Another Life escrita por MsNise


Capítulo 17
Pedaços


Notas iniciais do capítulo

Primeira postagem de 2015, primeira sexta-feira de 2015, Another Life em 2015!!!!
Eu sei, eu sei, matei vocês com o último episódio. E se vocês estão aqui é para saber como que a Susan superou todo o episódio da floresta e da perda. Espero que vocês não se decepcionem com ela.
Leiam ouvindo: https://www.youtube.com/watch?v=8Uw8mIcQJn8
Boa leitura :*



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— Não quero passar pela grande praça — murmurei quando estávamos chegando na caverna e já andávamos a pé através do deserto.

— Susi…

— Por favor — sussurrei. — Não acho que eu esteja preparada.

Kyle ficou em silêncio por um tempo, mantendo uma distância razoável de mim, até que se rendeu.

— Nós podemos entrar pelo consultório de Doc — ele suspirou. — Se ele estiver lá, será somente uma pessoa a saber. E você pode ir direto ao seu quarto pelos corredores. Ou tomar banho. Ou…

— Eu sei disso — interrompi-o, não querendo ser tão rude quanto eu fui. — Desculpe. Não consigo controlar.

— Tudo bem — mas eu não acreditei que estivesse.

Continuamos andando até encontrarmos o pequeno espaço para entrarmos na caverna. O vento do deserto e todo aquele clima na escuridão me trouxe lembranças que eu não queria que tivessem me atingido: as lembranças do dia que Jamie me levou para fora e me fez comparar os sentimentos que eu sentia por ele e por Austin, meu amor de infância. Engoli o choro enquanto entrava no conhecido consultório de Doc, que permanecia igual mesmo depois de dois meses, e isso só piorou a minha situação de lembranças.

Suas pilhas de papéis ainda estavam sobre sua mesa, os catres desconfortáveis estavam vazios e ainda havia uma luz fraca iluminando o local. Alguns criotanques estavam empilhados em um canto do consultório, esperando por alguma utilidade. Não havia ninguém no lugar, nem mesmo Doc, e isso me deprimiu. Coloria uma fraca esperança de que Jamie estivesse me esperando deitado em um de seus catres.

O jeito era admitir que tinha chegado realmente ao fim.

— O que vai fazer agora? — Kyle resmungou, tocando em meu braço, e não pude evitar que meu corpo se retraísse ao toque.

— Vou buscar roupas no quarto — murmurei com a voz fraca e monótona. — E então seguirei para a sala de banhos, que eu espero que esteja vazia — Logo que terminei de falar, senti a necessidade de acrescentar algo que Kyle queria ouvir: — Vá procurar sua Sunny e avise Jeb de nossa chegada. Diga que eu preciso descansar, mas que amanhã enfrentarei a todos. Só preciso… reorganizar meus pensamentos.

Kyle se limitou a assentir. Não esperei mais nenhuma palavra para seguir caminhando pelos corredores escuros que eu ainda conhecia, o tempo todo arrastando-me colada na parede, com medo de que alguém pudesse me ver. Algumas pessoas passaram por mim, assentiram no escuro e eu simplesmente imitei o gesto para não chamar a atenção. Não achei que tivessem me reconhecido.

Cheguei ao meu antigo quarto ofegante por ter me apressado nos últimos passos, sendo atraída àquele lugar que me faria chorar e sentir uma dor insuportável. Mas ainda era o meu lugar. Nosso lugar, meu e de Jamie, mesmo que ele não estivesse comigo.

Seu cheiro ainda estava impregnado em cada canto, ainda forte, ainda fazendo a minha cabeça dar voltas incoerentes. Não podia me permitir reparar em todas as sensações que o lugar me transmitia para não cair deitada ali mesmo, chorando até um tempo que eu não tinha conhecimento. Portanto, peguei uma camiseta de Jamie que ele havia deixado para trás quando tinha ido à incursão e peguei uma calça minha, correndo em seguida para a sala de banhos e rezando para que ninguém estivesse lá.

Estava tão vazia quanto poderia estar, apenas o barulho reconfortante da água que se fazia ouvir forte e encheu meus ouvidos de satisfação. Mergulhei na água quente, agradecendo por ela ser capaz de relaxar os meus músculos e de me fazer esquecer tudo aquilo que estava sentindo, pelo menos durante os minutos que eu permaneci submersa. Mas eu percebi todas as coisas sobre mim que havia ignorado na época em que fiquei na floresta.

