Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 17
Aceitação


Notas iniciais do capítulo

"Se quiseres ter o poder para suportar a vida, esteja pronto para aceitar a morte." Sigmund Freud - adaptado



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– Mas o que aconteceu aqui?! - indagou Sebastian, assustado, escorado à porta.

– Não está claro? Voltamos para... seja lá o que aqui for! - respondeu Emma, expressando total nojo à nova realidade.

– Temos que estar preparados! - disse, engatilhando a arma sem perda de tempo - Não sabemos o que encontrar!

– Aquela garota... ainda está lá... - disse Emma sacando a lanterna.

– Eu sei! Temos que ajudá-la!

– Não! – exclamou.

– Como não? Ela pode ser útil! Eu... quer dizer, nós! Precisamos salvá-la.

– Sebastian! Não vou arriscar a vida por aquela garota!

– Não diga isso!

– Não!? Da última vez que aconteceu ela também meio que perdeu a consciência... e depois apareceu sem nenhum arranhão. Vamos nos preocupar com a gente, ok? Tenho a leve impressão de que ela está mais do que ótima... e mais, acho até que ...

– Ah Emma! Não vai me dizer que...

– Ela é a responsável por isso tudo?! Sim! Eu vou te dizer! - Emma cruzou os braços, encarando-o.

– Como uma simples garota pode ser responsável por isso? E o que leva você a pensar que ela é a responsável?

– As coisas mudaram quando ela gritou! Ela é toda estranha! Parece brincar conosco! Você está cego?

– Isso não prova nada! – gritou Sebastian.

Emma parou.

– Você tem razão... - disse Emma após curtos segundos de silêncio, pensativa, passando as mãos no cabelo.

– Emma você não pod... o quê? Acabou de dizer que tenho razão?

– Sim... No hospital Alchemilla... a realidade foi mudada quando eu... eu toquei na parede. Isso não significa que eu seja responsável. - Emma suspirou - Ah... Deus, estou perdendo a cabeça... essa cidade... não tem lógica, padrões, merda nenhuma que possa nos ajudar!

– Fique tranquila... saímos desse mundo horrível uma vez não foi? - Sebastian observou o local - Sairemos de novo!

A pequena nova passagem os levou até um pequeno e sujo corredor, com algumas portas e uma escada, escada esta que levava ao segundo andar e ao andar subterrâneo, mas que, por alguma razão, talvez pelo fato de estarem submersos no outro mundo, estava bloqueada com entulho. O piso deste corredor era gradeado com uma grade fina e enferrujada, (tão aparentemente frágil que não oferecia segurança alguma a quem olhasse) deixando à vista o que havia debaixo do andar: grandes estacas de madeira descascadas que emergiam de uma escuridão profunda e sustentavam corpos perfurados em avançada decomposição, provavelmente de pessoas que caíram sobre as estacas ou algo do gênero.

– É bom esse troço ser resistente... - Emma deu cuidadosamente o primeiro passo - ... ou acabaremos como eles.

– O que pretende fazer? - Sebastian perguntou, ainda olhando para a cena horrenda que se encontrava sob seus pés.

– Executar o plano. - respondeu Emma - Achar a chave não é?

– Sim... mas não temos ideia de onde é a cozinha!

– Sebastian... - ela arregalou os olhos - O que... o que é isso no seu rosto?

– O quê? O quê? - ele passava a mão no rosto desesperadamente.

– Isso... em ambos os lados do seu nariz!

– Olhos? - respondeu.

– Exato! - ela deu um peteleco na testa do rapaz - Procuraremos a cozinha ué? Está aqui, certo?

– Sim... - disse ele sem achar graça nenhuma no que ela havia feito.

Os dois, sem perda de tempo, puseram-se corredor adentro para procurar a direção certa para cozinha. Chegaram a primeira porta sem maiores problemas. Sebastian girou a maçaneta e ambos entraram. Emma passou a lanterna no local e puderam concluir que não era a o cômodo que procuravam, apenas um grande closet com lençóis brancos, já amarelados e manchados pelo tempo, e toalhas encardidas.

– Reposição dos quartos... - Emma disse.

