A Garotinha: Sherry escrita por Walter


Capítulo 4
O Outro Lado


Notas iniciais do capítulo

"...... Melhor é abraçar os espinhos da verdade do que as rosas da ilusão....." - Jordan Gonçalves de Souza



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"Querido diário, hoje foi mais um dia horrível pra variar... eu não sei quanto tempo ainda aguentarei aqui, eu realmente não sei. Essa cidade mexeu com a cabeça de nós dois, acho que também estou ficando louca. Nem sei que dia é hoje, pois a noite e o dia se alternam muito rapidamente. A fome ajuda a me enlouquecer, pois os suprimentos que tínhamos já gastamos. Eu estou perdida, não sei pra onde ir, como procurar e pra piorar a situação, meu irmão tentou me matar mais uma vez... ele agarrou meu pescoço e quase me sufocou até que eu gritei bem alto... ele me soltou e recobrou a consciência. Ele parecia fora de si.

Não sei mais quanto tempo vou suportar aqui, não sei se morrerei de fome ou serei morta pelo meu irmão...

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Querido diário, hoje acordei viva. Mas me assustei com o corpo de um cachorro aqui dentro de casa, ele estava completamente deformado, jazia morto. Meu irmão disse que encontrou um lugar para eu ficar, pois tinha medo que acabasse me matando com seus acessos inexplicáveis de raiva e ódio. Eu apenas assenti com a cabeça. Ele disse que fica na Fox Street, em uma escola que agora está abandonada. Fico me perguntado qual lugar dessa maldita cidade não está abandonada, mas creio que seja melhor ir pra lá.

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Querido diário, eu estou muito apreensiva... essa escola está horrível, principalmente quando fica à noite. Ouço gritos, ouço vozes o tempo inteiro. Meu irmão decidiu dormir aqui também, tenho medo que ele me mate. Isso está ficando insuportável, vejo coisas... parece que todas as crianças da cidade estão aqui, mas vejo apenas vislumbres delas... acho que enlouqueci.

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Querido diário, ontem meu irmão teve mais um acesso e eu resolvi sair da escola. As coisas estavam muito “movimentadas” por lá e quase fui morta por ele, mas consegui fugir. Estou em frente ao J’s bar agora e acho que estou sendo perseguida... as coisas vão piorar."

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Respiro fundo ao ver que o restante do texto está encoberto por sangue. Acho que alguma coisa deve tê-la atacado, não sei se alguma criatura estranha ou seu próprio irmão. Ambas as coisas me deixam arrepiado. Penso em Sherry, seja com as criaturas ou com o irmão maluco dessa mulher. Leio e releio o texto que encontrei na porta do J’s Bar, onde acordei, procurando alguma pista ou qualquer coisa que me indicasse algum possível paradeiro de Sherry... nenhuma pista. Droga! Preciso encontra-la o mais rápido possível para sairmos dessa droga de cidade, já não aguento mais. Releio o texto novamente. Talvez eu deva dar uma olhada nessa escola, talvez não seja muito longe.

Olho outra vez o texto e encontro o que pode ser uma pista: “parece que todas as crianças da cidade estão aqui, mas vejo apenas vislumbres delas...” talvez seja alguma pista, não sei. Ela conseguia ver crianças, talvez as crianças do meu sonho? Mas e se fosse crianças mesmo? Afinal, aquelas criaturas nem poderiam ser chamadas de crianças. Provavelmente ela vira crianças de verdade, ou seus vislumbres... Mas e seu estado de loucura quase iminente? Porém, numa cidade dessas, loucura já nem pode ser chamada assim, loucura nem existe aqui, pra ser mais exato.

Decido então ir à escola. Novamente sei o que fazer: entro no bar novamente, olhando cada coisa buscando um mapa. Nada. Procuro nos balcões, gavetas e em todos os lugares que aparentem guardar algo... nada! O rádio começa a chiar novamente, talvez apontando a aproximação de mais uma criatura. Me preparo para o pior enquanto procuro nos armários, até que consigo encontrar, próximo ao fogão, dentro de uma gaveta cheia de talheres: era um mapa de Raccoon City, um mapa completo da cidade. Consigo recuperar um pouco de alegria

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–Olá Aléxia! –Digo para o corpo imóvel coberto com um lençol à minha frente, e mesmo sabendo que ela não está exatamente aqui, continuo falando sabendo que me ouvirá, bem provavelmente.

Estou no quarto de sempre: parede verde água com alguns quadros, cama de casal com um criado mudo ao lado e um porta-retratos com uma foto dela pouco antes do acontecido. Ao lado da cama, um armário. Aléxia parece dormir, mas se contorce de dor. Cruzo os dedos e os coloco abaixo do queixo.

–Aléxia, Aléxia... tudo ficará bem agora. Ela está aqui, está sim. Tudo vai ficar bem, ela veio salvar sua vida... logo, logo acontecerá. Estou fazendo todo o possível para trazê-la até aqui, não deve demorar muito. Ah, está na hora de administrar seu remédio, não é? Vou chamar alguém para cuidar de você, minha querida.

