozelo.

(...)

–Vocês não podem vencer, Marina. - ele continua. - Vai ser melhor se juntar a mim. Você... Você... - Cinco gagueja quando sua respiração se condensa diante da boca. A umidade a nosso redor é reduzida a um frio repentino. Seus dentes batem. - O que está fazendo?

Algo dentro de mim se rompe. Nunca senti tanta raiva antes, e é quase reconfortante. A sensação gelada de meu Legado de cura se espalha por meu corpo, mas de alguma forma é diferente, fria. Estou irradiando frio. Perto de Cinco e de mim, a água barrenta do pântano crepita conforme a superfície se solidifica. As plantas ao redor começam a murchar, desfalecendo, instantaneamente congeladas.

–Ma-Marina? Pare...

Cinco, envolvendo a si mesmo com os braços para se aquecer, dá um passo para longe de mim. Ela quase cai ao escorregar no gelo.

Com este novo Legado percorrendo meu corpo, minhas ações são guiadas por puro instinto de fúria. Ergo a mão, e o gelo toma forma sob Cinco: uma estaca pontiaguda que se eleva. Ele não é rápido o bastante para sair do caminho, e o gelo perfura seu pé, prendendo-o no lugar. Cinco grita, mas não me importo.

Ele se joga para a frente e segura o pé preso no momento em que outra estaca de gelo se projeta do chão, atingindo-o bem no rosto. Se fosse um pouco mais, talvez o tivesse matado. Mas apenas arranca seu olho.

Ele cai de mau jeito no chão congelado, o pé ainda imobilizado. E aperta o rosto, gritando.

–Pare com isso! Por favor, pare com isso!

*****

JOHN

Não era seguro para nós permanecermos em Chicago depois que os mogs destruíram o apartamento de Nove, pois eles podiam ainda estar por perto, e além disso todos os canais de tevê do país inteiro já noticiavam o acidente. Não demoraria muito para os humanos pensarem que foi mais uma obra de terrorismo de John Smith.

Tento pensar em alguma coisa, qualquer coisa, além do significado da dor gritante em minha perna.

Encosto-me na parede e fecho os olhos.

Não pense nisso.

–John? - Não preciso abrir os olhos para ser que era Sarah. Ela sentou-se ao meu lado. - Tudo bem?

–Está tudo dando errado. Eles pegaram Ella e...

Antes que eu pudesse terminar, Malcom começa a acordar. Sam se aproxima dele.

–Pai?

Malcom se senta com a ajuda do filho, e geme.

–Nossa, eu to inteiro. - ele sorri, fracamente. Sam aponta para mim e diz "agradeça a ele", e Malcom dirige seu sorriso a mim: - Muito obrigada... O que é isso?!

Ele se arrasta até mim e agarra minha perna. Sarah e Sam também se inclinam para olhar a cicatriz. Ela arfa e ele engole em seco.

–Menos um lorieno. - Malcom sussurra, aterrorizado.

–Quem será? - Sarah questiona, baixinho, com medo.

Sam permanece calado.

–Você sabe de quem é essa marca, Malcom? -pergunto, buscando os olhos dele. Talvez ele saiba, mas eu não sei se eu quero saber quem é. Seja quem for, a dor será igualmente horrível.

Ele toca a pele ao redor da cicatriz. Fica um tempo em silêncio, tentando pensar, depois passa a mão pela testa e senta-se novamente.

Já estou desistindo, quase dizendo a ele para ficar quieto e não nos contar, mas então ele diz:

–É o Oito.

ELLA

Eu estou apavorada. Tremo dos pés a cabeça e lágrimas escorrem por meu rosto.

Estou desperta de todo aquele meu sonho esquisito a pouco tempo, não sei mais o que está acontecendo na vida real. Tudo é tão estranho. Será que esta é mesmo a vida real? A única coisa que sei é que estou na Base dos Mogadorianos. Vi esse lugar uma vez em meu sonho, e por isso tenho certeza.

