Another Life escrita por MsNise


Capítulo 18
Sorrindo


Notas iniciais do capítulo

Se começamos o ano com o pé direito, vamos continuar com o pé direito. Chega de depressão, chega de infelicidades, chega de se jogar no chão para morrer. Agora é hora e sorrir e comemorar pelo retorno mais aguardado!
Leiam ouvindo: https://www.youtube.com/watch?v=yaIcIDVWOz4
Boa leitura :*



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Jeb foi o primeiro a me ver dentre todas aquelas pessoas. Ele, com toda a sua experiência, parecia certo de que eu voltaria. Lançou-me um sorriso seguro e piscou um de seus olhos para mim, como se quisesse dizer que sempre tinha acreditado em mim. Devolvi seu sorriso.

Não encontrei nenhum sinal de Kyle ou Sunny na cozinha; eles que aproveitassem seus momentos a sós. A mão de Jamie entrelaçada à minha pulsava fortemente e eu sorri de satisfação ao ver aquele lugar exatamente como eu lembrava, ao ver minha vida voltando ao normal.

Foi então que Peg encontrou o meu olhar. Ela interrompeu o que dizia e ficou me olhando estarrecida, como se acreditasse que eu fosse um fantasma. Todos voltaram então seus olhares para o casal parado na entrada da cozinha, mas eu só estava interessada no olhar de Ian.

Ele virou-se com o cenho franzido. Quando identificou-me, seus olhos se arregalaram e se estreitaram em um único instante. Lancei um sorriso certeiro para ele e caprichei em minha postura, para que ele percebesse que aquela era realmente eu, a garota que ele havia salvado. A sua irmã.

Como se para confirmar mais ainda o que via, levantou-se e passou a seguir em passos apressados em minha direção. Jamie discretamente soltou as nossas mãos e recuou um passo e, mesmo que eu não o tenha visto, sabia que ele estava sorrindo quando eu me enterrei no aperto familiar de Ian.

Fechei meus olhos e não consegui controlar a satisfação de sentir seus braços caindo pesadamente sobre meus ombros e de sua cabeça sendo apoiada à minha. Ele me apertou firme, um aperto tão forte que se tornou sufocante, mas eu o entendia. Abracei-o com toda a força que eu tinha e não lutei contra as lágrimas de satisfação que passaram a escorrer pela minha face.

Depois de se certificar que eu era real, afastou-se alguns centímetros de mim e ergueu meu rosto para o seu. Identifiquei algumas lágrimas escorrendo por seu rosto, no entanto o seu sorriso era maior do que tudo que eu já havia visto.

— Já estava indo te buscar, mocinha — ele me repreendeu ainda sorrindo e acariciando a minha bochecha. Lancei-lhe um sorriso amarelo.

— Não é preciso — murmurei. — Já estou aqui.

— Um pouco atrasada.

— Mas eu estou aqui.

Ele ficou me encarando por um tempo, parecendo realizado. Lembrei-me então de muito tempo atrás, quando ele quase morreu por minha causa… Ian ficou apenas uma semana desacordado e eu quase morri. Dois meses foi mais pesado e ele sabia que eu corria um risco absurdo de vida. Conseguia compreender o que ele tinha sentido.

— É — ele me puxou novamente para um abraço e apoiou sua cabeça na minha. — Você está aqui. Você está finalmente aqui.

Eu estava. Apertei mais forte a sua cintura larga, sentindo mais uma onda de lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Chorar. O meu antigo tormento havia se transformado em minha dádiva. Deixei de chorar por aquilo que me matava e me destruía e passei a chorar pelo que me mantinha viva e me reconstruía. Minha família.

O meu irmão, vivo, humano, segurando-me contra seu corpo novamente era reconfortante. Suspirei por senti-lo tão real. Ian, que havia me salvado tanto tempo antes. Ian, que havia me salvado mais de uma vez. Eu lhe devia duas vidas; não somente uma, uma não seria o suficiente para agradecer o quanto ele tinha feito por mim.

Não tinha percebido o quanto ele estava fazendo falta até sentir os seus braços novamente ao meu redor e ouvir a sua voz alta e empolgada. Talvez Kyle tenha o compensado… Mas a verdade é que eu estava sentindo simplesmente muita falta do nariz reto de Ian. Não pude evitar uma risada com o pensamento solto.

