Herança de Sangue escrita por Brunorofe


Capítulo 9
Uma visita inesperada


Notas iniciais do capítulo

Galera, desculpa a demora em atualizar a história. Semana de provas na faculdade, correria. Mas voltei, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/484179/chapter/9

Eram sete da manhã quando a campainha da casa, que agora pertencia a Mateus, tocou. Ele ainda estava dormindo. A campainha tocou novamente. Mateus tinha que se levantar. Por um momento lembrou-se da mãe. Eliete sempre corria ao ouvir a campainha tocar. Não se pode deixar uma visita esperando, dizia ela.

Mateus ainda estava zonzo. O dia anterior havia sido pesado. Pretendia acordar depois de meio dia. Precisava descansar, precisa dormir! Visita às sete da manhã não estava nos seus planos. Caminhou parecendo um bêbado até o banheiro. Deu uma olhada no espelho foi até a porta. Cambaleou pelo corredor até a sala. O estranho ainda estava esperando na porta.

A campainha tocou pela terceira vez bem quando Mateus abriu a porta. Ele Não reconheceu o sujeito ali parado de frente a ele. O homem que aparentava ter uns cinquenta anos, o abraçou, sem que ele tivesse tempo, ao menos, de desviar-se. Mateus ficou sem saber o que fazer, até que se soltou dos braços daquele homem e deu alguns passos para trás.

– O senhor está louco? – Mateus estava assustado, mas pensou que fosse algum amigo de sua mãe.

– Desculpe-me. Você não sabe quem eu sou. Mas logo tudo vai fazer sentido. Mateus, não há como eu dizer isso de maneira suave, então vou dizer de uma vez! Eu sou seu pai!

– O que? Está louco mesmo! Meu pai morreu no mesmo ano em que eu nasci.

– Imaginei que Eliete mentiria sobre mim. Mas não acredito que ela teve a coragem de falar que eu estava morto. A cara de desapontamento daquele senhor era de dar dó.

– Você deve estar de brincadeira. Só pode! Esta não é a melhor hora para fazer esse tipo de brincadeira! Se é mesmo meu pai, por que passou tantos anos fora do mapa? Porque voltar só agora?

– Soube o que aconteceu com sua mãe! Acreditei que precisasse de mim.

– Eu passei boa parte da minha infância precisando de um pai. Agora é tarde. Se é que você é mesmo pai. O que duvido muito. Deve ser só um aproveitador querendo a herança que minha mãe deixou. Os bens dela já têm dono. Suma daqui ou chamarei a polícia!

Mateus fechou a porta na cara daquele estranho. Estranho para ele, na verdade. Muitos na cidade conheciam Jaime, a história de sua partida foi assunto por meses nas rodas de fofoca. Ninguém foi capaz de explicar o que o fez abandonar Eliete com um filho recém-nascido. A fofoca mais coerente dizia que foi para fugir com uma amante. Mas nem tudo é o que o parece na cidade de Sonhos.

***

Janine acordou cedo. Nem eram oito horas ainda. Tomou um banho rápido e passou pela cozinha. Sua tia estava no balcão preparando o café, com um avental rosa de babados. Ela parecia àquelas personagens de desenhos animados, pensou Janine consigo. Um pequeno sorriso lhe escapou.

– Caiu da cama, minha filha?

– Oi tia, achei que não tinha me visto!

– Eu moro nesta casa há muitos anos. Cada ruído diferente me chama atenção. Seus passos nesse piso velho de madeira davam pra ser ouvidos lá de fora.

– Para tia! Não acredito! - Janine gargalhou.

– Tem café na garrafa sobre a mesa. Busquei pães quentinhos mais cedo. Na geladeira há manteiga e geleia.

– Ah, tia, vou ficar só com o café mesmo. Preciso ir à delegacia agora. Esclarecer tudo logo e poder partir.

Janine correu para o carro. Queria sair logo dessa cidade. Acelerou para a delegacia. Lá, Celso já estava esperando-a para um interrogatório. Janine não conseguia entender porque ele foi capaz de suspeitar dela. Foi para lá porque não tinha nada a esconder.

– Olá Janine, que bom que você veio. Precisamos conversar.

– Olá, doutor Celso. Estou vindo porque não tenho nada a esconder.

– Sério? Que bom. Vamos esclarecer logo isso, se não vermos nada que te ligue ao crime, você estará livre pra ir pra casa. Vamos começar; Porque voltou a cidade logo agora?

– Eu vim para mostrar a casa do meu pai a um casal de amigos, que estavam interessados. Inclusive vendi a casa pra eles ontem.

– Ontem? Você fechou um negócio de venda, no dia da morte de sua tia? Durante o velório?

