- Recomeçando escrita por HungerGames


Capítulo 56
Capítulo 55


Notas iniciais do capítulo

GEEEEEEEEENTE , o que é esse filme...
Já vi 3 vezes, 2 legendada e 1 dublada!
Morri na Jen cantando e no final (sem spoiler) mas é fantástico! (chorei horrores)
AAAAAAAi to muito ansiosa pro próximo. Mas enquanto não chega, capitulo novo rs... Beijos



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Uma semana depois da festa na escola as coisas estavam indo muito bem, a diretora não pôde mais tocar no assunto das tais pegadinhas, por que por mais que no fundo ela saiba que foram eles, não tem como provar, portanto, Pyter conseguiu passar mais uma semana sem advertências, o que mesmo nessa situação é algo positivo. Katniss teve reuniões com o pessoal do projeto, Haymitch dormiu varias vezes no sofá, sempre reclamando para acordar e tomar os remédios, Pyter está treinando pra mais um campeonato e Pérola ainda suspira pelos cantos da casa, essa é a parte preocupante, eu sei o motivo dos suspiros, ele é simpático, inteligente e a tem cercado cada vez mais.
– Que cara é essa? – Katniss pergunta enquanto eu estou sentado na beirada da cama encarando a janela, o sol já se pôs e a noite começa a aparecer, eu dou de ombros, sinto quando o colchão se mexe e ela se arrasta até a mim, ela levanta minha camisa e eu levanto os braços pra que ela a tire, ela o faz, e joga a camisa num canto do perto da janela, seus braços passam em volta de mim e ela apoia o queixo no meu ombro – Não vai reclamar? – ela pergunta inclinando o rosto pra me olhar melhor, seu olhar vai de mim para a camisa no chão, eu dou um sorriso forçado.
– E adiantaria? – eu pergunto e ela me olha curiosa, então sai de trás de mim e senta ao meu lado, ainda me olhando.
– Tá bom, fala... O que tá acontecendo? – ela pergunta agora preocupada, eu levo alguns segundos pra olhar pra ela e então a encaro – Aconteceu alguma coisa na padaria? As coisas não estão indo bem, é isso? – ela pergunta com uma ruga de preocupação se formando.
– Não, não!Está tudo bem na padaria! Não é nada lá – eu falo e ela ainda me olha com a mesma preocupação – É a Pérola! – eu falo e ela parece confusa.
– O que tem ela?
– Olha eu sei que você vai falar que é besteira, que eu estou sendo um pai ciumento mas... ela ainda anda suspirando pela casa – eu falo e ela alivia o rosto e se permite sorrir.
– Ela tá apaixonada – ela fala tranquilamente e mais relaxada.
– Ela é muito nova pra estar apaixonada – eu rebato e ela me olha surpresa.
– Sério? – ela pergunta sem acreditar – Peeta ela tem 17! Ela não é nenhuma criança – ela fala e eu solto o ar me preparando – Peeta... – ela fala calmamente e passa a mão pelo meu ombro se aproximando de mim – Você é o pai dela, isso nunca vai mudar! Mas essa história de ciúmes... Já chega! Isso tem que parar, é sério! Ela gosta dele e uma hora você vai ter que aceitar, então... Relaxa – ela pede e eu apenas volto a encarar a janela, já estou começando a ficar de saco cheio desse papo de me mandar relaxar cada vez que entro nesse assunto, Pérola é minha filha eu não posso ‘’relaxar’’, então ela se aproxima ainda mais, passando o braço a minha volta e aproximando a boca do meu pescoço, por mais que eu tente me manter indiferente a ela, é impossível, meu corpo a reconhece antes mesmo que eu possa bloquear meus instintos, então quando seus lábios roçam minha pele e alcançam minha boca, eu a beijo lentamente, o beijo começa a avançar e nós nos arrastamos até o meio da cama, minhas mãos sobem por debaixo da sua camisola e quando nossas peles se tocam não há nada que me faça tão bem quanto me perder nela.
– Peeta... Peeta... – ela me sacode e eu afundo ainda mais a cabeça no travesseiro – Você vai perder a hora – ela avisa e sinto quando ela se levanta da cama, eu abro os olhos a tempo de ver ela saindo do quarto, ela está com a jaqueta do pai, o que significa que ela vai pra floresta, mas hoje ainda é sexta e geralmente ela faz isso aos domingos, mas como ainda estou no efeito do sono me afundo na cama novamente e fecho os olhos, leva alguns segundos até que os passos apressados entrem no quarto.
– Pai, pai... – Pyter me chama e se joga na cama parando com o rosto quase colado no meu, eu consigo sentir sua respiração no meu rosto.
– Bom dia pra você também – eu falo colocando a mão no rosto dele e o empurrando, ele ri, eu abro os olhos e encontro aqueles pares de olhos ainda mais azuis me encarando ansioso.
– Eu preciso de dinheiro – ele fala meio que se balançando.
– Eu ainda me lembro do dia que você me acordava por que estava com saudade e não por que queria dinheiro – eu falo e ele revira os olhos, mas sobe ainda mais na cama se deitando ao meu lado.
– Que isso paizão, eu to morrendo de saudade – ele fala batendo a mão no meu ombro fingindo emoção – Mas e o dinheiro? – ele pergunta logo em seguida erguendo a sobrancelha.
– Pra que você quer dinheiro? – eu pergunto mas já estou me esticando pra pegar minha carteira de cima da cômoda – Aliás, o que você fez com seu dinheiro? Eu te dei semana passada – eu pergunto e ele pega algumas notas da minha carteira que já estava aberta e pula saindo da cama.
– Sem perguntas difíceis! Valeu paizão – ele fala já saindo do quarto quase esbarrando em Katniss – Tchau mãe – ele fala e continua apressado pra descer as escadas.
– É direto pra casa! E eu não quero o Ryan aqui hoje de novo, ele já esteve aqui a semana inteira – ela avisa e ele grita algo em resposta que eu não entendo o que é, mas provavelmente ele apenas concordou por que ela volta o caminho pra dentro do quarto.
– Ainda na cama? O que aconteceu com você hoje? – ela pergunta enquanto entra pelo quarto e remexe em algumas gavetas.
– Você vai pra floresta hoje? – eu pergunto enquanto me levanto da cama.
– Vou! Domingo é aniversário do Pyter! – ela me lembra, não que eu houvesse esquecido, mas eu acabei de acordar então é justificável – Falando nisso, fala com a Delly. Nada de festas – ela avisa me encarando séria, dessa vez não é só ela que não quer festas, Pyter também não quer, embora ele ame ser o centro das atenções, Katniss lhe prometeu um dia inteiro na floresta e aulas extras com o arco, ele também fez ela prometer que faria uma espécie de circuito de treinamento pra que ele pudesse treinar melhor, claro que comparado a opção de uma casa cheia de adolescentes, ela preferiu a floresta.
– Eu vou falar! – eu falo levantando as mãos e me aproximo dela – Que horas você vai sair? – eu pergunto parando atrás dela que está remexendo na gaveta, meus braços a envolvem, mas ela me ignora.
– Eu só preciso achar... Achei – ela fala e puxa um par de meias – Eu já to indo, quero voltar antes do almoço – ela fala se virando e ficando de frente pra mim, eu sorrio antes de aproximar minha boca dela, e ela acaba sorrindo também quando aceita o beijo – Sério, você tá atrasado! E eu já vou – ela fala segurando meus braços tentando me fazer soltar ela, mas eu a aperto ainda mais em mim, mesmo tentando parecer irritada ela ri – Peeta, me solta! – ela pede entre risadas, eu nego também rindo.
– Toma banho comigo? – eu peço passando meu rosto pelo seu pescoço e ela tenta se soltar ainda mais rápido, mas eu consigo nos arrastar até o banheiro.
– Peeta, não! Não, não! É sério! Eu juro que eu vou ficar com raiva se você fizer isso – ela fala mas continua rindo, agarrando a porta, eu sorrio e beijo sua boca rapidamente, então solto meus braços, liberando-a, só então ela sorri de novo.
– Obrigada – ela fala com certa ironia e me beija rapidamente – Eu passo no Haymitch e dou o remédio, você já está atrasado o suficiente – ela fala saindo do banheiro.
– Eu sou o dono! – eu falo fingindo superioridade.
– Ótimo exemplo então – ela fala e sai do banheiro. - Eu te amo! – eu grito da porta do banheiro olhando ela saindo do quarto.
