Uma ilha chamada André escrita por My name is Winter


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao fim da história. Me desculpem por ficar 2 meses fora, digamos que eu precisava de um tempo para ajeitar a vida. Bom, eu amei escrever Uma ilha chamada André até porque foi minha primeira história com um contexto, com gênero diferente. Abordar um assunto assim, como o autismo e a falta de interação social, usar da filosofia, da poesia, entrar na história como personagem. É uma pena ter que acabar aqui e agora. Mas como autora, eu sinto que devo terminar. Não vou fazer vocês perderem tempo com capítulos que não farão diferença estarem ou não na história. E também, eu não tenho mais tempo como eu tinha quando comecei essa fic. Fico feliz por ter escrito essa história e fico feliz também por quem acompanhou e gostou, isso faz com que o autor fique com gosto de escrever. Bem, é isso.
Apreciem o último capítulo :)



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O fim de tudo

Não queria mais ler as cartas nem ver as fotos. Mamãe tinha razão em não dizer nada do papai, afinal, durante um bom tempo ele não foi um pai de verdade.

Peguei a caixinha e a aguardei no meu armário pensando no que fazer com ela depois. Em seguida liguei para Daianne. Queria desabafar com ela, fazia um bom tempo que não conversávamos. Eu já não vivia mais. Minha vida era explorar uma ilha que não se dava ao luxo de ser explorada, minhas mensagens em garrafas já não eram respondidas, então o que fazer? Precisava de uma amiga.

– Alô, Daianne?

– Oi! Quem fala? É a Annie?

– Sim, pode vir aqui na minha casa?

– Claro, já estou indo. Houve algum problema?

– Tantos problemas que não caberiam em um seminário.

* * *

Recebi Daianne em minha casa, fomos direto para o meu quarto enquanto minha mãe preparava um lanche.

– Então, não me diga que me chamou até aqui só para provar os pãezinhos de queijo da sua mãe. – falou Daianne rindo.

– Não. E você come se quiser. Mas enfim, meus problemas se resumem em um único problema de nome e sobrenome.

– André Mané?

– Exato.

– O que ele fez?

– Me iludiu, e está querendo me levar a depressão.

– Eu não acredito nisso. Como sua amiga é meu dever ajudar, mas se você vai se abalar por causa do Mané é bom nem falar comigo, porque a Annie que eu conheço tá muito mais preocupada com o Aquecimento Global do que com o que as pessoas falam. E se quer realmente um conselho me escute pelo menos dessa vez: Viva por você, não pelos outros. Tente com ele pela última vez e se nada der certo siga sua vida.

– Andou tendo aulas com a minha mãe?

– Sim, a gente se encontrava no escritório dela para debater sobre psicologia enquanto comíamos pãezinhos de queijo.

* * *

“Tente com ele pela última vez”. Por quê essas palavras não me agradam? Porque eu sei que não vai dar em nada conversar com ele, mas ou é isso ou é vegetar pelo resto da vida.

No dia seguinte fui direto falar com André na entrada. Como não sou boa com palavras fui direto ao ponto:

– Oi, eu quero sair com você. Você quer sair comigo?

– Por que eu aceitaria?

– Porque você é uma pessoa legal e eu não quero fazer papel de trouxa.

Assim que falei, ele até fez uma cara de surpresa que se tornou num sorriso gentil. Fitei-o esperando uma resposta. Ele não disse nada, apenas confirmou com a cabeça.

– Quando e que horas? – perguntei tentando disfarçar minha animação escandalosa.

– Não sei. Quem me convidou foi você. Defina você o horário e o dia.

– Hoje. Depois da escola. No shopping da cidade. Me encontre na praça de alimentação.

Eu poderia até dizer que tudo acabou em flores que foi um encontro bacana e que dali se formou mais que uma amizade e sim um namoro, mas não foi a realidade. Eu tive que aceitar que ele era como Amor, um traiçoeiro. De início tudo ocorreu bem, lanchamos, conversamos sobre livros, mas quando eu tocava no assunto da amizade e namoro ele mudava de assunto ou simplesmente me encarava como quem não quisesse responder. Perguntei a ele como era ser autista e ele me disse:

“Como é ser autista?! Eu mudo de humor quase toda hora, mas eu tenho motivos pra isso. Tudo a minha volta me irrita, eu sou sensível demais. Sou sensível a tudo: ao som, a movimentação, a sentimentos. Acha que eu quero iludir você? Claro que não. Eu quero te mostrar que NÃO sou o cara certo e que obviamente você esperava algo nesse encontro, mas tudo que vai ter comigo é amizade, isso se você não entrar em depressão, mas de resto tudo bem, não é?! Desculpe, Annie, mas você perguntou algo que eu não tinha o prazer de responder, então eu respondi com algo que você não gostaria de ouvir, essa é a verdade.”

* * *

É isso. Acabou. Eu não queria a amizade dele. Não me chame de mal agradecida, mas que tipo de amigo ele seria? Com certeza não seria dos melhores. Eu fiquei magoada e depois de ouvir aquilo comecei a chorar na frente dele. Ele ficou com raiva dos meus choros e foi embora. Eu fiquei sem ir uma semana a aula e durante essa semana aproveitei para jogar fora coisas inúteis que não fariam bem para mim se ficassem guardadas. Queimei a caixinha de mistérios do papai. Arrumei um emprego de menor aprendiz com a minha mãe e comecei a me focar mais nos estudos da psicologia. André e eu estudamos juntos por dois anos. Até que os médicos descobriram que o autismo dele poderia ser mais avançado já que seu humor mudava praticamente toda hora. André saiu da escola quando estava no 3º ano do Ensino Médio. Ele saiu no meio do ano, nem teve tempo de se formar, isso aconteceu porque ele teve um ataque de pânico durante o recreio e bateu em um aluno que foi parar no hospital. Os pais desse aluno deram queixa do André na delegacia e ele foi expulso do colégio. Tive notícias e soube que ele acabou indo para um colégio especial para pessoas com autismo. Tudo que eu espero até hoje é sucesso para o André. Os dois anos que tive com ele ainda na escola foram de pura de tristeza, pois nunca mais nos falamos. Hoje, com 16 anos estudo e trabalho como estagiaria na clínica da minha mãe. Tudo isso serve como aprendizado para que no futuro eu ajude gente como o André. Ele era um gênio que estava doente, apenas. Ele era uma ilha que me deixava louca também.

Foi uma honra explorar a Ilha André, mas foi com muita tristeza que deixei essa ilha sem tesouro algum, a única coisa que obtive foi o conhecimento de algo que eu não queria saber.

Eu aprendi a amar, mas também tive que aprender a rejeitar e esquecer. Mas no fundo a gente não esquece, a gente guarda numa caixinha que um certo dia vai queimar para não guardar magoas demais.


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