Almas Obscuras - Despertar escrita por Angie Ellyon


Capítulo 8
Capítulo 7 - O Nível 36.2


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo!!!! ;* Espero que gostem e em 2015 a saga continua!! Forte abraço!!



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Não havia nenhum sinal de que Logan esteve lá na noite passada quando nos despedimos. Ele ainda permanecia como um grande enigma que eu tinha que resolver. Precisaria deter minha curiosidade por enquanto.

A escola estava agitada como nunca vi. O tempo em Monthe´s Hell havia mudado nos últimos dias e o céu parecia estar o tempo todo nublado; como se a qualquer momento uma tempestade fosse desabar nas nossas cabeças. Com tudo o que me aconteceu, eu não havia mais me dedicado à feira arqueológica do colégio. Como o vencedor foi da escola anfitriã, toda a turma ganhou um prêmio especial: uma visita à LancasterCorp.

Confesso que gelei. Não seria reconfortante voltar ao lugar que eu havia invadido dias atrás. Além disso, toda a escola sabia do meu parentesco com eles, e todas as atenções se voltariam para mim.

Fomos no ônibus e caminhei até o assento vago ao lado de Lauren, mas ela cruzou os braços quando me viu.

Mary passou esbarrando em mim com uma câmera na mão e um sorriso nervoso, e me sentei ao lado de Lauren, que suspirou.

– O que foi? Não vai se sentar ao lado da sua nova melhor amiga? – ralhou ela.

Revirei os olhos.

– É por isso que está brava?

– Mal nos falamos nos últimos dias – disse ela. – Ontem você estava distraída, como se estivesse fugindo de alguém.

Isso explicava o porquê de ela ter me enxotado ontem.

– Ainda por cima, está virando amiguinha da fofoqueira enxerida do jornaleco. – continuou.

– É complicado. E Mary é uma boa pessoa.

– Ela implica com você desde que aprendeu a falar. – e balançou a cabeça. – Sempre contamos tudo uma à outra. Por que está cheia de segredinhos com ela?

Suspirei.

– Lauren, é difícil explicar. Prometo que vou contar. Tudo bem?

Ela me olhou, mas sorriu. Então vi Mary acenar pra mim de um jeito que estava se sentindo da mesma forma que eu. Só podíamos contar com a sorte de não termos sido reconhecidas. Caso contrário, a mesma pessoa que mandou a “mensagem assassina” podia acabar com nós duas lá dentro.

À medida que chegávamos perto dos portões principais, alguns tiravam fotos, enquanto outros apontavam, curiosos. Lá na frente, distingui a silhueta dos seguranças na escadaria de acesso. Passamos por um corredor cercado por grades de ferro e cerca elétrica. As mesmas placas de advertência estavam por lá. Pensei que, com a invasão, a segurança seria bem mais reforçada. Só que não; e estranhei. Mas os Lancaster deviam ter seus truques na manga. O ônibus parou e descemos, observando a enorme fachada do prédio. A noite não dava para notar, mas toda a área devia abranger pelo menos uns quatro quarteirões; sem tirar as áreas descampada, onde presumi que deviam ser as áreas de testes. O letreiro gigante com o nome LANCASTERCORP brilhava em tons vermelho-prateado lá no alto daqueles 20 andares.

Tentei permanecer o mais invisível possível, mas todos já me olhavam como se eu devesse guia-los dali pra frente.

Dois seguranças de preto com pontos no ouvido direito abriram a porta de vidro. De lá, surgiu tia Miranda, imponente e arrogante como sempre. Ela calçava botas pretas de salto alto, vestia uma calça de couro marrom e uma blusa de seda preta fina por debaixo de uma jaqueta social. Ela retirou os óculos escuros e nos avaliou sob seu olhar afiado.

– Bem-vindos estudantes de Monthe´s Hell High School – começou ela. – Eu irei guia-los em um passeio pela sede da empresa e nossos laboratórios. Espero que gostem e que possam se inspirar no seu futuro e, quem sabe, possam vir a fazer parte do nosso corpo de funcionários e cientistas – se virou de perfil e acenou. – Por favor, sigam-me.