– É, eu também – ela fala já descendo as escadas, eu sorrio e volto pro banheiro, tiro minha roupa e entro debaixo da água gelada pra me despertar, deixo cair bem na minha cabeça e logo estou completamente acordado, me visto e desço, como todos já se foram, eu apenas pego minhas chaves e sigo pra padaria, quando chego lá ela já está aberta e com um numero considerável de pessoas, cumprimento todos e passo para o outro lado do balcão ajudando Benny com o atendimento, até que quando tudo se acalma eu vou pra cozinha que também está movimentada já que Delly tem uma festa pra fazer hoje e o bolo e doces estão sendo feitos na outra parte da cozinha destinada a isso, eu me junto a eles por um tempo e depois vou pro escritório resolver algumas coisas pelo telefone no Distrito Sete, quando acabo já está perto do almoço, eu saio do escritório, e no corredor pra cozinha acabo esbarrando no Ian.
– Desculpa! Não vi você aí – eu falo recuando um passo, ele sorri tímido.
– Tudo bem – ele fala endireitando a mochila nas costas, parecendo pensar em algo.
– Seu pai tá lá dentro pode ir – eu falo indicando a outra parte da cozinha, ele olha pra lá mas continua parando segurando a alça da mochila.
– Eu queria falar com senhor – ele fala e me olha esperando uma resposta, eu levo alguns segundos já temendo o assunto mas concordo com a cabeça.
– Peeta onde estão os cadernos de encomenda? – Marie vem apressada na nossa direção – Oi! Tá bonitão ein – ela fala mexendo com Ian que sorri educado.
– Terceira gaveta a direita – eu falo e ela entra pelo escritório, eu indico com a cabeça o corredor para os fundos da padaria e começo a andar, Ian me segue logo atrás – Você queria falar comigo... – eu falo quando paramos nos fundos do lado de fora da padaria, e me sento em um pedaço de tronco velho, ele faz o mesmo se sentando ao meu lado.
– É... – ele concorda e chuta algumas pedrinhas que estavam próximas, eu espero que ele continue mas ele continua em silencio.
– Bom, eu só consigo ouvir se você falar – eu falo e empurrando de leve o pé dele com o meu, ele ri e olha pra mim.
– Eu gosto da Pérola – ele fala rápido como se fosse perder a coragem ou algo assim, eu continuo olhando pra ele – E não é como amigo... quer dizer eu gosto dela como amigo também, mas é mais do que isso – ele fala meio apressado e se enrolando, por um segundo eu acho graça até lembrar do que está por vir, então eu volto a ficar sério.
– E por que você está me falando isso? – eu pergunto e ele desvia o olhar alguns segundos, então volta a me encarar, agora parecendo motivado por algo.
– Eu queria pedir permissão pra namorar a Pérola – ele fala firme e sem gaguejar, eu balanço a cabeça algumas vezes tentando ver se realmente é real, então me levanto e ele se levanta junto comigo – Eu gosto muito dela... e eu prometo que eu vou ser bom pra ela – ele fala avaliando meu silencio e por mais que eu estivesse me preparando pra esse momento, não consigo, é como se eu estivesse abrindo mão da minha filha, de ter ela ali do meu lado e eu não posso fazer isso.
– Você devia ir pra casa agora – eu falo começando a me afastar.
– Eu amo a Pérola – ele fala quando eu dou o primeiro passo e isso me faz parar – Eu sei que tem um monte de garoto que também deve gostar dela, mas eu gosto dela de verdade! Eu amo a Pérola – ele afirma e enquanto eu o vejo ali, eu percebo que é verdade, ele realmente a ama, e se isso torna ainda mais complicado, por que eu sei que eu não posso contra isso, e na verdade nem quero ir contra, apenas quero um pouco mais de tempo, com a minha filha, enquanto ela é só minha filha e não namorada de um garoto.
– Eu não acho que esse é assunto pra gente conversar assim certo? Então, nós podemos conversar outro dia! Agora você realmente deve ir pra casa, e eu também – eu falo e ele ainda continua no mesmo lugar.
– Amanhã? – ele pergunta e eu paro pensando – Eu posso ir na sua casa... – ele insiste sem estar nem um pouco disposto a mudar de ideia.
– Amanhã! – eu confirmo querendo acabar logo com esse assunto, ele sorri satisfeito e eu sinalizo pra que ele passe na frente, ele entra pela cozinha, e eu o sigo estávamos passando pela porta quando vi Katniss parada a alguns passos de nós, ela nos olhou curiosa e fixou o olhar no Ian.
– Tudo bem? – ela pergunta como se eu pudesse ter feito algo com o garoto, eu reviro os olhos e me adianto passando por ele enquanto ele a cumprimenta e assegura que está tudo bem.
– Achei que você fosse direto pra casa! – eu falo quando me aproximo dela – Cadê eles? – eu pergunto olhando em volta.
– Foram pra casa! Devem está no Haymitch – ela fala sem parecer preocupada, eu concordo.
– Vamos? – eu pergunto já pegando minhas chaves, todos já estavam de saída então sem demora já estamos no caminho de casa.
– O que vocês estavam conversando lá atrás? – ela pergunta curiosa.
– Nada demais! Ele estava me ajudando com algumas coisas – eu minto dando de ombros, mas olhando pra frente, sinto o olhar dela em mim mas ainda não quero ter que falar sobre isso, por que eu sei que ela irá ficar do lado dele, e a ultima coisa que eu quero agora é ela me mandando relaxar novamente, eu sei que talvez esteja exagerando mas estaria mentindo se dissesse que não me importo, a única coisa que eu quero é que Pérola continuasse aquela mesma menininha de sempre, isso não é pedir muito.
Nós chegamos a Aldeia e vamos direto pra casa do Haymitch, encontramos ele e Pyter jogando xadrez na mesinha do centro, Pyter jogado no chão ao lado da mochila dele enquanto Pérola está ao lado do Haymitch também sentada no chão cantando, a voz afinada e calma é ainda mais doce que a voz de Katniss, as notas escorregam de sua boca com uma facilidade surpreendente, ela continua cantando distraída enquanto remexe em alguns fios soltos do sofá, eu paro na entrada da sala olhando eles ali, Katniss para logo atrás de mim enquanto a musica toma conta do lugar e eu olho eles ali aquele sentimento aumenta ainda mais, por mais que eu queira ela feliz, eu a quero perto de mim o máximo de tempo possível, acho que é no meio desses pensamentos que a ideia me surge.
– Nós vamos viajar – eu falo acho que alto demais e eles se viram surpresos, consigo ouvir o som incrédulo de Katniss ao meu lado, ela avança um passo ao meu lado e me olha - Esse vai ser meu presente pra você – eu falo pro Pyter e ele se vira ansioso esperando que eu fale – Você não queria conhecer o mar? – eu pergunto já que perdi a conta de quantas vezes ele pediu por isso, mas nós sempre negávamos, e acabávamos o levando até o lago mesmo, assim que falo as palavras tem efeito nele, ele pula parando em pé, os olhos arregalados e animados.
– Sério? – ele pergunta mal se contendo de alegria, eu sorrio.
– É seu aniversário! – eu falo e ele comemora animado.
– Isso vai ser muito legal! Muito legal mesmo! Valeu pai – ele fala e vem até a mim, me dando um abraço – A gente...vai...ver...o...mar – ele fala cada palavra quase pulando e Pérola também está sorrindo animada – Quando nós vamos? – ele pergunta se virando pra mim de novo.
– Hoje a noite! A gente chega lá de madrugada mas podemos aproveitar amanhã e domingo – eu falo querendo adiantar logo a viagem.
– LEGAL!!! – ele fala entusiasmado.
– Espera... – Katniss fala parando o pulo dele – A gente tem que conversar – ela fala me olhando séria e irritada e então dá meia volta saindo da sala e da casa, eu respiro fundo.
– A gente vai mesmo né? – Pyter pergunta assim que ela sai – Por favor pai... – ele pede segurando meu braço.
– Nós vamos! – eu afirmo forçando um sorriso, ele pula mais uma vez.
– A gente vai ficar na vovó? – Pérola pergunta já vindo pra mais perto também.
– Acho que sim! Eu ainda tenho que ver isso – eu falo sem nem ter pensado em nada ainda – Mas eu resolvo – eu afirmo e eles comemoram, já planejando o que irão fazer quando chegarem lá, sinto o olhar em mim e encontro Haymitch me olhando, ele faz um sinal negativo com a cabeça, como se soubesse que eu teria problemas por isso, eu ignoro ele, e deixo eles comemorando enquanto vou atrás de Katniss, entro em casa e a encontro na escada sentada me esperando, eu entro devagar, fechando a porta lentamente e ela não desvia os olhos do meu, mas eu não consigo decifrar o que exatamente ela quer me dizer.
– Mentiroso – ela fala me olhando nos olhos, eu continuo parado na frente dela – Você não podia ter feito isso – ela fala realmente irritada.
– É só um final de semana, não vai acontecer nada! Não tem perigo... – eu começo a falar já imaginando que ela está preocupada por sairmos do Distrito, mas ela solta um riso nervoso e se levanta.
