A Garotinha: Sherry escrita por Walter


Capítulo 6
Raccoon High School Parte 2


Notas iniciais do capítulo

"... Uma cidade invisível
Numa paisagem irreal,
Um mundo onírico
Criado por um escritor genial." - Idenir Ramos



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Desço as escadas correndo. Não vejo nenhum sinal de Sherry, apenas a aparência horrível do local. Volto pelo corredor onde deixei a criatura viva, dou um tiro em sua cabeça e a vejo se contorcer no chão. Corro até a recepção, nada. Olho em volta, reconhecendo o local, exceto por algumas folhas de papel que estão jogadas em cima do balcão. Vou até elas. Percebo que conheço aqueles desenhos: algo que parece ser um rinoceronte e vários carneiros embaixo de uma árvore... era o desenho dela.

–SHERRY! –Grito na tentativa de ouvi-la mais uma vez. Agora tenho certeza de que ela está aqui, e não vou sair sem ela. Olho novamente o desenho e vejo escrito, na letra já conhecida por mim a frase: Vá para o porão. Não consigo me conter, sinto uma mescla de alegria, medo e dor ao mesmo tempo. O cheiro de morte, como descreveu Varla, estava impregnado em mim e em minhas narinas, mas pouco importava agora que quase estou encontrando Sherry. Mas onde teria um porão?

Volto para o corredor onde matei as criaturas. Vejo várias portas enumeradas, o que achei que eram salas de aula. Vejo ao final do corredor à esquerda, uma porta que não está enumerada. Talvez o porão seja lá. Decido ir até a porta e a abro, encontrando um pátio aberto. O chão é de mármore e os arbustos que provavelmente decoravam o lugar estavam secos, como se tivessem sido queimados. Estava um pouco mais claro, mas a névoa dificultava a visão. Consigo, porém, ver ao centro do pátio uma marca estranha. É um octógono, provavelmente feito de sangue. A cada ponto do símbolo, há uma linha traçada até o ângulo oposto, formando algo semelhante a um guarda-chuva.

No lado esquerdo do pátio, próximo ao segundo pavimento existe uma pequena construção. Provavelmente, é ali que dá acesso ao porão. Corro até a porta: trancada. Percebo uma espécie de fechadura no meio da porta, um buraco redondo, como se comportasse algum tipo de emblema ou de medalhão, não consigo discernir. Corro até o segundo pavimento e abro a porta. Encontro outro corredor semelhante, vejo duas crianças. As mato. Há umas cinco salas dispostas em meio ao corredor. Abro uma por uma até dar de cara com um laboratório. Entro nele e procuro alguma coisa útil.

O laboratório é de química pelos reagentes presentes. Há três bancadas, uma paralela a outra. Cada uma possui sua própria pia. As paredes estão descascadas, pra variar e o cheiro de morte é mais forte aqui. Ao final da segunda bancada, vejo a estátua de uma mão segurando alguma coisa vermelha. Me aproximo e percebo que a coisa vermelha é uma espécie emblema circular, talvez o responsável por abrir a porta no pátio. Tento tirar, mas não consigo. Procuro uma ferramenta abrindo portas embaixo das bancadas do laboratório e encontro apenas frascos de reagentes.

Paro por alguns segundos pensando no que fazer. Não tem nenhuma ferramenta, mas quem sabe se... sim! Talvez um desses reagentes seja ácido o suficiente para derreter aquela estátua. De repente lembro-me das minhas aulas de química, onde tínhamos que diluir ácidos muito fortes para poder usá-los com segurança. Bastava que algum desses frascos contivesse um ácido muito concentrado e não seria problema. Reabro as bancadas e consigo encontrar um frasco de ácido sulfúrico. Volto até o final da segunda bancada. Abro o frasco e começo a despeja alguns mililitros do conteúdo aos poucos pra não causar nenhum dano ao emblema. Vejo algumas partes da mão se distorcerem, aumentar e diminuir de tamanho enquanto um vapor branco emerge dela. Continuo despejando até conseguir ver um borrão vermelho maior. Espero alguns segundos e consigo tirar o emblema.

Seguro e sinto o seu peso na mão. O emblema é circular, como já imaginava. De cor vermelha, possui um unicórnio branco na frente. Ao ver o desenho, me lembro imediatamente do desenho de Sherry: algo que parecia um rinoceronte... De fato, não era um rinoceronte, apenas parecia um. Agora pensando bem, parecia mais um unicórnio... exatamente o que está desenhado aqui. Mas... como ela sabia?

–Jack? –Ouço uma voz vinda de fora da porta. Uma esperança? Talvez. Quem sabe essa mulher tenha vis... Droga! É a garota do e-mail, acho que seu nome é Varla. Ela ainda está viva.

Coloco o emblema na mochila e corro imediatamente para a porta. Uma menina alta, muito branca, de cabelos negros cacheados é iluminada pela luz da minha lanterna. Por um momento, ela tem um susto ao me ver e logo cruza os braços, analisando minha aparência e expressão. Tento sorrir, fazer alguma cara de alívio tentando tranquiliza-la, mas ela se mantém com expressão séria e imóvel. Não sei explicar, mas ela me é familiar.

