JHONY

Apertava a campainha de Annie impaciente.

Porra, o que eu vim fazer aqui mesmo? Oh sim, pedir desculpas por uma coisa que eu nem sei que fiz.

Passei horas acordado pensando o que foi que falei para Annie ficar tão furiosa. Bem, pelo menos agora eu sei que ela não é lésbica, porque se ela fosse não correria para o quarto daquele jeito.

Seria um maldito desperdício se Melannie fosse lésbica.

Pitter também ficou puto por eu ter cortado seu clima romântico e me forçou para que fosse pedir desculpas a Annie e a Hanna também - mas não me pergunte o motivo -. Prometi a ele que assim que acordasse iria na casa das meninas para pedir desculpas por ser tão mau.

Acontece que eu nem mesmo dormi. Annie com certeza jogou uma praga em mim porque eu não conseguia parar de pensar nela.

Continuei apertando a campainha até ouvir o barulho da chave. Ouvi uma pessoa xingando do outro lado. Então a porta abriu.

– Mas o que diabos você está fazendo aqui garoto? - Melannie me perguntou. Em um ríspido inglês.

Puta. Que. Pariu. Melannie estava malditamente sexy.

A garota estava com um shorts verde-bebê quase sem tecido de tão minusculo que era, uma camiseta da mesma cor do shorts - ela estava sem sutiã - e seu cabelo estava em um preso bagunçado. Por um momento pensei que iria ter um orgasmo ali na hora, mas felizmente - ou não - voltei a realidade.

– Olá. - Me voltei para seu rosto. Um rosto furioso. Só podia sorrir para isso.

– Você não respondeu minha pergunta.

– Eu estou ótimo também. - Ignorei-a.

Ela se moveu para trás e foi fechando a porta. Rapidamente a segurei para que ela não fechasse.

– Ok, eu só queria te pedir desculpa por ontem. - Estava tão próximo a ela, que conseguia sentir seu cheiro de perfume de bebê. Me afastei para que ela não sentisse minha ereção.

Annie não precisava saber que ela me exitava.

Ela abriu a porta novamente e foi para dentro. Eu acho que podia entrar...

– Eu fui um babaca. - Fechei a porta atrás de mim e a segui.

– Sim, você foi um completo babaca. - Ela disse me levando até a cozinha. - Senta ai.

– Eu não deveria... não deveria ter dito aquilo. - Gaguejei quando ela se sentou no banquinho e começou a tomar seu café.

Cruze as pernas! Cruze as pernas! Cruze as pernas!

– Uhum. Café? - Ela me ofereceu.

– O que? - Só conseguia pensar em Annie cruzando as pernas. Droga, por que ela cruzaria as pernas para mim mesmo?

– Café, garoto! - Ela me mostrou a xícara, enfatizando.

– Ok. - Já tinha tomado café, mas se eu recusasse ela iria me chutar para fora.

– Pegue ai. - Ela apontou com o queixo para a cafeteira.

– Sou visita. - Retruquei. Aposto que Annie não faria favores nem para o Papa.

– Mas você tem mãos.

– Mas foi você que me ofereceu.

– Só vou pegar essa porra para você ir embora logo. - Ela bufou e foi pegar o café.

– E esse segundo prato ai, ein? - Apontei para o prato cheio de ovos em cima do balcão.

– É de Hanna. - Ele me entregou a xícara de café e se sentou novamente.

– A quanto tempo você conhece Hanna? - Perguntei

– Faz uns 10 anos...

– Uh, tá explicado.

– Tá explicado o que, boy? - Seu tom de voz aumentou.

– O por quê de você fazer favores a ela sem reclamar. Acho que vou ter que esperar dez anos...

– Pode ter certeza. - Ela assentiu.

– E a propósito, meu nome não é garoto. É Jhony. - É claro que ela sabia meu nome, com certeza ela queria me irritar.

– Ok. - Ela franziu a testa. - E o meu é Annie.

– Ok. E o meu é Jhony.- Fiz a mesma coisa e ela virou os olhos.

– Então, você já pediu desculpas, já tomou seu café. Acho que seu papel de vizinho legal já terminou. - Ela bateu a xícara no balcão.

– Quero pedir desculpas a Hanna também. - Expliquei.

– Pelo que? - Ela levantou uma sobrancelha. Uh, ela fazendo isso era sedutor...