– Cala a boca! – ela manda apontando o dedo pra mim – Cala essa boca! – ela repete ainda mais furiosa - Eu não to falando disso – ela afirma e me encara esperando que eu diga algo.
– Eu não sei do que você tá falando – eu minto, por que na verdade, agora olhando pra ela eu sei que ela sabe exatamente o que eu estou tentando fazer.
– Não mente mais pra mim Peeta! Não faz isso – ela fala séria – Eu ouvi, você e o Ian – ela revela e eu tento não parecer flagrado.
– Eu só... - Cala a boca – ela repete e da um passo a frente – Você é um covarde! – ela fala me olhando com certo desprezo.
– Não é isso – eu nego e ela se afasta de mim – Eu só queria um tempo a mais com ela antes de... - Antes de que Peeta? Antes dela ser feliz com o garoto que ama ela? – ela pergunta falando mais alto e ainda mais irritada.
– Katniss, escuta... – eu peço mais ela nega.
– Não Peeta, escuta você! Eu já to cheia disso! Eu falei com você ontem e você parece que não escuta ninguém! É a vida dela! E você age como se ela fosse um objeto que pertencesse só a você... – ela fala enquanto anda de um lado pro outro.
– Isso não é verdade! Eu a amo! – eu falo indo pra mais perto dela.
– Ama? Ama mesmo? Ou você apenas ama ter uma filha? Ter a vidinha perfeita que você idealizou? – ela acusa e eu paro surpreso com as palavras dela mas ela não parece se abalar.
– Você está sendo injusta!
– Eu? Eu estou sendo injusta? – ela repete com ironia, parando na minha frente – Ou é você? Que é tão egoísta a ponto de usar o Pyter pra isso? Pra essa palhaçada toda – ela fala encostando o dedo no meu peito.
– Eu não estou usando ele pra nada – eu falo e ela ri e se afasta.
– ‘’Você não queria ver o mar?’’ ‘’É o seu aniversário’’ – ela me imita e então para me encarando – Você não tá nem aí pra isso! A única coisa que você quer é tirar Pérola de casa, é afastar eles dois! Mas claro que você não pode nem ao menos assumir isso não é? Você precisa continuar a ser o pai perfeito... Então você usa suas armas pra isso – ela fala e eu começo a me irritar também.
– Você tá nervosa, se você me deixar explicar
– Explicar o que? – ela pergunta alto demais – O quanto você consegue mentir e manipular até nossos filhos? – ela joga na minha cara e minha paciência se vai.
– Chega! –eu grito mais alto que ela e ela para assustada – Chega – eu repito mais baixo passando a mão pelos cabelos – Eu não estou manipulando ninguém! – eu aviso agora apontando pra ela, ela continua me olhando meio insegura como se eu pudesse fazer algo contra ela, eu abaixo o braço e respiro fundo novamente – Eu só achei uma boa ideia! Eu só queria pelo menos mais uma vez que fossemos só nós quatro, sem namorados, sem paqueras, sem um monte de gente em cima, só nós quatro! Pelo menos mais uma vez – eu admito sinceramente mas isso não parece suficiente – Eu devia ter te falado antes, eu sei, mas eu só pensei nisso na hora e acabou saindo – eu admito e ela balança a cabeça em negação.
– Você mentiu pra mim! E você está enganando ela – ela acusa com a mesma irritação de antes.
– Eu não estou enganando ela – eu nego firme mesmo que minha consciência concorde com ela.
– Você realmente acredita nisso? Acredita mesmo que você tá certo? – ela pergunta me olhando com certa confusão nos olhos.
– Não! Não acho que estou certo! Mas eu não consigo simplesmente aceitar isso assim – eu falo sinceramente mesmo sabendo o quanto isso soa egoísta.
– Eu não te reconheço Peeta – ela fala sem desviar os olhos de mim.
– Ela é minha filha – eu falo como se isso justificasse tudo, e deveria justificar.
– É minha filha também – ela completa me olhando – E nem por isso eu estou surtando, e enganando eles para as coisas saírem do meu jeito – ela fala me acusando.
– E por que? Por que você não está fazendo nada? – eu pergunto e ela parece perdida sem entender o que eu quero dizer – No momento que a gente concordar com esse namoro as coisas vão mudar, eu sei que ainda serei o pai dela, mas eu sei o quanto uma paixão, um amor é importante, ela vai querer passar a maior parte do tempo com ele, então ela vai precisar menos ainda de nós dois, a vida dela vai começar a ser fora dessa casa, não é nenhum crime querer adiar um pouco mais isso – eu me justifico e ela balança a cabeça negando
. - Você não quer ela perto de nós! Você quer ela perto de VOCÊ – ela fala apontando pra mim.
– É, eu quero! Eu quero a MINHA filha perto de mim! E que tipo de mãe você é que não se importa com isso nem um pouco? – eu pergunto e ela que já me olhava diferente agora parece ainda mais confusa – Você tá me julgando por amar ela? E você Katniss? Que espécie de mãe não está nem aí pra isso? EU me importo! EU quero minha filha perto de mim! Por que é isso que os pais de verdade querem! Mas você... você age como se esperasse por isso. Que tipo de mãe não se incomoda com isso? – eu repito mais alto e ela recua um passo me olhando como se não me reconhecesse, eu espero que ela grite, me xingue, ou parta pra cima de mim, mas ao invés disso ela apenas continua me olhando, com uma nuvem de coisas sobre seu olhar, eu tento decifrar mas quando consigo me arrependo, seu olhar não é furioso, raivoso, irritado ou surpreso, seu olhar é ferido, magoado, quebrado e no momento que eu percebo isso começo a me quebrar também.
– Mãe, mãe... – Pérola entra correndo pela casa vindo até a sala – Eu posso ir lá na praça? É que eu queria comprar alguma coisa pra levar pra vovó – ela pede completamente animada, ainda com a respiração desregular, mas quando percebe o silencio ela para sua animação – Tá tudo bem? – ela pergunta olhando da Katniss pra mim, então ela dá a volta no sofá e vai até a Katniss – Mãe? – ela chama baixo olhando pra Katniss que está se segurando, posso ver pela sua boca cerrada e seus punhos fechados.
– Tá tudo bem – ela garante com a voz mais firme que consegue porem ainda tremula.
– Você tá passando mal? – ela pergunta passando a mão pelo rosto dela 0 Eu vou pegar um copo de água pra você – ela avisa mas Katniss segura o braço dela.
– Não precisa, eu to bem! Acho que é só cansaço da caminhada! Hoje tava muito abafado – ela fala forçando um sorriso pra ela.
– Ô pai, que horas que a gente vai? – Pyter também aparece entrando pela sala e se jogando no sofá, eu olho pra Katniss e ela me encara com uma mistura de emoções.
– No final da tarde! Só preciso deixar algumas coisas adiantadas na padaria e nós podemos ir – eu falo olhando pra Katniss que manem seu olhar em mim até eu terminar de falar, eu espero que ela vá contra o que eu disse mas ela me surpreende quando fala com eles.
– Melhor vocês subirem e começarem a arrumar as mochilas – ela fala com a voz se mantendo estável.
– Eu posso levar meu arco? – Pyter pede levantando do sofá.
– Claro que não! – ela fala e ele faz uma cara de decepção.
– E meu skate? – ele tenta voltando a se animar.
– Pode – ela concorda e ela comemora passando por ela e abraçando e beijando sua bochecha – A gente vai pra praia – ele fala contente e ela lhe força um sorriso, ele segue pra escada e ela me olha com o mesmo jeito magoado de antes.
– Tem certeza que você tá bem, mãe? – Pérola pergunta passando os dedos pelo braço dela.
– Tenho! Eu to bem – ela afirma e ela parece ainda desconfiada – Eu queria ir lá na praça vê se acho alguma coisa pra vovó, é a primeira vez que a gente vai lá na casa dela – ela fala sem conseguir esconder o entusiasmo.
– Claro! Pode ir! Só não demora – Katniss fala passando a mão pelo cabelo dela.
– Eu vou com o papai e volto com ele – ela fala sorrindo e beija a bochecha dela.
– Eu não vou demorar – eu aviso mas o olhar que Katniss me lança não demonstra nada além de magoa, então eu desvio o olhar dela e saio junto com Pérola.
– Você e a mamãe brigaram! – ela afirma e me olha enquanto saímos da Aldeia – Por que? – ela pergunta curiosa e preocupada, eu olho para a aqueles olhos cinzas tão brilhantes e doces que me encaram e sinto a maior confusão de sentimentos: amor, medo, culpa, carinho, tantas coisas que me sinto sufocado, eu passo meu braço pelo ombro dela e a junto em mim, parando pelo caminho, eu a abraço por alguns segundo e beijo sua cabeça, ela me abraça de volta sem fazer perguntas, e quando eu sinto que as lagrimas vão rolar do meu rosto eu a libero – Não se preocupa, vai ficar tudo bem – eu garanto tentando parecer confiante.
