Placebo escrita por Miaka


Capítulo 2
Decepção


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelas reviews no capítulo anterior, pessoal! ^__^ Peço perdão pela demora em postar, e espero que continuem gostando da história!



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Ja’Far estava encurralado com Masrur ali. O fanalis observava com os olhos rubros como sangue o albino que tinha dois córregos no rosto, ainda apoiado com as costas na porta.

– O que aconteceu? Por que está chorando?

A voz que pouco falava perguntou ao se aproximar e Ja’Far imediatamente usou das longas mangas das vestes para secar as lágrimas, sentindo-se envergonhado e tentando se recompor rapidamente. Não era do tipo de aparecer chorando por aí, ainda mais depois de sair dos aposentos de seu rei. Balançou a cabeça antes de responder.

– Nada. Não se preocupe. - respondeu apressado.

– Como nada? Está chorando, Ja’Far. Posso ajud…

– NÃO É NADA! - ele tentou esboçar um sorriso, não queria parecer agressivo mesmo após aquele grito. Masrur era tão reservado, nunca imaginaria que numa situação dessas ele se tornaria uma pedra em seu sapato. - Eu apenas… estava com um cisco no olho e…

– Eu estou vendo você há um tempo já. - foi tudo o que ele disse para confirmar a mentira do albino, que bufou, virando o rosto.

– Masrur, por favor, finja que nada aconteceu. - era a única maneira que ele tinha de se livrar dele.

– Brigou com o Sin. Foi isso, não foi? Por que não me conta o que aconteceu?!

– JÁ DISSE QUE NÃO ACONTECEU NADA!

Ja’Far gritou tão alto e com tanta raiva, que assim que terminou aquela frase, cobriu os próprios lábios e corou tanto que as bochechas alvas ficaram rubras. Afinal, o que estava havendo com ele, perdendo o controle assim tão fácil? Lembrava… como era antigamente. Recompôs a si mesmo, os olhos ainda piscando encarando um atônito Masrur que reconhecia o amigo pela calma com que ele lidava com as situações. Realmente não era o Ja’Far que passou a existir depois que Sinbad entrou em sua vida, lembrava aquele antigo Ja’Far que, em tempos atuais, ele tinha vergonha de ter existido.

– Me… me desculpe! - gaguejou.

O silêncio pairou no corredor, Ja’Far não sabia porque não saira dali para tomar um pouco de ar. A presença do fanalis, inconscientemente, lhe sufocava, ainda mais no meio de suas emoções que estavam tão descontroladas.

– Eu sei que você ama o Sin.

Uma batida do coração do alvo falhou, encarou o chão sem piscar ao ouvir a voz grossa que tão pouco era ouvida, falar tão levianamente de algo que ele podia jurar, era guardado no mais profundo segredo de seu coração. Era tão evidente assim?

– Do que está falando?! - Ja’Far indagou sem pensar, não podia sequer deixar aquela hipótese no ar. - Bebeu com o Sharrkan também, Masrur? - provocou. - Pra início de conversa tanto o Sin quanto eu somos dois homens e eu não estou apaixonado por ninguém! Mas que ideia mais… mais…

Ja’Far pausou a si mesmo ao notar as lágrimas que caiam sem perceber por seu rosto, caiam com tanta intensidade que só escorriam pelas maçãs do rosto uma a uma, pingando sobre o uniforme de tons pastéis. Ele levantou as mãos abertas na altura do colo, desentendido. Por que estava chorando? Não conseguia esconder aquele sentimento arrebatador que havia se cansado de ficar contido?

O ruivo se aproximou do amigo que parecia desconhecer as próprias razões daquele choro, ou ele havia petrificado tanto seu coração e aquele sentimento que nem ele próprio saberia definir aquela tristeza.

Sem pedir permissão, ao se aproximar, envolveu o corpo do rapaz que era bem mais baixo nos fortes braços bem talhados e aquele despedaçado Ja’Far não pôde relutar. Não tentou nem mesmo por saber que jamais venceria em força física, mas o seu emocional realmente precisava daquele abraço. Sentiu-se patético ao esconder o rosto no tórax do fanalis, os punhos cerrados queriam tentar afastá-lo, mas por que se aquela sensação era tão boa? Quando foi que sentira uma sensação de proteção e um calor igual àquele? Ah, sim… Havia sentido. Quando Sinbad lhe abraçava. As mãos grandes que tocavam suas costas e estreitavam sutilmente a distância que havia entre os corpos eram bem parecidas e num fechar de olhos, Ja’Far podia sentir o perfume masculino do tão vaidoso rei.

Suspirou alto, sem o menor acanhamento, ao sentir o corpo tão colado ao daquele homem que se viu nas pontas dos pés. O chapéu deslizou pelos fios sedosos os quais aqueles dedos longos e grossos naufragaram. Cada pêlo de Ja’Far gradativamente se ouriçou.

