E se... escrita por Orpheu


Capítulo 5
E se... as regras fossem obedecidas?


Notas iniciais do capítulo

Antes de ler, um pouco sobre o Pokémon que inspirou essa história: ama o choro das crianças, e persegue os seus inimigos como um terminador espectral, passando infalivelmente através das paredes para conseguir o que quer. Ainda é dito na Pokedex que eles somem com crianças desobedientes … provavelmente deixando-os perdidos na floresta para se tornar (...)



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Todo final de ano, assim que minhas férias escolares começavam, era obrigatório uma viagem para o interior, onde meus avós moravam. A fazenda em que eu eles moravam era enorme e, por incrível que possa parecer sempre me diverti muito nas duas semanas anuais que passava junto com os pais de minha mãe. Eu era seu único neto e sábia usufruir muito bem dessa regalia.

Vovó era atenciosa se sabia cozinhar de uma maneira espetacular. Vovô era mais reservado, mas quando decidia começar a falar sobre os seus tão queridos relógios antigos, não havia quem o fizesse parar. Na época eu era muito jovem para perceber, mas a vida harmônica que esse casal tinha sempre foi a minha grande meta para a parte sentimental.

Os dias na fazenda eram tranquilos e as noites curtas, afinal os geradores eram desligados às oito horas, então não havia muita coisa para se fazer após todas as luzes estarem desligadas. No entanto, antes mesmo de o Sol se impor sob o belíssimo e límpido céu azul da fazenda, a casa principal já estava cheia de vida. A agitação das manhãs era o que fazia meus olhos inocentes brilharem de alegria e euforia.

Na maior parte de meu tempo ajudava meu avô com as tarefas diárias, ou então ficava na cozinha enquanto vovó preparava as mais diversas guloseimas. Quando ambos estavam ocupados sempre achava uma maneira de escapulir para o celeiro e observar os animais ou então me perder no meio da palha ainda não usada. Meu chamado era para a vida no campo e não para o estresse da cidade – sendo “estresse” uma grande variável de infinitas possibilidades para uma criança de dez anos.

Minha diversão não dependia somente de meus avós, afinal eles já tinham uma idade avançada demais para uma criança de dez anos – no auge da era do “tudo eu sei” – ser capaz de se entreter a todo o momento com eles. Na fazenda vizinha, distanciada por meia hora de uma caminhada, existia uma companheira de aventuras. Uma garota loira e com a mesma idade que eu, mas com uma bagagem cheia de histórias e experiências.

Foi na minha última semana na casa de meus avós que minha amiga me contou a última novidade que havia conseguido bisbilhotando as conversas de seus pais. “Uma criança desapareceu recentemente, disse os meus pais. Pelo que parece foi o filho dos Perkers, uma família grande da região. Ele teve uma discussão bem séria com os pais porque, pelo que ouvi, eles não deixaram dormir na casa de um amigo e acabou ficando de castigo por isso. Só que o danado deu um jeito de sair de casa e acabou que até hoje não voltou”.

“Se eu conheço aquele ‘filhinho de mamãe’ ele bem que deve ‘tá’ se escondendo no bosque, só pra fazer as pessoas de besta”. Estava completamente espantado com aquela noticia, mas mais pelo fato de não conhecer esse tal bosque. Imediatamente sugeri que fossemos lá, brincar de “Detetive” e descobrir o paradeiro da criança desaparecida e sairmos como os ‘mocinhos’ da história, assim como tinha visto no filme de faroeste que passou na televisão, preto e branca, de meu avô.

Saímos em disparada para o bosque. Minha amiga, agora assistente de investigações, tinha que estar em casa cedo, pois seus pais haviam estabelecido uma única regra para ela: voltar para casa antes das cinco da tarde – tudo por causa do desaparecimento, que assustava os adultos e fazia crescer em mim um espírito de aventureiro. Quando chegamos ao bosque já era cinco da tarde.

O local estava deserto, mas ao mesmo tempo cheio de vida. Não éramos capazes de enxergar, mas a nossa volta ouvíamos o murmurar dos insetos, os pássaros se preparando para a noite e um bater de madeira, que deveria ser um pica-pau (aquela região possuía uma variedade de aves incrível). Adentramos pelo bosque e caminhamos sem medo algum, eu escrevia em meu bloco de notas imaginário e minha assistente fotografava a suposta “cena do crime”.

