Isso não tem nada Cancerígeno! escrita por Docinho Malvado


Capítulo 5
Dirigindo e Azulando


Notas iniciais do capítulo

Nossa história começa mesmo basicamente nesse capítulo! ;)



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Hoje eu acordei cedo... Na verdade nem consegui dormir direito, pois estava extremamente ansiosa com o papo da lista. Gente, dá pra imaginar?

Nem sei por onde eu e Charlie vamos começar. Aquela doida disse que ia ser surpresa... Só espero realmente que ela não me mate atropelada e que nenhuma desgraça semelhante aconteça, por que se não fodeu o meu plano de completar TODA a lista.

Ela estava atrasada como sempre. (Ela sabe que eu ODEIO esperar e mesmo assim faz de propósito para me irritar).

– E aí, coisa linda? – Ela disse quando finalmente chegou.

– E aí nada! – Respondi já puta da vida. – Por que demorou tanto?

– Nem demorei muito... Foram só dez minutinhos. Relaxa! – Ela disse com aquela carinha que só ela sabia fazer.

– Tá bom! – Eu disse me rendendo. – Pra onde a gente vai? – Perguntei realmente curiosa.

– Você vai ir dirigindo até o mercadinho pra comprarmos as duas garrafas de Vodca e uns cigarros! – Ela explicou o plano com as mãos na cintura como se duvidasse de mim.

– Mas cigarros não estavam na lista, moça! – Eu exclamei rindo um pouco revoltada.

– Os cigarros estão na MINHA lista, baby! – Ela respondeu rindo ainda com as mãos na cintura.

– E desde quando você tem uma lista também? – Perguntei desconfiada.

– Eu fiz a minha ontem... São de coisas que eu quero fazer com você! – Ela repondeu sorrindo.

– Muito obrigada por tudo! – Eu disse me levantando e a abraçando fortemente.

– Tá doida, menina? – Ela perguntou de brincadeira, meio confusa, me abraçando forte também.

– Você tem sido uma ótima amiga desde sempre, obrigada por tudo que está fazendo... – Eu disse com os olhos lacrimejando. – Vou fazer questão de realizar TUDO da sua lista também! – Eu disse rindo.

– Então vamos logo, pois não temos muito tempo e a minha lista é grande! – Ela disse rindo e indo para o carro.

Eu revirei os olhos e ri também entrando e sentando no banco do motorista.

Digamos que eu dirigia terrivelmente mal. Minhas freadas eram bruscas e quando eu pisava no acelerador eu pisava MESMO. Nem sei como conseguimos ficar vivas, mas enfim, pra quem nunca tinha dirigido na vida até que eu fui bem.

– Tu tá querendo matar a gente? – Perguntou Charlie assim que descemos.

– Não... Foi mal! – Eu disse quase rolando de tanto rir.

– Já realizou seu desejo de dirigir. Agora chega de carros, né? – Ela disse ainda um pouco ofegante dos inúmeros sustos que dei nela pelo caminho.

– Okay! – Eu respondi para dar um ponto final no lance do carro.

– Vamos fazer nossas compras! – Ela exclamou animada e entramos no mercadinho.

Saímos pelos corredores correndo com um carrinho de compras colocando tudo que queríamos lá dentro numa delicadeza incrível (notem o sarcasmo).

Pegamos duas garrafas de Vodca da mais barata que tinha (pois nossa grana era pouca), um maço de cigarros Hollywood, uma caixa de tinta de cabelo azul, uns salgadinhos e chocolates.

O problema surgiu na hora de pagar...

– Não posso permitir que levem isso! – Disse um velho nojento de cabelos brancos que estava no caixa. – Vocês não são maiores de 18!

– Como sabe que não somos? – Charlie blefou vergonhosamente.

– E são por acaso? – Ele perguntou quase achando graça.

– Não... – Charlie respondeu num sussurro envergonhado.

– Então... Vão levar só a caixa de tinta de cabelo azul, os salgadinhos e os chocolates!

– Hey... Espera aí! – Exclamou Charlie insistindo.

PS: Quando Charlie metia uma coisa naquela cabecinha teimosa ninguém se atrevia a tirar.

Tenho que confessar que foi engraçado assistir Charlie discutindo com aquele senhor. Engraçado e ás vezes até assustador... Eu juro que teve uma hora que eu jurei que ela ia bater no velho. Mas no fim ninguém consegue resistir àquela carinha de brava que ela vazia e ao mesmo tempo achando tudo muito engraçado.

No fim Charlie conseguiu convencer o homem dizendo que as coisas não eram para ela. (Acreditem ou não, mas o velho caiu nessa desculpinha!).

– E aí? – Ela começou quando já estávamos dentro do carro do pai dela. Eu no banco do carona dessa vez.

– E aí o que? – Me fiz de desentendida.

– Primeiro quer ficar bêbada ou de cabelo azul?

– Hmm... – Fingi uma reflexão profunda. – Bêbada á essa hora do dia...? Acho que não. Melhor ficar azulada mesmo! – Eu disse rindo.

– Eba! – Ela exclamou batendo palminha. – Tu vai confiar suas lindas madeixas a mim? Que fofo!