– S… Sin…

O novo suspiro de Ja’Far trouxe confusão ao fanalis que se afastou um pouco para encará-lo, sem desfazer o abraço. O albino, ao notar o afastamento, abriu os olhos, corado como estava. Aquele nome escapara de seus lábios tão repentinamente para lhe trazer à tona a realidade. Estava nos braços de Masrur.

– Está se sentindo bem, Ja’Far?

E com a barreira do constrangimento já quebrada entre os dois, o ruivo se sentiu confortável para afastar a franja alva para sentir a temperatura da fronte do amigo, preocupado. Ja’Far ficou mais vermelho que um pimentão, atordoado com tudo aquilo, estapeando a mão do fanalis, os olhos estreitados furiosos.

– O que está fazendo?! - exclamou.

– Eu te abracei e você estava chamando o Sin… - explicou ingênuo.

Daquilo Ja’Far sabia. Sabia muito bem o que havia feito e o quão perturbado estava por ter se visto, por poucos segundos, rendido nos braços de Masrur naquele insano delírio de pensar estar nos braços do homem que tanto desejara.

Recolheu o chapéu do chão rapidamente enquanto Masrur observava desentendido às atitudes do mais velho.

– Ja… Ja’Far-san, eu…

– Se contar alguma coisa do que aconteceu aqui…

Enquanto ajeitava o chapéu no topo da cabeça, o albino deixou as longas mangas da roupa serem suspendidas pelos braços flexionados e mostrarem as linhas vermelhas amarradas rentes à pele.

– … já sabe. - concluiu.

E deixando um Masrur confuso, Ja’Far saiu dali. Precisava de um banho, de ar puro… Reorganizar tudo o que havia acontecido em sua vida desde a noite anterior.

Chegou em seus aposentos exaustos, sentia que sua cabeça ia explodir. Bateu a porta com força, não fazendo questão de tranca-la e se jogou na cama enorme que havia no centro do quarto. Pra quê precisava de uma cama de casal tão grande?

“ - Ora, Ja’Far, é pra quando você levar odaliscas pra lá, ou você acha que vai levar só uma?”

A voz de Sinbad, lembrança daquele dia em que o rei de Sindria decidiu reformar os quartos de seus generais, ecoava em sua mente. Ele falava naturalmente sobre mulheres, orgias, depravação… Será que o agradaria se levasse mulheres para sua suíte?

Cerrou os olhos e sentiu aquele calor dos braços que lhe envolveram de uma forma tão especial. A sensação era tão nítida. Única. Confortável.

Mas o que estava pensando? Cobriu a própria cabeça com um dos travesseiros. Devia era estar preocupado! Se Masrur que parecia tão lerdo diante de seus olhos cogitava que era apaixonado por Sinbad, será que todos os generais também pensavam assim? Estava preocupado.

E sem perceber, naquele conflito entre o certo e o errado, o prazer e a culpa de confundirem Sinbad com Masrur naquele momento, Ja’Far acabou por adormecer ali mesmo.

Acordou de supetão, assustado, sentando-se na cama assim que arregalou os olhos. Seu coração disparou quando olhou pela janela e viu que a noite já havia caído. Quando tempo havia dormido? Tinha tanto o que fazer! Sinbad havia lhe pedido para entrar em contato com as princesas de outros países, ainda havia um contrato para negociar a extração de algumas matérias primas de Reim! Lembrou-se de tudo aquilo frustrado ao perceber que passara o dia todo dormindo. Seu corpo estava dolorido, quanto tempo havia se passado? Da janela podia ouvir a música e as vozes que vinham do jardim externo do palácio.

– O Sin vai me…

Ele interrompeu a si mesmo para notar que estava coberto da cintura para baixo com dois lençóis de seda. Não lembrava de ter se coberto. Nem ao menos planejava dormir.

Havia um bilhete ao pé da cama, o qual ele pegou e abriu cuidadosamente. Como não deixar um sorriso bobo cruzar seus lábios ao notar a caligrafia perfeita daquele homem?

Descanse, Ja’Far. Masrur me contou que esteve indisposto. Vim te procurar, mas você estava dormindo. Por favor, descanse e não se preocupe com o trabalho. Hoje a noite teremos o Festival da Primavera, Sharrkan estará cuidando de tudo em seu lugar, você sabe como ele ama festas. Cuide-se.

As palavras tão carinhosas de seu rei fizeram o albino suspirar. Como era bobo, um apaixonado por aquele homem cheio de lábia que lhe domava como um cãozinho. “Ah, Sinbad, no que me tornou?” - perguntava a si mesmo.

Mesmo sem aparecer para o serviço aquele dia, Ja’Far logo se levantou e se aprontou. Banhou-se para vestir uma túnica nova, sabia como o Festival da Primavera era importante para Sinbad. Comemoravam a prosperidade de Sindria e aquilo era um troféu para a vida do rei tão obstinado com a felicidade de seu povo.

Perfumou-se e, alinhando a roupa mais uma vez, deixou seus aposentos.

xxxx----xxxx

– Quer mais bebida, majestade?!