Ignorei as piadinhas maliciosas dos garotos sobre a elegância dela e me preparei para conhecer o grande e enigmático império da família milionária. Mary fotografava, atenta, ao meu lado, enquanto Lauren vinha à minha frente. Passamos por um corredor e tia Miranda abriu uma porta com uma senha eletrônica e nos deu passagem. Nos deparamos com um salão parecido com um escritório. Haviam computadores e pessoas andando pra lá e pra cá. Tanto homens quanto mulheres se vestiam formalmente. Uma moça trocou duas palavras com tia Miranda, que assentiu.

– Esta é a ala principal da empresa – explicou ela. – Aqui, os funcionários são responsáveis por monitorar todo e qualquer procedimento que ocorre nos laboratórios. É como uma área administrativa – e sorriu, apontando para o grupo. – Quem aí é bom com finanças ou economia? – pessoas atrás de mim deram risadas. – É nesta área que temos noção se nossos investimentos estão dando certo ou não.

– Ela explica com tanta veemência... – Lauren cochichou.

Voltando a caminhar, ela nos levou por um outro corredor, mais largo, onde haviam salas menores e mais sofisticadas; praticamente todas de vidro. Enquanto o salão tinha um toque vintage e tons de mármore, esse era mais aconchegante e sério.

– Esta é a ala gerencial – tia Miranda foi passando por cada sala. Notei as poltronas sofisticadas. – Reservada exclusivamente para a administração dos bens, se é que me entendem. Ali é meu local de trabalho – ela apontou para uma sala luxuosa. – Sou a vice-presidente e responsável pela tesouraria – deu uma piscadela, orgulhosa. – O presidente e dono, como devem saber, é Henry Lancaster – ela apontou para a maior sala dali, onde ele estava concentrado no seu laptop. Quando nos viu passar, acenou sorridente, como se fosse o próprio presidente do país.

Tia Miranda se virou.

– E sua filha unigênita, herdeira das Indústrias e Laboratórios da Corporação Lancaster está entre nós – ela me deu um sorriso frio. – Melaine Lancaster.

Eu queria enfiar minha cabeça no primeiro buraco que visse.

Corei e me mexi, desconfortável, esperando que todos seguissem em frente. Mary me deu um olhar significativo.

– Agora, a parte mais interessante pra vocês, talvez. Nossos laboratórios. – tia Miranda continuou.

Seguimos até uma escada metalizada, quando o ambiente ficou um pouco mais escuro e silencioso. Lâmpadas de emergência se acendiam enquanto andávamos e notei que as salas eram menores e mais fechadas.

– Aqui funcionam as áreas experimentais – contou ela, abrindo uma porta com outra senha eletrônica. Fui banhada por uma luz azulada. Haviam dois médicos trabalhando – um deles, dr.Bawer, pai de Jonas. – Temos contrato com grandes marcas de praticamente todos os ramos. Alimentícios, cosméticos...são os alvos de nossos projetos de pesquisa.

Alguns cochicharam, empolgados.

– Nossos cientistas são os nossos funcionários fundamentais – ela voltou a explicar, se aproximando. Dr.Bawer me reconheceu e acenou.

Saímos da sala, quando ela se virou de repente.

– Devem ter conhecimento da recente invasão ocorrida. Sei que esperavam que houvesse mais segurança. Mas saibam que a temos sim. Ela só não está...visível

A maneira como ela rolou os olhos pelo lugar me fez arrepiar.

Fomos liberados para explorar o lugar por conta própria. Lara Lancaster balançava sua juba loira artificial de maneira exagerada em uma propaganda de um lançamento da empresa, que passava numa TV plana gigante quando escutei a voz grave de Henry.

– Melaine, está gostando da visita?

Me virei. Não me lembrava da última vez que tinha estado lá. Na verdade, nem sequer lembrava de ter estado uma única vez por lá.

– Sim. É bem maior do que eu esperava. – me surpreendi com minha voz educada.

Ele deu risada, quando uma mulher com rabo de cavalo veio chamá-lo.

– Preciso ir. Espero que venha me visitar novamente.

Eu acho que não.

O grupo estava se reunindo para seguir tia Miranda outra vez, quando uma gritaria do andar debaixo estremeceu a escada de metal.

– ME SOLTEM! Eu tenho o direito! Não podem me tratar assim! – esbravejava uma voz masculina histérica.

Um senhor de mais ou menos uns sessenta e tantos anos era contido por dois seguranças. Ele usava vestes simples, tinha a barba por fazer e um olhar cansado. Tia Miranda enrijeceu.

