Até Breve escrita por Andye


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...
— Mario Quintana



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O dia havia amanhecido cinza, frio e triste.

A grande família que oscilava com tons de cabelo avermelhados e castanhos se encontrava reunida na sala da grande casa de paredes cor de vinho e delicadas cortinas cor de creme.

Infelizmente, aquela não era uma reunião agradável. No quarto acima, o patriarca da família estava deitado em sua cama, contando seus muito bem vividos cento e poucos anos e esperando alegremente o momento do descanso tão merecido.

Realmente, era o único que tinha feições verdadeiramente alegres e que, mesmo diante da situação que se encontrava, tentava sob todas as circunstâncias tirar sorrisos, mesmo que falsamente alegres, da família.


- Vovó, por que todo mundo está triste? - O pequeno Luka que tinha apenas três anos ainda não entendia muito bem o que estava acontecendo na casa que conhecera ser sempre o local de maior felicidade e alegria.

- É que o vovô vai fazer aquela viajem que já te explicamos. - Rose explicou mais uma vez ao pequeno tão cheio de dúvidas.

- Mas eu não entendo vovó - ele falou para a mulher - Se ele vai fazer lá no outro lugar o mesmo que faz aqui, por que então ele não continua aqui? Não quero que o vovô vá embora.

- Também gostaria de saber porque ele não pode ficar meu amor - Rose respondeu entristecida - mas esta é a lei natural da vida, e temos que nos acostumar com ela. Temos que entender que, mais cedo ou mais tarde, as pessoas que amamos partem deste mundo para um outro, e lá continuam sendo felizes como eram aqui.

- Mas a vovó Narcisa não ficou feliz quando o vovô Lúcio foi pra este lugar. - o pequeno continuou.

- É que é complicado para nós que ficamos nos acostumarmos com a falta que esta pessoa amada nos faz e por isto a vovó Narcisa ficou triste, ela amava muito seu vovô Lúcio e demora um pouco até nos acostumarmos com a falta que sentimos. - Rose continuou um pouco chorosa.

- Mas a vovó Mione também vai ficar triste? Não quero que ela fique triste. - o pequeno agora parecia irritado.

- Vai sim, meu amor. Ela vai ficar triste sim, mas vai melhorar, assim como a vovó Narcisa tem melhorado.

- Mas então, por que o vovô não fica de uma vez? - o menino fazia bico e estava visivelmente triste agora.

- Porque o vovô precisa descansar, Luka - Hugo meteu-se na conversa percebendo que a irmã já não estava tão bem.

- Mas ele está descansando agora...

- Eu sei campeão, mas ele precisa ir para descansar totalmente - Hugo continuou pegando o menino nos braços - E pense desta forma... O vovô nunca vai ficar longe, ele sempre estará conosco, sempre... Aqui - ele tocou a cabeça do menino - e principalmente aqui - e tocou o coração - E graças a Merlin porque inventaram as máquinas fotográficas, o vovô pode vir nos visitar a hora que quiser, é só colocarmos um quadro bem grande dele na sala... Que acha?

- Acho muito bom, assim posso brincar com ele...

- Sim... vai poder...

- Rose, Hugo, ele quer falar com vocês.

- Mamãe, por favor, eu não quero ir...

- Você precisa minha filha, temos que aproveitar cada momento ao lado dele...

- Vovó, não chore... Mamãe... - o pequeno continuou choroso olhando para Jane, sua mãe, que se aproximava - Fale para a vovó não chorar.

- Não vou chorar meu amor. - Hermione respondeu afagando os cabelos vermelhos do pequeno.

- Vovó Mione, por que a senhora não faz um feitiço pra o vovô ficar bem?

- Porque não podemos interferir na vida de ninguém, meu amor, por mais que nós a amemos. Temos que seguir o curso da vida.

- Não estou gostando disto. Não mesmo - o menino bufou e cruzou os braços forte contra o peito.

- E que tal se formos passear um pouco lá fora enquanto a vovó e o tio Hugo vão falar com seu vovô? - Scorpius aproximou-se também.

- Passear onde vovô?

- Que tal irmos ao parque?

- Sim... Êba!!!!

