Nunca Perderei Você escrita por Mariii


Capítulo 8
Resgate


Notas iniciais do capítulo

Bom, o próprio título já diz muitas coisas! :P



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Molly entrou na sala e foi como se tudo de repente parasse e ela só ouvisse seu próprio coração. Aquele não podia ser Sherlock. Ele estava irreconhecível. O rosto completamente inchado, seus braços amarrados atrás das costas, sua cabeça caída para frente. As roupas estavam sujas, cheias de sangue seco e fresco. Estava descalço e isso demonstrava toda a vulnerabilidade em que ele se encontrava. Sherlock estava pior, muito pior do que ela jamais esteve. Perto dele, o que ela sofrera fora somente leves arranhões.

Ela deixou que sentimentos misturados a dominassem por um segundo enquanto tirava seu capuz e então os expulsou. Não era o momento para ser sentimental. Agora precisava ser fria e racional.

Andou rapidamente até Sherlock e se abaixou ao seu lado. Puxou uma faca de sua bota e cortou as cordas que prendiam suas mãos atrás das costas. Notou que um dos braços estava terrivelmente inchado. Quebrado, pensou. Tirou uma seringa de seu bolso, não teve dificuldades em encontrar uma veia no braço de Sherlock e inseriu a agulha. Uma dose de adrenalina foi despejada em sua corrente sanguínea.

– Volte Sherlock, vamos. Você precisa me ajudar.

Não demorou muito para que ela visse suas pálpebras tremendo. Ele olhou para ela como se não a visse, os olhos desfocados. Mas era o bastante, não podiam esperar mais.

– Sherlock. Olhe pra mim. Estou aqui, Sherlock. E nós vamos sair agora.

Com dificuldades ele focou os olhos nela. Ouvia a voz dela ao longe. Não conseguia entender nada do que estava acontecendo, mas seu corpo parecia reagir a algum tipo de estímulo.

– Levante-se, apoie em mim. Eu vou te tirar daqui, Sherlock.

Ajudou-o a se erguer e apoiou um dos braços dele em seu ombro. Ele caminhava a passos lentos, parecia sentir muita dor e até agora nada tinha falado. Sherlock estava quase que completamente desligado.

Molly tentava arrastá-lo o mais rápido que podia pela antiga fábrica. A mesma onde John tinha sido atingido. Não era uma coincidência. Ouvia tiros vindo de algum lugar próximo. Passos se aproximavam. Eles precisavam andar mais rápido, mas Sherlock não conseguia. Continuou o mais rápido que pode com o peso dele quase todo em seu corpo. Sherlock era muito maior que ela, porém todos os treinamentos a deixaram mais forte.

Sentiu-se aliviada quando se viu fora da fábrica e pode avisar o helicóptero que os esperavam a poucos metros dali. Só precisavam chegar até ele. Só isso e estariam salvos.

Um metro, outro metro. Mais um passo.

Não pode acreditar quando enfim chegaram. Viu Mycroft ali, junto de uma equipe para resgate. Do lado de fora do helicóptero alguns agentes faziam a guarda. Ajudou-o a subir no helicóptero, precisavam sair dali o mais rápido possível.

Então sentiu uma queimação profunda em ombro e sabia que havia sido um disparo. Pela segunda vez no mesmo dia foi jogada no chão. Ouviu a troca de tiros que acontecia a sua volta. Não estava nem um pouco preocupada com seu ombro, podia ver que tinha sido atingida de raspão.

Rastejou até o helicóptero e se jogou para dentro dele.

– VAMOS! Temos que sair daqui! AGORA! – Toda a calma que tinha mantido estava se esvaindo, assim como a adrenalina que tinha aplicado em Sherlock. Via que ele parecia mais fraco agora, isso não era um bom sinal.

– Seu ombro...

– Deixe meu ombro como está! VAMOS!

Molly sentiu o helicóptero sair do chão, ainda com a porta aberta por onde um agente atirava. Percebeu que suas mãos tremiam. Tinha conseguido ficar fria e controlada até agora. Mas tudo isso tinha acabado.