– Sei lá, - dei de ombros - talvez por bater a porta ao sair. - Nem eu mesmo sabia o por quê de pedir desculpas a Hanna.

– Ok, você pode esperar Hanna na sala. Ligue a TV se quiser, seu videogame ainda está ai. Vou me trocar.

Se trocar? Não! Ela não podia tirar aquele pijama!

– Hum... Jogue uma partida comigo primeiro. - Disse, tentando não mostrar desespero em minha voz.

– Jogar uma partida? - Ela pareceu confusa. Ah, garotas...

– É, partida. Jogo. Videogame. - Dei um sorriso.

– Eu sei o que é uma partida, imbecil. - Ela disse saindo da cozinha. Apenas a segui.

Ela se sentou no chão de frente para a televisão e começou a mexer nos jogos que eu trouxera ontem. Será que ela sabia que estava malditamente tentadora?

Oh Deus, com certeza ela fazia de propósito!

– Você tem Guitar Hero! - Ela disse em um tom totalmente animado. Eu realmente fiquei assustado. Nem sabia que Annie podia se animar.

– Será que as garotas só conhecem esse jogo? - Me sentei no pé do sofa. O cheiro de bebê ainda pairando no ar...

– Eu não conheço só Guitar Hero, é que ele é o meu jogo favorito. - Argumentou Annie.

– Tudo bem, vamos jogar Guitar Hero. - Cheguei mais perto de Annie para ligar o aparelho e é claro que aproveitei para sentir seu cheiro de novo.

– Se eu vencer você vai dar o fora daqui. - Annie falava ofegante, provavelmente por causa da nossa aproximação. Instantaneamente imaginei Annie ofegando por outros motivos...

– E seu eu vencer? - Sussurrei em seu ouvido e me afastei.

– Você espera Hanna para pedir desculpas. - Ela deu de ombros, um pouco corada.

– Tudo bem. - Sorri para ela e me encostei novamente no pé do sofá.

Annie era fodidamente boa nesse jogo. Caralho, não tinha nada mais sexy do que uma garota de babydool verdes, sentada no chão e ganhando de um garoto no Guitar Hero.

Pensando bem, teria sim uma coisa mais sexy do que isto: Annie com seu shorts verdes, camiseta do AC/DC, sentada do chão e ganhando de mim no Guitar Hero. Não tinha certeza se iria me controlar...

Ok, eu não estou dizendo que quero algum tipo de relacionamento com Melannie, ao contrário, não quero nada com ninguém agora. O melhor a se fazer é me concentrar nos estudos e provar a vovô que um dia vou poder administrar o condomínio. E depois de ser absurdamente traído pela única garota que eu realmente amei de verdade, não sei se vou conseguir confiar em uma garota novamente.

Acontece que sou homem e não sou de ferro. Posso ser um canalha por pensar assim, mas a visão de Annie daquele jeito deixava qualquer homem completamente vulnerável

. Menos meu pau, que estava duro, é claro.

– Você está perdendo de propósito, não é? - Annie interrompeu meus pensamentos obscenos.

– Estou? - Me concentrei na televisão.

– Se não estiver me desculpe Jhony, mas você é completamente ruim. - Ela disse triunfante pelo fato de ter vencido pela... oitava vez?

– Eu não sou ruim, eu apenas estou... - Olhei para ela e depois para suas coxas. - desconcentrado. - Abri um sorriso inocente.

Annie com certeza captou a mensagem pois ela fez questão de se sentar em frente a TV, eu estava no sofá um pouco longe e com ela na frente eu não conseguia ver nada.

– Com... com licença. - Gaguejei um pouco. De repente a sala ficou bem quente.

– O que? - Ela pausou o jogo e se virou para mim.

– Você meio que está na frente da televisão.

– Estou usando minhas vantagens de desconcentração. - Ela encolheu os ombros.

– Isso é golpe baixo. - Sai do sofá e me sentei ao lado dela bem de frente a gigante TV. - Assim está melhor.

– Babaca. - Voltamos a jogar.

O relógio da sala de Annie mostrava 3:00 da tarde. Fiquei me perguntando quando é que Hanna iria acordar. Jogar com Annie era divertido, porém já tínhamos jogado umas trinta partidas de Guitar Hero e o silêncio que prosseguiu estava ficando constrangedor.

– Annie, posso te perguntar uma coisa? - Tentei puxar assunto com a garota, que estava concentrada na TV.

– Você já está me perguntando.