– Não foi durante o velório. Foi um dia antes. Eles olharam a casa, e decidiram comprar. Ficamos de assinar os documentos ontem. Depois descobrimos que a tia Eliete estava morta. Mas eles chegaram lá em casa cedo, antes do velório. Não podia deixá-los perder a viagem. Eu assinei os documentos de transferência e eles fizeram o pagamento. Coisa rápida, depois eu fui para o velório, e de lá iria embora, mas o senhor não deixou.

– A hora da morte de sua tia, coincide com a hora que chegou à cidade. Tem alguma testemunha que comprove que você estivesse em algum lugar?

– Tem sim! Margarida. Eu cheguei, vi como a casa de meu pai estava, e corri para a casa dela. Fui pedir para que me ajudasse a limpar a casa antes dos compradores chegarem.

– Que horas foi isso?

– Entre meio dia e uma da tarde.

– Vou chamar Margarida para uma conversa. Você continua impedida de sair da cidade, até esclarecermos o ocorrido.

Janine estava angustiada. Não conseguia acreditar que era a principal suspeita da morte de sua tia. Além disso, estava preocupada com Kelly e Alexandre, afinal se eles descobrissem que outro assassinato aconteceu, poderiam querer desfazer o negócio. Ela não queria mais ter nenhum vínculo com essa cidade.

Entrou no carro chorando. Não podia acreditar que tudo isso estava acontecendo. Saiu rumo a casa de sua tia. Antes iria a uma Lan House no centro. Precisava checar seus emails. Já estava há três dias fora do trabalho. Tinha certeza que iria perder o emprego. Mais tarde ligaria para seu chefe.

A Lan House ficava próxima a igreja da cidade. A igreja era pequena. Praticamente uma capela. Ficava no meio da praça. Ao lado havia um jardim, que separava a igrejinha do estacionamento. Janine decidiu parar por ali mesmo. Desceu do carro limpando as lágrimas que ainda estavam descendo dos olhos.

Pegou a bolsa que estava sobre o banco do passageiro, e fechou a porta. Teve a impressão de ver algo se mexendo entre as flores do jardim. Deve ser apenas um gato ou cachorro, pensou ela. Acionou o alarme, e ia saindo quando escutou um choramingado baixinho. Pensou ser coisa da sua cabeça. Porém o choramingado não parava. Viu novamente as flores se mexendo. Chegou perto pra ver o que era. Não conseguiu controlar o grito de susto.

Havia uma criança, envolta em um lençol vermelho de sangue, o choro dela pode ser ouvido claramente agora. Janine não sabia o que fazer. Tentou gritar por socorro. Ninguém lhe deu atenção. Pegou então a criança. Ela ainda tinha resquícios de placenta e sangue. Deve ter nascido há pouco tempo. Era uma linda menina. “Como alguém seria capaz de abandonar uma criança tão bela assim?”, pensava Janine.

Colocou a criança no banco ao lado ao do motorista. Correu para o posto de saúde. Parou o carro na entrada para ambulância, que havia no postinho. Desceu do carro gritando. Uma das enfermeiras saiu para lhe ajudar. Pegou a criança e correu para dentro da unidade.

Doutor Antony estava no posto hoje. Era um médico já idoso, mas muito inteligente e atencioso, já estava há quase trinta anos na cidade. Dizia a todos que se apaixonou por Sonhos, e só sairia dali morto. Ele examinou a criança. Constatou que fazia poucas horas que ela havia nascido.

Depois de ter certeza que estava tudo bem com a criança, foi até a recepção falar com Janine. Queria mais detalhes sobre como ela havia encontrado a criança. Janine lhe contou que havia encontrado ela no jardim da igreja, quando ia descer para ir à lan house da cidade.

Seu Antony coçou a barba por um momento e disse:

– Não é a primeira vez que isso acontece por aqui.

– Como assim, seu Antony?

– Faz muito tempo, mas me lembro, que outra criança já foi encontrada naquela igreja. A filha de Carmem. Quer dizer, Dona Carmem a adotou.

– Margarida? É mesmo! Eu havia me esquecido desta história. O nome dela é em razão disso. Mas como está a criança, doutor?

– Está bem. Um pouco debilitada. Mas vai ficar bem. Foi um milagre sobreviver assim. Deve ter nascido na madrugada.

– Mas quem seria capaz de fazer isso com uma criança indefesa?

– O que me assusta é que o cordão estava com sinais de que foi rasgado, e não cortado, como fazemos.

– Nossa! Que coisa bizarra!

– Imagino que a mãe deve estar muito debilitada. A Criança tem marcas no pescoço. O cordão parece ter estado enrolado no pescoço. E a criança ainda sim sobreviveu.

– Me dê licença, Janine. Mas preciso resolver uns problemas aqui. Depois nos falamos mais.