A maca que estou sentada é dura e fria e o cômodo tem um cheiro esquisito, de química, remédios. Não é um cheiro ruim, mas é desagradável, pois não é um cheiro de um lugar confortável e amistoso.

A porta de metal da sala onde estou desliza para o lado com um estrondo.

Eu sei quem é assim que a porta se abre. Eu já o vi no Novo México e também em todos os meus sonhos malucos. É Sékratus Ra. Eu fico receosa e sinto medo, mas depois de tudo que passei sei que ele não vai me machucar.

–Ella. - ele diz e sua voz ecoa pela pequena salinha. - Me acompanhe, por favor.

Eu saio da sala e ando ao seu lado em silêncio, ainda tremendo.

Ele começa a falar daquelas coisas que tenho medo de ouvir: Fala-me sobre os "bons" objetivos dos mogadorianos, sobre como sou especial e importante, como eu posso ajudar eles a realizarem o que eles tanto querem e sobre como, infelizmente, os lorienos que eu conheço não estão colaborando com a andamento de seus planos. Ele me disse apenas a intenção dos mogadorianos, mas não disse nada sobre os planos, sobre como a Garde atrapalhava eles, sobre o por quê de eu ser importante e como posso ajudá-los... Ele pode pensar que sou apenas uma garota de dez anos e que sei pouco das coisas, porém eu não sou como ele pensa. Percebi rapidamente o quão ele havia sido vago. Estava escondendo alguma coisa.

–Mestre. - um mog aproxima-se de nós mancando, para em frente a Sekratus Ra e lhe faz uma reverência. Ele se vira para mim depois. - Como vai, Ella?

Por mais que um enorme corte rasgue seu rosto da bochecha a testa, furando o olho, percebo que é Cinco. Eu arquejo, e as dúvidas invadem minha mente. Cinco está com o pé e a mão engessados. Bom, ele apanhou feito... mas de quem?

–O que aconteceu com você? - Sekrátus Ra pergunta, bravo.

Cinco olha para mim rapidamente e depois volta a olhar para ele.

–Um lorieno desenvolveu um novo legado.

–Ótimo. - O líder Mogadoriano fala, irônico. - Quem foi? O Número Nove?

Ouvir os meus possíveis inimigos falarem dos meus amigos é algo estranho, e talvez errado. O meu coração dispara e nada ajuda para a minha tremedeira.

–A Número Sete. - Cinco responde e olha para o chão.

–O que foi que você fez?! - Sekrátus Ra grita, furioso, antes que eu possa pensar qualquer coisa sobre a resposta de Cinco. - Não era ela que você julgava de confiança? Que poderia ser uma aliada, junto com aquele outro lorieno, o Oito? Ele também desenvolveu algum outro legado e furou seu olho?!

Eu fico desesperada. Nove, Marina e Oito? Mas onde eles estavam quando isso aconteceu? Cinco atacou-os? O QUE ACONTECEU?!

Marina. Você está me ouvindo? Tento chamar por pensamento, mas eu estou nervosa demais e sei que minha telepatia não vai funcionar agora.

–Não. - Cinco responde enquanto começa a corar. - Ele morreu.
Ele está mentindo, é a primeira coisa que penso. Sei que está mentindo. Oito não pode ter morrido, ele é tão forte, corajoso...

Cinco vira-se de lado e puxa a calça para cima, revelando a perna ensanguentada e a nova cicatriz em sua perna.

Eu arfo, alto. Mas ambos não prestam atenção em mim. Isso é terrível. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu não tenho tempo para meus próprios sentimentos, porque os dois continuam conversando e eu sinto que preciso prestar atenção.

–Mestre, nós... - Cinco começa a dizer, mas Sékratus Ra o interrompe.

–Você matou-o?! Não me disse que ele seria um ótimo aliado, Cinco?!