Olhou para Sherlock, que estava sentado, mas mal se continha nessa posição. Um médico começava um exame preliminar. Não tinha o que ser feito até que chegassem ao hospital.

Se deu conta de que Mycroft estava ao seu lado quando ele, surpreendentemente, apertou sua mão e sussurrou “obrigado”.

Ela olhou para ele, mas não disse nada. Sabia que ele entenderia tudo que ela sentia naquele momento. Em sinal, apertou sua mão de volta.

Agora que sua adrenalina natural estava indo embora, seu ombro começava a doer de verdade. Sentia o sangue fluir por baixo de suas vestes, logo começaria a aparecer. Isso não a preocupava agora. Não conseguia tirar os olhos de Sherlock. Sua experiência em medicina não dizia boas coisas sobre ele no momento. Começou a sentir medo. O mesmo medo que sentiu por poucos segundos quando entrou na sala onde ele estava. Sherlock estava apagando.

Molly levantou de seu banco e empurrou o médico para o lado.

– Sherlock. Sherlock, você está me ouvindo?

Ele se mexeu ligeiramente no banco.

– Você não pode apagar, Sherlock. Aqui, segure minha mão. Aperte, mantenha-se apertando. Só mais um pouco. Estamos chegando.

O helicóptero iniciou a descida. Molly continuou tentando manter Sherlock acordado. Viu que uma maca já o esperava no heliporto. Tudo foi muito rápido. O médico finalmente fez alguma coisa e ajudou a colocar Sherlock na maca. Molly só ficou ali, olhando estática enquanto a maca se afastava. Nada mais podia fazer e sentia que suas energias se esgotavam. Caminhou até o parapeito e sentou no chão, encostando-se nele.

Seu ombro latejava. Ela dobrou os joelhos e apoiou sua cabeça neles. Suspirou profundamente. Precisava de informações sobre Sherlock, mas não sentia forças para ir até lá. Estava com medo do que ouviria. Queria ficar quietinha e escapar daquele pesadelo.

Alguém sentou ao seu lado e ouviu uma voz arrogante dizer:

– Você não podia sentar em algum outro lugar sem ser no chão?

– Não, aqui está ótimo.

– Não seja rebelde. Você precisa de atendimento médico, seu braço está sangrando. – Ela não levantou a cabeça, não estava com vontade de conversar agora. Sentia o sangue escorrer por dentro de sua jaqueta.

– É bom variar um pouco e sentir dor física ao invés de emocional. – Mycroft fez uma careta que ela não pode ver.

– Irene fugiu. Não conseguimos encontrá-la na fábrica.

– Ela é muito esperta para se deixar ser pega. John e Mary? – Molly levantou a cabeça e o encarou com preocupação quando fez a pergunta.

– Estão bem, devem estar chegando a qualquer momento. – Ela suspirou aliviada. Pelo menos isso. – Lestrade prendeu alguns dos parceiros de Irene. Vamos ver o que conseguimos arrancar deles.

– Não muita coisa, imagino.

Eles ficaram em silêncio por um tempo.

– Ele vai sair dessa, Mike?

– Dificilmente ele morreria antes de fazer Irene pagar. Sherlock é incrivelmente teimoso quando quer.

Molly assentiu. O medo corria por suas veias e sabia que Mycroft se sentia igual. O sangue que escorria por seu braço chegou até sua mão. Ela notou quando Mycroft olhou assustado para o sangue que pingava pela manga da jaqueta.

– Já sentiu dor física suficiente, Molly?

– Sim, acho que sim.

Ele levantou-se e ajudou que ela se levantasse também. Sangue pingava por seus dedos. Caminharam lentamente até o pronto atendimento. Molly só se lembrou que ainda estava com todas as suas armas quando todos os pacientes a olharam aterrorizados.

Rapidamente ela foi levada para um consultório. Talvez a agilidade tenha sido mais para não deixar os pacientes em pânico do que para tratar o ferimento.

Conforme ela previra, não havia acontecido nada de mais. Apenas alguns pontos tinham resolvido a questão. Agora tinha se igualado a John e ganhado uma nova cicatriz. Ela pulou da maca quando o médico a liberou. Caminhou novamente até a recepção onde Mycroft a esperaria depois que conseguisse notícias de Sherlock. Ela precisava desesperadamente saber como ele estava.