— Jamie? — era a voz assustada de Kyle que surgiu de algum lugar fora da cozinha. Não, assustada era praticamente pouco. Kyle era explícito demais para ser simplesmente assustada. Era, vejamos, uma voz apavorada e muito, muito alta, que não escapou dos ouvidos de ninguém. Era o antigo Kyle, não tão delicado e gentil, e sim bruto e espontâneo.

— Kyle — Jamie assentiu com as mãos nos bolsos e um sorriso despreocupado em seus lábios. Ele sabia que estava quase fazendo papel de fantasma e se divertia com aquilo.

Soltei do abraço de Ian e vi sua expressão se transformar em uma carranca. Tentei descobrir o motivo, sem muito sucesso. Ouvi então sons de passos se aproximando e logo dava para ver a cara de Kyle na entrada da cozinha, com uma Sunny pequena atrás de si. Achei o contraste entre eles engraçado e agradável. Tudo estava tão colorido que não parecia real.

— Susi, você…? — Kyle começou com a boca aberta, apontando para Jamie que estava atrás dele.

— Eu sei, Kyle — assenti sorrindo e logo avancei para ele, segurando em sua mão e o arrastando comigo. Ele ainda não tinha tomado banho e parecia bem intimador todo sujo. Nada a que eu já não estivesse acostumada. — E você também já sabe agora. Jamie está vivo e é uma história muito longa para eu te atualizar nesse momento. Você saberá em alguma hora. Mas acho que tem um reencontro mais importante nesse momento para você. Ian também está vivo e humano e na sua frente. Você não vai realmente desperdiçar isso, vai?

Soltei sua mão quando o deixei em frente ao Ian, que permanecia de braços cruzados e olhos semicerrados, tentando bancar o valente. Sua emoção não conseguia ser escondida tão facilmente quanto ele pensava. O que ele está tentando fazer?, balancei a cabeça negativamente assim que o pensamento me invadiu. Fui para perto de Jamie e ele passou um de seus braços pelo meu ombro. Encostei-me a ele em um momento tão íntimo que ninguém ousou quebrá-lo.

— Seu estúpido! — Ian xingou. — Como pôde ir para a floresta e levar Susan junto com você, correndo um perigo absurdo?

E então eu entendi para o que Ian se preparava: brigar com Kyle. Eles não podiam nem esperar alguns minutos. Senti que todas as vezes que algum deles voltava de uma incursão havia alguma briga como essa. Jamie, praticamente lendo os meus pensamentos, cochichou em meu ouvido: — Você tinha que ver quando Kyle voltou de uma incursão e o Ian tinha se tornado amigo da Peg.

Dei uma risadinha ao pensar.

— Estúpido é você — Kyle devolveu à altura. — Deveria haver algum modo alternativo de escapar dos Buscadores.

— É fácil dizer — Ian protestou. — Você não estava lá naquele momento!

Kyle rosnou, parecendo perturbador aos espectadores que os assistiam discutir. Revirei meus olhos, acostumada àquele tipo de cena, conhecendo-os da forma como eu os conhecia. Explosivos. Mesmo Ian, o mais calmo dos dois, sabia muito bem como explodir quando queria.

— Qual é — reclamei com um sorriso em minha boca. — Vocês realmente vão brigar todas as vezes que voltarem para as cavernas? — ambos me olharam de maneira irritada e eu não controlei uma gargalhada. — Vocês estão felizes que se reencontraram, eu sei que sim! Chega de brigas por hoje, haverá muito tempo para discussão. E não me importa todos os seus argumentos e reclamações. Vocês estão vivos, saudáveis e acabaram de se reencontrar depois de dois longos meses. E nada importa mais do que isso. Então, se abracem de uma vez, seus orgulhosos.

Eles me encararam por mais alguns longos segundos; o suficiente para eu pensar que não se renderiam. E então Kyle olhou para Ian e lhe estendeu a mão, a qual Ian pegou sem pensar duas vezes. Eles se abraçaram em seguida e Kyle bagunçou o cabelo de Ian, falando alguma coisa somente para ele ouvir. Ian riu. Sorri ao ver a cena agradável e Jamie acariciou meu braço, para confirmar que ele compartilhava aquele momento comigo.

Depois que se soltaram, Kyle deu uma chave de braço em Ian agilmente e seguida deu-o uma gravata. O público se agitou, mas não havia nenhuma chama de briga enquanto Kyle segurava Ian pelo pescoço e ele se debatia. Jamie abraçou-me por trás e eu entrelacei nossas mãos enquanto assistia à cena com um sorriso satisfeito. Aqueles meninos; que já eram dois adultos, que tinham suas namoradas e que cuidavam muito bem de sua irmã de dezesseis anos. Os meus meninos, de uma forma ou de outra.

