Juvia saiu da guilda sem saber o que fazer e muito menos para onde ir. A forte chuva caía morna escorrendo pelo seu rosto, exatamente como lágrimas. Logo, estava encharcada e perdida. Não havia ninguém nas ruas sem cor, o vazio do lugar o mesmo que o dentro da garota. Claro que não conseguiria parar a chuva, mal conseguia se impedir de cair no chão molhado e chorar. Suspirou olhando para o céu cinza. No final o tinha chamado de Gray. Só Gray. Que coragem a dela.

Agora poderia seguir em frente. Talvez até saísse com outros rapazes. Quem sabe poderia dar uma chance a Lyon. Ele gostava dela e sempre fora tão gentil. Mas só a hipótese de estar com outro que não Gray acabava com a pouca força que ainda restava em seu corpo, forçando-a a estacar no meio da rua. Amava tanto aquele homem que nem ao menos conseguia pensar em outro.

Amava seu jeito distante de ser. Amava seu jeito de reclamar de tudo. Amava quando ajudava seus amigos sem pedir nada em troca. Amava sua risada. Amava ainda mais seu sorriso discreto. Amava seu cabelo negro e o modo como passava as mãos por ele quando ficava desconfortável com algo. Amava a cicatriz que tinha testa. Amava seus olhos tão pretos. Amava suas tentativas de ser simpático e como sempre fracassava. Amava quando ficava distraído e podia observá-lo sem ser pega. Amava cada uma de suas expressões. Amava seu jeito firme de falar com as pessoas. Amava o jeito assustado ao falar com Erza, amava também o jeito gritante e irritado que falava com Natsu. Amava sua magia de gelo e de como completava a sua de água. Amava tudo nele. Amava até mesmo o modo de como ele a tratava.

Em um ato desesperado olhou pra trás, agarrada em sua última esperança. Esperando ver Gray no meio da chuva à sua procura, declarando seu amor e dizendo como fora idiota por nunca tê-la correspondido e aí a beijaria romanticamente e viveriam felizes para sempre.

Mas não tinha ninguém atrás de Juvia. Ele não estava lá. Ele nunca estaria. Porque ele não a amava.

Chegou à conclusão de que não amava o modo como ele a tratava. Essa única parte era mentira.

Não suportava ser tratada com frieza por ele. Não suportava ainda mais sua rejeição.

Sentia-se a pessoa mais solitária de todo o universo. Completamente sozinha de novo. Só tendo a chuva como companhia. Como sempre.

Novamente seus dias seriem sombrios

Pois Gray havia parado a dolorosa chuva dentro de Juvia...

Apenas para começar uma tempestade.

Abraçou-a então. Abraçou sua solidão eterna. Abraçou a chuva que a acompanharia até a morte.

E abraçou a si mesma porque deixaria de ser idiota, deixaria de ser romântica, deixaria de ser stalker, deixaria de ser escandalosa, deixaria de gritar seu nome, deixaria de tentar tanto agradá-lo. Deixaria de tudo. Seria apenas Juvia. A partir de agora.

E então a chuva parou. A tempestade teve seu fim. Já não tinha motivos para sofrer, nem para chorar, nem pra ficar confusa.

Porque afinal de contas... Quem precisava de amor para viver?

Sendo assim, foi pra casa.

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Naquela tarde chuvosa Gray ficou incontáveis horas olhando para as portas da guilda. Esperando que Juvia voltasse. Mas ela não voltou.

Quando a garota saiu do seu campo de visão sentiu um desespero atordoante. Não fazia sentido sentir aquilo. Juvia não estava indo embora pra sempre. Como ELAS... Só estava indo embora pra casa.

Mas então por que sentia tamanha apreensão? Queria mais que tudo correr atrás dela naquela enorme tempestade, alcançá-la e dizer tudo o que sentia. Mas isso também não fazia sentido algum. Ele não tinha nada a dizer, nada o que expressar. Deveria fingir que não sentia nada pela companheira. Só amizade. Mesmo que amasse tudo na azulada.

Amava sua delicadeza. Amava sua voz. Amava o modo meigo como falava. Amava a cor dos seus cabelos e amava como eram encaracolados. Amava o azul o escuro dos seus olhos. Amava sua pele cor de porcelana. Amava o rubor que surgia em seu rosto pálido quando ela o olhava. Amava seu sorriso. Amava mais ainda sua risada leve. Amava sua força. Amava sua timidez. Amava seus acessos de loucura. Amava cada detalhe seu.

Detestava suas lágrimas. Sempre por sua causa. Sempre por sua estupidez, por sua grosseria.

Mas não faria nada para mudar sua relação com ela.

Até porque tinha certeza que no dia seguinte, o comportamento diferente de Juvia já teria passado. Voltaria a ser a estranha maluca que normalmente era. E voltaria a dedicar toda sua atenção, dedicação e amor exagerado para ele.

Ah sim. Era um filho da mãe egoísta.

Nunca corresponderia o amor de Juvia. Nunca deixaria ninguém tirá-la de si. Nunca deixaria nenhum homem chegar perto dela. Nunca ficaria com ela.

Sendo assim, esperaria o amanhã e com ele a normalidade.

Que não veio.

Pois no dia seguinte a risonha Juvia sentada ao lado de Gajeel só havia lhe dado um mísero olá por todo o dia.

Sem gritos e olhares apaixonados.

Apenas um - Olá Gray.

Recebendo esse tratamento pelos próximos incontáveis dias e semanas.

Ouvindo sempre as mesmas palavras do resto da guilda.

– Foi culpa sua por tê-la tratado friamente. Bem feito. Ela te esqueceu. Você a perdeu.

Pra sempre.

Evidente que todos sabiam que o moreno a amava. Já não conseguia esconder.

E agora estava no maior dilema de sua vida.

Era ótimo o fato de Juvia o ter esquecido. Não o amar mais. Estava finalmente livre de qualquer tipo de relacionamento problemático e destrutivo que teriam juntos. Sem mais dores de cabeça. Que ótimo.

Pena que ele se sentia morrendo por dentro. Além de estar constantemente furioso e ranzinza por qualquer motivo ou tão melancólico que nem ao menos conseguia revidar as ofensas de Natsu.

Tudo por causa de Juvia. Que já não o amava mais. Que sem perceber havia mudado completamente sua vida.

Ele a queria de volta. Mais que tudo no mundo. Porém era um idiota que não sabia como se aproximar do amor de sua vida.

Que não deveria querer se aproximar dela, mas que desejava ardentemente.

Agora a observava brincando sozinha na neve perto do lago. Focada em construir um boneco. Tão linda. Tão distante. Gray a amava tanto.

Mal reparou que seus pés o estavam levando até ela.

Mal reparou na surpresa da maga ao parar na sua frente.

Mal reparou nas suas palavras ditas.

__Posso brincar com você?

Mas não era surpresa alguma, porque mesmo não querendo era transportado para perto dela. Sempre. Orbitava á sua volta. Juvia era seu sol...em forma de chuva.