Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 31
Outras Frequências


Notas iniciais do capítulo

Postei no Facebook ontem que no capítulo 31 iria rolar um beijo. Essa fic precisa esquentar um pouco nesse sentido, não acham? Agora, quem será? Faça suas apostas! hehe



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PALAVRAS DE VALESKA SOARES

Os dias iam se passando, se tornando semanas e meses. Após ganhar o campeonato junto ao time, regressei a Fortaleza, porém a fama, confesso, subiu à minha cabeça e eu acabei esquecendo da minha família e dos meus amigos.

Eram tantas entrevistas, fotos, eventos e festas que por vezes eu acabava esquecendo que meu nome era Valeska Soares e acabava adotando totalmente a identidade de Gustavo Rodrigues.

Quando soube que minha inocência havia sido provada, que Sheila havia sido presa e saíra da prisão, eu fiquei maluca. Quis largar aquelas roupas masculinas e voltar a ser a boa e velha Valeska de sempre. Porém, fiquei com medo de magoar todos aqueles rapazes que, depois de tanto tempo convivendo com eles, mais pareciam minha nova família.

Eu tinha medo de, principalmente, magoar Isaac.

E foi por ele que eu escolhi continuar no time. Pelo menos até criar coragem e contar a verdade.

***

(Música: Sing - Ed Sheeran)

Já nos preparávamos para um novo campeonato. O ano de 2012 havia entrado com tudo e era um ano de oportunidades para o RFC. Treinávamos arduamente numa academia que, agora, nos patrocinava.

Eu observava Isaac Sanchez levantar aqueles pesos e acabava me distraindo na esteira ergométrica. Era incrível como ele era a única pessoa que me fazia sair do foco. Enquanto ele levantava o peso, de longe, ele percebia que eu o olhava e sorria pra mim.

Algumas fãs marias-chuteira, porém, atrapalharam aquele novo “clima” e também atrapalharam o treino de Isaac. E o meu.

— Isaac, me dá um autógrafo? Parabéns pelo campeonato. — disse uma delas, agarrando o rapaz.

— Gustavo, você é o melhor! — disse a outra, me abraçando e tentando me cobrir de beijos. Ah, Deus...

Quanto a sessão de autógrafos terminou, as garotas se despediram da gente. A que estava me agarrando piscou para mim e colocou um papel enrolado no meu bolso. Retirei-o e percebi que nele havia escrito o número do celular dela.

Que mancada!

Isaac, percebendo aquilo, me deu um tapão nas costas e riu.

— Olha só, Gustavão! Pegando todas, hein?

— Não! — ralhei — Isso aqui é... é...

— É o número dela. Não esquenta, Gus, a outra garota também deixou o número dela aqui. — me mostrou — A gente bem que podia marcar um encontro, eu com a minha gatinha e você com a sua. Seria bacana, não acha?

— Isaac, eu não sei. A gente precisa treinar. — Era uma péssima ideia.

— Desencana! O RFC, com você no ataque, ganha todas. A gente precisa sair um pouco, se divertir, pegar umas gatinhas... Já faz tempo que eu não...

— Para, Isaac. — cortei-o antes que entrasse em detalhes. Eu não queria saber da sua vida íntima, não desse jeito. Decidi aceitar. — Eu vou. Assim que a gente sair da academia a gente liga pra elas e marca. Beleza?

***

Eu disse a vocês que a vida de jogador de futebol, as vanglorias e os prêmios me fizeram muito rica? Sabe a sensação de você querer comprar uma coisa, ter o dinheiro e mesmo assim não poder compra-la? Era meio assim que eu me sentia quando eu ia ao shopping e era obrigada a deixar todas aquelas sandálias e sapatos de lado e comprar tênis e chuteiras. Aff...

Isaac e eu fomos ao shopping comprar uma roupa maneira para ir ao encontro com as cocotas maria-chuteira.

— Que porra é essa, Gustavo? Parece até que não tá animado para hoje à noite! — exclamou Isaac, observando minha cara de paisagem ao escolher uma camisa na loja. Eu não estava nem um pouco animada, pois sairia com uma garota e, pior ainda, veria de camarote o cara que eu gosto saindo com outra garota.

— É que o treino me deixou cansado. — inventei. Retirei do mostruário uma camisa cor-de-rosa (lembrando que masculina) e com uma gola “V”, a cara daquele filho do Fábio Junior. Como é mesmo o nome dele?

— Nossa, Gustavo, cê tá mesmo com algum problema. Essa camisa é meio... meio...