– É por causa da viagem não é? – ela pergunta enquanto voltamos a andar – Ela tá com medo de sair daqui? – ela pergunta já que nunca saímos daqui com eles, desde que eles nasceram nossas vidas são aqui dentro do Doze, sempre, eles já haviam pedido varias vezes pra sairmos, mas sempre achávamos uma desculpa, só agora que percebo que o que eu fiz foi ainda maior do que pensei, eu estou obrigando Katniss a passar por algo que eu nem sei se ela está pronta, eu nem ao menos conversei com ela antes, eu não podia ter feito isso – Mas eu acho que vai ser legal – Perola confessa me tirando dos meus pensamentos, quando a olho, um sorriso sonhador está nos seus lábios e ela me olha com os olhos brilhando – Eu sempre quis ver o mar! – ela confessa sorrindo ainda mais – Uma vez apareceu na televisão, é tão grande, e tem areia e parece que nunca vai acabar – ela fala e acaba rindo animada – Eu acho que a mamãe vai gostar também – ela confessa empolgada – Vocês já viram o mar? – ela pergunta me olhando curiosa.
– Nós passamos pelo Quatro durante a Turnê mas não podemos parar pra olhar direito – eu falo me lembrando da primeira vez que passamos pela praia, tenho certeza que meus olhos brilhavam assim como os da Pérola agora, e os da Katniss por mais que ela tenha tentado se manter indiferente também não ficaram imune aquela imensidão azul.
– E é tão grande assim? – ela pergunta esperando ansiosa a resposta, eu nego e ela parece um tanto desapontada.
– É maior – eu falo e seu sorriso se alarga, eu a puxo para os meus braços de novo – Já sabe o que vai comprar? – eu pergunto e ela olha ao redor da praça.
– Ainda não – ela confessa fazendo uma careta, eu sorrio e pego a carteira.
– Eu tenho dinheiro – ela fala negando, mesmo assim eu tiro algumas notas e estico a ela que revira os olhos mas aceita – Eu te espero na padaria! Não demora – eu aviso e a observo seguindo para uma das lojas da praça, então vou pra padaria.
Quando chego eles já estão de volta e eu anuncio que não irei voltar na padaria até domingo, mas não digo nada sobre a viagem, eu vou pro escritório pra deixar tudo que depende de mim adiantado, revendo o caderno das encomendas, verificando os mantimentos e passando algumas instruções extras.
– Pai? – a batida na porta e a voz que acompanha enquanto a porta se abre me faz levantar os olhos dos papéis e encontrar Pérola com a cabeça pra dentro do escritório, eu faço sinal pra que ela entre.
– Conseguiu o que queria? – eu pergunto e ela levanta a sacola pra presente.
– Espero que sim – ela fala meio duvidosa.
– Eu tenho certeza que ela vai gostar de qualquer coisa que você comprou – eu falo empurrando minha cadeira pra trás e me levantando – Eu também já terminei, acho que já podemos ir – eu falo mas vou até o banheiro antes, eu lavo meu rosto e encaro meu reflexo no espelho, as palavras de Katniss ecoam na minha cabeça acompanhadas de seu olhar magoado e se torna difícil encarar a mim mesmo, por isso desvio os olhos e saio do banheiro, eu encontro Pérola sentada na minha cadeira girando-a, assim como ela gostava de fazer quando era pequena, ainda lembro de quando ela girava rápido e sua gargalhada invadia o escritório.
– Tem certeza que você pode viajar? – ela pergunta parando de girar a cadeira e ficando virada pra mim, só então percebo o caderno com as encomendas na mão dela – Tem encomenda pra hoje, amanhã e domingo – ela fala e levanta o olhar do caderno pra mim.
– Ah sim senhora! Eu tenho certeza – eu falo fingindo seriedade e implicando com ela e ela sorri e fecha o caderno mantendo-o em seu colo.
– E está tudo resolvido? Eles vão conseguir fazer tudo sem você aqui? – ela pergunta realmente preocupada, eu sorrio ainda mais.
– Acho que eu já sei quem vai assumir meu lugar – eu falo e ela nega como se eu tivesse dito algo errado.
– A padaria é sua – ela fala e me estica o caderno, eu o pego e coloco sobre a mesa, então me abaixo a frente dela, com os braços dobrados sobre suas pernas e meu queixo apoiado neles, ela me olha curiosa.
– A padaria é Nossa! – eu falo consertando ela – E eu sempre tenho tempo pra matar o trabalho e ficar com vocês – eu falo e passo o dedo escorregando pelo nariz dela como eu fazia quando ela era bebê, ela sorri e se inclina pra mais perto de mim.
– Eu acho bom! – ela fala fingindo estar brava mas acaba sorrindo, e vendo ela assim eu sinto novamente aquela sensação de culpa por estar escondendo a verdade dela, eu tento procurar as palavras certas pra contar, mas enquanto ela me olha sorrindo, a coragem se vai e o que sai da minha boca embora seja verdade não é o que eu tinha que confessar – Eu ... te ... amo – eu falo pausadamente e o sorriso dela se alarga, então assim como fiz com ela, ela escorrega a ponta do dedo pelo meu nariz.
– Eu te amo! Muito! Muito – ela fala o que sempre me falava e ainda me fala algumas noites, eu sorrio e então ela coloca as mãos no meu ombro – Eu ainda tenho que arrumar minha mochila – ela fala me apressando, eu sorrio e concordo me levantando.
– Então vamos lá – eu falo me levantando e forçando um sorriso animador, ela também se levanta e pega a sacola com o presente e para na porta me esperando, ela me oferece a mão e eu a puxo para mais perto de mim, então saímos do escritório, me despeço do pessoal lembrando que eles estão por conta própria, Benny implica com o cabelo de Pérola enquanto ela passa por ele, e então saímos da padaria.
– Peeta! – a voz do outro lado da calçada me faz virar e encontrar Gale vindo em nossa direção, ele estica a mão quando se aproxima e eu aperto cumprimentando-o – Meu Deus como vocês crescem! – ele fala olhando pra Pérola – E cada dia mais parecida com a sua mãe – ele completa enquanto passa a mão pelo cabelo dela - Mas você é mais bonita - ele finge sussurrar e Pérola como sempre sorri simpática e eu preciso empurrar esse sentimento que sempre aparece quando ele se aproxima delas.
– Obrigada – ela fala sorrindo e se afasta apenas alguns centímetros de mim.
– Nós temos que ir – eu falo sem ter muito assunto pra tratar com ele.
– Tudo bem! – ele concorda e segue pra padaria – Manda um abraço pro garoto e pra Katniss – ele fala já na calçada da padaria, eu forço um sorriso e viro as costas voltando a andar, Pérola encaixa o braço no meu e anda em silencio mas me olhando meio de lado algumas vezes.
– Pode falar... – eu falo quando pego ela me lançando mais um olhar, ela dá de ombros voltando a olhar pra frente – Sim, eu não gosto dele falando da sua mãe – eu respondo o que eu sei que ela estava pensando e como confirmação ela volta a me olhar curiosa – Eu conheço você! Mesmo quando você não fala – eu explico e ela sorri meio admirada.
– Por que? – ela pergunta se apertando mais em mim.
– Por que você é minha filha. Eu sei tudo em relação e a você! E ao Pyter também, mas ele é meio surpreendente as vezes – eu falo e ela ri.
– É eu sei! Mas eu tava falando por que você não gosta dele falando da mamãe – ela fala e me olha novamente, eu balanço a cabeça algumas vezes tentando achar a palavra certa, mas só existe uma.
– Você sabe por quê!– eu falo dando de ombros e ela para me fazendo parar junto com ela, seus olhos encontram o meu e parecem tentar desvendar alguma coisa
. - A mamãe te ama – ela fala com uma firmeza que a faz parecer mais velha – E você ama a mamãe! Eu não sei por que você pode ter ciúmes disso! Já passou um tempão e eu acho que a mamãe nunca gostou dele igual gosta de você – ela completa me olhando nos olhos.
– Agora eu to me sentindo meio idiota aqui – eu falo quebrando o clima pesado e ela ri e volta a encaixar o braço com o meu.
– Eu só to falando que você e a mamãe são perfeitos juntos! – ela fala apoiando a cabeça no meu ombro – E o Gale tem a tia Liesel – ela conclui e eu a olho ainda apoiada no meu ombro, eu sorrio e beijo sua testa.
– Parece que você não é só um rostinho bonito – eu falo e ela ri.