— Não pense que pode ganhar de mim — Kyle desafiou Ian com um sorriso amplo em sua boca.

Ian respirou fundo e forçou seu pescoço contra o braço de Kyle, parecendo sufocar de verdade. Nem mesmo naquele momento me preocupei. Kyle, ao ver que Ian sufocava, rapidamente soltou o irmão, que virou-se em um rápido movimento e utilizou do mesmo golpe de Kyle, prendendo-o em seus braços.

— O que tinha dito mesmo? — Ian provocou, bagunçando o cabelo de Kyle.

— Idiota.

Ian soltou-o com um sorriso em seu rosto e eles se cumprimentaram. — Você ainda sabe como reagir — Kyle elogiou.

— Talvez porque eu saiba usar a cabeça — Ian retrucou, esquivando-se imediatamente do soco sem força que Kyle ameaçou dar em seu estômago.

Ri agradavelmente e me desvencilhei dos braços de Jamie, avançando até meus irmãos.

— Chega, rapazes — sentenciei. — Vocês sabem que…

Mas eu não tive tempo de terminar o que falava. Ian e Kyle esmagaram-me em um abraço, cada um apertando-me de um lado. Era sufocante; eu não sabia onde colocar minhas mãos ou enfiar meu rosto. Apenas não conseguia controlar as minhas risadas satisfeitas por senti-los tão vivos e próximos a mim e por sentir o nosso relacionamento agradável, mesmo depois de um tempo de sofrimento.

Havia lido em algum livro — não saberia dizer qual — que um segundo de felicidade elimina uma eternidade de tristezas. E comprovei que isso era verdade quando me senti envolvida por um emaranhado de braços grandes e seguros que si, que poderiam me carregar a vida toda. Todo aquele sofrimento que havia passado parecia esquecido, jogado em algum canto dentro de mim, e talvez só precisasse ser lembrado quando eu me sentisse fraca. Porque então eu compreenderia que já havia passado por coisas piores, terríveis, como a perda de minha essência, e me sentiria invencível.

Recebi vários abraços naquele dia ainda. Todos carinhosos e alegres. O clima estava tão leve na caverna, tão delicado, que ninguém conseguia conter o sorriso. Eu não entendia; aquilo não podia ser somente por duas pessoas. E, no entanto, eu sabia que era. Éramos uma família, uma unidade, e estávamos intrincados. Obviamente, Kyle e eu importávamos muito mais do que eu poderia imaginar. Sem nós, a nossa família ficava incompleta, vazia.

E, naquele momento das comemorações, ela estava preenchida. Sem nenhum buraco, nenhum vazio, nenhuma oscilação em sua estrutura.

Quando as comemorações se acalmaram e a unidade se dividiu em diversos grupos, os casais se reuniram. Jamie e eu, Kyle e Sunny, Ian e Peg, Jared e Mel. Ficamos em uma rodinha e conversamos sobre os acontecimentos mais recentes. Atualizações dos acontecimentos do trio que tinha se infiltrado no meio das almas, principalmente. Houve poucos comentários sobre a época que fiquei com Kyle nas florestas; de qualquer maneira, parecia um assunto pesado demais para ser tocado naquele dia. Jamie permanecia grudado a mim como um vício, ainda abraçando-me por trás. Kyle parecia grudado igualmente à Sunny, e eu sorri ao constatar a felicidade do casal contrastante.

— E então, Ian — comentei quando chegou a parte que ele contava que tinha permanecido no corpo. — Você não se entregou para a alma?

Ele balançou sua cabeça negativamente. — Qual é, você realmente achou que eu entregaria os pontos? Sou um lutador, Susi! — ele se vangloriou e sua atitude me fez revirar os olhos. — Acha mesmo que eu deixaria uma centopeia brilhante de oito centímetros me dominar?

Peg não pareceu ofendida com a forma que Ian se referiu a uma alma. Ela sabia que não era maldoso.

Com um sorriso sapeca, assenti: — Tenho certeza disso, na verdade.

Ele franziu o cenho ao me olhar.

— Acho que você já foi dominado por uma centopeia brilhante de oito centímetros, se é que me entende — pisquei um de meus olhos para ele e vi Peg corar ao seu lado, fazendo-me soltar uma risada espontânea. — Não precisa se envergonhar da verdade, Peg — mesmo assim, ela se enterrou nos braços de Ian e ele me olhou com um sorriso divertido em seus lábios.