- Obrigada meu amor... Não sabia mais o que falar... - Rose agradeceu com um sorriso tristonho.

- Não é nada Rose. Casei com você e te entreguei todo o meu amor para estar com você e te ajudar em todos os momentos... - ela lhe deu um beijo no rosto.

- Vamos subir então Rose? - Hugo chamou sua atenção.

- Não vou suportar Hugo.

- Vai sim, meu amor - Scorpius falou para ela - Onde está a garota arteira de cabelos cor de fogo tão corajosa ao ponto de ser digna de ser escolhida com louvor para a Grifinória? Onde está a garota corajosa pela qual me apaixonei? Claro que você vai...

- O Scorpius tem razão, Rose - Hermione completou - Por favor, suba. Ficarei aqui para que vocês possam falar a sós com ele.


Rose apenas assentiu com a cabeça. Pegou a mão do irmão, como fazia quando eram crianças e sabia que iam levar uma bronca do pai por terem aprontado alguma arte. Os olhos de Hermione observaram a cena marejados das lágrimas que precisou conter para sorrir e acenar para o bisneto que saia com o avó para o parque.


- Vovó, fica aqui com a gente - Jane, que recebera este nome de Rose em homenagem a Hermione, a convidou a se sentar. No sofá, além de Jane e seu marido, estavam Victorie e Teddy com três crianças com cabelos coloridos, Lucy, Pedro e Jonas, os filhos de Hugo, abraçados à sua mãe...

Algumas cabeças flamejantes eram vistas na cozinha conversando pesadamente, e as crianças que, no geral, eram tão arteiras, pareciam verdadeiros anjos de candura neste momento.


- Papai!

- Oi minha rosa. Meu garotão - a voz dele estava pastosa. Cansada. Ele estava sentado com as costas encostadas na cabeceira da cama. Sorria feliz, contrastando a tristeza aparente no rosto dos filhos - Mas que carinha tão triste é esta, minha flor?

- Ah papai...

- Oh, Rose. Você é igualzinha a sua mãe. Não fosse o cabelo vermelho e os olhos azuis... Seria a própria cópia... Sempre tão forte, tão corajosa, mas no fundo, carente de carinho e proteção.

- Papai, fique mais conosco, por favor...

- Eu adoraria minha querida, mas não posso. Esta é a minha hora, o meu momento. Eu estou feliz, e gostaria que você ficasse também. Vou descansar meu corpo velho e muito cansado de uma vez... Até pensei que a amiga morte tivesse me esquecido...

- Não fale isto papai - Hugo rebateu. Ele se mostrava forte, mas os olhos azuis demonstravam muito bem o que sentia. Ele sim era a cópia do pai.

- Quando vocês tiverem a minha idade, tiverem vivido um terço do que vivi e entenderem a vida como eu acredito que entendo, não verão a morte como um vilão, e sim como uma amiga...

- Nós te amamos muito papai... Sentiremos muito a sua falta. - Hugo falou não se contendo mais.

- Eu também amo vocês, meus filhos. Os amo com toda a força que um pai poderia amar. Sou grato e feliz pela linda família que tenho, e a vocês que me concederam esta alegria.

"Quero que fiquem bem, os dois. E você Rose, melhore esta cara... Sua mãe falou da infinidade de perguntas que o Luka tem feito. Ele herdou a inteligência da sua mãe, que consequentemente você e a Jane também herdaram, então, eu já tentei acalmá-lo quando chamei meus netos aqui, mas se você continuar assim, terá sido tudo em vão.

"Hugo, - olhou agora para o filho e se viu nele - você será agora o patriarca Weasley. Cuide da Rose, e principalmente, cuide de sua mãe. Ela vai tentar se mostrar forte, mas estará triste e precisará de vocês perto dela.

- Pode deixar papai, não vou desapontá-lo - respondeu forte, enxugando os olhos com a palma das mãos - Serei um bom e verdadeiro Weasley como tenho sido até hoje, afinal, aprendi com o melhor de todos os Weasley.

- Certo, agora enxuguem estas lágrimas. Eu estou bem. E já pedi para a Jane colocar um quadro meu em cada cômodo desta casa, assim poderei ficar passeando e tagarelando minhas idiotices com vocês. Só sentirei muita falta da comida de sua mãe...

