Minha mãe praticamente me chuta pra dentro de casa. Mi-coo.

Com essa minha entrada triunfal, todos param na posição em que se encontravam. Charlie está encolhida no sofá e Tess parou na hora em que ia pular em cima de Evan, Rebeca estava voltando da cozinha com uma barra de chocolate na boca.

Perai, não é uma barra, é a MINHA barra.

– Rebeca, me diga que você não está com...- no meio da frase, ela sai correndo - REBECA, VOLTA AQUI.

– Meu Deus - minha mãe diz olhando para todos que já ainda se encontravam na sala - Tess, o que houve com o seu cabelo?

– Eu sei, tô tchutchuca, né?- Ela ironiza e se joga no sofá, no meio do casalzinho ainda em formação. Minha mãe ignora e se vira para Charlie.

– Charlie, ah meu Deus, você foi a única que saiu ilesa.

– É, tive sorte.

– Que sorte o que, boneca de cera, mostra logo a ...- Charlie voa em cima de Tess e tampa sua boca antes que ela continue.

– Tatuagem.- Digo e ela me olha com raiva, totalmente vermelha.

– Que tatuagem?- Charlie revira os olhos, se vira de costas e levanta a blusa, mostrando a tatoo de dragão. Minha mãe arregala os olhos e depois balança a cabeça.

– Quer saber, todas vocês, pro quarto agora.- Não precisa falar duas vezes. Corro escada acima e entro correndo no quarto, até penso em trancar, mas isso iria deixá-la bem mais furiosa. Rebeca está jogada no puff mexendo no celular, me lembro que ela estava comendo meu chocolate e então a chuto, literalmente, do puff e ela cai no chão.

– HEY!

– Jolie, não faça isso com sua prima.- Minha mãe diz se sentando na cadeira em frente a escrivaninha.

– Ela estava comendo meu chocolate.- Tento me defender.

– Tu é magra de ruim, garota.- Rebeca me empurra levemente e se joga na cama. Claro que ela cai depois, mas ninguém ri, a expressão da minha mãe está deixando tudo muito tenso. Ela se levanta me deixando bem mais nervosa.

– Onde vocês ESTAVAM?- Ela tenta manter a calma, mas no último momento ela não consegue se segurar.

Olha, não sou eu quem vou falar que estávamos em Vegas, não mesmo.

– Na casa da Natalie.- Charlie responde em tom de pergunta, mas minha mãe não percebe.

– E PINTARAM O CABELO? FIZERAM TATUAGEM E COLOCARAM PIERCINGS? ESTÃO ACHANDO QUE AQUI É A CASA DA MÃE JOANA? - Ela continua a gritar, mas eu não escuto nada pois, de canto de olho, percebo que a parede tem olhos. Josh, Trevor, Brad, Loreine e Margo estavam na sala de cima dos Grey, observando tudo, então para parecer mais cool, eu fingi que não estava ligando para a bronca, ou seja, fiquei com cara de nada.

– JOLIE, VOCÊ VAI TIRAR ESSA MERDA DO ROSTO.

Dou de ombros, mas esqueci que minha mãe é do século XIX e não entende gestos.

– ME RESPONDE GAROTA!

– EU VOU!

– NÃO GRITA COMIGO!

– NÃO GRITA COMIGO VOCÊ!- Ok, eu não devia ter feito isso, ela começou a jogar as coisas da escrivaninha em mim. Tento me proteger e por impulso olho para a janela e vejo todos rindo da minha cara, todos mesmo, até Josh. ARGH!

– Vocês não foram para a Natalie, foram para outro lugar, onde foram?- Ela se acalma um pouco, mas eu acho que a raiva dela passou para Charlie.

– Quer saber, dane-se, fomos para Vegas.- Em seguida objetos como travesseiros e qualquer coisa que encontramos ao nosso alcance são lançados nela. Minha mãe fica meio desnorteada, mas logo sua expressão de fúria volta e volta 10x pior. Ela começa a gritar e jogar coisas em todas nós, depois ela começa a xingar umas coisas não muito bonitas e eu não vou dizer aqui. Resumindo, eu estou de castigo para sempre - ou até a Natalie criar inteligência, o que é quase a mesma coisa -, sem celular, sem note, sem pc, sem TV, sem telefone, sem vida....

Aff, eu acho que preferia continuar em Vegas para sempre.

...

Acordo com anjos me levando aos céus.

Só que nunca.

Charlie está mexendo na minha escrivaninha, Becky continua dormindo e Tess está batendo com o travesseiro na minha cara.

– Acorda.- Ela diz ainda me batendo com o travesseiro. Mesmo eu dando sinais de vida, ela não para.