Jamie apertou seus braços ao meu redor e eu encostei minha cabeça em seu peito.

— Contando assim, parece que tudo foi maravilhoso — a voz de Jamie tinha um tom discreto de amargura. — Na verdade, foi bem ruim. Nada muito empolgante para mim, pelo menos.

— Ah, para mim foi super empolgante — ironizei. Ninguém achou o meu comentário engraçado. — Foi horrível — um tom sóbrio e pesado havia se estabelecido em minha voz. Jamie o topo de minha cabeça.

— Nunca mais me façam passar por isso de novo — Sunny exigiu com o cenho franzido, tentando talvez quebrar um pouco o clima. Não demorei para perceber que era apenas um comentário que ela precisava fazer. Ela precisava nos repreender pela empreitada em que nos metemos.— Vocês me deixaram tão preocupada!

— Foi por uma causa nobre — justifiquei, procurando pelo olhar cúmplice de Jamie. — E, além de tudo, encontrei o que procurava — ele sorriu ao me olhar hipnotizado. Quebrei o nosso momento íntimo para encarar Kyle. — E acho que aprendi muitas coisas.

— O que quer dizer? — Kyle perguntou com os olhos estreitos.

— Quero dizer… que precisamos engolir as lembranças para superá-las — murmurei, sustentando seu olhar com um sorriso em minha face. — Quero dizer também que até os mais fortes sucumbem — inspirei profundamente. — Mas, principalmente, que um grande amor derrete até pedra, mesmo que isso pareça impossível.

Ele arqueou suas sobrancelhas, entendendo quais foram os meus “aprendizados”.

— Você é um homem sábio, Kyle — elogiei. — Sabe das coisas. E espero que a Sunny aproveite muito disso.

Ele sorriu de forma ampla para mim, balançando sua cabeça negativamente. Uma surpresa e tanto eu ter absorvido suas palavras e utilizado-as em minha vida. E depois ainda tê-lo elogiado. A verdade, e ninguém poderia questioná-la, era que Kyle havia me salvado. Sem ele, eu não teria aguentado a nossa temporada na floresta e não aprenderia a ser forte. Seria grata pelo resto de minha vida por tudo o que ele fez por mim, desde se afastar de sua amada para se arriscar em uma floresta até me carregar durante a noite para um lugar seguro.

Suspirei, voltando o meu olhar para Melanie. Mesmo que nunca tenhamos sido amigas de verdade, naquele olhar nós nos tornamos cúmplices. Porque eu sabia que ela havia sentido tanta angústia quanto eu e que, enquanto eu me jogava no chão no meio da floresta para me entregar, ela se jogava no seu colchão e enterrava sua cabeça no peito de Jared. Havíamos sentido a mesma coisa, mesmo que os nossos sentimentos com relação a Jamie fossem diferentes. Ninguém poderia duvidar da intensidade deles, no entanto.

Não precisamos dizer nada. Aquela troca de olhares traduziu tudo o que queríamos falar.

Fechei meus olhos, agradecendo a algum ser superior que havia trazido Jamie novamente para mim. No mundo dos humanos, chamavam esse ser superior de Deus. Portanto, agradeci a Deus por Jamie estar são e salvo e por eu poder ser abraçada por ele gentilmente naquele momento.

A origem eu não saberia dizer; foi algum bem-intencionado que deu início a um som que poderia ser reproduzido por todos. Soltei das mãos de Jamie quando percebi que o som se propagava como uma onda, atingindo até aos mais isolados. Sorri e imitei o que os outros estavam fazendo. Era um barulho agradável de chuva de felicidade. O barulho da comemoração.

Estávamos aplaudindo alguma coisa. Eu aplaudia o amor, a fé e a força. Creio que cada um aplaudisse aquilo que acreditava, embora a junção de todas as crenças se transformasse em uma chuva de felicidade benigna que caía em fora de época no meio do deserto.

Por sorte, os Buscadores não estavam no deserto naquele momento. Porque se estivessem eles ouviriam o som de nossa felicidade e nos encontrariam. Apenas duvido que tivessem coragem de nos interromper.


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Notas finais do capítulo

E entããããão? Decidi colocar de tudo um pouco e eu espero que tenha ficado um bom capítulo. E são vocês que me dizem isso!
Estamos na reta final! Chegamos à reta final! Vocês acreditam nisso? Mais uma temporada inteira. E estamos prontos para mais uma, não? ;)
Até sexta :*



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