Ging acordou de sobresalto, quando se levantou todos os seus músculos doíam, seu corpo enfaixado não o deixava se movimentar direito. Ainda estava com as idéias em sua cabeça meio embaralhadas, lembrava-se de lutar contra uma mulher, uma atiradora estranha, se lembrava de ser atingido por um míssel (!) e depois disso nada mais.

Aproveitou para olhar em volta, a primeira coisa que percebeu era que estava sem roupas, não totalmente, mas apenas com suas roupas de baixo. Estava em uma cama de palha confortável, o local era pequeno, o quarto onde estava tinha uns 3 metros, as paredes eram feitas de bambu, assim como os móveis (a cama, o armário a sua direita, a mesa ao centro, e a estante contendo alguns temperos e outros potes a sua esquerda). Havia uma porta fechada do outro lado do quarto e a julgar pelo calor e claridade que vinham de lá, havia um fogo, como uma lareira ou uma pequena lareira no outro cômodo.

Ao olhar para seu próprio corpo novamente, percebeu que estava sendo cuidado pelos seus ferimentos, algumas ataduras e curativos com pomadas foram usadas para as queimaduras e machucados. Ele colocou a mão entre seus cabelos, suspirou fundo pensando consigo mesmo: “Que descuido hein ?” “mas da próxima vez não serei tão inconsequente e não precisarei ser salvo, vou entender como sua habilidade funciona, irei entender como TODAS as coisas funcionam!”

O jovem Hunter teve seus pensamentos interrompidos quando a porta se abriu, mostrando uma jovem senhora com uma bandeja nas mãos. Ao ver que seu paciente ja estava sentado na cama colocou um sorriso de alívio no rosto e disse:

– Ora ora, pelo visto meu paciente acordou.

– Me desculpe senhora, mas quem é você? E como eu vim parar aqui ? – foi a resposta do garoto.

– Bem, meu nome é Rirako, moro nessa floresta ha 30 anos, fui atraída até o local onde você estava por que ouvi uma grande explosão. Quando cheguei lá vi você caído no meio da mata, havia fogo por todo os lados, você estava muito machucado, achei que poderia não sobreviver. Mas parece que felizmente eu me enganei.

– Entendo, não que eu esteja reclamando senhora Rirako, mas por que me ajudar ? Afinal sou um estranho que você encontrou na floresta, posso ser perigoso, um assaltante.

– Você é ? – Foi interrompido.

– Não, claro que não

– Então não há problemas – Havia sido interrompido novamente

Ela se aproximou com a bandeja e enquanto trocava suas ataduras e curativos falava: - Não me importo quem seja, você estava precisando de ajuda, não podia simplesmente deixá-lo lá para morrer.

Ging resolveu deixa o assunto morrer, estava cansado e discutir os melhores meios de se proteger numa floresta com uma senhora de quase 60 anos não o faria se sentir melhor. Estava grato pela ajuda, e após receber o tratamento deitou novamente.

A luta ficava passando na sua cabeça, uma vez após a outra, ele havia chego a conclusão que não havia deixado passar o lança míssel, ele havia sido criado na hora em que resolveu atacar. Ela sabia usar NEM, e com certeza era do grupo de Materialização. Era uma habilidade diferente, ele tinha várias perguntas sobre como ela funcionava, também se perguntava o que deveria ter acontecido com a garota. Com certeza ela havia se machucado e como Rirako não havia dito encontrar mais ninguém além dele ela deveria ter fugido.

Ele sorria para o vazio, um novo mundo estava se abrindo na sua frente, mundo de pessoas extraordinárias e com habilidades igualmente extraordinárias. Estava adorando ser um Hunter, parecia que tinha nascido para aquilo. Porém ser surrado por qualquer um não estava em seus planos, precisava tirar respostas daquela garota sobre seu mestre e para isso precisava ficar mais forte. Seu mestre ja havia lhe falado para praticar TEN e REN todo o tempo e ele ja fazia isso, enquanto se recuperava dos ferimentos iria praticar com mais afinco e quando pudesse levantar-se da cama iria para um novo nível, iria aprender o seu HATSU.