— Isso se chama ousadia, meu caro Isaac Sanchez.

Para combinar com a camisa rosa, retirei uma calça estilo Restart, verde limão, e fui até o provador. Para calçar, um par de all-stars. Isaac comprou uma camisa azul, uma calça jeans e um par de tênis. A roupa dele era simples, mas eu o conhecia muito bem para saber que a tática dele seria cobrir o corpo com um perfume caríssimo e, claro, no pulso levaria um relógio que valia mais do que ele mesmo.

Ah, também me lembrei de comprar um celular novo, para tentar entrar em contato com a Gabi e com o QI.

A noite nos esperava.

PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Passaram-se alguns dias desde o acontecido na rodoviária. E dentro desses dias aconteceram algumas coisas, então vou contar aos poucos.

Douglas foi enterrado num cemitério público da minha cidade. Ele seria enterrado como indigente, pois não tinha família, ninguém que se responsabilizasse. Aquilo era tão triste que me fez implorar a minha mãe para ajudar.

Enquanto isso, Márcio QI e eu contamos a alguns colegas nossos a história de Douglas e Lara e eles, sensibilizados, fizeram uma pequena homenagem no enterro do garoto. Um colega levou um violão e tocou uma música do Slipknot, o que me fez relembrar o dia do Rock in Rio.

Ah, a Lara não compareceu ao enterro. Depois da parada cardíaca que ela teve depois do parto do bebê, ela não acordou totalmente. É tipo, meio complicado de explicar. O médico disse que ela estava em coma.

Márcio QI, depois da aula, sempre saía correndo do colégio e ia até o hospital para ficar com a garota. Colocava uma cadeira ao lado dela, pegava a apostila, estudava. Às vezes ouvia música, às vezes conversava com ela, segurando sua mão. Eu quase sempre o acompanhava, e era admirável o jeito que ele se dedicava à Lara. As enfermeiras viviam comentando pelos corredores sobre a atitude do meu amigo e eu acabei ficando com orgulho dele.

QI, quando comentava comigo sobre o assunto, dizia que tinha medo que a Sheila invadisse o hospital e fizesse alguma coisa contra a garota e com o seu filho, assim como fez com Giuseppe. Mas eu sabia que não era apenas por medo que ele estava fazendo aquilo. Era por amor. Márcio Q.I sempre teve nojo de hospitais e postos de saúde.

Quanto ao bebê, por ter nascido prematuro, ficava na incubadora, saindo apenas para ser amamentado por uma ama de leite, uma das voluntárias que sempre estavam lá para salvar da fome os bebês que, ou ficaram órfãos ou, por algum outro motivo, não tinham suas mães para serem amamentados.

E era sempre assim: Enquanto Márcio Q.I observava Lara em coma, eu ficava com o bebê, observando-o na incubadora. Ele era tão fofinho! E todos aqueles dias junto a ele me fizeram criar um vínculo.

— Gostou do bebê, hein Gabi? — disse Márcio QI, naquela noite.

— Ele é um fofo! Acho ele a cara da Lara. Se eu pudesse eu ficaria aqui olhando ele pra sempre.

— Pois é... só que o horário de visitas acabou, infelizmente. A gente vai pra casa e volta amanhã, depois da aula.

— Que pena! Tchau, bebê. — sorri para o neném, que dormia como um anjinho. — Ei, Márcio, eu pensei em colocar um nome nele. Só por uns tempos, até que a Lara acorde.

— Verdade. Ele não merece ficar sendo chamado de “bebê”, “neném”... que nome você pensou?

— Promete que não vai rir?

— Ah, Gabi, por favor! Não inventa um daqueles nomes espalhafatosos que eu me recuso a....

— Gohan.

— Gohan? — perguntou, QI, incrédulo.

— É, tá surdo?

— Isso é nome de personagem de desenho animado. Não, não!

— E daí? Eu gosto desse nome. Tô nem aí, vai ser Gohan e pronto. É um nome diferente e ai de você se achar ruim. Qual é, Márcio QI, vai querer olhar no livro de significado de nomes? Faz-me rir...

Márcio QI acabou concordando com a minha sugestão, que mais pareceu uma ordem.

PALAVRAS DE VALESKA SOARES

Isaac e eu chegamos a um restaurante mega chique, cuja comida era toda requintada, caríssima e que, no prato, não pesava cem gramas.

— Será que elas vão vir? — Perguntei a Isaac enquanto o garçom nos levava até a nossa mesa e nos entregava o cardápio. Ah, e eu esperava que elas não viessem...

