Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 14
Assuntos Inacabados


Notas iniciais do capítulo

"Por que sempre volto ao assunto? Porque tudo me leva ao ponto chave do que não está curado, do que ainda incomoda: como fugir das armadilhas que criei para mim?" Ida Lenir Gonçalves - adaptado



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{{“Não! Não! Por favor papai! Eu não fiz nada! Por que está fazendo isso comigo? Papai, responda! Porque? Está doendo! Para! Para! Mamãããããããe!!!” }}

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– Ahhh! – Emma acordou subitamente soltando um grito contido – Foi... só um pesadelo... – disse para si mesma após alguns instantes em silêncio, enquanto enxugava algumas lágrimas que rolavam pelo seu rosto – Mas... – ela estranhou ao perceber onde estava – Mas hein?! Sebastian! Sebastian acorda! – ela empurrava a cabeça do rapaz desacordado com a ponta dos dedos – Nós voltamos! Podemos sair daqui! Levanta, rápido!

– Voltamos? Pra onde? – disse ele levantando com a mão na cabeça, olhando em volta – Nós... VOLTAMOS! Oh.. Bom Deus! Voltamos! – Sebastian alegrou-se com o que viu ao redor.

Os dois haviam, de fato, voltado ao mundo normal, isto é, “normal”, afinal, o lugar continuava com a aparência decadente, mas nada a nível perturbador ou sobrenatural, apenas o decadente que acharam quando chegaram ali. Eles estavam no incinerador do porão, que agora era só uma sala pequena de concreto desgastado, com alguns cestos de roupas espalhados e um pequeno incinerador desativado ao fundo da sala, nada comparado ao que o outro mundo fizera.

– Não acredito! Finalmente, rápido, vamos sair logo daqui! – Emma levantou-se e ajudou-o a levantar.

Os dois cuidaram de alguns ferimentos mais alarmantes oriundos da luta contra Tinoco com alguns medicamentos da maleta e logo saíram dali, deparando-se então com um pequeno corredor, com algumas portas. Eles então, puseram-se a procurar aquela que os levaria ao piso principal, para que finalmente saíssem dali. Porém, com exceção de duas, nada acharam além de portas trancadas. Uma delas levava a uma pequena despensa, onde os dois conseguiram um pouco mais de munição e alguns medicamentos e a outra, a uma espécie de quarto, com nada além de uma cama enferrujada, uma cômoda e uma pequena cadeira bem no centro do recinto.

– Não acho que esse quarto guarde nada, vamos sair daqui... esse lugar... tem uma energia estranha. – disse Sebastian após passar a vista no quarto.

– Ok... mas... tem algo ali em cima da cômoda... parece um porta retrato... – disse Emma aproximando-se do objeto – É a foto de uma menina... tem algo escrito aqui... Ali...Alessa Gil... Gillespie... – Emma parou por um instante – Claro! O porão, ela estava sendo mantida aqui...

– Mantida?

– A menina que serviu de sacrifico para uma espécie de culto maluco. – disse Emma estendendo o porta retrato para Sebastian.

– Ela era linda... – comentou Sebastian.

– Era sim... – disse Emma abrindo a pequena gaveta da cômoda – Ei... o que é isso?

Dentro da pequena havia um pequeno objeto embrulhado num pedaço de papel, Emma desembrulhou e deparou-se com uma chave a algumas palavras escritas no papel. Ela pôs a chave no bolso e passou a ler o papel em voz alta, para que Sebastian também ouvisse.

“Kauffman conseguiu! Ele nos deu acesso total ao porão com a chave das escadarias principais! Dessa forma poderemos cuidar da nossa Alessa em paz até que ela esteja apta para a tão esperada conclusão do ritual! Livre de intrometidos como aquele... aquele... Travis! Como o odeio! E como odeio o fato de Alessa o ter chamado aqui, temos que nos preocupar com ele, temos que impedi-lo de achar o Flauros! Ele já estragou as coisas uma vez, não vou deixar que faça de novo!

Dahlia Gillespie”

– Isso fica cada vez mais estranho... – disse Emma jogando o papel sobre a cômoda.

– Quem é Flauros? – perguntou Sebastian.

– Não sei e não nos interessa! Temos a chave e vamos sair daqui! – Emma se dirigiu a porta.