– De qualquer forma não é o que queremos. - completou Sebastian - Vamos sair daqui!

Os dois deram a volta e saíram do quarto, dirigindo-se então à segunda porta. Sebastian novamente girou a maçaneta: trancada.

– Hm... - disse Sebastian girando-a mais uma ou duas vezes.

– Pra terceira então. Não há tempo a perder.

A terceira porta estava aberta, para o alívio e alegria dos dois. O cômodo era algo como um escritório, era difícil dizer com a distorção feita pelo outro mundo, porém puderam deduzir a partir de um quadro de ganchos enferrujado parecido com o da recepção, uma mesa de metal perneta e uma poltrona ensanguentada caída próximo a uma janela vedada por tábuas.

– Não parece ter nada aqui. - disse Sebastian.

– Não seja tão precipitado. - Emma dirigiu-se a uma pequena gaveta que havia visto na escrivaninha. Ela abriu-a, e encontrou um mapa do local e um pequeno pedaço de papel.

– Francamente... acho você um candidata bem melhor a ser responsável por isso. - riu Sebastian, espantado com o fato da garota saber onde e como procurar.

– Oh... claro! - ironizou Emma, preparando-se para ler o pequeno papel.

" Maldição! O térreo não está mais chamando o elevador! Manutenções e mais e mais gastos! Agora o único jeito de acessar o porão e o primeiro piso são pela escada! Como os empregados trarão as refeições de grande porte? E as gestantes? E os hóspedes deficientes? Os negócios não vão bem, não sei quando poderei consertar, não sei até quando conseguirei manter esse negócio!"

Emma terminou de ler o papel e deu de ombros, sem esboçar nenhuma reação especial. Um elevador quebrado? Para quem já havia passado por tudo que os dois passaram desde que chegaram ali? Não seria um problema tão grande.

– Temos um grande problema. – disse Sebastian, após dar uma rápida olhada no mapa depois da lida do bilhete.

– O quê?

– A cozinha é no porão.

– Maldição. – disse ela, fazendo referência à expressão usada pelo autor.

– Esse hotel acabou de perder um cliente. - cantarolou Sebastian, tentando agregar um pouco de humor àquela situação desagradável.

– E quais as opções?

– As escadas estão bloqueadas... então... - Sebastian deu mais um olhada - Existe uma espécie de porta que leva do pátio ao terceiro piso! E pelo mapa podemos chegar por uma escada aqui do lado.

– E de lá poderemos pegar o elevador para o porão!

– Exato!

– Pois muito bem. - disse Emma, já saindo da sala, acompanhada de Sebastian.

Emma saiu do quarto e dirigiu-se direto para a porta pela qual chegaram no corredor.

– Mais não é que tinha um elevador aqui? – disse ela surpresa, ao olhar para o fim do corredor e ver um pequeno fosso gradeado com um portão de metal – Não tinha visto. – disse voltando a porta que os levara ao corredor.

– Não vai nem olhar a última porta?

– Já sabemos por onde ir certo? – respondeu ela, diante da aparente possibilidade de não precisar mais se esforçar naquele andar.

– Certo, mas não podemos deixar nada, eu disse nada, passar! Quase morremos em Alchemilla porque subestimamos a importância de uma chave...

– Hm... - Emma pensou um pouco, de fato, quase morreram no hospital Alchemilla e ela não queria arriscar sua vida novamente para retornar e pegar seja lá o que houvesse naquele quarto - Ok... ok... olhemos então!

Ambos abriram a quarta porta e entraram, sendo levados a uma espécie de quarto, um tanto quanto mais escuro e fedorento que os outros em que já haviam passado. Emma apontou a lanterna para frente e teve ânsia de vômito diante do que viu: no centro do quarto havia algo parecido com um gancho, feito de correntes vindas do teto, que sustentavam um corpo podre. O zumbido das moscas e besouros que voavam sobre a carcaça decadente do que um dia havia sido um homem cortava o silêncio da sala e os espinhos ensanguentados cheios de carne que saiam das paredes deixavam a atmosfera um tanto quanto mais... nojenta. Porém aquilo era apenas uma fichinha diante de tudo que os dois já haviam visto naquela cidade, por isso, sem intimidar-se, a garota aproximou-se, à medida que o cheiro aumentava gradativamente, e percebeu um colar pendurado no pescoço do defunto, o qual, num movimento rápido, foi arrancado.