Esfreguei os meus pés calejados, limpei os arranhões de meu corpo e esfreguei com sofreguidão o meu coro cabeludo que estava oleoso. Agradeci por ter tomado aquele banho rápido na floresta poucos dias antes; os pelos de minhas pernas e de minhas axilas não estavam monstruosamente grandes, portanto somente depilei com a gilete rapidamente. Percebi o quanto os ossos de minhas costelas estavam saltados e do quanto eu estava fraca e com fome. Tentei ignorar a coceira da minha pele queimada, que já descascava. Não havia sentido tanta dor durante o tempo em que fiquei na floresta, mas quando eu parei para sentir cada arranhão e cada calo cheguei a duvidar que eu tivesse conseguido suportar. Mas eu consegui.

Tentei apagar todas as evidências de meus meses sofrendo dentro de uma floresta, apesar de saber que se me olhasse no espelho veria as olheiras de cansaço e a dor em meus olhos azuis e não seria capaz de esquecer. Veria o fracasso estampado em meu olhar. Veria tudo. Tudo. Não queria isso, não queria nada.

Minha pele ardia quando eu saí da água. Provavelmente estava vermelha por ter esfregado sabão em cada centímetro de minha pele, apesar de saber da necessidade disso. Eu precisava me recuperar nem que fosse apenas aparentemente. E recuperei-me por alguns instantes; ajeitei minha postura e respirei fundo, jurando que eu conseguiria vencer aquilo. No entanto, quando coloquei a camiseta de Jamie que, apesar de dois meses sem uso, não tinha o cheiro de mofo que eu esperava sentir, todas as lembranças me invadiram. Cada uma delas passou nitidamente pela minha cabeça, quase me fazendo vacilar enquanto eu voltava cambaleante para o meu quarto. Estava com fome e muito, muito fraca, mas recusava me dirigir à cozinha. Precisava desabar uma última vez.

Sabia que lá eu me entregaria. Me jogaria no colchão e me permitiria chorar tudo aquilo que eu segurava. Me permitiria também admitir tudo aquilo que eu havia tentado esconder de mim mesma durante todo o tempo de descoberta de que Jamie não voltaria para mim nunca mais.

Nunca mais.

Soava tão forte e definitivo que eu quase caí em frente ao meu quarto, isso se um par de mãos fortes não tivesse me aparado.

Não senti a necessidade de me retrair.

Talvez porque eu tivesse sentido o cheiro que emanava do corpo que havia me segurado ou talvez porque eu conhecia perfeitamente aquelas mãos que me seguravam; não soube dizer na hora e não saberia dizer depois. Mas isso não importava e eu sabia com a minha alma que eram detalhes, simples detalhes, que jamais voltariam à minha mente.

O que realmente importava era maior do que tudo aquilo. Ergui meus olhos e, mesmo que estivesse escuro naquele corredor, eu pude distinguir aqueles traços. Mesmo que só pudesse ver uma sombra do que seria o corpo do indivíduo, de alguma forma eu consegui identificar a cor de seus olhos. Olhos que eu conhecia com perfeição.

Chocolate derretido.

Jamie.

Minha visão se nublou por alguns instantes e eu não lembro ao certo se aconteceu alguma coisa a mais enquanto eu era segurada por seus braços fortes. Pensei que tivesse desmaiado, mas quando abri meus olhos eu ainda estava no mesmo lugar, sentindo o mesmo cheiro e sendo aparada pela mesma pessoa.

Não me sentia em um sonho, talvez porque fosse real demais e eu pudesse senti-lo. Ele abraçou os meus ombros como um vício, apertando-me tão forte que foi sufocante. Prendendo-me. Suspirei e fechei os meus olhos encostada a ele, derrotada. Não tinha forças. Estava sem reação, entorpecida demais, desacreditada demais. Humana demais. Ele afastou ligeiramente seu rosto de mim e eu já sabia sua intenção, mas não me movi. Senti seus lábios escorregarem de minha testa até meus lábios e permanecerem lá, imobilizados. Senti o gosto de suas lágrimas e o desespero de sua boca; e em nenhum dos outros sonhos eu sentia o poder esmagador de sua saudade. Ele era seguro demais, certo demais em meus sonhos. Nenhum desespero. Nenhum tom de verdade. Nada do que eu senti naquele momento.