Esqueço de respirar.

–Eu ia matar o Nove, mas ele se teleportou, entrou na frente da lâmina de minha espada. Os outros três fugiram assim que a Nave chegou.

Três? Quem mais estava com eles?

–Trouxeram o corpo? - Sékratus Ra perguntou bruscamente e Cinco confirmou com a cabeça, apesar da dor que sentia ao fazer esse movimento. - Não conseguiu matar a Número Seis, Cinco? Você é mais forte que ela, mais forte que eles.

–A Número Sete a curou enquanto eu controlava o monstro. - contou em baixo tom de voz, como se tivesse vergonha do que fizera.

–Ah, a Número Sete! - Sékratus Ra suspira, visivelmente irritado. - A mesma quem te deixou nesse estado deprimente não é mesmo?

–Sim, Mestre. - ele confirma, cabisbaixo. - Ela desenvolveu o legado logo após a morte de Oito.

Sekrátus Ra faz uma careta, raciocinando.

–Eles estavam juntos? Bom, é uma pena. Teria sido uma ótima forma de chantagem. Poderíamos ter conseguido muita coisa com isso. E qual é o novo Legado da Número Sete?

–Frio. - Cinco diz e sua voz treme. Vejo o quanto ele está assustado. Eu me pergunto o por quê. Ele está com medo de Marina Essa ideia me parece absurda. - Ela congela, faz estacas de gelo saírem do chão. Ela é perigosa, Mestre. E está furiosa.

O olhar de Sékratus Ra se perde e eu percebo que ele está se lembrando de alguma coisa.

–Leve Ella de volta a Sala C, irei ver o corpo.

–Sim, Mestre.

Sékratus Ra passa por Cinco sem me dizer uma única palavra.

Quando ele vira o corredor, o lorieno me guia até o meu quarto.

No caminho penso em tentar atacá-lo, aproveitar que ele está machucado e sozinho, e fugir, mas eu não saberia para onde ir.

Deixo ele me levar até a sala de cheiro forte.

–Foi Marina que fez isso? - pergunto a Cinco, apontando para o seu olho estourado. É um machucado feio e nojento, difícil de permanecer olhando por muito tempo.

Ele engole em seco e sussura um seco sim. Vira-se para ir embora, mas antes que saia, eu digo com a voz firme:

–Você transformou uma pessoa boa num monstro, Cinco. E esse monstro não vai mais te deixar dormir.

Ele parou, no meio da porta, e depois foi embora, sem dizer mais nada.

Eu sento-me na maca e fria e fico pensando sobre a minha situação antes de chorar por Oito: Eu prometo. Não importa o que os mogadorianos disserem, eles mataram Oito, e isso não teria volta. Eu não vou ouvir o que eles disserem. Não vou ficar desse lado da guerra.

SEIS

Eu não sei onde estou. Corri com Marina e Nove, ainda desacordado, até nossas pernas, já machucas, gritarem de dor.

Paramos num campo próximo a cidade, já exaustos.

Eu sento na grama e estico minhas pernas. Abaixo a cabeça e estico meus braços, pegando na ponto dos pés. Minha cabeça continua latejando do soco que levei de Cinco, e isso me faz gemer.

Marina se agacha ao meu lado no mesmo instante e olha para mim.

–Ainda está doendo? - pergunta-me em voz baixa. Não sei definir seus sentimentos no momento, já que ela não os deixa aparecer facilmente. De qualquer forma, tenho certeza de que está sendo pior para ela do que para qualquer um de nós. Além disso, ela viu tudo o que aconteceu, diferente de Nove que ficou desacordado no último momento, e diferente de mim, que passei o outro também inconsciente.

Eu assinto receosa.