– Que fofo nada. Se tu estragar meu cabelo eu te mato! – Eu falei e ela morreu de rir.

Fomos direto pra casa dela, pois meu pai provavelmente estaria em casa e eu não estava a fim de dar explicações.

– Mãe, eu to indo pintar o cabelo da Polly de azul lá no banheiro do meu quarto, tá? – Charlie gritou só de provocação assim que entramos em sua casa.

– Faz o que você quiser! – Disse a mãe dela sem nem prestar atenção direito.

A mãe de Charlie era assim. Nunca dava atenção para ninguém, extremamente egoísta e nunca dirigia mais do que uma frase para quem quer que fosse. O pai de Charlie fugiu com outra mulher quando ela tinha apenas cinco anos. Acho que era por isso que sua mãe era tão amargurada. Algumas pessoas ficam assim depois de uma terrível rejeição. Deve ser outra maneira de lhe dar com a dor.

Charlie fingia que não ligava para a falta de atenção que recebia. Ela era do tipo de pessoa que se fingia de forte o tempo todo, sabe? Mas eu sabia que por dentro ela era só era uma menininha precisando ser mimada.

Charlie tinha tudo para ser uma rebelde sem causa dessas traumatizadas e tal, mas preferia não ser. Ela escolheu ser uma boa menina, e eu admirava muito o fato dela ter feito essa escolha certa na vida.

Um fato para agora e para sempre: Se Charlie fosse minha filha daria toda a atenção do mundo para ela! Eu adoraria cuidar de Charlie e mima-la como ela merece. Gostaria que ela fosse minha filha!

– Vamos futura ex-loira! – Disse Charlie estralando os dedos na minha frente.

Nem percebi que estava sentada na sua cama perdida em devaneios enquanto ela preparava a tintura.

– Nossa, esse treco tem um cheiro estranho! – Eu disse me referindo à tintura.

– Vai dar pra trás agora? – Perguntou Charlie me desafiando.

– Não. Passa logo essa porra! – Eu exclamei marchando para o banheiro.

– É assim que se fala! - E ela foi logo atrás rindo.

Eu nunca na vida tinha pintado meu cabelo. Tenho que confessar que me deu um nervoso sem tamanho ficar com aquele treco melequento na minha cabeça por 45 minutos inteirinhos. Nervoso e ansiedade...

– Já deu a hora? – Eu perguntei pela milésima vez para Charlie.

– Ainda não! – Ela respondeu já sem paciência. – Relaxa!

– Não consigo. Eu estou ansiosa para ver como ficou! – Eu expliquei quase surtando pela milésima vez também.

Como meu cabelo era curto, sobrou um montão de tinta e Charlie acabou usando para fazer duas mechas nela mesma para não jogarmos fora. O cabelo de Charlie era de um loiro um pouco mais escuro do que o meu então não sabíamos se o dela ia ficar bom.

Finalmente tinha dado a hora de tirar a minha tinta e eu estava ficando doida. Literalmente doidinha.

– Para de ficar passando a mão. Eu tenho que tirar direito! – Charlie dizia enquanto me ajudava a tirar a tinta do meu cabelo.

– Não dá, estou agoniada! – Eu dizia de olhos fechados para não cair tinta neles.

– Não precisa de tudo isso. Está ficando muito irado! – Ela exclamou rindo empolgada me deixando mais ansiosa ainda.

Quando finamente terminamos de levar nossos cabelos, fomos correndo enroladas em toalhas para olharmos no espelho.

– Meu Deus do céu! – Charlie disse encarando nossos reflexos no espelho.

– Deus? Mas você não era Budista? – Perguntei não perdendo a chance de tirar uma com a cara dela.

– Eu ainda sou Budista... – Ela respondeu revirando os olhos. – “Ai, meu Buda do céu”. Pronto. Tá melhor agora?

– Está ótimo! – Eu respondi rindo.

– O que achou? – Ela perguntou ainda encarando o espelho.

– Nós ficamos muito diferentes. – Eu respondi encarando o espelho também parecendo hipnotizada como ela estava.

– E isso é ruim? – Ela perguntou nervosa.

– Claro que não, nós estamos diferentes e isso é maravilhoso! – Eu respondi me virando para ela. Nós duas caímos na risada e nos abraçamos sem motivo nenhum.

Ela se trocou e eu coloquei minha roupa de antes mesmo já que não tinha roupa minha lá.

O meu azul tinha ficado forte e eu podia jurar que parecia que o céu tinha pingado nos meus cabelos. O azul das mechas de Charlie tinha ficado um azul claro que combinava perfeitamente com ela.

Tenho que admitir que nunca na minha vida me senti tão bonita como naquele momento. Eu nunca pareci tão admirável quanto ás outras garotas, cujas bochechas eram carnudas ou rosadas. As minhas eram lizas, uniformes e pálidas graças ao câncer, é claro. Eu não pensava na minha aparência ou nessas questões. Lá no fundo, eu sentia que isso me tornava uma menina que nenhum garoto jamais gostaria de tocar.


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Notas finais do capítulo

É isso gente. Não sei se gostaram, mas eu AMEI (modéstia parte é claro).
Reviews?
XoXo



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