Madness escrita por Valentina


Capítulo 6
Compreensão


Notas iniciais do capítulo

Olá flores!! Desculpem a demora :(
Espero que curtam o capítulo. A turnê já está próxima, como será que a Annie vai lidar com isso? :/ Ah, e o pov voltou para ela, como originalmente.



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Hoje faz dois meses que estou internada aqui, recuperando-me psicologicamente para a turnê da Vitória.

Sirius está fazendo seu ritual de medição pelo meu corpo enquanto Luke nos assiste sentado em uma poltrona, lançando-nos seu olhar desaprovador. Foi constrangedor ficar nua da primeira vez, mas agora estou acostumada; acostumada o bastante para não me envergonhar acerca de meus diversos hematomas. Mas Luke não está desconfortável com o pudor – está furioso com a decisão do presidente Snow em permanecer com a turnê, mesmo que eu esteja “instável”, e toda vez que olha para mim, lembra-se de que tem que acatá-la sem questionar.

“Você emagreceu tanto querida” – diz Sirius. Ele parece verdadeiramente triste. Por mais que eu queira, eu não consigo respondê-lo, então ele apenas prossegue. – “Perdeu vários centímetros pelo corpo inteiro, vou ter que jogar fora meus rascunhos pré-arena” – seu tom foi se tornando mais agudo e pesaroso.

Eu continuei olhando firme para um ponto fixo na parede, no caso, um porta-retrato; este contém a foto do símbolo da Capital, pintado em cores que vão do bronze até o ouro.

Sirius bufa e me entrega uma toalha.

“Vá se vestir, minha flor” – ele força um sorriso de canto e se levanta aos poucos do chão, já que estava agachado medindo as minhas coxas.

Luke me observa por cima dos ombros e eu sinto o rubor me queimar por dentro. Mas sei que seu olhar se retém ao clínico e ao desgosto.

O novo quarto que a Capital me ofereceu dentro do hospital vai contra todas as normas estabelecidas por Luke. Eu gosto dele, porque sei que ele quer me tratar, e não apenas cumprir o seu trabalho. Sinto pena quando o contradizem e o fazem tomar decisões que na verdade, ele não quer. Finnick disse que ele é covarde, mas eu não acredito nisso. Ele só não tem escolha, assim como muitas crianças não tiveram ao terem seus nomes lidos em voz alta na Colheita; não quer dizer que são covardes só porque não podem se expressar e se rebelar.

Visto-me depressa, colocando quaisquer peças que estejam jogadas pela cama. Não me importo se elas vão ou não combinar, e sei que levarei uma bronca de Sirius por causa disso. Contudo, hoje estou indiferente aos seus apelos estilísticos – é dia de visita, e quem irá me visitar hoje é Finnick.

Deixo o quarto apressadamente, pois se o relógio-cuco acima de meu leito estiver correto, já está na hora de encontrá-lo na Sala de Visitas. Luke percebe meu entusiasmo e se levanta imediatamente, pondo-se a me seguir.

“Espere, espere” – ele me puxa pelo braço, fazendo-me parar. – “Tome esta pílula antes de conversarem. Você ficará mais sã e imune aos distúrbios” – ele estende a pequena pílula escarlate na palma de sua mão. Eu reviro os olhos e a pego, engolindo-a sem cerimônias.

Continuamos a seguir, passando por alguns seguranças que me olham com curiosidade. Desde que cheguei da Arena, sou o assunto do momento – mas não por ser vitoriosa, e sim por ser louca. A nova louca da Capital.

A Sala de Visitas está vazia, mas sei que ele chegará em alguns instantes. É composta por quatro paredes brancas e sem janelas, uma mesa grande e retangular de aço e banquetas do mesmo comprimento interno. Não há como se recostar, o que já faz com que minhas costas reclamem com um silvo de dor.

Sento-me rapidamente, porque receio cair se continuar de pé. Luke me acompanha, sentando-se a poucos centímetros de mim. Estou nervosa e ansiosa, e temo que isso me deixe descontrolada. Sirius diz que eu estou semelhante a uma bomba-relógio: serena até certo ponto, até que exploda. Não quero explodir, pelo menos, não na frente de Finnick.

Ouço novos passos adentrarem na Sala, mas meu coração está tão descompassado que não sou capaz de me virar para confirmar quem é. Mas pelo peso de sua respiração, não há dúvidas. Ele sempre respirou dessa forma, de um jeito letárgico e debochado, como se dissesse para todos – e talvez, com razão – como era superiormente belo em relação a eles.

“Annie?” – ele se senta de frente para mim, e agora me encara fundo em meus olhos. Sinto que estou num navio que está prestes a naufragar. Minha garganta está sufocada. – “Está se sentindo bem hoje?” – ele soa atencioso, e de fato, sempre foi.

“Como todos os dias” – finalmente forço-me a acalmar os nervos e consigo dizer alguma coisa. Deve ser efeito da pílula. É um avanço. Luke suspira aliviado.