Ela senta-se na grama, um pouco de lado e leva as mãos a minha cabeça. Seus dedos estão gelados e eu tenho aquela sensação que é usada como expressão pelos terráqueos quando eles tomam sorvete, "está tão gelado que vai congelar o meu cérebro". Eu sinto o meu congelando lentamenta. A dor é agonizante, eu ranjo meus dentes e não digo nada enquanto o frio pressiona o meu cérebro.

Quando Marina termina, Nove está despertando e ela se dirige a ela. Porém, antes de ir embora, diz:

–Você vai ficar bem.

Eu sei que ela se referia a minha dor de cabeça, mas de uma certa forma aquela frase pareceu ter outro sentido - é fria. É como se Marina tivesse dito que logo eu vou superar o que aconteceu hoje, com Cinco, com Oito... Mas deixou subentendido que ela não se curaria assim tão rapidamente.

Isso é tão injusto. Não pode ter acontecido.

Eu puxo minhas pernas para perto de mim e passo o dedo em volta da quarta cicatriz em minha perna. Ela queima horrivelmente.

Observo ela com um caroço se formando em minha garganta: Era o símbolo do Número Oito e também o símbolo do infinito para os humanos.

Eu sinto vontade de gritar e por pouco não fiz isso.

Oito era infinito. Não ficaria apenas marcado em nossas peles, queimando até o dia em que morrermos, ele seria infinitamente lembrado por nós, estaria infinitamente ao nosso lado, em nossos pensamentos, em nossos objetivos, em nossos medos. Oito sempre foi muito presente em cada momento... e agora que temos essa ausência em seu lugar, ela é tão forte quanto e tem sempre o mesmo nome: Oito.

NOVE

Eu confesso que quando Marina aproximou-se de mim, eu gelei, nos dois sentidos possíveis. Ela agachou-se atrás de mim e agora aperta minha coluna com seus dedos gélidos. Sinto seu legado de cura atingir-me com força. Fico imóvel, incapaz de me mexer e tento não gritar de dor.

Não sei quanto tempo dura, mas Marina se afasta de mim de repente sem dizer nada.

Eu enfio minha cabeça entre os joelhos e respiro ofegantemente. Por mais que seu legado tenha me deixado exausto, eu agora estou sentindo minhas pernas novamente.

Observou Marina dar algumas voltas pelo gramado. Eu não sou o cara mais sensível e esperto do planeta, nem desse, nem de Lorien, mas eu percebo como ela parece confusa... perdida.

A raiva começa a crecer dentro de mim quando penso em tudo que aconteceu. Sinto ódio daquele traidor do Cinco, mas fico furioso com Oito: Por que ele teve que entrar na frente? Por que ele teve que se sacrificar por mim? Qual é, eu sou o cara que não vale nada!

Eu me levanto num pulo e chuto uma pedra com força.

–POR QUE VOCÊ FEZ ISSO SEU IDIOTA?! - grito, incapaz de permanecer calmo.

Passo as mãos entre os cabelos.

Um garde traidor e outro morto. Isso não pode estar acontecendo!

Aquele chorão do Cinco parecia querer desistir de toda aquela insanidade, e então eu falo algumas coisinhas e ele fica puto e vem tentar me matar? E teria me matado! Se o Oito não tivesse e teleportado...

A culpa minha invade mais rápido do que a raiva chegou. Eu puxo os cabelos da minha cabeça. Por que eu não calei a boca?! Caramba, Oito, a Garde precisa de você, Lorien precisa de você, e a Marina também, seu idiota, se você ainda não percebeu isso!

Eu corro até a Marina e agarro-a pelos braços. Ela está pálida e me olha assustada e confusa enquanto eu falo:

–A culpa é minha! É tudo culpa minha! Ele morreu! - grito, e essa palavra me parece forte, destruidora, verdadeira. - Eu devia ter calado a boca. Marina, desculpa... Ele... Cara! Olha, eu tenho certeza de que ele gostava muito de você, está bem?