– Tem um cérebro aqui dentro – ela fala batendo com o dedo na própria testa, eu rio e nós continuamos nosso caminho pra casa, com ela já falando sobre o que quer fazer quando chegarmos ao Quatro e sua animação é notável, quando chegamos em casa, ela corre pra arrumar a mochila enquanto eu vou para o quarto também, o lugar está vazio mas quando tento entrar no banheiro a porta está trancada, embora não esteja com barulho do chuveiro, Katniss deve está na banheira, por isso eu aproveito pra arrumar a minha própria mochila, já estava terminando quando a porta do banheiro se abre e ela sai, o cabelo ainda meio molhado mas já vestida com uma calça jeans e camiseta branca, ela passa por mim que estava mexendo no guarda roupa e vai até a cômoda ao lado da cama, ela pega uma presilha do cabelo, o enrola algumas vezes e o prende no alto da cabeça, eu penso em falar pra ela não prender o cabelo molhado por que ela pode ficar doente mas ela mal me olhou então eu apenas a observo de longe enquanto termino de enfiar mais algumas camisetas na mochila, ela caminha até o guarda roupa e para ao meu lado mas olhando exclusivamente para o lado dela, então puxa algumas peças que estavam no cabide e as joga pra cima da cama, então abre a gaveta o que me obriga a afastar alguns passos, ela remexe e puxa mais algumas roupas também jogando na cama, repete o mesmo com a debaixo e então dessa vez ela vai até a cama, ela olha debaixo da cama procurando algo e bufa irritada quando não acha, então eu abro a parte de cima do armário e pego a mala pequena, eu a coloco em cima da cama ao lado da roupa dela, ela apenas a puxa e abre sem me olhar.
– É só um final de semana! Você não precisa ficar preocupada com isso, eles vão ficar bem, eles estão bem animados na verdade – eu falo e pela primeira vez ela me olha, os olhos escuros e frios me encaram por alguns longos e torturantes segundos e então Pyter entra no quarto.
– Oh pai, o vô tá falando que não vai – ele reclama parado na porta do quarto.
– É claro que ele vai! Ele só quer que você insista – eu falo desviando o olhar pra ele.
– Eu já insisti! Ele disse que não sai do Distrito – ele fala parecendo realmente preocupado, eu solto o ar cansado e vou até ele.
– Vamos lá convencer esse velho – eu falo passando a mão pelo cabelo dele e o levando pra fora do quarto comigo, antes bato na porta ao lado, antes da permissão eu abro a porta, Pérola está com uma montanha de roupas sobre a cama – São só dois dias, você sabe né? – eu falo enquanto olho as roupas.
– Eu sei, só não sei que tipo de roupa eu levo – ela fala como se isso fosse algo muito complicado.
– Meninas – Pyter fala revirando os olhos.
– Acho que tem coisa mais importante! Seu avô disse que não vai – eu falo e ela larga o vestido que estava segurando.
– Por que? – ela pergunta preocupada.
– Ele disse que não sai daqui – Pyter que responde, e ela vem até nós na missão de convencer ele, nós saímos de casa com eles andando apressado na frente.
– Nem adianta que eu não vou a lugar nenhum – ele anuncia quando entramos.
– Vô... – Pérola pede indo até ele e se abaixando a sua frente – Por favor, só vai faltar você! – ela pede com aquele charme que ela sempre usa pra conseguir o que quer, ele balança por alguns segundos, a olhando com aquele jeito de quem irá ceder mas então nega.
– Eu espero vocês aqui – ele fala se negando.
– Mas vô, por favor... – ela insiste juntando as mãos em suplica e ele continua negando evitando olhar pra ela – Vai ser muito legal! Eu até jogo xadrez com você – ela fala já que odeia jogar xadrez, ele ri mas nega.
– Não adianta, eu não saio daqui – ele fala certo de sua decisão, eu já ia falar quando Pyter que havia se jogado no sofá se levanta irritado.
– Tudo bem! Não precisa ir! Não quer ir não vai – ele fala e Pérola o olha surpresa.
– Pyter... – ela reclama com ele e ele se ajeita ainda mais.
– Domingo é meu aniversario, e você não quer ir! Você sabe que eu sempre quis ir lá, sempre! Agora você prefere ficar em casa, mas eu tenho certeza que se fosse pro aniversario da Pérola você já estaria arrumado, mas tudo bem,’’ é só o aniversário do Pyter mesmo... eu não preciso ficar perto dele’’ – ele fala soando magoado – Eu não vou ficar implorando pra você ir! Só achei que eu fosse um pouquinho mais importante pra você – ele fala e vira as costas pra sair – Obrigado, Haymitch! – ele fala alto pra garantir que ele ouviu e eu tenho certeza que ouviu por que assim que Pyter fala seus olhos se arregalam e ele parece impactado pelas palavras, Pérola também está olhando na direção dele surpresa, mas Pyter apenas passa pela porta e a bate com força.
– Ele me chamou de Haymitch? – ele pergunta como se não conseguisse acreditar, desde pequeno, da primeira vez que o chamou, de vovô, ele jamais o tinha chamado pelo nome.
– Ele tá bem chateado – eu falo confirmando enquanto ele continua perplexo. - Haymitch – ele repete o próprio nome em choque.
– Acho que ele já disse tudo, agora a decisão é sua – eu falo e também saio de lá, deixando Pérola com ele ainda em choque no sofá.
Eu entro em casa e vou atrás do Pyter, mas não o encontro no quarto, olho no de Pérola e ele também não está, então desço novamente, olho em casa e já estava começando a me preocupar quando ele entra chutando a bola pela porta de trás.
– Onde você tava? – eu pergunto assim que o vejo, ele me olha confuso.
– Pegando a bola que tava lá fora – ele fala normalmente dando de ombros, então ele joga a bola pra cima quicando ela algumas vezes no joelho e depois no peito, então ri quando consegue, como se nada tivesse acontecido minutos atrás.
– Achei que você ia tá trancado no quarto ou algo assim – eu falo estranhando e ele me olha confuso.
– Por que?
– Por tudo que você disse no seu avô? – eu pergunto com ironia e ele ri.
– Aquilo? – ele pergunta rindo – É só pra ele aceitar logo! A Pérola ia ficar implorando por horas, depois você, depois eu e talvez ele nem aceitasse, mas agora eu duvido que ele não vá! Na verdade eu até apostaria com você como ele já esta fazendo as malas – ele fala orgulhoso e como se combinado Pérola aparece.
– Ele já ta arrumando as coisas – ela fala e ele ri alto e orgulhoso, então me olha vitorioso.
– Pode aplaudir – ele fala e joga bola pra cima de mim, eu a pego ainda no ar, ele a pega da minha mão de novo e sobe as escadas correndo.
– Eu vou arrumar as minha também – Pérola fala e também vai pro quarto, eu também sigo para o quarto onde Katniss está terminando de fechar a mala.
– Eu pensei em ligar pra sua mãe antes, por que se não pudermos ficar lá eu já veria um lugar – eu falo enquanto ela está de costas pra mim, então ela se vira me olhando séria.
– Isso é o quê? – ela pergunta se fazendo confusa – Tá pedindo a minha opinião agora? – ela pergunta me encarando.
– Eu só...
– Faz o que você quiser! – ela fala e sai do quarto me deixando parado lá sozinho, eu saio do quarto e vou direto pro escritório mas acabo puxando um livro com telefones da gaveta, procurando por algum hotel perto e acho uma pousada que diz ficar próxima a praia, eu ligo e em poucos minutos depois de dizer os nomes, consigo o que a mulher me garante ser os dois últimos quartos, eu fecho com ela, desligo e volto pro quarto, Pérola e Pyter saem do quarto ao mesmo tempo, Pyter já carregando a mochila nas costas e segurando a bola.
– Eu já to pronto – ele fala orgulhoso.
– Espera lá embaixo então – eu aviso e ele desce correndo – E você? – eu pergunto pra Pérola.
– Eu preciso de outra mochila – ela fala parada na porta.
– Outra mochila? Pérola são dois dias. Que tipo de coisas você tá levando? – eu pergunto e me aproximo dela, ela abre a porta e eu entro no quarto, ainda tem vestidos e camisas espalhados na cama.
– Eu não sei como é lá – ela fala dando de ombros.
– Nós vamos a praia! É calor e vocês provavelmente vão ficar na água, então pra que tantos vestidos? – eu falo tirando pelo menos dois de dentro da mochila.
– Ah não, eu amo esse vestido – ela fala pegando um deles da minha mão.
– Pérola... camiseta, short, roupa de banho, fim da história – eu falo e ela se joga na cama, eu esvazio a mochila dela e ela me observa enquanto pego as camisetas e a coloco no lugar, mexo nas roupas e encontro um short, levanto ele olhando melhor – Tem certeza que dá em você? – eu pergunto olhando pra ela que ri.