Saio do quarto e ando em direção ao hall da mansão, sem me importar muito com a distância que terei que percorrer para chegar à cidade. Já deve ter chegado lá, provavelmente sentindo a presença da outra parte. Não me importo, chego lá não muito devagar, basta esperar ficar escuro. Se o Outro Lado é útil para alguma coisa, é se deslocar. Aprendi a caminhar pelo escuro, conseguindo pegar atalhos e chegando mais rapidamente nos lugares... é só uma questão de tempo.

–Ei, está na hora de administrar o reagente na menina, não queremos sua morte, queremos? –Falo olhando para a jovem responsável.

–Não... senhor.

–Muito bem. E trate de se arrumar, você está péssima!

–Sim... senhor.

Abro a porta principal da mansão Spencer e sinto o cheiro das árvores. Sinto uma sensação de paz, uma sensação que será comum daqui a poucas horas... sim, a paz vai reinar novamente no mundo e estou muito agradecido por fazer parte dela. Mas por enquanto, preciso torcer para que o Outro Lado apareça novamente, do contrário, levarei uma eternidade para chegar à cidade. Sim, sim... como costumo dizer, há males que vem para o bem, e o mal que quero agora é o Outro Lado.

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Abro a porta lentamente buscando qualquer sombra de algum ser, criatura e até criança. Sherry é minha prioridade e vou atrás dela a qualquer custo. A escola está escura, mas pelo menos ficava próxima ao J’s bar. Se minhas ideias estiverem certas, encontrarei Sherry aqui, a levarei até o J’s bar e esperaria algum tempo por Jill. Caso ela não aparecesse, teria que dar um jeito de voltar para casa sem ela, isso se o carro ainda prestar.

Vejo a recepção, um balcão à esquerda com um computador, aparentemente quebrado. A frente vejo uma porta com janelas de vidro que mostram um corredor com várias portas, o que provavelmente são salas de aula. Vou até o corredor, entro na primeira sala e me deparo com cinco fileiras de carteiras, posicionadas estrategicamente para o quadro negro que ainda parece ter algumas lições escritas a giz. As paredes são brancas, enquanto há alguns quadros de rochas. Próximo ao quadro há uma escrivaninha azul com um livro em cima iluminado por um abajur aceso, o que me chama atenção. Vou até o livro. Olho a capa: Guia de Rochas Com Extrema Beleza.

Penso em sair, mas algo me chama atenção. Talvez o fato daquele abajur estar aceso... me parece que alguém estava lendo esse livro. Decido abri-lo e vejo várias imagens de rochas coloridas e realmente belas. Consigo decorar algumas por sua cor e que me chamam atenção. Lembro do Quartzo e algumas variações, Ametista, Jade, Água Marinha. Fecho o livro. Dou novamente uma olhada na sala e encontro uma mochila na quarta carteira da segunda fileira. Pego-a e tiro o caderno e alguns lápis que estão ali dentro. Então coloco o energético que encontrei e o livro, talvez seja útil mais tarde.

Decido sair da sala. Começo a ouvir o mesmo barulho da sirene que parece entrar na minha mente pelos ouvidos e então tudo começa a ficar escuro novamente. Começo a me sentir tonto, parece que está acontecendo novamente. Me sinto mal, quero vomitar. Coloco a mão no bolso e tiro as chaves do carro com a pequena lanterna acoplada. Percebo que as pareces começam a descascar, como se a tinta estivesse caindo. Tudo parece que está sendo queimado, sinto cheiro de sangue e fumaça além de ferrugem. A realidade à minha volta começa a mudar e repenso se o que passei naquele beco foi realmente um sonho.

Fico alguns segundos parado, vendo tudo acontecer. A escuridão toma conta do local e o pouco é iluminado pela lanterna está diferente, manchado de sangue ou queimado. Vejo uma cadeira de rodas no meio da sala e já não há mais a mesma quantidade de carteiras. Me volto para o quadro negro e vejo a mesma coisa que vi no beco: um corpo de algum ser, completamente queimado e deformado. Sinto náuseas. Corro para fora da sala e encontro um corredor com duas crianças, se é que posso chamar isso de crianças... eram as mesmas coisas que vi no beco. Sinto meu corpo tremer, o corredor também está diferente, está assustador. Sinto, náuseas... as crianças correm até meu encontro e eu empunho minha 9mm.


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Notas finais do capítulo

William encontra a página de um diário em frente ao J's Bar, ao sair. Ao ler o texto, percebe uma possível pista do paradeiro de Sherry, em uma escola de Raccoon. Ao chegar lá, William percebe o mundo mudando ao seu redor, apresentando uma realidade diferente da qual se encontrava. Ele então percebe que o que havia julgado ser um sonho, era na verdade uma realidade difícil de se aceitar racionalmente.



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