- Ah papai - houve um sorriso verdadeiro envolto as lágrimas de ambos os filhos seguido de um abraço apertado, demorado. Rose e Hugo pareciam gravar a sensação daquele abraço. O abraço que os protegeu de tantos sonhos maus... O abraço que recebiam quando se machucavam ou quando ele voltava de alguma missão.

O abraço apertado de cada despedida para um novo ano em Hogwarts, e o abraço de saudade que recebiam quando voltavam nas férias. O abraço que receberam ao se formarem, o abraço orgulhoso que os envolveu quando conseguiram seus empregos.

O mesmo abraço feliz que entregou a bela Rose ao não tão querido genro Malfoy, mas que a fazia feliz... O abraço animado por receber o primeiro neto de seu filho mais novo...


- Amo vocês meus filhos, nunca esqueçam...

- Te amamos papai...

- Agora chamem sua mãe, preciso falar com ela a sós..


...


- Mandou me chamar, meu amor?

- Sim... Já disse como você é linda hoje?

- Não! - O sorriso triste preencheu os lábios da morena de olhos cor de chocolate.

- Como pude? Deve ser problema da idade avançada. Como pude esquecer de dizer como você é e sempre foi linda?

- Como está galante...

- Sempre... E só para você. - sorriu maroto.


Ele estendeu a mão e ela a segurou. O sorriso sincero envolveu os dois ao sentirem o toque quente das mãos.


- Quanta coisa né, Mione?

- Sim... Quem poderia imaginar que três adolescentes sobreviveriam a tudo aquilo?

- É verdade. E você sempre foi tão perfeita. E eu, um legume insensível...

- Que alcançou os mais altos níveis de sensibilidade depois de um tempo...

- Por amor a você.

- Também amo você, Ron... Muito e para sempre. Queria tanto que meu momento chegasse também, pra poder ir com você e não ter que passar nem um segundo sabendo que não poderei mais te beijar...

- Mione, sempre estaremos juntos, eu te prometo. E quando for a sua vez, estarei esperando feliz como sempre...

- Queria que você ficasse...

- Queria ficar com você...

- Te amo, meu amor... - um abraço.

- Obrigado Mione... Obrigado por procurar o sapo do Neville e apontar a sujeira do meu nariz... Obrigado por ter me ensinado a fazer o feitiço de levitação, me mostrando que era leviosa, e não leviosar me impedindo de furar o olho de alguém com aquela varinha velha...

"Obrigado por ter se escondido naquele banheiro, porque se não fosse pelo trasgo, talvez não tivéssemos nos aproximado. Obrigado por me mostrar que não vale a pena lutar contra os nossos sentimentos, porque sempre te amei, e cada vez que tentava pensar ao contrário, te amava ainda mais...

"Obrigado por me mostrar que há coisas mais importantes na vida e que eu errava em me preocupar com minhas roupas de segunda mão e muito obrigado mesmo por me fazer entender que não sou apenas mais um Weasley.

"Obrigado por ter me amado, por ter estado sempre ao meu lado mesmo quando não estava ao seu lado, por me aceitar com meus erros e defeitos que sei que são muitos. Obrigado por ter superado minhas crises de ciúmes e baixa auto-estima. Muito, mas este muito é muito mesmo... Muito obrigado por ter se tornado minha esposa, por ter me escolhido pra ser seu marido.

"Por ter me dado filhos lindos... Por ter me ajudado a construir uma família abençoada e simplesmente feliz. Obrigado por ter me ajudado a manter a alegria e por ensinar aos nossos filhos que a simplicidade e a felicidade são melhores que qualquer fortuna.

"Obrigado por existir em minha vida, Hermione Jean Granger Weasley, sua sabe-tudo irritante... Eu te amo...

- Ron...


Trocaram um beijo. Um sorriso. Os olhos azuis fecharam lentamente e os olhos castanhos deixaram uma lágrima cair ao sentir que o aperto da mão afrouxara.


- Sempre vou te amar meu legume insensível... Sentirei sua falta!


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