Tudo Aconteceu em Um Inverno – Dramione / Capítulo 7 – Cartas na mesa

POV Hermione Granger

Hugo chegou acompanhado de Malfoy algumas horas depois, ambos calados. Hugo sussurrou algo como precisar dormir para levantar cedo na manhã seguinte e Draco foi para seu quarto sem falar com ninguém.

Eis que ficou eu, Scorpius e Rose.

– Você quer falar sobre o que aconteceu? – Rose perguntou receosa remexendo seu prato sem muita fome.

– Não.

Ela e Scorpius se entreolharam.

– Olha, talvez desabafar seja bom mãe.

– Eu já disse que não! –Bati ambas as mãos na mesa e Scorpius se calou.

Rose suspirou.

– Eu vou deitar, estou sem fome. – Jogou o guardanapo sobre a mesa e se afastou sem mais nem menos, em outras circunstâncias eu teria obrigado-a voltar e comer direito, mas eu não estava com cabeça pra nada, se ela não queria comer, que não comesse.

Scorpius levantou de onde estava, caminhou a passos lentos atrás de mim e parou, beijou o topo da minha cabeça e sussurrou um ‘boa noite’. Eu fiquei sozinha. Divagando. Recolhi os pratos, jogando o resto da comida no lixo e indo lavar a louça.

Eu só escutava o barulho da água sobre os pratos, a casa inteira estava em completo silêncio e quando eu já estava quase no fim, sentindo o sono fazer efeito alguém pigarreou na entrada da cozinha e eu tive a sensação de ter tido um quase ataque.

Virei assustada, vendo a figura pálida e cansada de Draco Malfoy apoiado na porta com um dos ombros, os pés e os braços cruzados.

– Normalmente era eu quem deveria lavar a louça da janta.

– Não precisa se dar ao trabalho – Eu fechei a torneira e secando as mãos – Pra variar, eu já fiz isso.

Ele não esboçou reação alguma, não esboçava reação alguma, eu não sabia se estava com sono, com raiva, cansado, com fome.

– O que aconteceu com a gente? – Ele ergueu uma sobrancelha. Agora visivelmente confusa.

– O seu orgulho foi grande demais pra chegar até mim e pedir desculpas depois de um escândalo desnecessário.

– Só o meu? – Franziu o cenho.

Eu não sabia se ele estava sendo irônico ou não.

– Não sei, não me importa mais, eu estou começando a desistir de você.

Ele engoliu em seco mudando o peso do corpo de um pé para o outro.

– Por que? – Sua voz falhou.

Draco Malfoy dificilmente se abalava, dificilmente. Eu escutara diversas vezes Blás resmungar sobre Draco não mostrar como se sentia em relações as coisas e eu sempre respondia que eu sempre sabia como ele se sentia.

Blás sempre ria, dizendo que o elo entre nós era de certa forma inquebrável e eu ria de volta socando seu ombro dizendo que aquilo tudo era besteira, eram apenas anos de convivência.

Mas agora, agora eu podia ver. Draco Malfoy fazia questão de esconder seus sentimentos para qualquer um, mas comigo ele simplesmente não conseguia, só não sei se dava conta disso. Ele descruzou os braços, os punhos fechados junto ao corpo e olhos correndo pelo meu rosto.

– Malfoy – Suspirei – Eu estou cansada e quero ir dormir.

– Não – Respondeu rápido – Nós precisamos conversar que nem pessoas civilizadas.

– E se eu não estiver a fim de conversar que nem ‘pessoas civilizadas’? – Cruzei os braços.

Ele maneou a cabeça para o lado, visivelmente nervoso. Deu um passo a frente, os punhos ainda fechados ao lado do corpo, mas recuou respirando fundo.

– Eu não lhe dei opções Granger. – Rangeu os dentes.

– E quem disse que é você que me dá as opções?

Ele respirou fundo outra vez dando um passo a frente, dessa vez sem recuar.

– Você – Ele pensou bem antes de continuar – Você dormia mesmo com Thomas?

Eu podia ver o desespero em seu olhos, como ele estava ainda completamente abalado e temia tanto a resposta quanto eu temia a da minha pergunta.

– Não.

Ele ponderou um pouco antes de suspirar aliviado com os olhos fechados.

– E o que raios ele estava fazendo na nossa casa? Por que? Por que toda vez que eu chegava atrasado ele estava lá, o que raios vocês faziam.

– Só respondo depois que você me responder quem era aquela mulher.

Ele suspirou o cansaço também o atingindo. Sentou-se, passou a mão pelo rosto banhado pelo sono e sua voz saiu baixa.

– Ela... Ela é uma amiga da minha secretária. Trabalha com joias.

– E do que isso me interessa?

Ele me olhou de forma tão profunda que tive que apoiar uma das mãos na pia para me manter em pé.

– Eu encomendei um colar de diamantes com ela, só que ele era complicado de se fazer e então eu tinha que estar sempre passando no escritório dela pra ver como estava andando, por isso os atrasos. Quando ficou pronto, no dia da festa da Gina pedi a ela que deixasse guardado no quarto, afinal – Ele riu com desdém – Não se deixa uma joia como essa em cima da mesa da cozinha né? – Ele sorriu e eu segurei a respiração.

Fechei os olhos.

Nove anos, eu enganada, ele enganado, dessa vez nenhum de nós tinha razão.

– Thomas é organizador de eventos – Abri os olhos procurando ver sua reação. – Eu, ele e Gina íamos fazer uma festa de aniversário de casamento pra você, de inicio era pra ser surpresa, mas Gina presumiu que você ia suspeitar por tê-lo visto em casa, então era pra eu te contar tudo na festa dela.

O sorriso dele se desfez completamente.

– Então quer dizer que... –Ele respirou fundo – No final das contas, nós dois somos cabeça dura demais pra escutar o que o outro tem pra falar?

Eu suspirei cansada sem responder.

– Ah Hermione – Ele fechou os olhos caminhando até mim e me abraçando, eu prontamente o respondi – Desculpa.

– Desculpa – Sussurrei contra seu peito, sentindo seu calor me envolver.

– Já ta tarde – Sussurrou afundando o rosto no meu pescoço – Vem dormir comigo.

– Nove anos e você nem pra mudar a tática?

Ele riu fraco me apertando mais.

– Eu não quero ficar nem mais um centímetro longe de você agora, não quero te perder de vista, não quero ver você conversando com mais ninguém, só recuperar o tempo perdido.