Já são sete horas, Charlie e Rebeca estão se arrumando, Tess está sentada ao meu lado exalando rosas e dá para vê-la de longe com seu vestido amarelo, eu também já estou arrumada e para deixar claro, Tess e Charlie que me arrumaram, não eu. Natalie disse que iria e nos dará carona. Ótimo, pelo menos não vamos ter que roubar um carro. Toda a família saiu para um passeio noturno e demos a desculpa de que iríamos na biblioteca. Foi fácil. Charlie desce colocando os saltos pretos, ou como eu gosto de chamar, as armas mortíferas. Becky desce logo depois passando a mão pelos cabelos castanhos. Ela para e olha para Tess.

– Que isso, Tess? Quer ficar mais brilhante que Vegas?

– