Dei mais um gole na xícara de chá a minha frente, revestida em pequenas joias azuis por cima da porcelana branca. Cruzei uma perna sobre a outra, enquanto a velha terminava de conversar com o cavaleiro militar. Sua armadura cinzenta era revestida nas dobras com pequenos metais esverdeados escuro como musgo.

O soldado sentou-se a minha frente, do outro lado da mesa. Apenas uma armadura vazia presa neste mundo por magia necromântica.

– Por favor, diga seu nome para começarmos a inscrição. - sua voz ecoou como se estivesse distante. Ele pegou uma prancheta holográfica na mesa e a caneta presa na aba. Ele começou a fazer anotações antes de eu falar.

Descansei o olhar. Meus olhos esverdeados doíam muito por eu ter acabado de acordar. 457 anos dormindo não fazia muito bem à um ser humano. Um quase ser humano pelo menos.

– Você sabe tudo que será pergunta... - respondi. - Por que eu deveria me dar ao trabalho de fazê-lo?

– Essa é uma formalidade do Continente Japonês. - respondeu em sua forma vaga. - Diga seu nome.

Limitei-me a suspirar.

– Naoko.

Após uns rabiscos ele me olhou de novo.

– Sobrenome.

– Tokikami.

– Este é o nome completo? - perguntou o soldado. - O conselho tem mais informações em relação a isso. - esclareceu.

– Tokikami. Enferno. Naoko. - cruzei os braços, batendo o pé de leve contra o chão.

O espírito se calou e vasculhou atentamente as informações que ele já tinha. Percebi um leve aceno da armadura.

– Idade. - voltou ao assunto.

– Tecnicamente? 475. - falei voltando a abrir os olhos. - Mas eu acho que 18 deve ser mais... Correto. - encarei o vulto da porta fechada atrás do soldado. Eu não realmente lembrava o motivo de ter sido aprisionado, porém eu o tanto que eu lembrava era o suficiente para mim mesmo.

O cavaleiro terminou de escrever.

– Apelido? - dessa vez era uma pergunta.

– Ah... Se eu bem me lembro, eu fui selado pouco antes do evento de entrada no terceiro ano. - esfreguei o queixo. - Eles dão apelido a todos já ingressados na instituição.

– Sim. - falou. - Depois de muitas discussões, anonimato fora do território seguro pode ser importante. Então?

– Não. A principio não tenho. - a luz do local piscou uma vez. Minha sombra que era focada para a lateral assumiu a silhueta de uma besta e depois voltou ao normal. - Acho que agora eu sou só um inútil.

Ele parou.

– No mundo das almas você é conhecido como... - ele finalmente havia perdido a compostura.

– Um dos quatro cavaleiros do apocalipse. - levantei o olhar. - Um dos vilões originais. Um verdadeiro Akuyaku. - ajeitei-me na cadeira, pois o simples fato de ser conhecido de uma forma tão poderosa já exalava uma grande quantia de respeito da pessoa e eu podia forçar isso.

Rapidamente ele se ajeitou. E voltou à atenção para a ficha.

– Mas eu não preciso chamar nenhuma atenção. - suspirei. - Não é como se eu fosse tentar destruir o mundo. De novo. Ou ainda. - abri pequenas exceções.

– ... - silenciosamente ele fez algumas correções e pediu. - Qual seu Manthra?

– Meu... O que? - devolvi a questão.

– O Manthra é o Estado de Espírito de sua forma de combate. No caso...

– Eu entendi. - falei seriamente. Senti sua forma gelar. - Apenas tínhamos um nome melhor para isso no passado. - olhei as tatuagens em meu braço, selando meus poderes em 4 ranks diferentes. Eu poderia ser ameaçador, mas eu não podia fazer metade do que fazia no passado. - Insanidade. - falei.

– Mas o Estado Japonês o tem registrado como Violência...

– O Estado Japonês... - cortei-o, sorrindo diabolicamente. - Também me aprisionou por 457 anos. O tempo que tive para refletir sobre minhas ações, eu apenas usei para evoluir meu 'Manthra'.

Ele corrigiu novamente os arquivos. Dessa vez, percebi que acrescentou tudo que eu havia falado. Felizmente e Infelizmente eu não pretendia me tornar o Akuyaku esse ano.

– E em relação as divindades?

– O mundo muda muito... - respondi. - O que as igrejas tem essa década?

– Todas as Igrejas foram destruir. Agora voltados ao velho sistema de Templos na nossa terra. Sacerdotes. A verdadeira força da benção e a proteção não dependem da crença, mas sim na devoção no estilo de vida.

– Pelo menos agora não é uma coisa abusiva. - dei de ombros.

– Os deuses verdadeiramente reconhecidos são: Inori, a princesa das almas e da calma; Nikoleu, o senhor da neve e do lar; Aigis, a deusa da proteção e da habilidade; Azura, o prince da luta; e Dedra, o deus das raças mestiças.

– Isso é bem básico. - comentei. - Falta muita explicação nesses deuses... Mas... Eu era o Campeão de Azura no passado, então acho que não posso mudar.

Mais uma vez, ele parou de me ouvir para escrever no relatório. Provavelmente apenas confirmava o que estava escrito.

– A propósito, que tipo de raças tem mudado para cá nos últimos tempos? - perguntei-lhe. - Eu não conheço uma boa parte deles.

– Além de Humanos como você, temos Espectros, Dragonianos (Repteis), Kalinos (Animais), Araudes (Fadas e Plantas), Overlordes (Nascidos Magos), Bublerianos (Aquáticos)... Mas muito deles usam camuflagens e trajes para ficar em terra.

– Eu sei. Posso ver por baixo dos trajes. Todos eles são raças pela metade... Ou a maior parte. Gosto da ideia de ver garotas com caudas e orelhas de animais, não tínhamos tanto disso a quase 400 anos atrás.

– Você tem algum tipo de doença? - ele pareceu ignorar meu comentário. Não o culpava, ele nunca poderia ficar com uma mortal.

– Ãh... - tentei lembrar-me. - Sim. Licantropia e Discromopsia. - eu não considerava essas coisas doenças, mas eles sim, então...

– E finalmente: Qual seu objetivo? - perguntou diretamente.

Esfreguei o rosto. Eu teria de ir direto ao ponto de qual quer jeito. Eu não tinha realmente um objetivo. Olhei para o selo que recobria meu braço esquerdo.

– Arranjar uma namorada... Talvez? - acabei falando de brincadeira, porém eu não esperava que virasse meu real objetivo mais tarde... Ele se pôs a anotar. - E-ei eu não... Bem, que seja, parece uma ótima ideia pra mim.

– Certo. Isso completa o inicio.

– Inicio...? - DROGA! Isso levou quase mil palavras e nem terminamos...

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Andei pelo longo corredor, atravessando varias salas onde varias pessoas eram entrevistadas. Eu havia voltado, depois de tanto tempo, para este mundo que uma vez eu tinha tentado destruir. Parei de frente para a grande porta de vidro que deslizou para os lados.

Sai a tempo de ver a grande figura de um dragão passar voando por cima dos raios de luzes do sol, o qual agora absorvia energia mágica de Sirius para poder continuar iluminado a Terra. Olhei ao longe para uma quantia de nuvens negras envolvendo áreas montanhosas, onde o antigo Akuyaku havia morrido.

E não apenas lá. Havia varias nuvens negras ambulantes que descarregavam raios negros contra o chão, contra animais e contra árvores. Suspirei. O mundo havia sem duvida apodrecido. Ri um pouco.

Isso é o que acontece... Quando Vilões Vencem. (When Villains Win)