– Hm... ela era realmente linda! – disse Sebastian, indo para a saída, olhando uma última vez para a foto.

Os dois voltaram ao corredor e passaram a chave em todas as fechaduras trancadas, procurando incansavelmente pela escadaria. Achando a porta certa, os dois subiram pelas escadas e abriram a porta do primeiro piso, saindo em frente ao elevador principal. Estavam salvos! Finalmente poderiam sair! Os dois correram até a recepção e sem cerimônias abriram as portas principais do hospital! Estavam livres, estavam de volta as ruas da cidade, estavam prontos para...

– Emma! – grita a garota misteriosa acenando no portão, como se a estivesse esperando – Procurei você por toda parte! – disse ela esboçando um sorriso.

– Você... – Emma parou por um instante – Eu... eu achei que tivesse morrido naquela sala!

– Eu? Com certeza, não! Você sumiu Emma, quando me dei conta você tinha desaparecido, onde você foi?

– Eu... eu... você... o hospital... você não viu? Os corpos... as paredes?

– Corpos?

– Lá dentro!

– Dentro?

– Dos hospital... as coisas... elas ... Ah, esquece! Vem Sebastian, temos que ir embora. Se quiser vir com a gente... o convite está feito.

– Para onde vão?

– Pra longe daqui!

– Então esse é seu amigo? O Sebastian? Oi Sebastian! Como vai seu pé?

– Oi... eu... eu sou Sebastian... ah... o meu pé? Ele... vai bem e o seu...? – Sebastian olhava para a garota com um sorriso totalmente anestesiado no rosto.

– O meu vai bem! – riu a menina.

– Bom... você sabe o meu nome mas... não sei o seu...

– E nem vai saber! – interrompeu Emma – Ela não lembra de nada.

– Isso é verdade?

– Sim... – respondeu a menina – Minha cabeça dói quando tento lembrar.

– Bom, de qualquer forma não pode ficar aqui! Tem que vir com a gente... – disse ele.

– Sair da cidade? Eu não sei se devo... algo me diz que tenho que ficar aqui!

– Você não está raciocinando direito... vai morrer se ficar aqui... é perigoso! – retrucou o rapaz.

– Mas... eu... ah... não sei se devo.

– Claro que deve! Ou pode ficar aqui... sozinha!

A menina olhou para os lados pensativa, cerrou os punhos e decidiu.

– Tudo bem... eu irei com vocês! Mas, pra onde?

Sebastian parou por um instante.

– É uma ótima pergunta! Emma... nos preocupamos tanto em sair daqui que esquecemos de um pequeno detalhe: como faremos isso? Brahms é a cidade mais próxima e fica a dezenas de quilômetros, não temos carro nenhum e não iremos muito longe a pé... principalmente com essas criaturas escoltando cada esquina!

– Droga... – grunhiu Emma, olhando para os lados.

– E o seu carro... – Sebastian estava pronto pra complementar.

– Está quebrado! E a culpa é sua! Agora estamos presos aqui, por sua causa! – disse Emma levantando a voz.

– Ei! Não gritei com você! E a culpa não foi minha... tudo que eu queria era...

– Entrar numa busca imbecil por um imbecil! Devia ter me levado pra casa e não pra Brahms!

– Mas quando chegamos lá, você consentiu em vir aqui!

– Você podia ter olhado pra estrada no caminho pra cá!

– Você podia carregar um step!

– Ei... – disse a garota misteriosa.

– Não precisaríamos dele se você fosse um bom motorista!

– Eu sou um ótimo motorista!

– E-ei...- falou a menina um pouco mais alto.

–Ah... claro! Dá pra ver toda sua habilidade estampada no meu pneu!

– Tinha névoa na estrada... não dava pra ver o caminho e você sabe disso!

– EEEEEI! – gritou a menina.

Os dois pararam e olharam para ela.

– Tem uma ambulância aberta do lado do hospital! – disse ela apontando par um pouco mais adiante - Talvez a chave esteja lá dentro!

– Talvez... – disse Emma indo em direção ambulância, sendo seguida pelos dois.

Os três chegaram até a ambulância. A mesma tinha a porta aberta e portava a chave já na ignição! Emma sorriu com o canto do rosto e sentou no banco do motorista, abrindo em seguida a porta do carona para Sebastian e a garota. Os dois subiram e sentaram-se no banco, fechando as portas.