– Claro que dá pai e é novo – ela fala puxando o short da minha mão e colocando na mochila, eu o tiro.
– Esqueça os shorts, vamos colocar calças, longas e fechadas – eu falo e ela ri ainda mais.
– Tá bom pai, pode deixar que eu faço daqui – ela fala puxando as roupas da minha mão, eu acabo rindo também.
– Agora eu faço questão – eu falo e ela faz uma careta se agarrando a mochila me impedindo de ajudar, ela garante que irá faze certo e eu a deixo lá.
Cerca de uma hora depois todos já estão arrumados e com suas mochilas feitas, nós entramos no carro e eu vamos direto pra Estação, eu consigo nossas vagas e entramos no trem no fim da tarde, Pyter e Pérola ficaram encantados nos primeiros passos dentro do trem, seus dedos passavam pelos moveis e janelas de vidro como se não acreditassem no que viam, quando Pyter parou em frente a porta e ela se abriu ele riu como se fosse inacreditável.
– Isso daqui é muito maneiro – ele fala olhando em volta de uma das cabines com sofás e poltronas espalhadas, além das janelas por todo o comprimento do local - Olha mãe... – ele fala se aproximando de uma mesa que está com vários bolinhos em uma travessa – Pode pegar? – ele pergunta olhando pra ela que pela primeira vez libera um sorriso sincero.
– Só um! – ela fala e ele logo está pegando, ele morde e arregala os olhos sorrindo.
– Dois? – ele pede com a boca ainda cheia, Katniss o olha sorrindo mas nega.
– UM – ela afirma e Haymitch se aproxima dele e também pega um.
– Você devia fazer desses – ele fala pra mim e se joga em uma das cadeiras almofadadas enquanto termina seu bolinho, Pérola está encantando olhando pela janela, eu me aproximo dela.
– É muito rápido – ela fala com um sorriso maravilhado.
– Eu ADORO VIAJAR – Pyter fala exagerado mas animado como eu nunca vi antes.
– Você tá no trem a ... – eu olho no relógio – 5 minutos! Vai com calma – eu falo e eles riem, mesmo Katniss que segura o riso quando eu a olho.
– Mesmo assim! Eu percebo as coisas rápido, e percebi que eu adoro mesmo viajar – ela fala se jogando no sofá com os braços pra cima.
Nós ficamos por um tempo ali, até que um dos atendentes apareceu dizendo que já iriam servir o jantar, agora os trens funcionam em cabines, já que ficou mais fácil para as pessoas viajarem, portanto cada cabine faz suas refeições separadamente, além disso, também tem os quartos que basicamente é a segunda parte da sua cabine, onde há além do sofá a cama, na nossa, tem duas camas de casais e o sofá também que se transforma em cama, Haymitch reclama por que exige uma cabine pra ele sozinho, mas como compramos em cima da hora foi o Maximo que consegui e ele acaba se conformando, quando o atendente volta, ele vem acompanhado de mais um e em poucos minutos a mesa já está pronta, nós jantamos juntos e na hora de dormir, deixo que Pérola se deite com Katniss e Haymitch com Pyter e fico com o sofá, mas assim que as luzes se apagam eu sei que não vou conseguir dormir, mesmo com as 5 horas de viagem pela frente, por isso com muito cuidado eu me levanto da cama, coloco uma camisa e saio da cabine devagar, eu ando até o final do corredor e encontro o ultimo vagão vazio, vou até a janela a parede de vidro que oferece uma visão incrível e me encosto nela, fixo meu olhar num ponto especifico mesmo sem estar olhando pra nada e me perco nos meus pensamentos, na culpa do que falei pra Katniss, na culpa do que não falei pra Pérola e do egoísmo que me levou a isso tudo, não sei quanto tempo se passa assim mas eu só me movo quando um casal aparece no vagão, a porta se abrindo sozinha os entregou, eu me viro e eles ficam visivelmente constrangido, provavelmente estavam vindo ficar a sós por isso a garota fica tão vermelha.
– Desculpa, eu... achei que não tinha ninguém – o garoto falou já recuando o passo.
– Tudo bem! Eu já tava de saída – eu garanto e me afasto da parede indo na direção da porta, eles recuam pro corredor me dando espaço pra passar – Boa noite – eu falo quando saio e ela sorri ainda envergonhada, eu acabo sorrindo pela reação dela, eles entram no vagão e eu sigo pelo corredor, até achar outro vagão vazio, duas poltronas e um balcão de bar, eu me sento na poltrona próxima a janela e encaro novamente o vazio, de alguma maneira em algum momento eu caio no sono, acordo quando ouço o barulho de algo caindo, olho ao redor meio assustado, mas as risadas no corredor me mostram que está tudo bem, eu esfrego o rosto me despertando e olho o relógio, apenas uma hora pra chegarmos, eu decido voltar pra cabine, entro devagar e eles ainda estão dormindo, vou para o sofá que é minha cama e fico deitado encarando o teto até que a voz anuncia que em meia hora chegaremos ao nosso destino, eu me levanto pra acordar eles, mas Katniss já está acordada chamando por Pérola, o mais difícil é Haymitch que resmunga enquanto preparamos nossas coisas, o trem para e nós descemos na estação pouco mais das onze da noite, mas consigo um carro sem problemas, e em poucos minutos chegamos a pousada, somos bem recebidos mesmo tarde da noite e nossas chaves são entregues, são dois quartos, sendo um com uma cama de casal e o outro com uma cama de casal e duas de solteiro, Haymitch pega a chave do quarto sozinho e nós vamos com as crianças para o nosso quarto, entramos e encontramos a cama de casal com a cabeceira encostada na parede e as duas de casal na parede de frente a ela, uma encostada na parede e a outra ao lado da porta de vidro que da pra uma pequena varanda de frente pro mar, mesmo com sono e cansados, eles ainda vão até a varanda e mal conseguem se conter quando olham o mar, mesmo escuro os olhos deles brilham.
– A gente vai lá amanhã cedo né? – Pyter pergunta quando eu apareço atrás deles.
– Antes vamos na sua avó e depois vamos pra lá – eu falo e ele nem desvia os olhos do mar, o som das ondas formam uma trilha sonora maravilhosa, mas um vento meio insistente aparece.
– Agora melhor entrar e dormir pra aproveitar o dia amanhã – eu falo e Pyter corre pra dentro do quarto e se joga na cama ao lado da varanda.
– Essa é a minha – ele fala implicando com Pérola que tenta se manter indiferente dizendo que o sol irá alcançar ele primeiro, mas antes que a briga comece Katniss os manda dormir, eles se deitam ainda murmurando um com o outro.
– Vocês acham que eu não estou ouvindo? – Katniss pergunta enquanto se deita na cama, eles riem, eu fecho a porta da varanda, a cortina e apago as luzes e então me deito, mas novamente sei que não vou conseguir dormir, Katniss estava deitada de costas pra mim e apenas isso já era o suficente pra me fazer não conseguir nem ao menos piscar os olhos, então eu já estava me levantando, quando a voz baixa me fez parar.
– Você precisa dormir – ela fala e eu paro sentado na cama, olhando pra ela que continua de costas, então depois de alguns segundos ela se vira pra mim – Eu vi você no trem! Você não dormiu lá também – ela confessa e eu concordo.
– Acho que você também não – eu falo e ela nem concorda e nem discorda.
– Você devia dormir – ela repete e volta a me dar as costas, eu volto pra cama e me deito virado pra ela, me aproximo mais dela mas sem tocá-la.
– Droga Katss... Me perdoa! Por favor... – eu peço com a voz baixa e com todas as palavras se embolando na minha boca – Você estava certa! Eu fui um idiota, egoísta! Eu não consigo nem me olhar no espelho, eu sei que eu to errado, eu usei tudo isso por capricho, eu sei disso, mas me perdoa! Eu não consigo ficar assim com você, eu não suporto saber que eu errei com vocês... – eu falo e ela permanece de costas – Que errei com eles e errei com você! Aquilo que eu disse estava completamente errado, eu quis usar você pra tampar o meu próprio erro, pra me cegar do quanto eu estava sendo imbecil! Eu não tinha o direito de falar aquilo de você, eu nem ao menos acredito no que eu disse, você é a melhor mãe que eles poderiam ter e eu sei tanto quanto eles que eles são sortudos por isso, assim como eu tenho sorte de ter você, mas infelizmente eu não posso dizer o mesmo de você, quer dizer, quanto a eles sim você tem sorte, agora quanto a mim... – eu confesso e ela leva alguns segundos até se mover e ficar de frente pra mim, nossos corpos próximos mas ainda sem encostar um no outro –Só espero que você me perdoe – eu peço mais uma vez.