Suas mãos esmagavam os meus ombros e a sua boca era impetuosa contra a minha, como se estivesse lá apenas para confirmar que eu estava realmente em sua frente. Meus braços continuavam caídos do lado de meu corpo e eu não conseguia encontrar forças para erguê-los. Eu ainda não havia acreditado naquilo que havia encontrado; no Jamie, meu Jamie, que me beijava e me segurava contra seu corpo.

E então eu percebi que não deveria perder tempo com torpores. Deveria agir, aproveitar, sentir. Deveria fechar meus olhos e prender seu corpo contra o meu, para ele nunca mais sair sem minha permissão. Aquele era Jamie, o meu protetor, quem eu procurava.

Minhas mãos se prenderam à sua cintura e ele pareceu satisfeito com isso; senti seu sorriso contra meus lábios. Suspirei contra seu rosto, afundando meus lábios nos seus e procurando os seus beijos que eu havia perdido. Seus lábios estavam quentes e rijos, provavelmente tentando resistir à realidade. Era um sonho e ele queria acordar — mal sabia que aquela realmente era eu, sua Susi, que havia me entregado de corpo e alma ao seu amor.

Senti meu coração voltando a bater pouco a pouco. A pedra de gelo que havia se formado ao redor dele se derreteu com o fervor dos batimentos de meu coração. Os lábios de Jamie estavam sedentos, desesperados, saudáveis, quentes. Ele fervia em minhas mãos; e eu fervia nas suas. Senti seus dedos deslizarem de meus ombros até minha cintura, arqueando-me em sua direção e colando nossos corpos de modo que ficasse impossível distinguir onde um começava e o outro terminava.

O único barulho audível no corredor era o encontro sedento de nossos lábios, que se exploravam e se devoravam. Jamie, meu Jamie, comigo, tocando-me, sendo meu. Jamie. Pensei que pudesse explodir, deixando de lado todo o torpor. Jamie. Pensei que ele estivesse morto. Jamie. Meu, só meu, vivo. Jamie. Meu Jamie. Firme, humano. Jamie.

Jamie Stryder.

Beijamo-nos no meio do corredor não sei quanto tempo, até que decidimos entrar no quarto. Ele teve de me aparar, afinal eu estava fraca e um pouco tonta. Nada saudável. Mas o que importava para mim era que a atmosfera do lugar se tornou convidativa quando eu entrei nela acompanhada de Jamie, que não havia mudado nada, senão pela barba rala que se espalhava por seu rosto. Na claridade fui capaz de ver as marcas das lágrimas em seu rosto e seus olhos inchados e vermelhos; e então eu não pude evitar, deixando que todas aquelas lágrimas pesadas de desespero e alegria escorressem por meu rosto, caindo em cascata e me engasgando. Pensei que explodiria.

Jamie beijou todas as lágrimas carinhosamente, fazendo-se presente e real como tinha de ser. Um sorriso verdadeiro se abriu em meus lábios rachados e trêmulos. Era um sorriso verdadeiro, carinhoso e repleto de emoção. Era o sorriso de quem encontrava o que tinha perdido.

E quando Jamie viu o quanto eu sorria, sorriu também. E aquele foi o sorriso mais esmagador do universo. Não pude evitar que meus dedos o contornassem deliberadamente para gravar cada detalhe, cada nuance. Seus lábios eram macios e mornos. Minhas pernas fraquejaram com o encontro de meus dedos e seus lábios. Arquejei.

Mas eram de seus olhos que eu precisava. O chocolate se derreteu e eu mergulhei nele, lembrando-me de todos os seus detalhes. Era suave e agradável. Quente. Trazia-me um milhão de recordações, que deixaram de me apavorar. Seus olhos que eu reconhecia até mesmo no escuro. Seus olhos; apenas isso.

Afundei-me no calor confortável de seu corpo e me senti em casa. Finalmente em casa.

***

Jamie correu buscar comida para mim antes de contar a sua história. Deixou-me deitada na cama enquanto ia pegar alguma coisa para me alimentar e me deixar mais forte. Minha respiração estava fraca, minhas mãos tremiam e eu estava pavorosamente magra. Qualquer mínimo esforço se tornou muito pesado para mim quando eu parei para perceber o quanto havia machucado a mim mesma nos últimos dois meses.

Ele voltou com uma bandeja com pedaços de pão da caverna — embora o gosto não fosse tão bom, eram capazes de nos manter fortes —, com um pedaço de bife — que me fez ficar imaginando como eles o conseguiram —, alguns legumes, arroz, feijão e um litro de água. Trouxe também alguns remédios de alma.