– É sorte demais... – disse Sebastian, desconfiado – Não ficaria surpreso se não tivesse combust...

Sebastian foi interrompido pelo barulho da partida dada por Emma na ambulância, a qual respondeu perfeitamente.

– O que dizia mesmo Sebastian?

– É Sebastian, o que dizia mesmo? – disse a menina rindo.

– Ei, não ria de mim. – disse ele empurrando levemente o ombro dela, rindo também.

Emma pisou no acelerador e seguiu a rua pela qual viera com a garota, a fim de evitar o enorme buraco no qual quase caíra antes do incidente no hospital.

– Sabe pra onde estamos indo, certo? – perguntou Sebastian.

– Claro! Estamos indo para a entrada da cidade, do mesmo jeito que chegamos vamos sair!

Emma continuou a viagem, dobrando algumas esquinas e sendo orientada pela garota, que de vez em quando apontava a direção da qual vieram. Em certo ponto, ela pôde ver o posto onde quase morrera.

– Viu? – disse ela apontando para o posto – Estamos na direção certa! É o posto onde você me abandonou...

– Me recuso a entrar nesse assunto de novo! – ignorou Sebastian virando o rosto para a janela.

– Só queria mostrar que sei pra onde estou indo!

– Com certeza! Jamais duvidei disso. – disse Sebastian, ironicamente.

– Hunf! Você poderia ao men...

– “shhhhhhhhhhhhhhhhhh” La... “shhhh” Lau... “shhhh” Laura... – uma voz eletrônica repleta de interferências pôde ser ouvida dentro do veículo...

– O que é isso? – perguntou a menina misteriosa, assustada.

– De onde veio? – completou Emma.

– Laura... “shhhhh” Queria que as pessoas parassem... “shhhhhh” pessoas... “shhhh” paras... “shhhhhh” de olhar assim pra mim... Elas são ... “shhh” são... “ssshhhhhhhhhhhhh” tão idiotas! – a voz continuou.

– Essa voz... – disse Sebastian, olhando cada canto da ambulância – O rádio!

– Mas está desligado! – disse Emma apontando para o interruptor chave do equipamento.

– Pelo visto não está tão desligado! – retrucou a outra garota.

– Tenta consertar, sei lá! Pode ser útil, é a primeira vez que conseguimos contato com o mundo desde que chegamos aqui. Não desperdiça essa chance, faz alguma coisa!!!

O rapaz tentou ajustar a sintonia do rádio com um pequeno botão giratório, a fim de ouvir o que estava sendo dito. Com um pouco de esforço e tempo, a interferência oscilante desapareceu e todos ali puderam ouvir algo que parecia uma conversa, sendo transmitida pelo rádio.

– Assim como Eddie? – voz feminina infantil.

– Assim.... como um gordo inútil! Como se eu não prestasse para nada ou fosse diferente! – voz jovial masculina.

– Hm... é uma pena! Mas eu não vejo você assim! – voz feminina infantil, risos.

Você é legal Laura! Eu gosto de você! Você parece ser a única a me entender nessa droga de cidade! O resto do mundo parece sempre estar me julgando pela minha aparência! Por isso eu matei aquele cachorro... e o dono dele.... mas ninguém entende! Eles estavam olhando para mim dessa forma. Como se estivessem me julgando, me achando um gordo... um pedaço de lixo! Não aceito que me olhem assim, eles não tem esse direito! – voz masculina jovial.

– Você está errado mesmo assim, e sabe disso, não é? – voz feminina infantil.

– Sim... eu sei! Mas é por isso que vim aqui certo? Vim a Silent Hill para pagar pelos meus erros passados! Tanto eu como o James! E quando resolvermos tudo, só então sairemos daqui! – voz masculina jovial.

– Você conhece o James? – voz feminina infantil.

– Sim... James Sunderland, nos conhecemos no hotel! Ele... também parece olhar pra mim dessa forma! Mas como ele tem coagem? Ele é igual a mim, certo? Ele também não gosta das pessoas! Ele também tem os assuntos dele para resolver! Por isso ele veio pra Silent Hill! Ele não é melhor do que eu! – voz masculina jovial.

– Hm... Mas Eddie... voc “shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh” – o rádio parou subitamente de funcionar.

