Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 30
Bem-vindo ao Mundo III




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PALAVRAS DE LARA PACHECO

Foi tudo muito rápido. Eu não sabia como Douglas havia me encontrado ali pois, para mim, ele estaria no Rio de Janeiro, onde eu o vi pela última vez. Ele, no chão, com um ferimento na barriga, se esvaindo em sangue. Tinha uma expressão de satisfeito. Ele parecia não sentir dor. Ainda respirava, e olhava fixamente para o teto.

— Douglas... — eu me abaixei e apoiei sua cabeça no meu colo. Fiz com que ele olhasse para mim. — aguenta firme, cara, eu vou pedir ajuda.

— N-não, Lara... — ouvi um sopro de voz saindo de sua boca. — Eu... eu só queria pedir o seu perdão.

— Fica quieto, Douglas! Eu...

— Lara, eu preciso do seu perdão! — reuniu todas as suas últimas forças para dizer aquilo. E eu realmente achei que ele adormeceria para sempre.

Douglas salvou a minha vida.

Douglas salvou a vida do meu... do nosso filho.

Talvez ele não sobrevivesse.

— Eu te perdoo. — ele pôde ver uma lágrima escorrendo no meu rosto. O que eu dizia era sincero. E eu vi quando seus olhos fecharam e o último sopro de ar ia embora de seus pulmões.

Douglas estava morto.

Naquele momento a minha revolta era tamanha. Douglas não tinha culpa do que acontecia entre mim e minha madrasta Sheila. Eu rodeava aquele lugar com os olhos tentando procura-la.

Não era justo ela tirar mais uma vida e ir embora impune!

Abandonei o corpo de Douglas ali, observando-o pela última vez. Prometi em meus pensamentos que voltaria. Corri com dificuldades por aquele lugar, saindo do local onde ficavam as cabines telefônicas e chegando ao centro da rodoviária.

Sheila não poderia ir embora. Sheila tinha que pagar! Sheila poderia voltar para terminar o que havia começado: acabar definitivamente com a minha vida.

Eu tinha muito ódio e aquilo fazia mal para mim, principalmente no estado em que eu estava. Em meio àquela multidão de pessoas, comecei a sentir muitas dores. Pontadas que mais pareciam facadas na minha barriga. Achei ser o bebê que se mexia em meu ventre, porém me assustei com aquele líquido que descia entre as minhas pernas e sujava a minha camisola.

Eu havia feito muito esforço e as consequências estavam começando a chegar.

Não aguentei de dor e me ajoelhei. Nenhuma daquelas pessoas apressadas pararam para me ajudar. Aquele era o pior dia da minha vida. A minha vida era a pior dentre todas aquelas vidas.

Eu só pensava no corpo de Douglas, abandonado perto dali. Pensava também no destino do meu filho caso eu desmaiasse ali mesmo. Caí no chão imundo da rodoviária e não me lembro de mais nada.

PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Ok. Eu não gostava de colocar créditos no meu celular por vários motivos, inclusive aquele: as pessoas me ligavam a cobrar. Apenas eu posso ligar a cobrar, ok?

Mas isso não interessa. O que interessa é que eu atendi uma ligação a cobrar e ouvi uma voz familiar do outro lado da linha. O número era daqui mesmo de Fortaleza, porém eu não sabia identificar de qual área seria o prefixo.

Eu poderia deixar isso de lado, todavia eu achei ter escutado a voz de Lara falando do outro lado da linha e isso realmente me deixou bem encafifada.

Com a curiosidade falando mais que os ciúmes, corri até a casa de Márcio QI. Mostrando o número a ele e dizendo do que se tratava, quase que ele me mata de tantas perguntas:

— Tem certeza que era a Lara? O que ela disse? Que horas ela te ligou?! Como ela tava?! Gabi, me reponde! — QI arremessara os livros os quais utilizava para estudar química orgânica.

— Calma, cara! — sentei em sua cama — Ela me ligou quase agora. Bom, eu não sei se era a Lara, mas parecia muito. Ela falou umas duas palavras e depois a ligação caiu.

— Por que não retornou? — perguntou ele, desesperado.

— Deu ocupado. Olha, eu só queria perguntar se você sabe de onde é esse número. Talvez a gente possa encontrá-la. — mostrei o número no visor do meu celular cor-de-rosa. Márcio o tomou da minha mão e ficou observando, com uma cara de quem queria tirar algo da cabeça.

Correu até o computador e jogou o número do telefone binado em um site.