— Fizemos uma incursão uma semana atrás — ele deu de ombros. — Você precisa de carne para recuperar suas energias.

Não hesitei em começar a me alimentar. Comi aos poucos, esperando meu estômago se acostumar com a quantidade, mas eu me sentia mais forte a cada pedaço de pão que engolia. A carne me fez recuperar as minhas energias e a água me hidratou. Jamie me olhou fascinado o tempo todo, incentivando-me a comer ou tomar mais.

— Você precisava dormir — ele murmurou preocupado, acariciando as olheiras que haviam se formado abaixo de meus olhos.

— Depois eu faço isso — descartei a possibilidade imediatamente.

Ele pegou os poucos frascos de remédio de alma que havia trazido e começou a curar os arranhões que os galhos me proporcionaram. Curou também os calos em meus pés e até mesmo espirrou um pouco de Acordar no ar para eu inalar. Imediatamente me senti melhor.

— Você parece um pouco mais disposta — ele elogiou.

Não pude evitar uma risada.

— Acho que eu realmente estou — dei de ombros e segurei em suas mãos, olhando-o no fundo de seus olhos. Já estava forte o suficiente para ouvir o que quer que eu precisasse. Respirei fundo. — Agora está na hora.

Ele assentiu e ficou sentado de frente para mim, como se me refletisse. Preparei-me para o que ouviria.

Jamie me contou o que realmente havia acontecido. Ele não estava na floresta todo aquele tempo e não corria tanto perigo quanto eu achei que corria. Talvez três dias depois que havíamos entrado naquele lugar, Peg foi atrás dele e o encontrou próximo a um rio, onde tomava água quando precisava e comia algumas frutas que tinham em árvores próximas ao lugar. Estava na beirada da floresta, não tão perto da estrada nem tão longe dela, talvez apenas alguns metros mais ao lado de onde entramos.

Peg o buscou e o levou para a cidade, onde estava morando com Ian. Na verdade, morava com a alma que habitava Ian e que teve de aceitar Jamie de boca calada. Segundo Jamie, Ian nunca desistiu. Permanecia atormentando a alma que o habitava e, embora a alma não revelasse, o fato de ter aceitado tudo o que estava acontecendo sem grandes questionamentos o fez acreditar que sim. Ian confirmou a sua teoria quando retomou ao seu corpo.

Peg estava com outro corpo, mas ainda era Peg e Jamie conseguia distingui-la nas nuances de suas expressões. O outro corpo estava sendo analisado e logo Peg o reivindicaria; e assim foi feito. Duas semanas após sofrerem o acidente, Peg voltou à instalação de cura e exigiu o seu corpo novamente. As almas não questionaram muito e o devolveram com facilidade.

Ian e Peg esconderam o seu plano da alma que habitava o corpo de meu irmão. Todos fizeram um ótimo teatro, fazendo a alma acreditar que havia se tornado parte integrante da família e que não precisava de mais nada. Peg ficou com remorso por seduzir o alienígena, apesar de saber ser um dos únicos jeitos de conseguir se esquivar do mundo das almas.

Jamie permanecia escondido dentro de casa o tempo todo, afinal acreditavam que ele estava morto. Contudo, Peg e Ian — ou o parasita que controlava seu corpo — saíam passear e socializar com os vizinhos para não causar grandes estranhamentos. Jamie não entendia por que eles não deixavam aquele lugar rapidamente. Peg o explicou que não podiam; precisavam demonstrar que não tinham se habituado ao local e, para isso, precisavam passar pelo menos um tempo por lá.

Em uma noite, Peg esgueirou-se para fora de casa e foi roubar um criotanque e os remédios de alma necessários para desfazer a inserção de Ian. Aquilo foi depois de um mês e meio do acidente. Jamie não conseguia entender a paciência de Peg, mas devia admitir que a cautela os auxiliou a retornarem para casa sem grandes problemas.

A inserção foi desfeita e a alma que havia habitado o corpo de Ian foi mandada para algum planeta distante. Os Golfinhos talvez? Jamie não tinha certeza. Ele só sabia que ficara com Ian — que não tinha demorado muito para acordar — enquanto Peg espalhava para a vizinhança que estava de mudança. A ausência de Ian era óbvia e ela justificou dizendo que ele tinha ficado em casa para preparar suas coisas.