Três dias haviam se passado, das 72 horas desses três dias ele havia treinado 60, refazia todos os caminhos do NEM, começando pelo TEN, passava ao REN, pulava para ZETSU e finalizava com o EN,afinal era a técnica que era pior e seu mestre o mandava praticar sempre que possível, era um velho chato mas sabia das coisas e no fim depois de resmungar ele obedecia. O ciclo levava cerca de 2 minutos para ser feito, após fazer o ciclo ele descansava mais 1 minuto e repetia, a cada hora ele ficava sem aura e precisava de pelo menos mais uma hora de descanso. Isso se repetiu por todo os 3 dias. O que também se repetia da mesma maneira durante os 3 dias era o ritual que Rirako fazia para cuidar de seus ferimentos, ela chegava sempre no mesmo horário, trazia comida, limpava seu corpo, trocava os curativos, eles conversavam enquanto ela fazia suas tarefas, e ao terminar ela sorria e saia, só voltando a aparecer na hora de se trocar os curativos novamente. No quarto dia ele conseguiu se levantar da cama, seu corpo estava moído por ficar muito tempo na mesma posição, mas a sensação de mobilidade era reconfortante.

Pegou uma blusa e uma calça deixada em cima da cabeceira da cama e devagar abriu a porta do outro lado do seu quarto. O calor da lareira invadiu seu rosto, uma pequena sala com móveis também feitos de bambu estava a sua frente. Sentada à sua esquerda Rirako escrevia em um livro, uma leve música tocava de um pequeno rádio, por esse motivo a senhora não havia percebido que o jovem havia saído de seu quarto. Sem querer incomodar mais, Ging seguiu para a porta de onde vinha uma brisa mais fresca “Provavelmente dará para a floresta” concluiu. Estava certo, ao sair, a luz do dia o cegou um pouco, mas logo ele se acostumou, respirou fundo, sentiu o cheiro e ouviu a vida da floresta, o vento, os animais, as folhas. Estava em casa.

Entrou sorrateiramente novamente, voltou ao seu quarto, pegou papel e um lápis, escreveu um bilhete de agradecimentos e desculpas. Não gostava de despedidas, não se sentia confortável, pediu que ela entendesse, mas que ele teria coisas urgentes a resolver e por isso estava indo embora. Deixou a carta em cima da cama e como um fantasma saiu.

Andou por algumas horas seguindo os rastros que seu corpo sendo arrastado por Rirako havia deixado e em alguns minutos ele havia chego ao local de seu útimo confronto. A destruição era evidente, marcas de balas e fogo, um buraco grande no local onde o míssel havia explodido, seria difícil rastrear algo lá. Por isso ele decidiu andar em volta do local da luta, fazendo círculos cada vez maiores em busca de seu alvo. Ao meio dia ele parou, procurou por comida e sentou-se a beira de um pequeno córrego. Ali sua sorte virou, próximo a outra margem ele percebeu a trilha de alguém, era a única pista que havia encontrado durante o dia, então não podia deixar ela passar. Ao passar pelo córrego molhou o rosto e os cabelos e seguiu pela direção que o rastro estava o levando.

Enquanto seguia ele fazia sua rotina de treinamento de NEM, e junto com a noite chegando o rastro passou a ser mais recente. Resolveu parar, descansar, acampar, treinar e dormir. Mas antes, naquela noite iria criar o seu HATSU.

Na manhã seguinte ele havia se levantado bem disposto, pegou novamente o rastro e seguiu. Algumas horas mais tarde ele viu ao longe, no topo de um morro uma grande casa em uma clareira e após isso, cercada de árvores. Pelo que parecia os rastros iam para lá. Andando mais alguns quilômetros subindo o morro chegou a uma pequena distância da casa. A uns 100 metros de distância de Ging a casa se mostrava imponente, 3 andares em um estilo colonial, bem diferente da humilde cabana onde havia passado os dias anteriores, porém o que mais lhe chamou a atenção foi a atiradora que ele havia enfrentado na porta da casa, sentada na soleira da porta. A clareira onde a casa se encontrava era grande, a luta seria diferente dessa vez, e ele teria uma coisa interessante para mostrar a ela dessa vez.