Seu Antony saiu para sua sala, e ligou para o delegado Celso. Deveria avisá-lo que uma criança sem pais deu entrada no hospital. Aparentemente abandonada após nascer. Celso chegou ao hospital em menos de cinco minutos. Janine já havia saído.

– Quem encontrou a criança, Seu Antony.

– Bom, seu Celso, Janine chegou aqui com a criança agora a pouco. Disse que a encontrou no jardim lateral da igreja. Ela estava aqui poucos minutos atrás.

– Estranho! Essa menina tem o dom de estar presente em todos os eventos bizarros da cidade.

Janine estava indo para a casa de Mateus. Precisava falar com ele. Ele era seu único primo próximo, e não poderiam ficar naquele clima estranho que dominou o velório de Eliete. Parou na porta da casa de seu pai, e viu o carro de Alexandre na garagem. Será que eles já haviam se mudado, pensou ela.

Resolveu passar para dar um oi. Tocou a campainha. Não viu nenhum movimento. Tocou a campainha novamente. Nada. Algo estava estranho. Tentou olhar pela janela. As cortinas estavam fechadas. Não sabia o que fazer. Mateus estava saindo de casa nesse momento. Gritou por ele.

– Mateus! Mateus!

– O que foi Janine? Não tenho tempo para conversas agora!

– Ainda precisamos conversar sobre aquilo no velório de sua mãe, mas preciso de sua ajuda agora. Acho que aconteceu alguma coisa. O carro do Alexandre está na garagem, mas toquei a campainha e ninguém atendeu.

– Eles devem estar dormindo. Ou saíram pra conhecer a vizinhança.

– Kelly está grávi... Óh meu Deus!

– O que foi?

– A criança! Ai meu Deus! Rápido Mateus, me ajude a abrir a porta!

– Está louca, Janine? Não vou arrombar a porta da casa de ninguém.

– É a casa de meu pai!

– Não é mais, Janine! As notícias correm rápido aqui. Eu sei que você vendeu a casa ontem! Antes de ir para o velório da minha mãe.

– Isso não vem ao caso, Mateus.

– Claro que vem. A casa não é sua mais. Não vou arrombar porta pra lhe fazer graça.

– Ótimo! Saiba que se algo acontecer a eles, você também será responsável.

– É mais fácil sobrar para você!

Janine se desesperou. Pegou o celular. Ligou para o delegado Celso. Ele ainda estava no posto de saúde. Correu para o carro. Era a primeira vez que usava a sirene do carro. Acelerou para a casa que já tinha pertencido à Janine. Pelo rádio solicitou reforço.

Celso chegou praticamente ao mesmo tempo em que dois policiais militares que atenderam seu chamado. Desceram todos empunhando as armas. Tentaram abrir a porta, mas estava trancada. Um dos policiais entrou pelos fundos, e aporta da cozinha também estava trancada.

Decidiram arrombar a porta. Um dos policiais que era maior tomou a frente. Deu uma trombada e a porta só balançou. Na segunda trombada a porta cedeu, e caiu ao chão. Era a segunda vez que aquela casa tinha uma porta arrombada. Depois da morte de seu pai, Janine trocou as portas da casa.

Os policiais entraram com as armas em punho. Atrás entraram Janine e Mateus. Os cômodos do andar de baixo estavam limpos. Havia marca de sangue próximo à escada. Um dos policiais viu e chamou o delegado. Os três subiram correndo as escadas. Pararam na porta do quarto que pertenceu ao seu Silva. A porta estava fechada. Celso tomou cuidado em usar a aba de seu paletó para segurar a maçaneta e abrir a porta.

Um ano depois a cena se repetia naquela casa. Desta vez de maneira ainda mais bizarra. Na cama estavam Kelly e Alexandre. Mortos. Ambos sem camiseta, com a barriga cortada. Era possível ver que os órgãos haviam sido removidos. Era possível ver a pele sobrando na barriga de Kelly. Ela estivera grávida. Com certeza ali havia uma criança. Agora só havia o vazio.

Janine subiu a escada acompanhada de Mateus. Os dois travaram na porta. Janine viu aquela cena e era como se estivesse revivendo o assassinato de seu pai. Começou a chorar de maneira histérica. O delegado virou-se e viu Janine chorando na porta. Ali mesmo lhe deu voz de prisão.

– Janine preciso que venha comigo para a delegacia. Você é suspeita pelas mortes de Kelly e Alexandre e também de sua tia Eliete.

– O que? Como assim? O que está acontecendo? Mateus faça alguma coisa?

– Desculpe-me Janine. Não sei no que acreditar. Se você for inocente, logo sairá. Se não, espero que pague por tudo de maneira justa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que gostem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Herança de Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.