– Mas o que este homem está fazendo aqui?! – trovejou ela.

– Um homem que veio atrás dos seus direitos – ele tentava se livrar. – Essa empresa maldita me arruinou! São uns mentirosos!

Tia Miranda parecia estar à beira de um ataque de nervos. A turma observava a confusão apreensiva.

– Tirem esse intruso daqui! – ordenou.

– Covardes! – o homem voltou a gritar. – E o nível 36.2? Continuam com ele, não é?

Tia Miranda riu, nervosa.

– Meu caro senhor, não tenho ideia do que está falando. Não existe esse tal nível 36.2...

– Mentira! – ele interrompeu. – Trabalhei lá com...

– CHEGA! – tia Miranda se exaltou. Com um movimento de cabeça, os seguranças o retiraram dali às pressas, mesmo com os xingamentos do homem.

Tia Miranda se virou devagar. Sua postura não era mais a mesma. Ela havia se abalado. Sorriu para o grupo assustado.

– Por favor, perdoem esse pequeno contratempo – ela nos olhou com pena. – Este pobre senhor é um ex-funcionário que sofre de uma doença terminal, além de diagnóstico esquizofrênico. É de dar pena. Ele foi demitido por justa causa; não tinha condições de trabalho. Nós demos total apoio, mas infelizmente ele não aceitou nossa ajuda e acha que devemos algo à ele.

A turma murmurou lamentando, solidários à tia Miranda. Eu não pude acreditar naquilo. Como podiam acreditar nela assim? Os Lancaster eram muito bons na arte da oratória.

– Podem ficar à vontade – disse ela. – Com licença.

Ela se virou e seguiu na direção contrária. Esperei um tempo e decidi segui-la.

– Aonde está indo? – Lauren me segurou. Notei que Mary também me olhava.

– Só olhar uma coisa.

Continuei seguindo-a até entrar num corredor bem mais escuro. Tia Miranda andava apressada e olhava o tempo todo para os lados, apreensiva. Decidi andar no seu ritmo. Aos poucos, comecei a escutar os mesmos gritos do tal homem desconhecido – e ele não estava muito longe dali. Tia Miranda abriu uma porta escancaradamente e me escondi atrás de um armário.

Lá dentro, haviam dois médicos.

– Nunca ficou pronto? – indagou tia Miranda.

– Senhora, - um dos médicos estava tenso – precisa entender que, o que nos pede, pela medicina, é impossível...

Ela bateu as mãos na mesa. Sua expressão facial tinha mudado completamente – de anfitriã simpática, para dama fatal.

– Então faça com seja possível.

– Só se utilizarmos o material que nos deu...e mesmo assim... – ele a olhou, cauteloso. – Se ao menos fosse no nível 36.2...

– Apenas faça, imbecil – ralhou ela. – Já disse: esqueça o nível 36.2. Está proibido de acessá-lo, entendeu? E você mesmo vai ser cobaia. E esse fracasso será retirado do seu salário.

Fiquei chocada, sem reação. Me encolhi mais um pouco quando ela saiu, se dirigindo para mais uma porta. Me estiquei e enfim vi o tal homem imobilizado por um outro segurança; diferente, com uma roupa estranha, numa sala mal iluminada. Tia Miranda deu uma risada estranha; assustadora.

– O que vai fazer agora, velhote?

– O que fizeram com o 36.2? – disse o homem, de joelhos. – Não pense que vai ficar assim...

Tia Miranda olhou as unhas.

– Para sua informação, está tudo sobre controle.

– Esse império fajuto de vocês vai cair...! – o tal senhor começou a tossir e engasgar. Então notei e fiquei horrorizada: ele havia sido espancado. – Mais cedo ou mais tarde...

Silenciosa, tia Miranda fez um gesto para o segurança, que lhe entregou algo.

Arquejei. Era uma arma de fogo. Pistola 34.

O senhor foi chutado de novo.

– Diga adeus, valete – foram as últimas palavras de tia Miranda, e o que veio a seguir aconteceu muito rápido.

Enquanto o segurança correu para fechar as portas e abafar o som, por um milésimo de segundo, pude vê-la apontar a arma para a cabeça do homem e atirar.

Pus as mãos na boca, completamente chocada, e dei um passo involuntário para trás, batendo e escorregando na parede. Comecei a chorar copiosamente, com as mãos na cabeça, tamanha era a minha perplexidade.