Então acontece uma coisa esquisita: Atrás de mim, alguém começa a soluçar. Eu e Marina ficamos paralisados quando nossos olhos vão até Seis. Essa era outra coisa que eu nunca, em minha vida, pensei que poderia acontecer.

Eu deslizo minhas mãos dos braços de Marina e solto-a.
Completamente assustado, percebo algo ruim: Se Seis está chorando desse jeito, como uma garotinha, é porque ela desmoronou... Tudo desmorou. Nada mais está certo. Ela não diz nada, apenas chora compulsivamente.

Marina olha para Seis também surpresa, sem saber o que fazer. Demora alguns minutos para que ela finalmente compreenda o que a outra Garde sente. Os olhos de Marina se enchem de lágrimas tristes e derrotadas. Ela desaba; corre até Seis cai em prantos em seus braços.

As duas se abraçam e choram no ombro uma da outra. Ao ver suas lágrimas entendo que elas não vão terminar assim tão cedo. Essa dor não é a mesma que perder nossos Cepâns, é a dor de perder um Garde, um amigo, uma parte da família, de Lorien, de nós... É estranho pensar assim, mas é verdade: São tantas lágrimas, mas mesmo assim tudo é tão vazio dentro de nós.

Eu me aproximo delas e envolvo as duas com meus braços. Abaixo minha cabeça sobre as delas e no segundo seguinte, estou chorando também.

MARINA

Eu me sinto exausta, derrotada. Reencosto-me no banco de trás do carro que Seis e Nove roubaram, e solto um suspiro pesado.

Eles conseguiram entrar em contato com Sam há poucas horas. Eu não sei como eles conseguiram fazer isso, pois não estava prestando atenção.

Tento pensar naquela dor persistente em meu coração, mas acabo ficando com falta de ar e decido não cutucá-la e remexê-la.

Então penso em Cinco.

Ele é fraco, é a primeira coisa que me vem a mente, como conclusão e verdade. Não é culpa de seu passado, de seu cêpan ter morrido muito cedo ou qualquer outra coisa, que o tornou assim.

Todos nós tivemos uma vida difícil aqui na Terra e não escolhemos o lado contrário da moeda. Ele é fraco. Fraco por deixar o peso de seu passado derrubá-lo, fraco por não se reerguer, fraco por ceder a primeira boa oportunidade de vida que lhe aparece, ceder as mentiras dos mogadorianos, desistir de Lorien.

Cinco é fraco, e eu mostrei isso a ele.

Nove disse que eu ainda poderia desenvolver um Legado de combate, e eu finalmente o desenvolvi. Tenho um Legado poderoso e forte, e mostrei isso a Cinco.

Por um momento indago-me se fiz a coisa certa, se o machuquei demais... Depois balanço a cabeça para os lados. Cinco tomou sua decisão e colocou-se do lado errado. Se ele quer ser considerado como um deles, então será tratado como um deles. Não hesitarei mais em atacá-lo.

Meus pensamentos notam outras coisas que caracterizam a fragilidade de Cinco: Ele não tem ninguém.

Sei que deveríamos ter nos esforçado mais para uni-lo a nós e que fomos hostis e o ofendemos. Não queria sentir nem por um momento o que Cinco sentiu quando foi ignorado pelo seu próprio povo. Nós erramos. E eu assumo a culpa junto com os outros. Porém, por outro lado, ele também não tentou ser um de nós. Ele podia ser útil, cooperador, amigo... Mas não foi nada disso. Agora ele está só.

Com um sobressalto, como se eu tivesse tomado um choque, percebo: Essa é a nossa força, o nosso poder. Os mogadorianos não têm isso, e nem Cinco. Nós trabalhamos juntos. Somos um só.

*****

Assim que a porta abre, John suspira e esmaga Seis num abraçado apertado, e depois bate nas costas de Nove e ele nas suas.

Tento entrar pelo canto, em silêncio depois dele, porém John não se esquece de mim e também me abraça com força.