Quando eles foram embora, Ian colocou óculos de sol que não trariam nenhuma suspeita. Enquanto hospedara uma alma em sua cabeça, aprendeu a agir como Peg e não foi tão difícil se despedirem de seus vizinhos. Jamie ficou o tempo todo encolhido no chão do carro debaixo de um cobertor, onde não apareceria para causar suspeitas. Segundo ele, foram os piores momentos da jornada. Ele era grande e era desconfortável ficar todo encolhido e, além de tudo, estava calor. Ele fez uma careta ao se recordar.

E então eles voltaram para a caverna e descobriram que eu e Kyle procurávamos por Jamie na floresta. “Eu fiquei louco”, Jamie relatou, “Sunny me mostrou a carta que dizia que tínhamos que esperar dois meses para ir atrás de vocês. Disse que precisava ir naquele momento e ela, carinhosamente, me informou que eu precisava aguentar uma semana. Apenas uma semana. Ou você voltaria para mim ou eu a procuraria”.

Assenti em silêncio, ouvindo toda a sua onda de irritação que se seguiu por minha imprudência. Eu não me importava de ouvir sua voz me repreendendo; ainda era canção para meus ouvidos. Enquanto isso, meus pensamentos vagavam longe, primeiro pensando que todo aquele sofrimento na floresta tinha sido desnecessário e que Jamie estava seguro e cheio de saúde dentro da cidade. Somente depois que o pensamento correto me invadiu: não aguentaria ficar esperando-o por dois meses na caverna sem chorar todos os dias. Não teria aprendido as lições de Kyle e muito menos conseguiria ter me tornado forte. Não teria caído e me levantado.

Aquilo tudo, afinal, tinha valido a pena.

De repente, uma dúvida me surgiu. Segurei rapidamente na mão de Jamie e não me importei em interrompê-lo.

— Você ainda me ama?

Ele piscou duas vezes e apertou em minha mão.

— É claro que eu te amo — e eu vi a sinceridade estampada em seu olhar. O chocolate estava borbulhando de tanto fervor. Como pude duvidar de seus sentimentos? — Por quê?

Pergunta mais idiota, pensei. Eu teria que explicar para ele todo o fato de eu ter desistido e esperado a morte vir até mim por pensar que ele não me amava e não me merecia. E isso levaria muito tempo e muita calma; não queria falar ou explicar nada naquele momento. Portanto, simplesmente suspirei e devolvi seu aperto — foi um aperto fraco.

— Não é nada. Ou melhor, depois eu te explico. Quando tivermos tempo — justifiquei. Pensei por um momento, cogitando minhas opções. — Agora eu só quero ver Ian.

Era verdade; depois de meu reencontro com Jamie, eu precisava ver Ian, toda a sua postura firme e seus olhos azuis. Precisava ver o seu sorriso e sentir o seu aperto firme de irmão. Precisava conferir sua humanidade.

— Vamos lá, então — Jamie não parecia abalado por eu tê-lo interrompido e rapidamente me rebocou através da caverna até a cozinha, que estava lotada de pessoas jantando. Pude ouvir a voz de Peg ensinando antes mesmo de chegar ao local e não pude evitar o sorriso ao imaginar Ian assistindo-a fascinado, mesmo que com algum desconforto por minha ausência.

Suspirei, feliz por sentir o encaixe da mão de Jamie à minha. Estava na hora de minha vida ganhar rumo novamente. Estava na hora da felicidade bater em minha porta. Estava na hora de juntar todos os meus pedaços e me reconstruir.

Eu podia ser reconstruída, afinal.


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Notas finais do capítulo

E entããããão? Não foi propositado, mas bem que caiu como uma luva começar o ano novo com o pé direito, não? Aqui estão os pombinhos, juntinhos, alegres. E eu peço desculpa por ter matado duplamente o Jamie; era necessário para o curso da história. Não é pelo prazer da ausência dele na história, não, viu? hahahaha
Enfim, quero desejar que 2015 seja muitíssimo melhor que 2014. E desejo que nós permaneçamos juntos durante esse ano, qualquer que seja a história que eu deseje dar rumo, e que vocês leiam muito, tenham muita saúde e sejam muito felizes. Obrigada por terem estado comigo no ano passado e bora curtir esse ano? Não tem motivo nenhum de tristeza agora, certo? hahaha
Até sexta feira que vem, porque ainda tem história para acontecer :*



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