– Eu também tenho medo sabia?! – ela fala olhando nos meus olhos – Todos os dias quando eu olho pra eles e vejo o quanto eles estão crescendo eu tenho medo... eu fico completamente apavorada em pensar que um dia eles não vão precisar de mim pra nada... eu fico completamente paralisada em pensar no que vai ser da minha vida quando isso acontecer! – ela confessa com a voz sussurrada e mesmo no escuro posso ver a lagrimas nos seus olhos e meu instinto fala mais alto e eu passo meus dedos pelo seu rosto enxugando as lagrimas, ele me impede ou recua – Mas vai acontecer! Um dia vai acontecer, eles estão crescendo e é isso que vai acontecer, eles vão precisar menos ainda de mim, de você! Eles vão conhecer alguém, montar a familia deles, eles vão viver Peeta, e eu tenho certeza que serão felizes – ela fala e eu concordo – E eu só preciso saber que quando isso acontecer eu ainda posso contar com você! Que ainda seremos nós dois, que ainda estaremos juntos – ela fala me olhando nos olhos – Por que eu não vou conseguir Peeta, eu não vou conseguir... – ela para de falar segurando as lagrimas.
– Ei... ei, tá tudo bem! Eu to aqui, eu sempre estarei aqui, sempre – eu falo acalmando ela e a abraçando junto de mim, sua cabeça se encaixando no meu pescoço – Sempre! – eu repito enquanto a aconchego nos meus braços, ela me abraça de volta e eu deixo que ela se acalme, agora eu entendo que ela também tem o mesmo medo que eu, eu sei que ainda é cedo e que talvez para a maioria dos pais isso seja um exagero mas Pyter e Pérola foram e são os nossos maiores motivos pra continuarmos, pra seguir mesmo com toda carga nos puxando pra baixo e pensar que eles estão crescendo é o mesmo que pensar que não teremos mais um objetivo a cumprir, não teremos nada que dependa de nós, nada que nos obrigue a fincar os pés no chão e com um passado como o nosso é difícil pensar nisso, durante todos esses anos nós tínhamos uma causa, eu não podia desistir, nem ela, por que além de precisarmos um do outro, ainda tinha o motivo maior, eles, por eles, mas com o tempo passando isso nos assusta, mas ao mesmo tempo uma parte minha sabe que isso não é real, eles são nossos filhos, e serão não importa quanto tempo passe – Vai ficar tudo bem! Eles são nossos filhos, ninguém pode mudar isso – eu afirmo pra ela e pra mim mesmo, ela concorda com as lagrimas ainda rolando – E eu AMO vocês! Amo muito – eu declaro e seu olhar encontra o meu.
– Eu sei! Eu também – ela confessa e dessa vez com nossos rostos próximos demais eu a beijo, ela não me despreza e corresponde ao beijo, lento e demorado mas que apenas ele consegue me acalmar, depois disso é como se uma carga fosse tirada dos meus ombros, e com ela ainda abraçada a mim nós pegamos no sono, acordo com mãos me sacudindo e uma luz insistente no meu rosto.
– Anda... pai! Acorda – Pérola está no nosso meio sacudindo a mim e a Katniss, eu procuro pela luz e Pyter está abrindo a cortina revelando um som já forte e o céu incrivelmente azul. - Vocês tem que ver isso – ele fala abrindo os braços na frente da porta pra varanda, eu olho pra Katniss e mesmo irritada por ser acordada ela libera um sorriso.
– Eu vou acordar o vovô – Pyter fala correndo pra porta.
– Coloca uma camiseta - Katniss avisa quando eles já estava abrindo a porta sem camisa, ele volta correndo e pega a minha camisa que estava sobre a cadeira e a veste saindo apressado do quarto, eu me levanto e vou pro banheiro deixando Pérola e Katniss na cama, quando saio Pyter já está de volta ainda animado, eles batem o recorde e se arrumam em poucos minutos, sem discussão e ainda animados, Katniss ainda parece meio tonta de sono maa também está arrumada, nós descemos e encontramos Haymitch reclamando com a senhora da pousada enquanto ela lhe serve o café.
– Eles não tem chocolate aqui! Que espécie de lugar é esse, que não tem uma xícara de chocolate? – ele reclama e ela tenta explicar delicadamente que pelo calor eles não tem esse costume.
– Obrigada, não liga pra ele! – Katniss fala enquanto se senta a mesa – Ele tá ficando meio gaga – ela fala fingindo sussurrar.
– Eu ouvi queridinha... – ele fala encarando ela.
– Olha...panquecas – Pérola fala interrompendo a possível discussão, então nós tomamos café, na verdade Pérola e Pyter basicamente engolem o café.
– Já acabamos – eles falam depois de se olharem de forma cúmplice.
– Pelo menos aqui eles concordam em tudo – eu falo sorrindo pra Katniss.
– A gente vai na vovó e depois vamos pra praia né? – ela pergunta já se levantando.
– A gente pode ir lá depois! Vamos na praia primeiro – Pyter fala e eles começam a discordar.
– Cedo demais – Katniss fala me corrigindo – Nós primeiro vamos na avó de vocês e depois pra praia – ela fala e Pyter revira os olhos.
– Tá bom, então vamos logo – ele fala nos apressando, antes de sairmos nós paramos na recepção pedindo informação, mas a mulher já estava com a resposta pronta, com certeza ela reconheceu Katniss e já sabia o que iríamos perguntar, ela nos explica como chegarmos a casa da mãe dela, que fica próxima a praia também, nós levamos mais tempo por que Haymitch anda cada vez mais devagar mas conseguimos, estávamos chegando a casa quando Sra. Everdeen estava saindo.
– Vó – Pérola correu na frente e pude ver a surpresa nela, quando a viu, ela abriu os braços e Pérola a abraçou, quando chegamos ela ainda estava olhando e passando a mão na Pérola como se fosse uma miragem, Katniss precisa quase empurrar Pyter pra falar com a avó e ainda assim o abraço que ele lhe deu foi no mínimo educado, ela também abraçou a Katniss e a mim, Haymitch é claro apenas acenou a distancia, já se sentando em uma cadeira de balanço e quando eu pedi pra ter uma pouco mais de educação, ele fez questão de dizer em alto e bom som que não queria nem ao menos ter ido, ainda assim Sra. Everdeen continuou animada com a surpresa, ela nos fez entrar e conhecer a casa que é pequena, apenas sala, cozinha, quarto e banheiro, mas é bem aconchegante a arrumada, na estante na sala está um foto de Katniss e Prim, a foto de casamento dela, uma foto minha e da Katniss, outra do Pyter bebê e uma da Pérola quando estava aprendendo a andar, em outra cômoda, está uma foto mais recente deles, Pyter no fim de um campeonato e Pérola na aula de balé, nós mandamos a foto pra ela mês passado.
– Eu estou tão feliz que vocês vieram – ela fala realmente contente, olhando pra ela talvez pela primeira vez eu a vejo com um brilho nos olhos, é claro que ela sempre sorria quando ia até lá os visitar mas aqui ela parece realmente feliz, mesmo com toda aparência ainda cansada, as rugas em seu rosto e mãos estão ainda mais visíveis, seu cabelo já está quase todo branco e tudo que ela faz pra ela parece que é feito com muito esforço – Se eu soubesse teria preparado algo pra vocês – ela fala depois de nos levar pra conhecer a casa.
– Não precisa – Katniss fala agradecendo – E nós decidimos meio em cima da hora mesmo – ela explica.
– Que maneiro! Você que pegou? – Pyter pergunta mexendo em algumas conchas do mar que estavam por cima da mesinha de centro.
– Na verdade tinha umas crianças vendendo um dia e eu achei elas muito bonitas – ela confessa sorrindo e se aproximando dele, ele está com algumas na mão olhando com atenção,, então ela pega uma maior – Acho que você vai gostar disso – ela fala e coloca a concha no ouvido dele, ele leva alguns segundos e então ri.
– Legal – ele fala pegando a concha da mão dela – Escuta – ele fala e vem até a mim, colocando no meu ouvido, o som do mar pode ser ouvido e ele volta a colocar no ouvido dele.
– E onde elas conseguem ? – ele pergunta se voltando para o lado da avó.
– Na praia, pela areia... tem muitas dela por aí – ela fala e começa a contar de algumas conchas incrivelmente bonitas e raras que já encontrou enquanto estava andando pela praia e pela primeira vez em todos esses anos, Pyter a olha fascinado como se ela soubesse de algum segredo que nós nunca saberíamos, ele faz perguntas e comenta, rindo e ficando admirado a cada história, Pérola se junta a eles e nós somos deixados de lado apenas observando eles três.
– Ele até esqueceu da praia – Katniss sussurra no meu ouvido e eu concordo, nós deixamos eles conversando e vamos pra varanda onde Haymitch está se balançando olhando o mar.