–Estou feliz por vocês estarem inteiros. - ele diz quando me solta. Ele me lança um olhar estranho; tenta esconder o nervosismo e olha por sobre meu ombro. - Onde está Cinco?

Ele não vai perguntar sobre Oito? Eu penso. Eu me surpreendo, e então entendo que talvez Malcom tenha decifrado a marca em sua perna, e eles agora saibam onde Oito realmente está.

–Com sorte? Morrendo. - Seis responde sem olhar para ele. - Onde estão os outros?

–Onde está Ella? - eu pergunto automaticamente.
Lembro-me do que Cinco disse: A cobertura de Nove em Chicago estava seno atacada e Sékratus Ra tinha planos à Ella.
Fico com medo por ela. Ella deve estar apavorada. Será que já acordou?

–Marina. - John diz com receio. Eu o olho, confusa. O que aconteceu? Ele tenta explicar, mas parece estar com medo de dizer algo que me magoe. - Ella foi... foi levada pelos mogs.

Eu não esperava por isso.

–Não. - ofego. Balanço a cabeça para os lados. Se tivéssemos ficado em Chicago, talvez Ella e Oito... Talvez tudo ainda seria como antes. - Não...

–Marina... - John toca o meu ombro, solidário.

Esse pequeno toque é como um choque para mim. Eu ergo as mãos, dando uns passos para trás, e uma nevasca afasta John de mim.

Ele me olha surpreso e em dúvida.

–Ahn, Johnnie. - Nove diz, alternando seu olhar de mim para John. - Por que não nos conta o que aconteceu aqui?

–Marina precisa ficar sozinha. - Seis declara.

Eu fico assutada com a conclusão que eles tomam e eu mesma me pergunto "o que tem de errado comigo?".

O Número Quatro assente devagar e segue-os para fora da pequena sala da frente. Quando eles se vão, eu tento me segurar, impedir que essa dor em meu coração se espalhe por todo o meu corpo, mas não consigo. Não consigo mais.

Eu desabo. Caio sobre os joelhos, fazendo uma fina cobertura de gelo espalhar-se pelo chão ao meu redor, e encosto a cabeça e as palmas da mão no chão, trincando o gelo sob mim.

Sinto o mundo absurdamente frio e injusto. Talvez ele sempre tenha sido assim, e eu que fui boba demais em acreditar que ele era bom. Sempre acreditei demais em todas as coisas: Na promessa de Oito, de que teríamos outros dias bons como aquele do passeio, no amor dos humanos, na amizade de Cinco, de que todas as coisas tem um futuro, um lado bom e esperança. Eu acreditei demais, é isso.

*****

Aquela casa é minúscula para quatro lorienos, três humanos, um chimaerea e um mogadoriano (alguém que sempre me deixava com uma pulga atrás da orelha; mas se Cinco pode nos trair, um mog também pode trair os outros, não é mesmo?). Nós já tínhamos nos acostumados muito facilmente a cobertura espaçosa e chique de Nove para viver numa casinha tão apertada como aquela.

Não cabem todos sentados a mesa da cozinha, que só tem cinco cadeiras. Apenas Nove, Adam, Malcom, John e eu estamos sentados. Seis está encostada no batente da porta, Sam na parede e Sarah matém-se ocupada com a louça na pia. Sinceramente, ela já está ensaboando o mesmo copo há cinco minutos.

Ninguém diz absolutamente nada. Eu consigo sentir a tensão no ar.

Nove está distraído girando os polegares e Malcom batuca uma caneta na palma da mão, com o cenho franzido. Bernie Kosar parece inquieto, fica andando de um lado para o outro, passando entre as pernas de casa um. E eu estou com o cotovelo apoiado na mesa e o queixo na mão.

A única equipe de salvação do planeta Lorien reunida numa cozinha apertada da Terra.

Até que é um pouco engraçado... e bastante deprimente.

