Oneirataxia escrita por venus


Capítulo 1
Lithium


Notas iniciais do capítulo

oi amorecos
essa é a minha primeira e única história original, além de ser a primeira long (ou short, ainda não me decidi) fic postada aqui no site!espero que leiam, comentem o que acharam e acima de tudo, aproveitem :)é muito, muito importante para mim mesmo ♥até lá embaixo



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Toda criança já teve um amigo imaginário.

Normalmente, você o imagina quando tem cerca de dois anos e simplesmente o esquece no seu primeiro dia no primário, onde conhece vários amigos "reais" e não precisa mais do seu velho companheiro.

Isso é na maioria dos casos.

Esse não era o caso de Mavis McKiddie. Ela é o tipo de garota que fuma cigarro dentro da escola, inflige as regras mas nunca é pega, tira notas péssimas no boletim, mas de forma surpreendente e inesperada, consegue recuperá-las com algumas horas de estudo. É aquela que detesta todos e que é detestada de volta, que usa camisetas de bandas de rock — porém nunca ouviu uma música sequer delas — e que passa lápis embaixo dos olhos, calça coturnos pretos e veste casacões pesados só para intimidar as pessoas. Em suma, é o tipo de garota que você nunca, nem em milhões de anos, saberia que ela tem um amigo imaginário.

— Srta. McKiddie, você pode, por gentileza, prestar atenção na lousa? — a professora Clayworth pede, enquanto os outros alunos encaram Mavis com seus olhinhos esbugalhados e curiosos.

A professora dá as costas a turma e continua escrevendo no quadro negro. Mavis copia uma ou duas palavras e então fica olhando de relance para a figura esguia ao seu lado, que só ela podia ver.

— Ela tem um bundão, essa professora. — uma voz aveludada, apenas audível aos ouvidos de Mavis, sussurra para ela.

Se pudesse, McKiddie já teria estapeado seu amigo inexistente. Ele ocupava o lugar ao seu lado, como sempre, uma vez que todos alunos da sua classe tinham medo dela ou tinham vergonha tê-la como dupla.

— Ei, May. Você 'tá me ignorando de novo? — ele insiste, balançando a sua mão diante dos olhos azuis da menina.

Mavis não está o ignorando. Apenas não respondia, porque as pessoas achariam esquisito. Não que ela se importasse com que os outros alunos pensavam a seu respeito, mas conversar com a parede soava esquisito até pra ela.

Então, não responde seu amigo. Continua fingindo que está copiando a matéria da lousa e olhando de esguelha para Aiden. A propósito, o nome do seu amigo imaginário é Aiden. Ele tem a sua idade e possui os olhos verdes jade mais belos do mundo. Naturalmente, Mavis imaginou o garoto dos seus sonhos. Era bem difícil não se sentir atraída por Aiden. Se pudesse ser visto pelas pessoas, elas com certeza ficariam dando mole para ele, e ela não gostaria nem um pouco disso.

Às vezes, possuir um amigo imaginário tem as suas vantagens.

— Desculpa, professora. — diz uma voz masculina, enquanto adentra a apertada sala de aula apressadamente. — O ônibus esqueceu de mim.

A professora se vira e olha severamente para o garoto atrasado.

— Você é o garoto novo, certo? — questiona ela e ele assente. Subitamente, os olhos intrometidos dos alunos grudam no novato. — Muito bem, qual é o seu nome?

— Christopher Redford. Mas prefiro que me chamem de Topher. Acabei de me mudar pra cá.

— Prazer, sou a sra. Clayworth. — eles trocam um rápido aperto de mãos e Topher Redford fica estático perante a classe inteira, observando os lugares vagos.

Infelizmente, seus olhos faiscantes pousam justamente em Mavis, que ignora os comentários obscenos de Aiden sobre a bunda da sra. Clayworth. Nem ela, nem eu, nem ninguém naquela sala, entendeu muito bem o porquê dele ter se sentado exatamente no lugar desocupado (nem tanto assim, porque um traseiro latente aos olhos dos outros estava ocupando-o) ao lado de Mavis.