Assim que se aproximava do jardim, Ja’Far já ouvia vozes conhecidas.

– Não, não. Hoje não vou abusar da bebida!

O albino sorriu ao se aproximar de onde estavam os generais e, de certo, seu rei, que respondia educadamente ao oferecimento de Sharrkan, quem já via com uma garrafa de vinho em mãos.

– Está com crise de abstinência, Sin?! - Hinahoho ria enquanto bebericava da taça em mãos.

– Acho que foi a última ressaca que não fez bem a ele. - a maga que estava com o braço apoiado sobre a mesa que o moreno que os servia se sentou sugeriu.

E mais alguns passos após, Ja’Far já podia ver o rei, como sempre rodeado dos amigos e generais, só que além deles, que estavam mais distantes, havia mais ou menos dez odaliscas cercando Sinbad. Umas sentadas em suas pernas, outra que envolvia seu pescoço com os braços, outras de pé, outras aos pés do homem apenas para tocar um pedaço de suas pernas.

– É que hoje eu vou ter muito trabalho!!!

A afirmação de Sinbad veio acompanhada de gargalhadas tanto dele quanto dos generais. Ele afagava os cabelos longos da moça que estava sentada em uma das suas pernas e apalpava de leve a parte do tórax que ele tinha exposta no decote da túnica.

– Eu vou ser a primeira, não é, majestade? - a mulher perguntava, esgueirando-se para cima do homem tão desejado.

– Calma, calma, vai ter pra todas!

Ja’Far estava congelado, seus olhos opacos encaravam a cena em choque. Por que enchia seu coração de esperanças com aquele bilhete? Ou aquela era uma esperança que só Ja’Far mesmo via? Por que seguira até ali a fim de encontrar aquele homem que só se interessava em diversão e mulheres? Que nunca, absolutamente nunca olharia para ele?

Seu coração se partia por completo, como todas as vezes que o via cercado daquelas odaliscas que passariam a noite em um verdadeiro bacanal nos aposentos reais. Não havia o menor senso de pudor e Sinbad não fazia a menor questão de esconder que planejava ter uma noite regada de luxúria e vulgaridade com as mulheres ali presentes que fariam de tudo para serem possuídas por ele. Não havia amor, nada. O que Sinbad havia lhe ensinado não valia nada?

Não demorou muito para que o próprio Sinbad, seus generais ali presentes e as mulheres, notassem o rosto empalidecido do rapaz que encarava a cena numa mistura de asco e descrença.

– Oe, Ja’Far! - Sinbad abriu um alegre sorriso ao vê-lo. - Está melhor?!

Sentiu as pernas tremerem. O que diria? Sorriria falsamente como sempre e engoliria aquela cena vulgar? Não. Não conseguiria. Sentia seu coração disparar. Virou-se e imediatamente correu dali, como se aquela imagem, a do homem que tanto amava, cercado por tantas mulheres, fosse algo tão abominável quanto um monstro, um pesadelo. Odiava a si mesmo por pensar que aquele homem poderia nutrir algum sentimento por ele. Como era tolo.

Oe, Ja…

Sinbad que estendeu uma mão a recolheu de volta, desentendido com a reação de seu fiel servo e amigo.

– Olha, majestade, se o Ja’Far estava melhor… com certeza agora ele piorou. - foi tudo o que Sharrkan disse para o desentendido monarca.

Correu com tudo pelos corredores do palácio. Estava com tanta raiva de si mesmo, de Sinbad, que poderia até mesmo matá-lo. Mas aquele corrida tão desesperada foi interrompida quando Ja’Far sentiu o baque ao se chocar com algo bem maior… e rígido. O impacto o fez ser jogado na direção de onde vinha, mas uma mão forte segurou seu braço enquanto que, o chapéu que ia deslizando pelos cabelos foi capturado pela outra mão que manteve o adorno seguro em sua cabeça. Piscou zonzo pelo choque e ergueu o rosto para ver o fanalis que estava diante de si.

– Mas… Masrur?! - ele gaguejou.

– Está tudo bem? - perguntou o ruivo, sem soltá-lo.

– S-sim. Me descul…

E novamente aquela sensação. Os braços dele, tão inconvenientes e especialistas em pegá-lo desprevenido, envolveram seu corpo num abraço. Ja’Far, novamente com a cabeça apoiada lateralmente naquele tórax firme, não podia ver o rosto de Masrur, que apoiava o queixo no topo da cabeça do albino. A rigidez nos membros de Ja’Far, surpreso pela atitude do mais jovem, foi aos poucos se desfazendo ao sentir aquele calor especial que lhe intoxicava. Por quê? Por que sentia aquilo? Mantinha os olhos abertos porque sabia que, se os fechasse, enxergar-se-ia nos braços de Sinbad. Então a voz grossa sussurrou em seu ouvido.

– Eu quero você, Ja’Far…


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Notas finais do capítulo

Uffa! Mais um capítulo! Aguardo reviews e lembrando que sugestões, críticas são sempre bem-vindas! ^^



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