Por um momento penso em interromper tudo aquilo, mas logo minha ideia morre. Não pode ser eu, a primeira a falar. Eu sei, apenas olhando para eles, que a grande nuvem de tensão presente no cômodo tem a mim como epicentro. E além disso, prefiro interpretar esse comportamento como o momento de silêncio respeitável que Oito merece.

Entretanto John o interrompe. Ele limpa a garganta e fala, olhando para mim:

–Ahn, Marina? Você é a única que sabe a história inteira... - ele suspira e me pergunta, com um olhar pesado no rosto: - O que aconteceu por lá?

*****

Eu acordo ofegante e suada. Sinceramente não sei nem como consegui dormir por.... puxa, quatro horas!

Eu me arrasto para fora da cama. Estou com olheiras e meu cabelo está emaranhado. Enquanto o arrumo, enfiando os dedos entre os nós, eu penso naquela garota que foi assassinada no convento. Seus cabelos tinham a mesma cor que o meu e nossas alturas eram próximas. Ela era parecida comigo, pensaram que fossem eu, e a mataram por causa dessa confusão.

Incomodada, percebo que ela é mais uma pessoa que perdi em minha vida, que morreu por minha culpa.

Eu já tinha uma grande lista mental com o nome de todas as pessoas que eu conhecia que morreram, e eu não tinha colocado-a nessa lista também. A lista estava muito grande.

Fico brava com o rumo que meus pensamentos tomam e paro de fitar meu reflexo no espelho. Num gesto rápido, prendo o cabelo num rabo e saio do quarto que divido com Seis e Sarah.

Assim que saio do quarto percebo que Sarah não estava lá. Imediatamente imagino que ela deve ter ido para procurar John durante a noite.

Eu não tento pensar muito neles, pois sinto uma pequeno pontada de inveja.

Quando me aproximo da cozinha consigo ouvir suas vozes, conversando num tom íntimo. Fico zangada antes mesmo de ouvir o que eles dizem. Eu queria apenas um momento de privacidade, um copo de água e silêncio.

Espere um pouco... Eles estão se beijando?!

Não consigo acreditar nisso. É tão inadequado, insensível... Será que eles sabem que eu estou bem aqui do lado?

–Pare, pare, John! - ouço Sarah rindo alto. Depois ouço som de beijos.

–Não, não. - John diz. - Você não pode fugir, não.

Mais som de beijos.

OK. Decido que isso é insuportável.

–Sabe o que Henry sempre me dizia? - diz ele. Meu coração bate mais rápido e meu sangue ferve. Depois de ter descoberto meu gélido poder, nunca pensei que "esquentaria" de raiva.

–Hm. O que? - ela resmunga, fingindo-se de desentendida apenas para escutar mais uma vez o John repete sempre.

–Que os lorienos só se apaixonam por uma pessoa na vida inteira.

Foi um sussuro, mas eu ouvi perfeitamente, e tanto que ecoou em minha cabeça. De repente aquele fogo que ardia dentro de mim se endurece, se congela. Algumas marcas de gelo surgem na parede ao meu lado, e eu as olho com raiva.

Sem pensar muito bem no que faço, entro na cozinha, que é onde eles estão.

Quando entro, eles se assustam e se afastam um do outro rapidamente. Eu os fito friamente, e fecho os dedos numa garrafinha de água em cima da pia. Eu digo:

–Sabe, John, eu realmente espero que Henry esteja errado.

*****

ALGUM TEMPO DEPOIS

ELLA

Então, quando eu menos esperava, eu encontro Marina. Foi algo tão inesperado e gratificante que o meu coração deu pulos gigantes de emoção.

Depois para por um segundo antes de abraçá-la. Ela perdeu Oito, me lembro.