Me afastei, soluçando, quando a porta se abriu novamente e me escorei na janela.

– Livre-se dele. E dessa arma. Odeio armas – ela disse com nojo. – Sem deixar pistas. Pela primeira vez, acho que estamos perdendo o controle. E isso não é bom.

Ela passou pelo corredor e rezei para que não se virasse e me visse. Limpando o choro, olhei lá embaixo. O mesmo segurança arrastava o corpo inerte do homem e o jogou de qualquer jeito em uma enorme caçamba de lixo. Seu corpo afundou e sumiu entre a sujeira.

Minhas pernas não queriam me obedecer enquanto corria de volta para onde estavam os outros. Tia Miranda havia voltado e parecia serena e tranquila, como se nada de mais tivesse acontecido. A turma já estava de saída.

– O que foi fazer? Está branca que nem papel! – sussurrou Lauren.

Talvez seja porque eu tenha acabado de ver um homem ser assassinado a sangue frio.

Esperei tia Miranda dar suas palavras finais e voltarmos para o ônibus.

– Eu...fui falar com meu pai e pensei ter perdido o grupo – menti. Lauren não acreditaria se eu dissesse. Suspirei quando ela assentiu.

O que você tem?, Mary me enviou uma mensagem. Ela me olhava do seu assento à duas cadeiras à frente.

Minha tia matou aquele senhor, respondi depressa.

O quê? Aquele homem que fazia escândalo?

Acenei como resposta e ela assentiu.

Levaram-no para uma sala e...ele levou um tiro. Na cabeça.

Meu Deus! É pior do que eu pensava...

Acho que foi queima de arquivo.

Também. Temos que ter cuidado daqui pra frente.

Funguei e olhei pela janela, pensando. Depois disso, eu não tinha dúvidas: o que quer que fosse esse tal nível 36.2, os Lancaster estavam trabalhando com algo muito perigoso e misterioso por lá – e queriam, a todo custo, esconder de todo mundo.

{...†...}

De volta ao colégio, Lauren me pegou no corredor, sorridente, e me estendeu um papel.

– O que é isso? – franzi o cenho.

– Eu pretendia te falar antes, mas tudo bem – ela se empolgou. Se eu conhecia Lauren, era algo grande. – Inscrevi você pra ser a rainha do baile esse ano!

Fiz um “O” com a boca.

– Lauren!

– Antes de qualquer coisa, saiba que estou cuidando de tudo – disse ela. – Fui coroada ano passado. E já tem créditos por isso, sabia?

– Ano passado minha mãe estava viva – falei, o que a fez suspirar. Balancei a cabeça. – E tem mais. Conhece o protocolo, Lauren. Não tenho acompanhante, nem vestido...

– E o seu enfermeiro bonitão?

– Lauren... – revirei os olhos enquanto ela continuava a colar cartazes nos armários. Avistei mais à frente Matt conversando alegremente com seus amigos do time. Ele nos avistou e acenou.

Lauren cruzou os braços e bateu o ombro no meu.

– Pelo menos você tem alternativas.

– E você e Todd?

– Terminei – suspirou ela, chateada, se encostando na parede no fim do corredor. – Parece que ele está saindo com a sua prima Lara.

Tudo o que sabia sobre minha prima era que ela já frequentava a faculdade; algo dentro dos padrões dos Lancaster, talvez Direito ou Medicina, e que era modelo dos anúncios da empresa nas horas vagas. Já soube de festas que ela dava na mansão.

– Não quero saber de desculpas! – Lauren deu um pulo animado e mudou de assunto. – Vou cuidar para que a senhorita vá para esse baile sim, com ou sem acompanhante! Além disso, preciso de alguém para me ajudar, não é? – e se retirou, piscando.

Eu estava encrencada.

Voltei para casa sem saber exatamente se encontraria tia Diana por lá. Como tudo estava quieto, como sempre, concluí que ela devia estar entretida com algo do trabalho ou no sofá assistindo o noticiário. Encontrei-a de costas na mesa da cozinha, quieta.

– O que houve? – minha voz saiu esganiçada. Havia algo errado.

Ela se virou e vi que estava aos prantos, com um pedaço de papel nas mãos.

– Seu pai emitiu um mandato – ela disse com a voz embargada. – Aqui diz que ele tomou a sua guarda definitiva.


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Notas finais do capítulo

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