“Trouxe uma coisa pra você” – ele abre um enorme e galanteador sorriso, que faz com que eu volte a estremecer. Finnick revira os bolsos e tira de lá um saco plástico rosado, e infelizmente, não posso ver seu conteúdo de imediato. Ele o desliza pela mesa e arqueia as sobrancelhas. – “Abra” – ele diz, sorrindo mais ainda.

Eu pego o saco cautelosamente, desfazendo o nó que o lacra. Posso ver como está satisfeito por eu ter conseguido desfazê-lo. Como a uma criança, dou uma espiadela no fundo dele. Consigo ver formas indistintas listradas de azul e branco. Tento oferecer um sorriso rápido a Finnick e volto minha atenção ao saco plástico. Abro-o generosamente e deixo que minha mão retire de lá uma amostra. Para minha surpresa, quase do tamanho de uma pérola, um golfinho cuidadosamente esculpido e listrado se aninha na palma da minha mão. Ele é lindo. Há vários iguais a este dentro do saco.

“São balas de açúcar em forma de golfinhos. Eu as achei em uma confeitaria e achei que iria gostar” – ele se justifica, limpando a garganta. Se eu não o conhecesse bem, diria que ele está envergonhado.

“São lindos” – é tudo o que eu consigo dizer. Estou emocionada, demasiadamente contente, e por um instante, até sinto que todas as coisas ruins dos Jogos ficaram para trás. – “Queria poder retribuir” – digo logo que me lembro que não posso dar nada a ele. Devo estar rica agora, mas não tenho acesso a nada além de pílulas.

“Não se preocupe com isso. Ver você desfazer o nó foi um presente e tanto” – ele ri, e eu não consigo reprimir a minha própria gargalhada. Não sei dizer se ele foi ou não irônico, ou se ele teve a intenção de ser engraçado, mas foi ótimo rir. Rir de verdade. Até mesmo Luke decidiu se juntar a nós, exibindo sua risada de porco. – “Não coma tudo de uma vez” – ele repreende, fingindo-se de sério. – “Guarde-os para a turnê. Cubos de açúcar são monótonos” – ele revira os olhos, e apesar de sentir a tristeza que a palavra ‘turnê’ traz consigo preencher meu corpo lentamente, continuo a sorrir. Cubos são monótonos, é claro, se comparados a delicados e charmosos golfinhos listrados. Sinto-me uma criança.

“Você também vai, certo?” – de repente, estou preocupada. Enfrentar isso sozinha nunca esteve em cogitação, e talvez, fosse o plano desde o início. Preciso saber se irei acompanhada, caso contrário, como suportarei?

“Eu e Mags iremos como mero pano de fundo. Estaremos lá, mas a intenção é que você seja o destaque” – já fico aliviada em saber que ele estará lá, mesmo que me esperando atrás das portas do Edifício da Justiça de algum Distrito. – “Mas fique tranqüila, eu vou chamar a atenção de todos para mim. Não vai ser difícil” – ele faz um charme proposital, passando a mão nos cabelos dourados. Novamente, não controlo meu riso.

“Sirius disse que poderia ter te embrulhado com sardinhas que os patrocinadores ainda iriam te elogiar” – eu digo, lembrando-me das histórias que Sirius conta sobre a edição em que Finnick foi vitorioso.

“Ele te embrulhou em algas e você está aqui” – ele diz, tentando manter o tom neutro. Obviamente, nós três começamos a rir descontroladamente.

“Annie” – Luke tenta dizer, sem fôlego, em meio aos risos que não conseguem ser cessados. – “Precisamos ir. E você, Finnick, não distraia a minha paciente com seus sorrisos” – ele ri mais ainda, mas desta vez, eu fico envergonhada.

“Ela quem está me distraindo, Luke. Ela” – ele fala como se fosse óbvio e levanta-se.

Quero acompanhá-lo. Mas não posso.

“Não vê? Finnick Odair comprando golfinhos de açúcar” – ele meneia a cabeça negativamente, como se estivesse indignado. Solto uma risada.

“Obrigada” – eu sussurro, e sei que ele me ouve. Ele imediatamente suaviza sua expressão, apoia-se na mesa e se aproxima de minha orelha, fazendo-me arrepiar. A cada golfada de ar que ele puxa perto de mim, sinto-me zonza.

“Eu que agradeço, Annie. Nunca se esqueça disso” – não vejo, mas tenho certeza que ele sorri.

As cenas, as boas, em que estou no treinamento com ele, voltam-me à memória. Tenho a sensação de que o conheço desde que nasci, que somos melhores amigos desde sempre. Mags diz que, se você pode compreender alguém por completo, com as qualidades e defeitos, é sinal de que o ama. Se você tenta compreender, é sinal de que está apaixonando-se. Percebo agora minha tolice, desde que entrei no trem rumo aos Jogos; estava me apaixonando, e agora, estou apaixonada. O que é engraçado, já que sou louca e nada atraente. Mas gosto de alimentar a esperança de que ele está tentando me compreender.


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Notas finais do capítulo

Awn, que fofo. Até eu achei fofo. O que acharam? Haha
Beijos, Valentina.