Eu a olho melhor, tentando descobrir seu humor após essa perda. Não prestei muita atenção nela quando meu coração disparou, mas agora que parei consigo analisá-la melhor:

Eu levo um susto. Ela está descabelada, seus olhos estão vermelhos, exaustos e furiosos. Anda com o queixo erguido e o maxilar travado. Além disso, uma fina névoa fria emana dela, literalmente. O gelo a rodeia. É como se ela estivesse pronta para uma guerra, percebo.

É, isso mesmo, aquela doce menina do convento.

Que monstro fez isso com ela?

*****

MARINA

Antes de invadir a Base Mogadoriana, matar todos os mogs que vi no caminho, quase morrer esmagada por uma porta de aço que se fechava acima de minha cabeça, eu tive um súbito momento de raiva.

Mas que diabos ainda estávamos fazendo aqui? E quando eu digo aqui, não quero dizer nessa casa minúscula, mas sim na Terra! Já nos encontramos.... O que falta agora?

Precisamos resgatar Ella? Encontrar a nave? Ou os chimaera? Beleza, vamos fazer isso. Mas tinha outra coisa que eu queria fazer... Queria pegar o corpo de Oito.

Nunca me senti tão decidida em toda a minha vida.

Eu balanço a cabeça para os lados, pensando em tudo por que passei, por tudo que nós passamos.

Adelina não mereceu o que lhe aconteceu. Nem Hector. Nem Olívia. Nem Crayton. Nem... Nem Oito.

Eu sempre fui carinhosa e delicada com todos eles, até mesmo com Cinco, e minha recompensa foi essa. Eu não mereci perdê-los. Mas não adianta mais consolo, nem perdão. A compaixão, que um dia até pensei que fosse um Legado, agora está congelada, amarga e morta, dentro de mim, e não vai sair. Não tenho a capacidade de ser tolerante outra vez, de desculpar erros. Da próxima vez que encontrar Cinco, irei arrancar sua cabeça.

O Número Um foi capturado na Malásia. O Número Dois, na Inglaterra. O Número Três, no Quênia. E o Número Oito, na Flórida.

Eu vou por um fim nisso.

Eu sou Número Sete e farei o que Lorien queria que eu fizesse: Desfazer o dano causado àqueles que não o merecem.

Nunca esqueçam meu nome: É Marina, aquela que vem do mar.


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Notas finais do capítulo

Minha história termina aqui.
Vocês gostaram?
Obrigada a todos que comentaram e favoritaram, esse apoio foi muito importante para mim. E obrigada também por aguentarem a minha chatice, minha demora... e desculpe por isso também, e por qualquer outra coisa.

Bom, agora o que temos que fazer é esperar o lançamento do livro.
Olha o que eu achei na sinopse de A Vingança dos Sete "Com o desenvolvimento de um novo Legado, Marina finalmente tem o poder de reagir – se sua sede de vingança não consumi-la primeiro." Uhh! Que nervoso! Muita emoção.
Também encontrei o primeiro capítulo traduzido do livro, postado na internet pela Intrínseca: http://www.loricsbr.com/2014/10/liberado-o-primeiro-capitulo-oficial.html#more
Quem está surtando aí também?

Ah! Graças aos pedidos de vocês para eu fazer uma história longa Marina e Oito, eu farei isso. E vou misturar tudo, todas esses capítulos que eu escrevi - de um jeito legal, ok? - e fazer uma fanfic de Legados de Lorien do jeito que eu gosto - tipo, sem a Sarah.
Alguém aí gostou da ideia?
Tenho o primeiro capítulo pronto já, mas posso demorar para postar porque tenho que terminar duas histórias. Então fiquem atentos. Me marquem aí como autora favorita, sei lá, e assim vocês ficam sabendo se eu postar a história.

Obrigada mais uma vez!
Espero que possamos nos ver de novo.
Beijos!

Postei uma nova história de Legados de Lorien, dessa vez, uma história comprida.
Deem uma olhadinha e me digam o que acham nos comentários.
http://fanfiction.com.br/historia/571470/Dias_Frios/
Beijoooos!