POV PERCY

De repente, tudo à minha volta desacelera. Lentamente, vejo o corpo desacordado de Nico cair do galho onde estamos, seu peito sujo de sangue com parte de uma adaga presa no lado direito de seu tórax. Ouço uma voz masculina gritar seu nome - talvez a minha própria. Então, sem conseguir pensar direito, pulo do galho em direção a Nico.

Por um golpe de sorte, consigo agarrar Nico ainda no ar, antes que seu corpo magro se choque com o solo. Abraço meu pequeno filho de Hades e coloco meu corpo abaixo dele, pouco antes de nos chocarmos com o chão duro de terra. O sangue de Nico já suja minha camisa também, e sem hesitar corro em direção à Casa Grande, torcendo para conseguir salvar o garoto que já me salvou também.

Ao chegar na Casa Grande, porém, sou parado por Michael, um filho de Atena. Ele me impede a passagem, levando um soco logo em seguida. Meu Nico não irá morrer por causa de um loiro imbecil. Dentro da grande casa azul, Quíron está finalizando um grande curativo em Annabeth. Seu rosto, antes bronzeado e alegre, está cinzento como seus olhos tempestuosos. Sua camiseta laranja está manchada de sangue seco, e por um instante, quase me irrito com Nico. Quase.

Deito Nico em um sofá próximo à lareira - seu corpo está frio - e me sento em sua frente, acariciando seu rosto pálido. Ele parece tentar dizer algo, mas de sua boca saem apenas grunhidos. Quíron aparece atrás de mim, apoiando uma de suas mãos em meu ombro. Abro espaço para o centauro e o observo analisar Nico meticulosamente, envolvendo seu corpo em um cobertor grosso.

Sem perceber, começo a rezar para os deuses salvarem a vida de Nico, e só então, sentado no chão da Casa Grande, percebo o quão cansado estou. Apoio minha cabeça na lateral do sofá, e acabo pegando no sono.

~*~

Estou em um funeral. Não sei de quem, nem onde, mas sei que é um funeral. Todos usam roupas pretas, inclusive eu. Vejo ao longe quatro pessoas trazendo um caixão escuro e pequeno. Quando o quarteto alcança o pequeno monte onde estamos, consigo ver quem está no caixão. É Nico.

Acordo sobressaltado. Tudo aquilo fora apenas um sonho. Olho em volta: ainda estou na Casa Grande. Porém, nem Nico, nem Annabeth, nem Quíron estão por perto. Repentinamente, sinto alguém cutucar meu braço, e me viro devagar para o sofá atrás de mim.

Os olhos de Nico mostram dor e cansaço, mas há certa alegria ao me ver. Sorrio, maravilhado por ter Nico vivo e salvo da morte. Puxo o corpo pequeno pelo braço e sento-o em meu colo, abraçando-o logo em seguida.

– Nico, você está vivo.- digo, ainda o abraçando. Ele ri e me abraça também, escondendo a cabeça em meu peito.

– Não diga, peixe. Obrigado por me salvar dos filhos de Atena. Ou pelo menos me ajudar.- ele diz e beija minha bochecha, corando violentamente logo em seguida. Rio ao ver o rosto pálido adquirir um tom vermelho tão rápido e abraço ele mais forte, ao passo que ele me solta para se encolher em meu colo.

– Percy, eu preciso falar com você. Quando eu fugi, você deve se lembrar, eu disse que te... você sabe. É sobre isso que eu quero falar. Eu...

– Eu também quero falar sobre isso. É óbvio que lembro que você gosta de mim daquele jeito. E, bom, enquanto você esteve fora, eu percebi que sinto o mesmo. Nico, eu te amo.

Assim que digo estas palavras, sinto Nico avançar contra mim e selar nossos lábios suavemente, me beijando de maneira desejosa porém calma. Nico possui um gosto adocicado, como morangos frescos, e seu sabor me entorpece, me deixando sedento por mais, mais daquele sabor, mais de Nico. Lentamente, deito seu corpo no tapete vermelho onde estamos, porém não para o beijar. Me lembro que ele está ferido, e decido ver o ferimento. Calmamente, levanto sua camiseta até o peito, onde uma série de curativos cobrem um corte que se revela ser longo e profundo. Passo minha mão pelos curativos, arrancando um gemido de dor de Nico.

– Desculpe. - murmuro. Nico sorri de leve e beija minha bochecha, me fazendo corar. Ele se encolhe em meu colo e apoia sua cabeça em meu peito, como uma criança no colo de seu pai. - Dói?

– Um pouco. Agora dói menos do que estava doendo antes, mas ainda dói. E não se preocupe comigo, ok? Eu estou bem.

Acaricio seus cabelos lentamente. Nico solta um bocejo e esfrega seus olhos, cansado. Ele pega minha mão, já quase adormecido, e a beija, caindo no sono logo em seguida. Nesse momento, sinto que meu pequeno filho de Hades está seguro, após tanto tempo procurando algum tipo de família e correndo perigo. Em meus braços, adormecido, Nico está seguro e salvo de tudo e todos que querem o ferir.