Dead Inside escrita por Valentina


Capítulo 10
Chocolate


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, obrigada de coração pelos vinte e três acompanhamentos e os cinco favoritos. Acho que fiquei até mais romântica escrevendo por causa disso. -Q
Espero que curtam esse capítulo, amores.



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Carl tinha escolhido uma casa interessante. Por fora, parecia completamente normal, pertencente a um típico casal de classe média do subúrbio. Entretanto, por dentro, a coisa mudava de figura. Paredes coloridas, móveis esquisitos de formas e estampas variadas, tapetes felpudos demais e fotos borradas cheias de sorrisos triplos que na verdade eram um só. Quem quer que tenha morado ali, devia ter sido um sujeito engraçado. Ou drogado. Ou ambos.

“Não acredito!” – um sorriso enorme se formou no rosto dele, e os olhos azuis brilharam. Não pude evitar que eu mesma deixasse um sorriso escapar. – “Ele colecionava gibis!” – a voz de Carl estava inundada em felicidade enquanto admirava o conteúdo no pequeno closet debaixo da escadaria.

Aproximei-me para enxergar melhor e me deparei com as pilhas gigantescas de histórias em quadrinhos. De diversas cores e títulos, personagens e épocas. Creio que as pilhas estavam organizadas em ordem de lançamento, pois as primeiras estavam mais amareladas e emboloradas.

Soltei uma gargalhada involuntária. Ele parecia uma criança e era estranho vê-lo assim. Eu estava acostumada com o Carl sério, com quem conversava sobre coisas sérias e profundamente emocionais. Com um Carl de olhar frio e expressão compenetrada. Essa na minha frente era uma da facetas dele das quais eu nunca confiaria existir. Mas eu gostei.

“Achei o paraíso, Blair!” – ele se virou para mim com o sorriso ainda estampado no rosto. Eu tentei devolver a ele um sorriso maior ainda, mas eu sabia que não se equivaleria ao dele, originado de uma felicidade genuína e pura.

“Ah, temos significados bem distintos da palavra paraíso. Vou ver se acho um depósito de chocolates” – eu falei, e comecei a andar pelo corredor à procura da cozinha ou da dispensa ou do porão, ou do que viesse primeiro.

Ele não respondeu. Deduzi que estava entretido demais, e fiquei feliz com isso. Feliz por ele estar tão feliz.

Avistei azulejos de cor laranja neon, enfeitados por um desenho do que achei ser uma tigela de macarrão. Assim que entro no cômodo, percebo que o morador desta casa não era muito normal. Nem um pouco normal, para ser honesta. A geladeira tinha um formato estranho e uma cor vermelha vibrante que fez com meus olhos se fechassem com o impacto visual. A mesa não era redonda, nem quadrada; era triangular. O fogão tinha nove bocas (jurava que isso não poderia existir) e a pia era de mármore rosa. Rosa.

Respirei fundo e comecei a abrir os armários de madeira tingidos de azul-bebê. Acho que eu poderia morar naquela casa. Ela trazia um espírito de felicidade tão grande que mesmo com tantas cores diferentes, tudo combinava a seu modo. Enfim. O armário estava repleto de latas e pareciam cheias. Entretanto, o prazo de validade dizia que todas tinham expirado há mais de um ano. Acho que não eram confiáveis. Mesmo assim, peguei quatro, para prevenção. Sopa de tomate.

Avistei algumas garrafas de água, acho que cinco. Eu as peguei imediatamente e as soquei no interior da mochila. Alguns alimentos esquisitos também estavam armazenados lá, mas os rótulos estavam escritos em russo e eu achei meio... Suspeito. Decidi deixá-los por lá mesmo.

Enfiei minha cabeça dentro do armário para que eu pudesse enxergar o que tinha bem no fundo dos compartimentos. Estava um pouco escuro, mas a claridade natural da manhã permitiu que eu pudesse ler algumas coisas. Ervilhas, feijão, banana caramelada. Eca, banana. Quando estava prestes a pegá-las para guardá-las, senti algo tocar minhas costas. Segurei um grito e girei o corpo, erguendo o machado.

Respirei com tamanho alívio quando percebi que se tratava apenas do Carl...

“Calma” – ele riu, segurando o machado junto a mim. Tentei controlar meu coração, que ameaçava pular para fora da boca, no instante em que nossas mãos se tocaram, fechando o cilindro de madeira maciça. – “Trouxe uma coisa pra você” – estávamos tão próximos que quando ele se afastou um pouco percebi que estava prendendo a respiração.

Carl recuou alguns centímetros e pôs uma expressão animada no rosto. Revirou o conteúdo do bolso frontal de sua mochila e retirou de lá uma pequena embalagem amarronzada.

“Achei no meio dos gibis” – ele ergueu apenas uma das sobrancelhas e lançou um olhar sugestivo. Estendeu a mão com a embalagem aninhada em sua palma e eu finalmente pude saber do que se tratava. Chocolate.

“Meu Deus! Faz dois anos que eu não sei o que é isso!” – eu peguei das mãos dele com tanta pressa que esqueci que as toquei e de como eu me sentia quando fazia isso. O arrepio costumeiro navegou pelo meu corpo, mas a excitação de ver o chocolate estava superando isso tudo.

Sem poder me controlar, eu o abracei. No começo, ele ficou estático. Mas logo seus músculos se relaxaram e ele correspondeu. Eu o apertei com força e repousei minha cabeça em seu ombro.

“Obrigada” – sussurrei em seu ouvido.

Subitamente, Carl tornou-se rígido novamente. Ele se afastou um pouco, e olhando de soslaio, percebi que ele encarava o corredor com os olhos semicerrados, alertas.

“Fique parado” – eu ainda estava próxima demais a ele, e senti quando suas mãos encontraram o coldre e seguraram firme sua arma.

Virei meu corpo cautelosamente, segurando o machado, preparando-me para decepar o que quer que estivesse incomodando Carl.

“Blair?” – ouvi meu nome. Ouvi meu nome naquela voz. Uma voz que eu achei que nunca mais ouviria.

Meus olhos não podiam estar mais abertos, mas tentei os abrir ainda mais. Constatei apenas o que achei ser uma ilusão: Jeremy.

“Ah meu Deus! Jeremy!” – minha voz soou desesperada e eu corri até ele.

Jeremy era muito mais alto que eu. Eu o abracei com toda a minha força, enquanto minha cabeça recostava-se em seu peitoral. Ele me envolveu em seus braços compridos e beijou o topo de minha cabeça. Ele parecia estar me ninando, e eu, parecia estar sonhando.

“Você está uma verdadeira dama” – ele cochichou em meios aos risos baixos e tímidos, típicos de sua personalidade retraída e extremamente carinhosa. – “Mas não ouso dizer que cresceu” – eu ergui minha cabeça, encarando seus olhos cor de chocolate. Ah, chocolate. Tentei continuar com meu olhar ameaçador, mas devia estar mais engraçado do que o eu planejava.

Com relutância, desgrudei-me de seu corpo e o encarei com um sorriso besta no rosto. Jeremy. Quem diria. Então, lembrei que Carl estava presente.

“Ah. Jeremy, esse é Carl. Carl, esse é Jeremy, meu...” – eu os apresentei com gestos rápidos, mas não pude terminar de falar. Um barulho alto ecoou pela casa. Barulho de porta sendo arrombada.


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Notas finais do capítulo

O que será que ele é da Blair? Hm. Reviews??
Beijos, Valentina.



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