– É uma chave... tem escrito "P.P. Piso 1". – disse ela.

– Não disse? Pode ser útil. Vamos sair daqui, vou morrer com esse cheiro. – Sebastian prendeu o nariz com os dedos.

Ao apontar a lanterna novamente para a porta, Emma iluminou um pequeno vulto, do que parecia uma menina, virada para o canto da parede, chorando.

– Estava ali quando chegamos? - cochichou Sebastian.

– Não sei... eu não vi! Nem ouvi... – respondeu.

– Garotinha... - disse Sebastian aproximando-se cuidadosamente - ... você está bem? - ele ajoelhou-se e estendeu sua mão para tocá-la - Você não precisa chorar... nós podemos ajudá-la, está perdida?

A menina parou de chorar ao instante do toque do rapaz, e virou-se para ele, revelando um rosto desfigurado e órbitas oculares negras e vazias, que submeteriam até o coração mais duro à total angústia e desilusão. Sebastian, horrorizado diante da cena que lhe fora mostrada, desequilibrou-se ao tentar recuar e caiu sentado. "AAAAARRR", grunhiu num tom abafado a criatura, enquanto pulava com suas garras afiadas, prontas a retalhar, contra o peito do rapaz. Ele, no entanto, mais rápido e habilidoso, disparou contra o rosto do ser, jogando o corpo sem vida do mesmo de volta no canto da parede.

– Mas o que é isso?

– Não sei... – disse Emma, ofegante pelo susto - mas...

Neste momento, grunhidos semelhantes aos da criatura recém eliminada foram ouvidos em vários pontos do quarto. Emma passou a lanterna nas fontes do som e constatou que, inexplicavelmente, inúmeras criaturas semelhantes se aproximavam dos dois em posição de ataque.

Sebastian atirava com destreza incrível nas que apresentavam perigo, às vezes acertando duas com um só tiro, mas era em vão, era como se a cada uma morta várias outras aparecessem, brotando de algum lugar desconhecido. Emma procurava desesperadamente a aparente fonte das criaturas, a fim de fazer algo para parar aquela infestação de pequenos seres infernais, porém, assim como todos os outros, o quarto inteiro era envolto de paredes e grades, não havia como entrar ou sair de lá a não ser pela porta, a única diferença entre aquele quarto e os demais era...

– A escuridão... – falou Emma.

– O que disse? – Sebastian mal reparou devido à atenção dedicada nos tiros contra as criaturas.

– Ele brotam da escuridão! São invulneráveis! Não vão parar de aparecer! – Emma correu até a porta e a abriu – Pra fora rápido!

Sebastian correu até a porta e ambos saíram, trancando as criaturas lá dento.

– Isso não vai segurar! – disse Sebastian, percebendo que os pequenos seres batiam na porta com uma força sobrenatural – São muitos, é uma questão de tempo até que quebre.

– Não precisamos esperar! – Emma correu de volta até a porta que levava a recepção e foi surpreendida pelo grande buraco, que, devido a agitação do momento, foi esquecido – Oh..oh..oh! – ela tentava se equilibrar na ponta dos pés para não cair. Sebastian a puxou de volta para o corredor e fechou a porta.

– Não dá pra pular! Não lembra? – disse Sebastian, olhando para a porta que segurava os pequenos seres, temendo que esta se quebrasse – E agora... – disse ele procurando uma solução um tanto mágica à sua volta - O que vamos fazer?

– Tínhamos que olhar no último quarto, né?

Emma correu rapidamente até as escadas e tentou, inutilmente, remover com suas próprias mãos o entulho que impedia a passagem, porém a grande quantidade de material enganchado tornava a missão impossível.

– Não tem saída! – ela gritou.

Um grande estalo pôde ser ouvido vindo da porta do quarto. A mesma começara a quebrar e algumas das criaturas estavam quase conseguindo passagem.

– Ao menos temos que nos esconder. – ela disse.

– O closet! – ele apontou.

