Dead Inside escrita por Valentina
Notas iniciais do capítulo
Oláaaa flores! Desculpem a demora.. Antes de tudo, obrigada aos novos leitores que estão acompanhando a história, e eu adoraria se vocês expressassem mais a opinião de vocês! Como vou saber se gostam? Deem o ar de sua graça. Enfim, depois desse flashback, a ordem cronológica voltará ao normal. Boa leitura!!
5 ANOS ATRÁS
“Calem-se, pelo amor de Cristo” – tia Karen disse visivelmente irritada. Parecia que ia espumar a qualquer segundo. – “Eu preciso pensar” – ela levou os dedos até suas têmporas, massageando o local.
Eu e Jeremy nos entreolhamos, abafando o riso. A televisão estava ligada no último volume, e a moça do telejornal falava alguma coisa sobre a França e greve de ministros, ou população fazendo greve contra ministros, enfim, não que eu quisesse prestar atenção.
“Desculpe tia Karen” – Jeremy falou, tentando soar sério.
Vê-lo de cabeça recém-raspada e espremido dentro de um uniforme do exército, com certeza é a coisa mais estranha do mundo. Como se ele fosse um adulto, sendo que não é. Uma criança chorona que brinca com uma menininha sem graça.
“Ei” – ele me cutucou – “Como está o seu pai?” – aquela pergunta me causou um arrepio desconfortável, e tive que desviar o olhar.
“Sem chances de sair do coma, pelo menos, por enquanto. Acho que vou ficar aqui por um tempo” – eu disse, procurando não soar ingrata pela bondade de minha madrinha. – “Quando você vai ser convocado? Tipo, lutar contra nazistas e tudo o mais” – eu quero desesperadamente mudar de assunto.
“Blair” – ele falou, arqueando as sobrancelhas – “Hitler morreu” – ele falou por fim, como se estivesse me dando a maior notícia de todos os tempos, segurando meus ombros com firmeza como se eu fosse me debulhar em lágrimas.
“Oh não” – eu levo a mão à testa fingindo estar passando mal – “Não creio!” – tento forçar algumas lágrimas, mas como não consegui, dei umas fungadas.
“Jeremy, sua mãe está no telefone” – só então percebemos que tia Karen estava com o celular pendurado na orelha, como de costume.
Ela passou o aparelho relutantemente para Jeremy, que o pegou enquanto revirava os olhos. Quando Barbra, a mãe dele, começou a falar, eu já poderia dizer de longe que era ela; gritava como se usasse um megafone portátil, dando broncas seguidas de broncas.
“Sim” – ele disse, desinteressado – “Sim, mamãe” – uma pausa. – “Não mamãe, ela tem onze anos” – ele olhou para mim com um sorriso de conto – “Prometo que não irei fazer nada. Juro” – ele tentou não rir, mas soltou uma gargalhada fraca que foi notada, e obviamente, mereceu conseqüências – “Desculpe, não estava caçoando da senhora” – ele se apressou em dizer. – “Também te amo, tchau” – ele falou o mais rápido que pôde e devolveu o celular para tia Karen.
“Falando em namoradas” – eu tento soar como uma daquelas secretárias de vestido curto, mas não consigo. – “Porque, de acordo com a sua mãe, sou uma delas” – eu rio e ele também, o que me faz continuar. – “E Ellie?” – ele parece recuar de imediato.
“O que tem ela?” – ele desviou o olhar para a televisão, como se estivesse repentinamente curioso com a França e seus ministros.
“Bobão apaixonado” – eu começo a rir freneticamente – “Ainda não se declarou? Faça-me o favor, Jeremy, você tem dezoito anos!” – eu digo, dando-lhe um soquinho no ombro, que aliás, machuca a minha mão. Seus músculos, além de duros graças aos exercícios físicos, estão retesados.
“Você só tem onze anos, o que pode saber da vida?” – ele retrucou com ignorância.
“É você quem conversa comigo. Eu te faço um favor sendo sua amiga” – eu falo, provocando-lhe um acesso de risos incontrolável.
“Calem-se! Não podem ver que eu estou falando com a minha irmã?!” – tia Karen gritou. – “Então, Barbra, fui verificar o extrato ontem e deu...” – ela continuou sua conversa com a mãe de Jeremy calmamente, como se nada tivesse acontecido.
“Blair” – ele começou, com aquele tom de cachorro abandonado.
“Diga” – senti minhas bochechas ruborizarem, mas escondi a vermelhidão habilmente esfregando-as como se estivessem dando coceira.
“Você é como uma irmã pra mim, sabe disso” – assenti rapidamente para que ele pudesse continuar. – “E tia Karen não tem marido” – ele completou, tentando insinuar alguma coisa, mas eu não consigo compreender. – “E com seu pai em coma...” – ainda não compreendo. – “Quero que saiba que é só me chamar sabe. Se precisar de uma... Sei lá, figura masculina. Paternal. Fraternal. Você entendeu” – ele parece envergonhado e eu solto uma risada.
“Você, figura masculina? Eu sou mais macho que você, Jeremy” – ele fez uma cara de ofendido e começou a me fazer cócegas.
Acho que estou roncando feito um porco com minha risada patética, o que parece atiçá-lo ainda mais.
“Jeremy” – tia Karen falou com toda a paciência do mundo – “Blair” – ela sorriu falsamente. – “Vão para algum lugar onde suas vozes só possam ser ouvidas a um raio de mil quilômetros” – ela apontou para a porta dos fundos.
Tia Karen, oras, uma mulher muito gentil e caridosa, sempre de bom humor. Mas havia uma coisa, um detalhe ínfimo, que a irritava mais do que tudo; ser incomodada enquanto falava ao telefone, ou enquanto assistia televisão.
Jeremy agarrou meu pulso e seguimos saltitantes, feito retardados, para o jardim dos fundos.
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E aí? Comentem, continuem acompanhando, e prometo que vou tentar demorar menos para postar o próximo!! -mão na testa
Beijos, Valentina.