Viu Mycroft parado de costas próximo a algumas cadeiras. Foi até ele e quando ele se virou, viu que seu rosto estava pálido. Gotas de suor apareciam em sua testa. Molly sentiu o pânico se apoderar de si mesma.

Ele caminhou até ela e delicadamente a empurrou para um canto da sala, um pouco mais privado.

– Molly, me escute. O estado de Sherlock é crítico. Os médicos ainda não sabem dizer como ele ficará. No momento ele está passando por uma cirurgia por contas das fraturas.

A cada palavra de Mycroft, Molly sentia um pedacinho do seu mundo ruir.

– Os médicos não sabem quando ele acordará. No momento ele respira com ajuda de aparelhos e... Deus, nós só não sabemos. Você já esteve em situação parecida e superou, tem que ser assim novamente, Molly. Tem que ser assim.

Pela primeira vez Mycroft parecia perder a compostura e não sabia mais o que dizer. Molly não conseguia enxergar mais nada. Sentia-se perdida. Parecia que tudo que ela sabia e conhecia de repente tinha acabado.

Mal viu quando John e Mary chegaram. Ficou em uma espécie de estado catatônico enquanto Mycroft explicava tudo que tinha acontecido desde que Molly havia levado Sherlock para o helicóptero.

– Molly, vou pedir para alguém levá-la para casa.

– Eu não vou para lugar algum, Mycroft. – Olhou com raiva para ele, como poderia ir pra casa?

– Você precisa. Está cheia de sangue. Precisava trocar de roupas e deixar essas armas lá. Por favor, Molly. Não há nada que pode fazer aqui no momento.

Molly soltou o ar com exasperação. Não queria ir embora, não queria deixar Sherlock. Mas sabia que ele estava certo. Mary passou o braço por cima dos seus ombros, tomando cuidado para não encostar onde estava o ferimento.

– Vai ficar tudo bem. Sempre fica tudo bem. – Sussurrou em seu ouvido.

Com a garantia de ser avisada de qualquer coisa que acontecesse, Molly deixou ser levada até um carro e um motorista a levou até em casa.

Em casa, Molly sentiu todo um vazio crescer dentro de si. Era como se estivesse vivendo outra vida e não a dela mesmo. Como tudo aquilo poderia estar acontecendo? Será que tinha sido assim que Sherlock se sentiu quando ela sofrera o sequestro e fora espancada? Mas ele estava muito pior que ela. Tinha apanhado muito mais.

Livrou-se de todas as armas e seguiu para o banheiro. Fazia tudo em piloto automático. Despiu todas as roupas e ligou o chuveiro. Quando a água começou escorrer por seu corpo foi como se tivesse de repente toda a carga de emoções viessem de uma vez. Como vários tiros. E então vieram as lágrimas. Molly encostou-se na parede de azulejos do box enquanto chorava compulsivamente e deixou que seu corpo escorregasse até atingir o chão. Encolheu-se e ficou ali até que todas as lágrimas secassem. Sua vida estava um verdadeiro inferno.

Com dificuldades ela se levantou e terminou o banho. Precisava ficar com Sherlock.

Após estar totalmente vestida e um pouco mais composta, ela ligou para Mycroft. Não deixou que ele falasse nada e foi direto ao assunto.

– Microft, eu preciso ficar com Sherlock. Eu sou médica, sei que você pode dar um jeito para que eu fique na UTI.

– Molly... John e Mary...

– O que importa isso agora? – Molly andava de um lado para o outro em seu apartamento. – Eu ficarei lá. E se Irene tentar algo, eu posso defender Sherlock.

Ouviu Mycroft suspirar do outro lado da linha.

– O que tinha que acontecer já aconteceu, Mike.

– Ok, você venceu. Vou ajeitar tudo aqui e peço para alguém buscar você.

– Obrigada. Você sabe o quanto isso é importante para mim.

– Sim. Eu sei.


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Notas finais do capítulo

Gostaram???

Explicações começam em breve! ;)

No aguardo de reviews...rs