Os dois correram até o closet e trancaram-se lá dentro, todavia, embora um porta de madeira sólida os separasse dos pequenos demônios, não havia segurança para os dois nem mesmo ali, e eles sabiam disso. Já aceitando seu inevitável destino e sem ter a menor ideia do que fazer em meio ao problema, Emma sentou-se estática contra a parede, tapando os ouvidos com as mãos, privando-se de ouvir as batidas violentas na porta ao lado, para que seu pânico não fosse ainda mais instigado pela situação. Sebastian, por sua vez, ficou de frente a porta, com a arma engatilhada, pronto para o pior, pronto para morrer lutando.

Houve ainda um tempo... antes da esperada quebra da porta, um tempo... que nada significava. Não importava mais o que fizessem, não poderiam correr para lugar nenhum, não havia saída! Poderiam descarregar todas as balas em esforços inúteis? Sim! Mas e depois? O que fazer? Todas as ideias e teorias convergiam para um único ponto: a morte. A esperança de conseguirem sair daquela realidade asquerosa vivos já se esvaía e seus corações eram esmagados pela apreensão e pelo futuro desconhecido que os aguardava quando aquela porta quebrasse.

... Um estalo ainda maior que o primeiro foi ouvido pelos dois, e, só então, tiveram certeza: a porta havia quebrado...

Segundos depois, que mais pareceram uma eternidade para os dois condenados, a porta do closet começou a ser forçada: era o fim, o fim do rapaz Sebastian, o fim da senhorita Emma e sabe-se lá o que já não acontecera com a outra garota àquela altura. Aquelas batidas, que ficavam cada vez mais fortes, e aqueles grunhidos, que ficavam cada vez mais altos, anunciavam o fim da caminhada em Silent Hill.

.

.

.

– Desculpe... – Emma sussurrou em meio a lágrimas, cortando o silêncio entre os dois.

– O que disse?

– Eu disse desculpe! – disse ela chorando – Não sei se isso tudo é mesmo culpa minha mas... se for... desculpe!

– Emma... – Sebastian estava surpreso, era a primeira vez que ela descarregava a culpa sobre si mesma por estarem ali, e não sobre ele.

– Estamos mortos! E a culpa é toda minha! – disse ela batendo o pé no chão – Você não tinha nada a ver com isso! IDIOTA! – gritou, tentando conter as lágrimas – Poderia ter ficado no seu lugar! Estaria vivo! E não prestes a morrer! Eu devia estar morrendo aqui sozinha... por causa daquele... – Emma não aguentou mais falar devido a quantidade de lágrimas derramadas...

– Emma... não estamos mortos... ainda não... – disse ele, ajoelhando-se em frente a ela – Podemos conseguir sair daqui... – nem ele acreditava no que estava dizendo – Nós saímos desse lugar vivos uma vez não foi?!

– Isso não quer dizer que daremos a mesma sorte... – gritou ela – Porque ainda insiste nisso!?

– Porque ainda nos resta esperança...

– Você sabe que está morrendo por nada, né? Por algo que não diz respeito a você! Você é um condenado... um réu inocente... Como consegue se manter tão calmo? – soluçou ela.

– Não... não por nada... eu posso sim estar morrendo... mas, não por nada Emma... de qualquer forma... será uma honra morrer ao seu lado na busca pela sua reconciliação... – disse ele com um sorriso no rosto – Ao menos saberei... que morri por uma causa nobre... – ele segurou em suas mãos... e apertou bem firme - ...tentando fazer por alguém... – também havia começado a chorar - ... o que não pude fazer por mim.

– O que quer dizer com isso? Por que? Por que está me ajudando?!


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Notas finais do capítulo

Sebastian e Emma se separam da garota e descobrem que devem subir ao terceiro piso, para que possam chegar a cozinha e pegar a chave de Douglas. Porém ao adquirirem uma chave em um dos quarto por onde passaram são atacados por pequenos monstros e encurralados em um outro quarto: o closet do hotel.Sem poderem retornar por onde vieram, nem matar todas as criaturas devido ao grande número, Emma e Sebastian se veem presos e sujeitos à morte, é quando, em meio a uma conversa, Sebastian revela ter um motivo especial para ajudá-la.



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