Ela leva um susto quando o garoto joga a mochila no chão e senta na cadeira de plástico ao lado dela.

— Oi. — ele dá um breve sorriso e estica a sua mão comprida e quente na direção da garota, sustentando uma expressão nervosa no rosto.

Obviamente, Mavis nem percebera que o novato tinha acabado de entrar na sala e se apresentado para a classe toda. Ele teve que dizer o seu nome e recolher a sua mão, timidamente.

— Sou Topher Redford, o garoto novo. Acabo de me mudar para Quillensdale.

— Ah. — é tudo que Mavis diz, enquanto observa o traseiro de Topher atravessar o corpo de Aiden.

Seu amigo se levanta abruptamente e lança um olhar feio para o garoto que roubou seu lugar.

— Eu gostei da sua camiseta. — balbucia Topher, fitando seus olhos cor de avelã no contorno dos seios redondos de Mavis.

Ela cruza os braços sobre o peito.

— Já ouviu a banda? — indaga ela, num tom quase desafiador.

— Ahn... Quê? Ah, ah, sim... Hum, sim, já ouvi, sim. Eles são bem maneiros. — e finaliza a fala com um sorriso amigável.

— Eu não. Só gostei do logo.

— Tenho algumas músicas deles no meu celular. — afirma ele, inclinando-se na direção da mochila NorthFace.

Mavis o encara indecisa. Ele tem o cabelo loiro escuro espigado em várias direções e veste roupas largas demais para o seu corpo franzino. Sorri bastante também, com sinceridade. Ela ficaria feliz por tê-lo como companhia, se Aiden não estivesse estirado no chão gelado da sala, assistindo cada movimento seu desaprovadoramente.

— Qual é, Mavis. Ignore ele. — sussura o seu amigo invisível.

— Eles têm umas músicas bem deprimentes. Acho que você ia gostar delas. Digo, não que você pareça ser deprimida, mas é que... Ah, você parece, mas no bom sentido. — continua o novato.

— Músicas deprimentes? — ela pergunta com tanto desejo, que Aiden tem que se pôr na sua frente e estalar seus dedos para livrá-la da tentação.

— Mavis, esse cara só quer que você fique de calcinha frouxa por ele. Eu sou seu amigo. E você é minha. Só minha. — diz ele, evidentemente irritado.

— Se você quiser ouvir... Tenho fones na minha mochila. — fala Topher, fazendo Aiden revirar os olhos de ódio.

— É que eu... Eu queria prestar atenção na explicação da sra. Clayworth. Não sou muito inteligente. — afirma ela, incerta.

— Sexo? É essa matéria que você não é boa? Eu sou ótimo nisso. Se precisar de alguma ajuda nisso, pode me chamar. — Topher aponta para o mapa do sistema reprodutório na lousa.

Mavis ruboriza. Ele tinha acabado de dizer que era bom em sexo. E estava quase convidando-a para trepar. Ela olha de soslaio para Aiden, que se pudesse encostar nas coisas do mundo real, já teria dando alguns socos no rosto delicado de Topher.

— Ah, não. Não, não, não. Eu não estava pedindo a você isso. Estou falando de Biologia. Eu posso te ajudar na matéria. Não a praticá-la, entende?

— Hum, sim. — Mavis cobre as bochechas enrubescidas com as cortinas de cabelo negro liso.

Eles ficam um bom tempo sem conversar. Isso deixa Aiden mais que satisfeito. Mavis copia as funções de um pênis da lousa, perguntando-se se teria imaginado isso no amigo.

— Preciso que vocês façam as páginas cinco e seis de lição de casa. — a professora vira seu rosto para a turma, anotando o dever no quadro negro em seguida.