Nossa investigação estava tendo grande processo, no nosso imaginativo, é claro, até que a brincadeira termina quando nos deparamos com um riacho. No outro lado deste riacho o bosque continua, mas eu não sabia nadar e seria repreendido por minha vó se chegasse em casa com a barra da calça molhada. No entanto minha companheira era valente e não pensou duas vezes e seguiu pelo rio.

Enquanto minha amiga atravessava o rio, notei que do outro lado da margem havia um movimento nos arbustos, com certeza o local onde o filho dos Perkers estava escondido. Não hesitei e gritei para ele que já havíamos encontrado seu esconderijo, a moita se agitou e, ambos, vimos algo correr para dentro do bosque. A vizinha, animada com o descobrimento, não demorou em ir atrás do foragido, enquanto eu apenas fiquei esperando do outro lado do rio.

As horas foram passando e nada de minha amiga retornar. Já estava me preparando para cruzar o rio quando, ao direcionar meu olhar para a outra banda, notei um suave brilho escarlate vindo daquela direção, seguido por um estranho choro. Fiquei estagnado. Enquanto estava ali parado, com a ponta de meu tênis se preparando para enfrentar a água do riacho, ouvi o som de passos se aproximando, passos pesados. Não pensei duas vezes e saí correndo dali.

Quando cheguei a fazenda, sem noção alguma das horas, encontrei os vizinhos e meus avós sentados na sala de estar. Olhei para o relógio e já eram oito horas, o gerador continuava a funcionar, sinal de que estavam esperando pelo nosso retorno, mas a expressão deles ao verem somente uma criança e ainda aos prantos ficou em minha memória. As perguntas vieram logo em seguida, respondi a todas e fui sincero em tudo. No outro dia as buscas por Beatrix Turman começaram. Uma regra foi estabelecida em todas as casas com crianças: “não vá perto daquele bosque”

Os últimos dias de minhas férias se passaram dentro de meu quarto, repetindo as mesmas informações sempre que um adulto aparecia em meu quarto. As buscas, pelo que eu conseguia ouvir , não estavam tendo sucesso algum e não parecia que alguém havia estado naquele bosque além de Beatrix e eu. Acho que já estavam começando a suspeitar que eu havia inventado tudo, quando na verdade eu estava tão assustado quanto eles.

Na última noite em que eu estaria na casa de meus avós decidi por um fim naquilo tudo e saí as escondidas para ir até o bosque e encontrar Beatrix. Percorri o mesmo caminho daquele trágico dia, até chegar ao riacho. O silencia ali reinava. Dessa vez não deixaria que o medo me dominasse e logo atravessei o riacho, nada havia mudado. Andei por alguns minutos e não encontrava nada, os gafanhotos faziam seu som e era somente isso que ouvia.

No entanto a situação logo mudou quando o mesmo murmúrio de antes chegou até os meus ouvidos e todo o meu corpo se arrepiou, pensei em voltar para trás, mas o dono dos murmúrios estava ali. Uma estranha criatura com pequenos olhinhos vermelhos e um tronco no rosto, seu murmúrio era familiar para mim.

– Beatrix? – mas não tive tempo de obter minha resposta, fui atingido fortemente na cabeça.

Quando acordei estava dentro de uma caverna com um odor horrível. Na minha frente estava uma criatura muito parecida com um ciclope e que balança suas mãos com certo ritmo. A nossa volta uma versão menor da criatura, mas tão assustadora como. Dentro de minha cabeça ouvia um leve sussurro “você não deveria ter desobedecido as regras”. As horas seguidas foram de total sofrimento. A criatura maior devorara minha alma e pouco antes de minha vida se esvair daquele corpo percebi o motivo do mal cheiro: as crianças ‘desaparecidas’ estavam todas ali.

Agora vago por esses bosques como uma alma ambulante, preso em um corpo familiar ao de Beatrix. Tudo que nos resta é observar as pessoas do outro lado da margem e murmurar para elas para não atravessarem esse rio, pois deste lado tudo que as espera é a morte e o sofrimento eterno. Queria jamais ter desobedecido meus avós e ter continuado naquele quarto durante o resto de minhas férias.

1º Pokémon 2º Pokémon As crianças


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Notas finais do capítulo

Bem é com esse capitulo que termino essa série de contos. Espero que você tenha gostado e que tenha curtido essa nova forma de ver os Pokémon. Lembrando que só foi feita uma dramatização com base no texto que a própria Pokédex da para os monstrinhos de bolso. Até a próxima :)



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