O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?

Clarice Lispector

A fumaça dos trens espiralava-se em torno das pessoas como grossas e quentes cobertas de algodão. A clara manhã de novembro deixava-lhe a vista um punhado de trens, de grandes até pequeninos, mas a pequena família andando entre a multidão não estava interessada em nenhum, caminhavam entre eles sem dar-lhes a devida importância. Mas se alguém se desse o real trabalho de os observar veria que caminhavam diretamente para o pequeno espaço entre as plataformas nove e dez. Com um estalo inaudível eles já não se encontravam mas na movimentada estação, a multidão ao menos olhava duas vezes ao pequeno espaço onde haviam sumido, monótono para eles, mas não para ‘’outros’’, não para os bruxos. A família magicamente reaparecera em outra plataforma, uma imensa maria-fumaça ocupava um grande espaço ali, milhares de famílias conversavam e riam alegremente, o pio de milhares de corujas confundindo-lhe os ouvidos .

A pequena garota ruiva pulava de alegria, seus olhos verdes acastanhados brilhavam, aquela seria sua vez, ela já estava cansada de ver seus irmãos indo ano após ano. O mais alto deles, um garoto com cabelos castanhos e olhos caramelos, olhava radiante para todos, eles seriam suas próximas vitimas , ele só teria de se lembrar a não ser expulso, mas agora James Potter teria sua irmã para dividir a culpa. É quando outra família vem até eles, a garota, claramente mais velha reclamava com o irmão, enquanto o homem de cabelos ruivos dava pequenas risadas sobre a briga , sendo reprendido pela mulher ao seu lado, que dava tapas em seu ombro . Os Weasley haviam chegado. Hugo, que momentos antes brigava com a irmã, sorria para Lily, afinal, aquele também era seu primeiro ano. A garota corre rapidamente para o trem, seguida por ele.

– Tente não assustar os outros, Potter – Repreende o primo rindo, antes de sumir para o próximo vagão.

‘’Pode ter certeza de que não vou’'. Pensa a ruiva atravessando milhares de portas, até que finalmente a acha, ou elas a achem. Confusão. Poderia estar comprovado que os Potter estavam destinados a encontra - lá, mas em raras horas elas eram coisas realmente boas, e pode se dizer que essa era uma dessas vezes. Ela a vê antes de senti-la. Um rápido grito abafado, e a garota já estava em cima dela, praticamente fora jogada para fora da cabine a sua frente, e a porta rapidamente fechada. Tufos de cabelos castanhos cobriam a sua mão. Uma pequena multidão de alunos se formara, cercando as duas garotas jogadas ao chão.

– Papai vai matar ele. – Reclama a morena xingando baixinho.

– Ou talvez, você o mate antes – Responde a ruiva sorrindo.

–É talvez, ou ‘’nós’’. – Completa, ajudando a ruiva a se levantar. – Gwen Wodehouse. E você é..?

– Lily Potter.

A boca de Gwen se abre em um perfeito O, podia ver perfeitamente as engrenagens de seu cerébro trabalhando. Essa era uma das muitas desvantagens em ser filha de Harry Potter, todos a reconheciam.

– Todos para suas cabines, o que está havendo ? Ah ... –Uma garota havia acabado de atravessar a pequena multidão de murmúrios, e fitava a bizarra cena, seus olhos azuis olhavam de Lily e Gwen ao pequeno amontoado de alunos, e voltando novamente a se fixar em nós. Um brilhante distintivo de monitora chefe estava em suas vestes, duas pequenas garotas estavam postadas ao seu lado. A menor das duas, fitava timidamente o chão, um livro firmemente seguro em seus braços, a aparência um tanto idêntica a da garota que gritara,enquanto a outra estava com os olhos fixados em mim. – Eu já disse para saírem. – Diz novamente repreendendo os poucos alunos que sobraram, que com um último olhar irritado, acabam saindo. Amy Brooke podia ser extremamente temida quando queria. – Espero que você não seja parecida com seu irmão, Lily – Diz olhando severamente para a ruiva, que responde com um leve dar de ombros, talvez Amy não soubesse, mas James Potter estava tentando conquistá-la desde seu primeiro ano. -E vocês... – Completa se dirigindo as duas garotas desconhecidas ao seu lado com um sorriso - Acho que podem ser amigas ... – Diz por fim se retirando.