– Na verdade, estou querendo perguntar isso desde que cheguei perto de você hoje de manhã.

Annie congelou no seu lugar, só seus dedos se moviam.

– Então?

– E se você me chutar para fora?

– Você perdeu o jogo trinta e seis vezes, você automaticamente já está chutado. - Olhando-a de lado vi seus lábios se curvarem em um sorriso.

– Ok, hum... ér... Seu perfume é de bebê? - Me virei para encara-lá.

– O que? - Ela olhou para mim confusa.

– Seu perfume? Ele é de bebê? Ele tem um cheiro bom... - Fiz o meu melhor para não soltar uma gargalhada. Era verdade, mas eu acho que essa não era a pergunta que Annie queria ouvir.

– Não Jhony, meu perfume não é de bebê. - Ela tinha uma carranca em seu rosto. Caralho, tudo deixava essa menina furiosa. - Na verdade, nem perfume eu estou usando, idiota.

– Sério? Mas você está cheirando a bebê! - Aproveitei a oportunidade para chegar perto de seu pescoço. - Viu, cheira a bebê. - Sussurrei em sua pele.

– Quer parar de me cheirar, seu pervertido! - Annie me empurrou, mas acabei inclinando minha cabeça para cima e encontrei aqueles olhos castanhos ameaçadores. Seu rosto estava muito próximo do meu, sua boca próxima a minha e tudo o que conseguia pensar era em como seria bom encostar meus lábios nos dela.

Conseguia ouvir a rápida respiração de Annie, ela estava realmente ofegante, assim como eu provavelmente estava também. Suas mãos ainda estavam em meu braço, na fracassada tentativa de me empurrar. Estávamos congelados, nossa respiração parecia mais alta do que a musica do jogo. Lentamente movi minha cabeça para frente, possivelmente levaria um tapa na cara por tentar isso, mas sentia uma tremenda vontade de beija-lá.

– Annie? - Uma voz feminina venho da cozinha. Só podia ser Hanna.

Com um piscar de olhos Annie já estava levantada. Eu ainda estava sentado no tapete, processando o que tinha acontecido. Eu tinha chegado a beijar Annie? Porra, não! Por que sempre tem alguém que atrapalha nossos melhores momentos? Por que?

– Annie, Você tem visitas? Sai do banho e ouvi você falan... - Hanna chegou na sala e olhou para Annie que agora estava corada, sentada no sofá e depois para mim, ainda no chão.

– Mellanie e Jhony. Aqui. Na sala. Jogando Guitar Hero. Juntos. Ainda vivos. - Hanna nos olhava como se fossemos alieniginas.

– Hey, Hanna! - Foi tudo o que eu disse.

– Ér... Jhony estava te esperando. - Annie se levantou.

– O que? Aconteceu alguma coisa com Pitt? - Ela me olhou desesperada.

– É claro que não, eu teria te acordado se tivesse acontecido alguma coisa! - É, a Annie ignorante tinha voltado.

– Então o que é? Pitt mandou você aqui para me deixar um recado? - Ela se sentou no sofá, de pijamas também, porém eram muito mais comportados comparados com o de Annie.

– Tem como você tirar Pitter dessa cabeça loira por cinco segundos? - Annie perguntou.

– Eu queria te pedir desculpas Hanna, por agir como um babaca ontem. - Falei rapidamente, antes que ela perguntasse mais alguma coisa de Pitt.

– Não era Annie que merecia desculpas? - Ela perguntou com a sobracelhas arqueadas.

– Ah, isso eu já fiz. E muito bem. - Dei um sorriso malicioso a Annie, que apenas me deu o dedo do meio.

– Você já pediu desculpas para todo mundo e agora já pode ir embora. - Annie me deu um leve ponta pé, ordenando para que eu me levantasse.

– Ok, já vou, estraga prazeres.

– Estraga prazeres, é? - Ouvi Annie murmurar para si mesma alto o suficientes para eu ouvir e dei risada.

– Tchau, Hanna!

– Até mais Jhony, manda um beijo para o Pitter! - Hanna disse.

– Um beijo? Eca! - Me virei a Annie - Tchau doçura, adorei jogar com você.

– Não abuse de sua sorte Jhony, de graças a Deus de você sair daqui vivo! - Disse Annie, com um sorriso diabólico.

– Estou me sentindo muito vivo!

E antes de sair fui atingido por uma almofada.