— Claro que vão. Garotas sempre se atrasam por causa dessas besteiras de maquiagem.

Comentário machista e ignorante.

— É. Mas se lembre que elas estão se maquiando para nós. E dá trabalho escolher a roupa, escolher o sapato, arrumar o cabelo, escolher os brincos, a bolsa...

— Esse sabe tudo sobre mulher, hein? — Isaac deu outro tapão nas minhas costas. Esse quase deslocou o meu ombro.

Depois de uns quinze minutos, as meninas chegaram. A que acompanharia Isaac era uma loira falsificada, alta, que usava um salto quinze e um vestido curto e extravagante, com um decote imenso. A minha, também era loira oxigenada, um pouco baixinha, e também economizou no tecido. Se ela se abaixasse, daria para ver sua calcinha. E eu esperava que ela estivesse usando calcinha, já que sutiã...

Enfim, começamos a conversar. A minha acompanhante não me largava e ficava sussurrando sacanagem no meu ouvido, me chamando de gatinho, gostoso, etc. A de Isaac não maneirava no vinho. De nós quatro, era a que mais bebia.

— Eu não entendo algumas garotas. Idolatram jogadores de futebol só por causa do dinheiro, óbvio. Se os mesmos fossem frentistas, motoristas de ônibus flanelinhas, será que elas lhe dariam o mesmo prestígio? — mandei a indireta.

As moçoilas nem sabiam do que eu estava falando. Minha acompanhante pegou meu celular, que estava em cima da mesa, e começou a mexer nele. Fiquei com ódio.

— Gustavo, você gosta da Britney? — perguntou ela, olhando minha playlist — Christina Aguilera? Nossa, ele tem música da Lady Gaga e da Katy Perry! Caramba, Kelly Key é do tempo em que o cão era menino hein?

Isaac e sua garota me olharam com o olhar estranho. Tomei meu celular das mãos da oxigenada e bebi um gole de vinho. A comida chegou: um montinho de arroz, um pedaço de algo que parecia lagosta, sei lá e, por cima, um caminho feito com um molho marrom, meio adocicado.

A conversa entre Isaac e sua maria-chuteira ia de vento em popa, enquanto eu não troquei uma só palavra com a minha. Como era de se esperar, Isaac começou a se beijar com a garota e eu fiquei observando, com ódio. Não aguentando ver aquela cena, peguei uma taça de vinho, joguei na camisa de Isaac e corri para fora do restaurante.

Comecei a correr pelo jardim do restaurante, em direção à saída. Enquanto corria, me veio à cabeça o tamanho da burrice que eu fiz e eu acabei chorando. Antes de chegar ao portão, me escorrei numa árvore e comecei a me estapear e chamar a mim mesma de burra o que Gabi com certeza faria se estivesse ali.

Eu coloquei tudo a perder.

Quando eu me recompus, olhei para frente e vi que Isaac estava ali, com sua camisa encharcada de vinho.

— Sai, não quero papo. — falei, tentando disfarçar meus olhos inchados.

— Espera, Gustavo, cara! O que houve? Por que você fez aquilo? E por que está chorando?

— Deixa eu ir embora! — fingir voz de homem enquanto se está chorando é meio difícil, não recomendo.

Quando tentei passar por ele para ir embora, Isaac me puxou pelo braço, com força e me fez ficar diante dele. Novamente eu olhei nos seus olhos e ele nos meus. Eu estava presa a ele, sem saber o que fazer.

— Por que não me conta, o motivo de ter jogado vinho em mim, hein? Depois eu te solto.

— Você não tem o direito de fazer esse tipo de interrogatório comigo! — exclamei, nervosa.

— Claro que eu tenho! Você jogou vinho na minha camisa nova, como se eu tivesse feito algo pra você. Depois eu te pego chorando. Por quê, hein?

— Eu tô arrependi... do.

— De quê?

— De ter vindo pra esse time. — estava cada vez mais complicado manter minha voz de Gustavo.

— Eu não entendo o que isso tem a ver com o que você fez, Gustavo. Eu não tenho culpa...

— Acontece que eu estou gostando de você! — vociferei com minha voz de Valeska e, em seguida, roubei-lhe um beijo, que fez com que ele soltasse meu braço. O beijo durou alguns segundos. Ele parecia até gostar.

Quando percebi a merda que eu fiz, pra variar, aproveitei o fato de ele ter me soltado e me mandei dali.


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Notas finais do capítulo

Eu gosto de comentários :3 kkk
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