– Eu sou Addison Brooke e ela é Heather Moore. – Fala a loira a pós uma longa pausa, ainda tímida, guardando o livro – Desculpe por minha irmã, ela anda um pouco .... Estressada.

–Coloque estressada nisso – Completa Heather, recebendo um olhar feio de Addison – Vocês não vão ficar aí paradas, não?- Pergunta entrando em uma das poucas cabines desocupadas, seguida após um tempo pelas garotas.

–Você é mesmo filha dele ? – Gwen solta, antes mesmo de a porta se fechar com um baque. – Do Harry Potter ? – Completa ansiosa

–Isso não vem ao acaso – Fala a ruiva com irritação –Afinal, porque você estava sendo praticamente jogada de sua cabine ? – Completa mudando de assunto rapidamente, na defensiva.

– Ah ... Sobre isso – A morena começa a suar rapidamente, da leve brisa que saia por um pequeno espaço aberto na janela. – Meu irmão ... hum .. está assim á algumas semanas, dizendo que vou para a Sonserina .- Responde após um longo silêncio, dá qual os únicos ruídos são a das grandes cortinas vermelho sangue, sendo açoitadas ao vento. – Tivemos uma briga, e.. – Completa tirando sua varinha dentro das vestes e a guardando novamente – Eu não sei muitos feitiços, na verdade não sei nenhum.

Sua última afirmação, tira um pequeno suspiro de Addison, que folheava distraidamente seu livro, agora aberto em seu colo.

–Você deve saber alguns !? Pelo menos os mais fáceis – Diz Addison, seus olhos azuis, fitavam a garota, avaliando-a, como se acreditasse que tudo era uma grande piada– Tenho tentado alguns, mas só os mais fáceis. Alohomora – completa, pegando sua varinha e apontando para a porta que momentos antes estivera fechada.

– Exibida – Resmunga Gwen baixinho, torcendo para não ser ouvida e o que para sua sorte não foi.

É quando pequenas batidas são ouvidas a porta, revelando uma senhora,um tanto baixinha, seu rosto estampava um radiante sorriso, mas isso em nada ajudava, dando conta a seu jeito cansado. Ela empurrava calmamente um pequeno carrinho, onde estavam os mais diversos doces, sendo eles os mais normais, até alguns estranhamente mirabolantes.

Heather que momentos antes se encontrava calada a um canto rapidamente tira de suas vestes alguns galeões, colocando-os na mão da senhora, das quais recebe um punhado de doces, logo seguida pelas outras, que não se importaram em seguir seu exemplo. Quando a porta novamente é fechada, e o carrinho agora muito mais leve, levado para a próxima cabine.

– Posso aprender a gostar muito dessa viagem. Podem pegar, só deixem mais para mim- Exclama Heather colocando um sapo de chocolate na boca, seus olhos caramelos dançando travessos sobre os diversos doces, recebendo grandes gargalhadas.

Mas antes mesmo dos deliciosos doces acabarem, um estampido se faz ouvir e uma figura solitária atravessa-a correndo, mas não antes de abrir a porta da cabine da qual as marotas se encontravam e jogar um pequeno embrulho aos pés de Lily. Bombas de bosta.

Seus olhos verdes brilham de irritação, quando a cabine era rapidamente esvaziada, momentos antes do fedor se fazer sentir, mas muito mais forte do que deveria ser, a garota olha aos lados, quando nota que não estava realmente só, além das garotas, se amontoavam no corredor cada ocupante daquele vagão. Seus olhos continuam esquadrinhando a multidão até acha - lá, a cabine estava fechada, e lá dentro se encontravam três garotos, e um do qual conhecia muito bem. Aqueles eram Will Harrison, o irmão do melhor amigo de James, Sam Adams, seu ‘’comparsa’’, e para sua surpresa Hugo Weasley.

Com um aceno de cabeça, as meninas já fitavam os três, os rostos lívidos de raiva.

–Ele vai nos pagar – ameaça Gwen baixinho.

–Pode ter certeza que vai – Concorda a ruiva – Mas agora é melhor nos trocarmos... – Completa, um pequeno sorriso aparecendo em seu rosto, e para responder a perguntas dos três pares de olhos indagadores. Um grito se faz ouvir dentre a multidão. Estamos chegando.