Entrei no pequeno quarto do apartamento que foi adquirido por conta do próprio concurso. Ele era pequeno, com paredes brancas e uma cama de solteiro. Aconchegante até, eu simplesmente desmaiei quando cheguei. Estava muito cansada, e só fui perceber que ainda não havia ligado para a Malu e o João, depois de 2 horas dormindo.

Apressei-me no banho. A loira-vadia disse que iríamos viajar amanhã de manhã, quando a Malu e o João viessem se despedir iriam trazer a declaração de meu médico dizendo que eu era boa o bastante de saúde para viajar. É falso, mas... ninguém precisa saber.

Coloquei uma roupa liguei para o número da Malu e esperei, depois de três chamadas ela atendeu:
– Oi? – Senti tensão em sua voz, ela estava tentando disfarçar.
– Oi Malu! – Sorri mesmo sabendo que ela não poderia ver.
– Sam, o que houve? Deu certo?
– Sim! – Respondi alegre. Ela deu um gritinho, e começou a berrar;
“JOÃO A SAM CONSEGUIU, EU VOU PRA CALIFÓRNIA, AAAAAH....... JOÃO, ISSO É A RAÇÃO DA GATA...... NÃO SEI SE TEM GOSTO DE PEIXE, VEM LOGO!”
– Oooooooie! – João, esse doce, e lindo ser que me deixou surda de um ouvido.
– Ooi! – Respondi rindo.

***

Acordei cedo para me trocar pois iríamos sair as 9:00 horas, ainda eram 6:30. Malu e João chegaram um pouco depois.
Minha mãe ainda não havia sentido minha falta. Malu disse a ela que eu estava pousando em sua casa. Ela também disse que estava pousando na minha casa para vim aqui hoje cedo, só que na verdade ela dormiu na casa de João.

– Oonw, meu Deus, eu vou sentir tanta falta! – Malu disse manhosa me abraçando apertado.
Eu ri; – Vamos nos ver daqui uma semana Maria Luisa.
– Eu sei – Ela disse. – Mas mesmo assim! – E me abraçou novamente.
Quando ela finalmente me largou avistei João sentado na cama, de cabeça baixa. Caminhei até ele e sentei ao seu lado.
– Ei! – Chamei, e nada. – João! – Me agachei em sua frente. Ele estava chorando. – Não precisa ficar assim meu doce de uva. Sabe que eu te amo não é? Olha se eu ganhar esse concurso, juro que pego o dinheiro e nós todos vamos para um lugar bem legal. – Disse. – Onde tenha só menino gato. – Ele sorriu.

***

Cheguei no aeroporto 3 horas antes do embarque. Estava com uma bagagem de mão com todos meus documentos. A declaração do médico estava incluída. Na mala maior estavam minhas roupas, meu computador e um pacote com uma lata de leite condensado.
O homem que havia pregado os resultados do concurso em São Paulo – que foi pisoteado – venho pegar nossas declarações. Ele também me pediu a assinatura de meus pais e depois de 10 minutos cansei de argumentar que eu já tinha quase 18 e dei meu RG para ele.
Me despedi dos meus mascotes com muito choro e abraços e fui fazer o check-in. Iria desistir se ficasse vendo João daquele jeito.

Minhas malas foram despachadas e etiquetadas, e eu recebi o cartão de embarque.
Depois de mais 2 horas o meu voo foi anunciado no painel. Me levantei e caminhei até o saguão de embarque, meus pertences e eu passamos por um detector de metal, que apitou por conta da lata de leite condensado.Depois de quase matar o guarda me deixaram ficar com ela.
Entrei na fila para embarcar e depois de entrar no avião procurei meu assento e me sentei.

Uma aeromoça anunciou para desligarmos os aparelhos eletrônicos, e começamos a voar.

Eu poderia até ter um ataque de pânico por conta do meu medo de altura. Poderia mesmo. Ou por essa ser a minha primeira vez em um avião, ou então por eu estar indo para outro pais, que por acaso, nem minha língua falam, e as únicas pessoas que sabem disso terem 17 ou 18 anos. Mas quer saber?

EU ESTAVA INDO PARA CALIFÓRNIA REALIZAR MEUS SONHOS, PORRA!

***

Desembarquei no aeroposto da Califórnia com um sorriso que ia de orelha-a-orelha. Peguei minha bagagem e me dirigi até onde as pessoas ficam com aquelas plaquinhas legais com os nossos nomes.
Um homem barbudo, magro e de olhos negros estava com uma delas – as placas. – Escrita “ PESSOAL DO CONCURSO “.
Eu e as outras 4 pessoas caminhamos até ele, o homem que foi pisoteado também. Descobri que ele se chamava Fred e que morava lá a 5 anos.

Entramos em uma van amarela estranha. O interior era forrado de couro preto.
– Onde iremos ficar? – Perguntei a Fred que estava no banco da frente com o motorista.
– Para os seus apartamentos! – Ele deu de ombros. – Ok, vocês provavelmente devem estar com medo por estarem em outro pais, ou por não saberem se eu sou de confiança, mas gente. – Ele sorriu. – Estou fazendo isso a 3 anos.
Isso? Isso o que? Meu Deus ele trafica crianças. Sua besta como não pensou nisso Samantha!
– Então você faz esses concursos a 3 anos? – Um garoto louro que estava sentado atrás de mim perguntou. Era aquele garoto que eu beijei a bochecha quando descobri que havia passado. Corei quando lembrei disso.
– Sim! – Fred respondeu.
Ufa!
– E onde são nossos apartamentos? – Uma morena sentada ao lado do Louro perguntou.
– Vocês vão ver! – Fred sorriu.

***

O apartamento era perfeito. Ficava no 4ª andar; numero 46. Os outros participantes ficavam no mesmo corredor que eu.
A sala era grande, tinha um sofá de couro vermelho, e no centro uma mesa de vidro, com as pernas pintadas com dourado. Havia um tapete da cor do sofá no chão, cobrindo uma boa extensão da madeira escura que o revestia.

Joguei minhas malas na entrada e fui ver o resto. A cozinha tinha azulejos verdes claros, com um balcão de possuía uma pedra escura. Os moveis eram brancos. Abri a geladeira e dei de cara com varias coisas diferentes.
Ótimo, geladeira bem abastecida. Amei aqui!

Meu quarto era grande, mas na de um jeito exagerado. Havia uma cama de casal com roupas-de-cama brancas e lilás. Um criado mudo ao seu lado, janelas de vidro grande com cortinas também lilás.
As paredes como era de se esperar era branca com uma ou duas faixas perto do closet roxas – essas mais escuras.

Voltei para a entrada do apartamento e peguei minhas malas para arrumar no closet.

***

Depois de tudo arrumado me joguei na cama. O telefone que estava em cima do criado-mudo tocou alguns minutos depois.
– Sim? – Perguntei! E então lembrei que estava na Califórnia e eu tinha falado em português.
– Sim? – Disse desta vez certo.
– Oi, aqui é o Fred! – Sorri, com ele eu podia falar minha língua.
– Oi Fred! Algum problema? – Fiz uma careta.
– Não, senhorita... aan ...
– Samantha – Completei.
– Sim, Samantha. Só queria avisar que o concurso irá acontecer daqui somente 2 meses.