– NÃO! – Emma gritou, apertando freneticamente o interruptor do aparelho, tentando inutilmente recuperar algum sinal – Isso... falou da cidade! – Emma deu duas batidas violentas no volante – QUE DROGA!

– Quem é Eddie? E James e Laura? – perguntou a outra garota.

– Não sei... essa conversa... totalmente fora de contexto, me deixou particularmente mais confuso.

– Rádio idiota! – Emma resmungou.

– Calma Emma... você não pode fazer mais nada, só dirija OK? Vamos sair daqui. – falou o rapaz, escorando-se mais comodamente no banco.

– Ei... estamos quase! – disse Emma alegrando-se – Só precisamos dobrar a próxima esquina e estaremos de volta na est...– a garota parou de falar enquanto freava lentamente a ambulância – Mas o que...?

– Isso é...? – disse Sebastian olhando sem reação através do para-brisa do veículo.

– Não... isso é impossível! Não estava aqui quando chegamos! – Emma desceu do carro e aproximou-se do que havia visto. – É... enorme...

Emma se referia a um gigantesco buraco na rua, pelo qual não podiam passar ou dar a volta, nem com o carro e nem a pé, era semelhante aquele, em que ela quase caiu, porém esse era muito maior e se estendia até onde se podia ver... não havia uma outra borda... não havia chão... não havia estrada... somente o vazio! Emma pôs as mãos na cabeça e começou a respirar ofegantemente, entrando em pânico.

– Não... – grunhia ela – Era por aqui... a saída! – começou a chorar – Como? Como vamos sair agora Sebastian? Eu quero ir embora daqui! Quero ir embora!!

– Espere aqui! – disse para a menina no carro. Sebastian correu em direção a Emma e, embora estivesse fazendo o possível para se manter calmo e controlado, não estava muito diferente interiormente – Emma! Vamos fica calmos, vamos achar outra saída...

– COMO? Não conhecemos essa cidade, não fazemos a mínima ideia de onde estamos ou de pra onde vamos! E agora... isso na estrada!

– Eu sei... mas devem haver outras rodovias ligando a cidade com outros lugares certo? Devem haver, com certeza!

– Sebastian, você não está entendendo! Tem algo errado com esse lugar! Sabemos disso desde que chegamos! Isso não é normal! Não se tratam de rodovias, mas essa cidade, ela está nos mantendo aqui! Ela quer nos matar! E ela não vai nos deixar sair daqui... – disse Emma, desabando em lágrimas – Estamos presos! Não importa quantos caminhos encontremos...

– Está insinuando que não podemos sair daqui?

– É tudo que posso pensar...

– Tem que haver um jeito!

– Um jeito... Sebastian não há jeito nen... – Emma parou um instante – Sebastian... a conversa... a conversa do rádio! Lembra do que falava? – perguntou enxugando o rosto.

– Mais ou menos...

– Falava da cidade! Lembra do que o homem disse...? Ele disse que ele e o tal James sairiam da cidade quando tudo estivesse terminado!

– Sim... falou de... problemas! Eles estavam aqui porque tinham problemas! Pra... pra... pra resolver! Isso! RESOLVER!

– Sim...

– Então... alguém aqui tem problemas pra serem resolvidos?

Emma olhou para ele por alguns instantes e o silêncio tomou conta do ambiente.

– Vem, temos que ir!! – disse Emma dirigindo-se ao carro.

– Ir? Ir aonde? – perguntou ele, seguindo-a.

– Achar aquele canalha! Tenho uns assuntos a.... como você disse mesmo? Oh sim... Resolver!


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Notas finais do capítulo

Sebastian e Emma voltam ao mundo "normal" e, ao saírem do hospital, reencontram a garota misteriosa. Eles a convidam a sair da cidade com eles, ela aceita e com a ajuda de uma ambulância eles se põem a caminho da estrada. No meio do caminho, uma conversa é ouvida no rádio, a principio pouca atenção é dada, porém ao chegarem as portas da cidade e constatarem que a estrada de saída sumira, eles supõem que só é possível sair dali quando todo e qualquer assunto inacabado for resolvido. Emma agora quer mais do que tudo achar seu pai, não por ele, mas por si mesma, pela sua fuga daquele inferno.



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