Metade da classe sai porta afora, enquanto Mavis pega seu maço de cigarros e põe seu casacão verde-musgo. Arrasta-se para fora da sala, com a mínima vontade de ficar estudando por mais um ano cheio de dificuldades. Pelo menos, tem Aiden ao seu lado e Topher atrás de si, seguindo-a persistentemente.

— Quando esse cara vai parar de nos perseguir? — pergunta Aiden a cada passo que Mavis dá.

— Não sei. Mas espero que seja logo. — murmura ela baixinho, pela primeira vez no dia se dirigindo ao amigo imaginário.

Aiden bufa, impaciente.

— Ei, May. Espera aí. — Topher consegue alcançá-la ofegando, tocando em seu ombro para chamar a sua atenção.

Ela tenta não rolar os olhos. Ele tinha mesmo a chamado de May.

— Não quer ouvir a música deprimente dos caras?

Na realidade, ela está pouco se fodendo pra música dos caras. Porém, há algo suplicante no olhar de Topher, que diz para Mavis não lhe dar as costas. Hesitante, pega um dos fones e coloca-o em seu ouvido esquerdo.

— Vamos para o estacionamento. — sugere ela sacudindo a caixa de cigarros.

Topher fica surpreso ao perceber que ela é viciada em nicotina. Sempre nutriu uma vontade imensa de tragar um cigarro, mas todas aquelas notícias sobre o mal que o tabaco causava às pessoas faziam-no temer de segurar um baseado.

E então, eles andam até o estacionamento, com um Aiden furioso na sua cola. Mavis senta em cima do capô da sua picape e dá palmadinhas na superfície metálica, indicando para que Topher se sentasse ao seu lado.

Ela extrai um cigarro do maço, bate o isqueiro e o acende. Prende a fumaça tóxica nos pulmões. E logo, cospe-a em forma de anéis; os olhos turquesa observando os círculos cinzentos se dissiparem no ar.

Do fone que pende em sua orelha, começa uma música calma:

I'm so happy

Because today I found my friends

They're in my head

I'm so ugly, but that's okay, cause so are you

A faixa fina de fumaça vaga pelo estacionamento, e Topher a mira com fascínio.

— Você pode... — ele aponta para o cigarro, sem coragem para completar a frase. Sem dizer nada, ela passa o baseado para o garoto, absorta demais na melodia da música.

— Isso é muito bom. — comenta Mavis, acrescentando em seguida: — Qual é nome da música?

Todavia, ele estava ocupado demais sorvendo o tabaco. Sente sua garganta fechar. É muito forte, aquela merdinha. Não aguenta e começa a tossir, a fumaça saindo pelo nariz e a boca.

— Ai meu Deus. — Mavis começa a rir do ataque de tosses de Topher. Dá alguns tapinhas em suas costas, mesmo sabendo que não ajudaria em muita coisa. Quando as tossidas cessam, ela o instrui: — Você não precisa colocar todo filtro dentro da boca. E não pode respirar através do cigarro, se não vai acabar tossindo loucamente. Só chupe a fumaça e então assopre-a quando estiver preparado.

Topher obedece. Coloca o cigarro entre os lábios carnudos e rosados, e finalmente, consegue tirar uma tragada. Mavis bate algumas palmas irônicas e ele faz mesuras exageradas.

Aiden assiste a cena, os olhos cor de jade transformando-se em um vermelho fogo. Ele sempre era excluído de vários êxtases, e se conformava com isso. Mas presenciar aquele momento foi horrível.

Pela primeira vez, na sua curta vida, Aiden sentiu como se estivesse literalmente desaparecendo. Como se Mavis não conseguisse o enxergar. Como se ela tivesse esquecido dele.

Como se não acreditasse mais em sua existência.


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Notas finais do capítulo

enfim, digam o que acharam, ok? não leva mais do que trinta segundos pra dizer "legal gostei" ou "bleh odiei sai do site"