— Eu sabia! — exclamou, correndo pelo quarto, se abaixando para puxar os chinelos que estavam debaixo da cama, calçando-os.

— O quê?

— Esse número é de um dos telefones públicos da rodoviária. Se você estiver certa, tem tudo a ver. Tipo, a Lara pode ter voltado!

— Será que ela sabe da Sheila? Que ela foi presa e que está a solta?

Márcio me olhou preocupado e, sem dizer nada, me puxou pelo braço e começou a descer as escadas de sua casa, me arrastando consigo, passando pelos seus pais que tomavam café da manhã à mesa, até chegarmos ao portão de saída de sua casa.

— Vem comigo até a rodoviária. Ela pode estar precisando de ajuda.

— Será, Márcio? Quando as coisas apertam ela se lembra da gente. — cruzei os braços e bati o pé no chão.

— Então eu vou sozinho.

Márcio realmente gostava de ser pisado, pensava eu, enquanto eu o observava esperando o ônibus no ponto impacientemente. Eu o admirava, parecia que as coisas que a Lara lhe dissera não causaram impacto nenhum no que ele sentia por ela.

Fiquei pensando se QI a perdoaria, mesmo ela tendo o maltratando e estando com outro.

Engoli a seco quando pensei que eles poderiam até namorar, um dia.

— Me espera! — gritei, quando vi o busão se aproximando e Márcio QI subindo. — Eu vou também! — quando me viu, ele fez careta. Não trocamos uma palavra pelo caminho todo.

PALAVRAS DE MÁRCIO FERRARI

Descemos do ônibus. Corri na frente, atravessando a avenida e deixando Gabriela par trás. Ela ficou maluca, pois o sinal acabou abrindo e impossibilitou que por alguns segundos ela atravessasse a avenida.

Havia um amontoado de gente no local; sim, como se tratava de uma rodoviária aquilo era normal, porém, aquele aglomerado de gente, daquele jeito, era incomum. Havia uma ambulância e um carro da Perícia Forense estacionados ali perto. Meu coração começou a palpitar.

Corri, tentando passar por aquelas pessoas, que rodeavam alguma cena que acontecia ali. Quando mais eu tentava me aproximar para ver o que estava acontecendo, mais difícil ficava de chegar até o local.

Passando por baixo dos braços das pessoas curiosas, eu costurava o caminho e, finalmente, cheguei.

— Ela tá morta?

— Acho que não, mas está muito mal... talvez o bebê sobreviva.

— Falaram que o rapaz que estava com ela morreu. Foi um tiro no estômago.

As fofocas daquelas pessoas me faziam imaginar muitas coisas, porém o que os meus olhos viam eram apenas paramédicos tentando reanimar uma garota que parecia estar desacordada e, por sangrar muito entre suas pernas, parecia estar entrando em trabalho de parto.

Os socorristas a colocaram em cima daquela espécie de maca e a levantaram, provavelmente para leva-la até a ambulância que estava estacionada do lado de fora da rodoviária.

Pediram para que as pessoas se afastassem e liberassem caminho. E eu, apenas olhava fixamente para a cena, tentando ver o rosto da garota. Começaram a carrega-la para o lado de fora, passando pelo espaço que as pessoas deixaram. E, quando passaram por mim, pude ver o rosto da garota rapidamente:

Era a Lara!

Eu não sabia se estava mais assustado por ela estar abandonada ali, naquele estado ou por ela estar grávida!

Tentei segui-los, mas a medida que os socorristas passavam com Lara pelo caminho, as pessoas o fechavam, impossibilitando que eu passasse. Quando finalmente cheguei perto da ambulância, o socorrista já estava dando partida no veículo.

— Pare! — gritei — eu a conheço!

— Estamos com pressa, garoto! — disse o motorista, ligando a sirene e dando partida na ambulância.

— Me deixem entrar e ir com ela! — fiquei no meio para que o veículo não saísse do lugar.

Vendo que sem mim aquela ambulância não iria sair dali, deixaram que eu entrasse. Lara estava tendo os primeiros socorros ali mesmo, enquanto o motorista seguia a todo vapor para o hospital mais próximo.

Sua respiração estava fraca. Ela perdia muito sangue.

— Precisamos chegar a tempo ou o bebê corre sérios riscos. — disse um dos socorristas.

Segurei na mão de Lara e apertei forte. Observei seu rosto com aquela máscara de oxigênio e desejei que ela e o bebê ficassem bem.

PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Quando finalmente consegui atravessar a avenida, fiquei procurando Márcio QI por aquela rodoviária, mas havia um amontoado de gente e era como procurar uma agulha no palheiro.