– Agora entendi por que ela te largou lá – ele fala apontando a vista a frente mas com a acidez de sempre – É uma boa troca – ele complementa e eu já ia responder a ele quando Katniss segura meu braço e nega com a cabeça, ao invés de retrucar ela o ignora, sua mão escorrega do meu braço pra minha mão e ela fecha os dedos entre os meus, ela indica com a cabeça a praia a frente nós descemos os degraus da varanda indo até lá, a areia nos nossos pés, o sol já esquentando e o mar azul e imenso, ela para e tira as sandálias, eu faço o mesmo e nós seguimos pela praia até a beirada da água, ela me solta e molha os pés sorrindo.
–Eu não lembrava de ser tão lindo – ela fala olhando pra frente e depois fechando os olhos inspirando lentamente, eu deixo nossas sandálias na areia e me aproximo dela também molhando meus pés, e passo meus braços em volta dela, beijo seu pescoço e apoio meu queixo no seu ombro.
– É incrível – eu falo olhando também o mar.
– Acho que o Haymitch tá certo... – ela fala mas acaba sorrindo – É um troca justificavel – ela fala mas mesmo que esteja sorrindo ainda há uma certa magoa na sua voz, eu a viro de frente pra mim e olho nos seus olhos, afastando os fios de cabelo que caem sobre eles.
– Pra mim não! Eu não te trocaria nem por mil lugares como esse – eu falo e ela sorri.
– Nem por mil? – ela pergunta fingindo duvida, eu sorrio mas nego – Acho que eu te trocaria por dez – ela fala e eu ergo as sobrancelhas fingindo surpresa, ela ri e eu a olho diretamente nos olhos.
– Eu tenho certeza que não – eu falo e ela fecha o sorriso por alguns segundos.
– Claro que não! Por nada – ela afirma e seu olhar só desvia do meu pra minha boca, então nós nos beijamos, até as vozes e os passos animados mesmo sobre a areia nos desperta, Pyter e Pérola corriam enquanto tiravam a roupa pelo meio do caminho e quando terminam já estavam a alguns passos de nós correndo em nossa direção, eles desviam e pulam na água.
– Vem... – eles nos chamam mas Katniss nega – AAAh mãe, vem – eles pedem e ela já estavam recuando quando eles correm até nós agarrando cada mão dela e arrastando.
– Não, eu to de roupa! Para, para! É sério, eu to de roupa – ela reclama gritando enquanto eles a arrastam.
– PAI – Pérola pede minha ajuda quando ela consegue se soltar e mesmo correndo um grande risco depois, eu a pego no colo e entro na água, ela se debate e eu acabo desequilibrando e caindo na água junto com ela, ela bate na água e acaba me acertando alguns tapas.
– Eu...não... tô acreditando Peeta – ela reclama tirando o cabelo molhado do rosto – Olha como eu Tô – ela fala abrindo os braços, Pyter e Pérola estão em gargalhadas e quando eu tento me aproximar dela ela me empurra – Não chega perto – ela fala mas está com um sorriso disfarçado.
– Se não? – eu pergunto avaliando ela.
– É sério, fica aí. Bem aí – ela avisa e recua tentando sair da água, mas Pyter começa a jogar água nela, Pérola imita ele enquanto ela vira o rosto mandando parar.
– Vocês estão de castigo... por um mês! – ela avisa e eles riem mais ainda – Não, por um ano! Melhor... Pro resto da vida – ela conclui e então encara a água que está sendo jogada e alcança Pyter afundando a cabeça dele na água, mas logo ele submerge de novo, rindo, e balançando o cabelo espirrando água em todos, e então começa uma guerra de águas, onde um tenta molhar o outro e as risadas se misturam com o barulho das águas e dos pássaros ao fundo, quando paramos, algumas das pessoas que estavam pela praia nos olhavam e riam entre elas, dessa vez não acho que tenha a ver com quem ‘’nós somos’’ mas pela incrível bagunça que conseguimos arrumar e pela primeira vez eu realmente não me importei com os olhares, acho que Katniss também não por que continuamos com eles por mais um tempo, na verdade ficamos pela praia até o horario do almoço quando Sra. Everdeen aparece nos chamando, mesmo que tenhamos falado pra ela não se preocupar ela insistiu que almoçássemos com ela e ninguém teve coragem de dizer não, nem mesmo Pyter, principalmente depois que ele achou algumas conchas e ele foi o primeiro a correr até ela e mostrar.
– Ei, não entrem! Olha como vocês estão – Katniss fala enquanto eles limpam os pés de areia.
– Ah tudo bem, é só um pouco de areia! – Sra. Everdeen fala fazendo eles entrarem – Vocês que vão precisar do banheiro com mais urgência – ela fala olhando pra nossas roupas, eu sorrio e Katniss me olha repreendendo mas sorri também – Mas só tem um banheiro aqui, mas fiquem a vontade – ela fala e depois de limparmos os pés o Maximo possível entramos rápido pela casa, Katniss pega minha mochila e entra no banheiro já fechando a porta, eu coloco a mão impedindo.
– Eu to molhado também – eu falo e ela continua empurrando.
– Problema seu! Eu cheguei primeiro – ela fala dando de ombros.
– Tá sujando a casa toda, isso não é nem educado – eu falo e ela me encara alguns segundos então solta a porta, eu sorrio e entro junto com ela, o banheiro parece ter apenas metade do tamanho do nosso, um chuveiro, o vaso e a pia, sem espelho, sem banheira, é estranho lembrar que um dia meu banheiro era assim, Katniss precisa entrar no Box pra que não fiquemos nos esbarrando.
– Eu não trouxe roupa – ela fala enquanto tira sua camiseta molhada.
– Não devia ter entrado na água então – eu falo implicando com ela e recebo um tapa em resposta.
– Foi o que eu disse pra vocês – ela fala quando eu me desvio, eu sorrio enquanto reviro a mochila, eu levei duas camisetas pra mim, uma de meia manga e outra sem mangas, eu jogo a com manga pra ela.
– Eu não vou colocar sua camisa e vai dar duas de mim aqui dentro – ela reclama me jogando de volta.
– Ótimo! Sai de sutiã então – eu falo já guardando a camisa, ela faz uma careta e passa por mim indo pra porta, ela abre e coloca a cabeça pra fora, antes que eu pergunte ela chama.
– Pérola – ela grita e alguns segundos ela aparece – Você trouxe roupa não trouxe? – ela pergunta e ela deve ter concordado – Me da sua mochila então – ela avisa e ela deve ter reclamado – E não faz essa cara, vocês que me molharam – ela avisa e eu acabo rindo, ela volta a me olhar me mandando ficar quieto, eu continuo me livrando da minha roupa molhada até que Pérola lhe entrega a mochila.
– Não usa o rosa – ela avisa e Katniss revira os olhos.
– Era o primeiro que eu ia pegar – ela fala com ironia e fecha a porta, abre a mochila e começa a revirar – Pra que ela traz tudo isso? – ela pergunta tirando um vestido, e duas camisetas.
– Ela é mais esperta que a mãe, você não pode culpá-la por isso – eu falo implicando com ela, que pega um vestido branco, com algumas flores espalhados, então ela se livra da roupa de novo, ficando apenas de calcinha e sutiã, e então percebe meu olhar – Nem pensa – ela fala e começa a colocar o vestido, eu sorrio mas me aproximo dela, passando minha mão pela sua barriga, ela ri mas se esquiva, mas como o banheiro é pequeno não demora muito até eu conseguir prender ela nos meus braços, ela apenas sussurra fazendo sinal pra eu soltá-la, mas eu sorrio e quando encosto ela na parede ela para e sorri, então eu a beijo.
– Será que os pombinhos podem parar de se agarrar no banheiro e liberar ele? – a voz ranzinza nos faz parar, eu o xingo mentalmente enquanto junto nossas coisas, Katniss abre a porta e ele está lá parado.
– Podiam ao menos ter arrumado o cabelo né – ele fala com ironia e Katniss passa a mão pelos cabelos, ele ri e entra no banheiro.
Nós encontramos Pyter e Pérola na cozinha ajudando a colocar a mesa e logo quando Haymitch sai nós almoçamos juntos, a parte da tarde nós ficamos pela varanda enquanto Pérola insiste em tirar fotos de todos e de cada momento, ela levou a câmera que ganhou de aniversario e a qualquer momento em que ela não estivesse correndo pela areia com Pyter ela estava tirando fotos, a energia deles parecia não acabar e só no fim da tarde que eles se sentaram na areia ao nosso lado pra olhar o pôr do sol e foi ali olhando eles dois a nossa frente sentados e impressionados com a visão que uma nova certeza me atingiu, a certeza de que nada, NUNCA, vai conseguir mudar isso, nós não somos apenas um time, nós somos uma família e não há nada mais forte que isso.


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