–Jack?!

Quase pulo do susto que tive quando ela me chamou por esse nome.

–Jack? Não, não sou ele. Me chamo William. –Ela me olha com desdém.

–Pensa que não conheço você, seu idiota? Eu sei o que você fez.

–Q... quem?

–Você! –Ela coloca a mão no bolso da calça jeans manchada de sangue e tira algo brilhante. Ilumino com a lanterna e vejo uma faca, suja de alguma coisa... provavelmente sangue também.

–Ei, o que você pretende fazer com isso? –Pergunto já imaginando a resposta.

–O que acha, idiota? Eu vou fazer com você o que você fez comigo!

Sou mais rápido que ela e consigo entrar no laboratório fechando a porta. Coloco uma cadeira segurando, mas não aguentará muito. Ela começa a investir na porta tentando arromba-la, não sei de onde ela tira tanta força pra isso. Puxo minha beretta do bolso e aponto para a porta. Se ela for mais uma das criaturas, liquidarei. Mas o que ela quer dizer com o “vou fazer com você o que você fez comigo”? Está morta? Ouço uma risada aguda, semelhante à risada de bruxas de filmes. Fico perturbado.

–Abra essa porta, vou matar você!

Mais uma investida. Não sei quanto tempo vai aguentar, mas preciso faze algo assim que ela entrar. Firmo o punho, pronto para atirar. A porta finalmente cede, a cadeira é jogada pra próximo de mim e vejo novamente a garota. A ilumino. Vejo os pés descalços, a calça jeans suja e a blusa azul com um pingente de uma rocha que parece ser verde. Ela está com a faca erguida no braço direito e me lembra de uma das cenas do livro que escrevi, Quatro Cores, com Varla Linai como protagonista.

Baixei a arma ao perceber a coincidência... não... podia... ser! No livro, ela era morta por seu irmão, Jack, estrangulada. Percebo o e-mail, a página do diário... estou reconstruindo nessa cidade as coisas de minha mente? Como?

Ela avança lentamente em minha direção, a faca brilha mediante a luz da lanterna. Sinto um arrepio ao ver em sua aparência a mesma descrição que havia dado a ela no livro... mas como poderia ser? Ergo minha beretta novamente, ela para ao ver meu movimento.

–Jack, Jack... acha que pode fazer algo que já está feito?

Foco a lanterna em seu pescoço e vejo a marca vermelha das mãos. Ela está muito pálida, provavelmente o sangue parou de circular a algumas horas... Varla está morta.

Ela continua andando em minha direção, eu não sei o que fazer ainda. Preciso pensar. Continuo com a arma apontada para ela enquanto ela avança lentamente na minha direção. Consigo enxergar um sorriso se formando em seu rosto que me é muito familiar e pouco tem a ver com a descrição que fiz dela no livro.

–Varla...

–ACABOU!

Saio correndo com seu grito. Ela desfere um golpe que acerta meu ombro, mas consigo passar. Sinto sua presença atrás de mim, me viro e a vejo correndo em minha direção.

–Morra William!

Continuo correndo pelo corredor até chegar ao portão que dá acesso ao pátio, onde colocarei o emblema e descerei ao porão. Sei ela continua atrás de mim, então terei que ser rápido. Novamente, jogo todo meu peso pela porta e girando a maçaneta, abrindo-a imediatamente e dessa vez consigo manter o equilíbrio. Corro até a pequena construção e empurro com toda a minha força o emblema no espaço reservado para ele ouvindo um alto “click”. Giro a maçaneta, puxo o emblema, entro e fecho a porta ouvindo novamente um “click” que avisa que a porta foi trancada novamente. Ouço batidas fortes na porta, mas sei que essa ela não conseguirá abrir. Fico mais calmo e sento no chão, ofegante.

Sinto uma pontada de dor no ombro, passo a mão e sinto sangue. Preciso descansar... mas não posso! Sherry está perdida por aí e preciso ajuda-la. Abro a mochila sem enxergar direito. Uso o tato para puxar um dos energéticos que encontrei. Removo a tampa e bebo um pouco do líquido que pareceu me fazer bem. Lembro que ainda não dei uma olhada no lugar que estou, então rapidamente coloco o emblema e a garrafa meio vazia na mochila. Levanto rapidamente e focalizo a lanterna em todos os lugares da pequena construção. Percebo que, além das paredes e pisos estragados, não vejo nada de mais ou assustador. Percebo que estou em uma espécie de sala de zelador. Vejo alguns materiais de limpeza, roupas de borracha, nada de mais. Vejo as escadas que provavelmente me levarão ao porão.

Respiro fundo, sentindo um cheiro mais forte de ferrugem, sangue e fumaça. Vou até a escada e coloco o pé no primeiro degrau...


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Notas finais do capítulo

William continua sua busca por Sherry dentro da escola. Ele parece encontrar um recado aparentemente deixado por ela o direcionando para o porão. Ao tentar encontrar uma espécie de emblema que o daria acesso, ele encontra Varla que o alega ser Jack, o seu irmão que a matou. Como forma de vingança, Varla decide matá-lo. William corre e consegue se trancar em uma pequena construção que supostamente daria acesso ao porão.



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