– Ai, chega, Tess. PARA! - Ela continua me batendo e então eu giro meu corpo e a empurro com as pernas. Me levanto e piso nela propositalmente, dou um tapa na mão de Charlie quando passo do lado da escrivaninha, ela me dá língua e se joga no colchão ao lado de Rebeca. Pego uma roupa qualquer e quando a visto, vejo que não sou uma ótima designer. Ligo para Natalie, mas me lembro que o carro dela está estraçalhado e eu provavelmente vou ter que ir de ônibus. O problema, é que eu não sei onde fica o ponto. Ela atende no 7° toque.

– Quem me perturba às 7 da madrugada?

– Um duende roxo que quer lhe vender sorvete com purpurina - Ironizo enquanto mordo uma maçã.

– Ah, oi Jolie.

– Não vai pra escola, não?

– Como? O ônibus não passa aqui perto.

– Ah tá, então você vai parar de ir na escola por causa disso?

– É - Bato minha cabeça na parede da cozinha.

– Natalie, levanta a bunda dessa cama...

– Eu estou no sofá.

– Dormiu no sofá?

Ela não responde, imagino que ela deu de ombros. Reviro os olhos.

– Levanta essa bunda do sofá e vai se arrumar, ou se não você...- ouço uma buzina do lado de fora... - Morre. Natalie, espera um pouco, vai se arrumar!

– Você não manda em mim - Olho mortalmente para o telefone, então eu reviro os olhos e o ponho de volta na orelha.

– Eu estou te olhando mortalmente pelo telefone agora. VAI SE ARRUMAR! - Acredito que depois desse grito, ela ficou surda. Jogo o telefone no sofá e vou para a porta, quando a abro, dou de cara com quem eu menos precisava... Perai, não, ele tem uma moto! Ok, era quem eu mais precisava.

– E aí? - Noah diz se escorando na moto preta.

– O que está fazendo aqui?

– Eu sei que você pegava carona com a Natalie, agora o carro dela está acabado.

– Não diga, ó Sherlock - Ele revira os olhos.

– Vai querer carona ou não? - Semicerro os olhos meio desconfiada, mas mesmo assim entro em casa, coloco o telefone de volta no gancho, pego minha mochila, jogo a maçã no lixo e vou até ele.

– Onde conseguiu essa moto? - Pergunto subindo nela, me seguro em Noah e não, eu não senti correntes elétricas, mini-choques e todas essas baboseiras quando fiz isso, eu apenas passei meus braços ao redor de sua cintura.

– Meu vizinho de condomínio me deu, acredita? Ele disse que a mulher dele tem trauma de motos, ele comprou essa belezinha semana passada e só teve a chance de usar 2 vezes, coitado - Ele liga a moto.

– Hã - digo enquanto ele coloca o capacete - Eu não devia usar um capacete também?

– Você já é cabeça dura, achei que não ia precisar - Eu iria bater nele, mas nessa hora ele arranca com tudo, me fazendo dar um gritinho. Olha, foi um gritinho de coragem e adrenalina, ok? Ok ¬¬

– VOCÊ SABE DIRIGIR UMA MOTO? - Grito pois o vento está muito forte.

– NÃO SEI, SE CHEGARMOS VIVOS, VAI SER UM TALVEZ.

Se chegarmos vivos?

– AAAAAAHHHHH! - Começo a gritar. Como assim "se chegarmos vivos"? Ele é maluco? EU VOU MORRER, ALGUÉM ME AJUDE! Ele vira uma curva e eu quase caio, me agarro mais ainda a ele e eu acho que ele está rindo. Panaca. Espera só quando chegarmos, eu vou ESQUARTEJAR ele.

NOAH'S POV

Tomara que ela não esteja vendo, mas eu estou rindo muito da cara dela. Ela parecia não ter medo de nada, e agora está quase morrendo.

– NOAH! PARA ESSA DROGA!

– O QUÊ? - Eu ouvi, só quero zombar com a cara dela.

– PARA! ESTACIONA!

– HÃM? - Ela me dá um soco nas costas, confesso que doeu, mas tudo o que faço é rir. Ela enrosca mais ainda os braços em mim e por um momento me sinto sufocado, ela está apertando minha barriga muito forte. Mesmo com todo esse vento vindo em direção ao meu rosto, eu estou ficando sem ar, mas não acho que seja só por causa de seu aperto.

Perai, o quê? É claro que é por causa do aperto, só por causa disso. É.

– Acho que vou vomitar.- Ela diz sem gritar, mas eu a ouço, dou uma risada forçada. E se ela for vomitar mesmo? Ah não, essa jaqueta é nova! Comprei pra combinar com a moto.

– Estamos chegando.

– O QUÊ?

– ESTAMOS CHEGANDO!