Só depois prestei atenção que ali estava a polícia, a perícia e uma ambulância havia acabado de sair dali a todo o vapor. Um frio tomou conta da minha barriga, pois deduzi que ali poderia realmente ter acontecido algo sério.

A polícia já colocava aquelas faixas amarelas, interditando a passagem dos curiosos. Eu queria saber o que estava acontecendo.

Quem estava ali depois daquela faixa amarela?

Consegui chegar perto e vi que havia um corpo: um rapaz, jovem, cabelos compridos, ensanguentado: Douglas Loreto.

Meu coração disparou, pois eu comecei a pensar o pior. Fiquei como uma maluca procurando por Márcio QI e por Lara, pensando em Sheila, que estava à solta e que aquilo poderia ter sido obra dela.

Pobre Douglas... eu tentava sentir pena, mas meu desespero falava mais alto. Foi quando eu vi uma repórter que, diante da câmera, falava sobre o acontecido:

— O garoto, identificado pela polícia por Douglas Borges Loreto acabou morrendo no local. A polícia ainda não sabe qual foi o motivo do homicídio. Já a moça que, segundo testemunhas, estava com ele acabou entrando em trabalho de parto e foi levada às pressas para o Hospital de Geral de Fortaleza em estado grave. Seu nome é Lara Pacheco Oliveira, de dezoito anos...

Lara... Pacheco... Oliveira. Em trabalho de parto? Hospital.

Sem pensar duas vezes eu corri, acreditando que Márcio estaria com ela.

E que Deus tivesse piedade da alma de Douglas.

PALAVRAS DE MÁRCIO FERRARI

(Recomendo ouvir Nickelback – Lullaby)

Os médicos colocaram Lara em cima de uma outra maca, para que pudessem transportá-la até a sala de partos, onde seria submetida a uma cesariana.

Corri pelos corredores, seguindo-os, até chegar a uma por porta onde eu já não podia mais esperar. Desesperado, comecei a dar batidas na porta, exigindo entrar. Eu queria saber o que estava acontecendo!

Eu me preocupava com ela!

Foi quando eu consegui entrar e, desviando dos médicos e enfermeiras que transitavam por ali. Rodeei, procurando pelo lugar onde haviam levado Lara, mas não estava conseguindo achar. E eu estava como um intruso, vagando por ali como se eu pudesse realmente ser a pessoa que salvaria a vida de Lara e de seu filho.

Todas as salas de cirurgia tinham grandes janelas de vidro, as quais do corredor podiam mostrar o que acontecia nas salas. E foi por uma dessas que eu vi Lara, lutando por sua vida, enquanto os médicos tentavam salvar o bebê.

E eu vi quando o bebê nasceu: era um menino. Era tão pequeno, parecia prematuro. Quase cabia na palma de uma das mãos do doutor. Contudo, parecia estar bem.

Com todo cuidado, ele cortou o cordão umbilical e entregou o bebê à enfermeira. E Lara, Lara continuava lá, desacordada. E eu tinha a esperança de que quando passasse a anestesia ela acordasse.

Eu ouvi o barulho das máquinas que monitoravam seus batimentos cardíacos. Era um barulho contínuo, que fez com que os médicos ficassem desesperados.

O coração de Lara havia parado.

— Garoto, venha! Você não pode ficar aqui! — disse alguém, eu não prestei atenção. Eu finquei meus pés no chão e agarrei minhas mãos ali mesmo. Não sairia até que Lara estivesse bem. Os médicos já preparavam o desfibrilador e passavam uma espécie de gel transparente em seu peito.

Primeira tentativa, tinha que dar certo. Eu chorava, eu rezava, eu fazia promessas para que tudo ficasse bem. Porém, as coisas pareciam piorar.

Várias descargas elétricas eram aplicadas sobre o seu peito com a ajuda do aparelho, várias em vão. Na última tentativa, a máquina que monitorava seus batimentos cardíacos finalmente começou a dar sinal.

Eu sorri, finalmente. Os médicos também pareciam aliviados.


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Notas finais do capítulo

Gente, passada essa fase la mucha honra da fic (Maria do Bairro), vai ter um destaque maior pra Gabi , pois eu sei que ela tá meio apagada, só servindo de anjinho pros amigos rsrsrs
O que acharam?

Vou recomendar uma fic pra vocês, quem quiser ler
http://fanfiction.com.br/historia/512841/Traduzido_pelo_brilho_dos_meus_olhos/



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