– O QUÊ? - E então eu percebo o que ela está fazendo. Que ridícula. Dou um sorriso. Sinto sua cabeça repousar em minhas costas e fico ereto por um momento, logo depois eu relaxo meus músculos outra vez. Esse foi um ato inesperado, essa garota é imprevisível. Vejo a escola, não estamos longe, mas isso aqui está tão bom que me dá vontade de ficar aqui pra sempre. Eu sei, muito menininha, mas e daí?

Olha, tem uma curva ali, se eu virar, talvez possamos ficar mais alguns minutinhos rondando por aí... Não, temos que ir pra escola. Não sou do tipo que mata aula. Pode me chamar de certinho, eu não ligo. Desacelero a moto e entro no estacionamento, uns olhares estranhos se dirigem a nós. Cruzes, eles são sempre assim? Agora sei porque a Jolie é obcecada em popularidade. Estaciono em uma vaga de carro já que aqui não tem para moto. Jolie quase beija o chão ao descer da moto.

– Ai meu Deus, terra firme, Ah! - Ela se joga no chão igual a uma louca.

– Para de palhaçada, Jo...- Um grupo de garotas chega e me interrompe.

– Oi, Noah.- Diz uma delas, eu acho que o nome dela é Sherry.

– E aí, meninas?

– E então - uma loira começa, essa eu não reconheço -, sábado, vai ter uma festa na casa do meu namorado, Dylan, e queríamos saber se você quer ir.

Sinceramente, não estou nem um pouco a fim.

– Ér...

– E eu queria saber se esse tal de Dylan sabe que você está dando em cima de outro. - Jolie fica ao meu lado e cruza os braços.

– Não estou dando em cima de ninguém, garota. - A loira diz.

– A propósito, quem te chamou na conversa, que eu saiba, ela ainda não chegou no celeiro. - Uma morena diz. Eu poderia muito bem interferir, mas estou com preguiça, sabe?

– Ah é? Então eu não entendo o porquê de você estar nela.- Não consigo aguentar e solto uma risadinha, as garotas olham mortalmente para Jolie e vão embora, mas antes da loira ir, ela me dá um papel.

– Aqui está o endereço, caso queira ir.- Ela dá uma piscadela e sai rebolando. Reviro os olhos. Eu devia gostar disso, não é, de toda essa atenção? Então por que eu não estou gostando?! Não, eu não sou gay.

– Catadoras de milho, as piores espécies.- Jolie balança a cabeça, me viro pra ela.

– O que foi aquilo? Ciúmes?

Ela fecha a cara.

– Salvei sua vida, eu sabia que você não queria ir a essa tal festa, custa agradecer?

– Valeu.- Ela sorri, e então pega o papel da minha mão.

–E olha o que eu faço com isso - ela o amaça e, quando uma garota que parece plastificada passa, ela o joga na cabeça dela, ela olha para os lados tentando ver o que a atingiu, mas por fim desiste e volta a andar. Começamos a rir no momento em que ela se afasta. - É uma das discípulas da Candace, vadia.

Candace. Nossa, faz tempo que eu não a vejo, ainda bem. Eu iria dizer algo, mas Natalie chega bufando ao lado de Jolie.

– Eu já disse que te odeio?

– Já.

– Eu tive que gastar 34 dólares de táxi! Era o dinheiro que eu estava economizando para comprar um Christian Loboutin. - ela cruza os braços, então me olha e depois olha pra Jolie - Por que está com ele?

– Ele me deu carona.

– O QUÊ?

– Para de gritar.- Peço e ela me olha, provavelmente querendo me matar.

– Por que não me deu carona também?

– Eu estou de moto! Só cabe 2 pessoas.

– Ué, me dava carona e deixava a Jolie para morrer.- Jolie lhe dá um tapa na cabeça.

– Por que eu faria isso?

– Porque fomos namorados, onde está a consideração?

– Minha consideração por você foi parar no lixo quando você me espancou no meio do refeitório por nada!

Ela faz uma cara indignada e então Jolie tampa sua boca quando ela iria dizer algo.

– Natalie, cala a boca, Noah está certo, ele não vai ter consideração por você depois daquele incidente no refeitório. E depois na diretoria.

– Olha, eu só bati nele na diretoria depois porque você pediu.

– E se eu pedisse para você enfiar uma faca no rosto?

– Eu diria para você enfiar a faca no cu.

Jolie suspira.

– Ok Noah, valeu pela carona, agora eu tenho que ir.- Então ela faz outra coisa inesperada. Me dá um beijo, na bochecha, claro. Ela empurra Natalie pra longe e segundos depois, some. Eu continuo lá parado que nem uma mula empacada. Agora eu sei o porquê de eu não gostar quando todas as garotas dão em cima de mim. Eu acho que isso acontece com qualquer pessoa na mesma situação que eu. Eu estou apaixonado. E é por uma pessoa que eu nunca pensaria em me apaixonar.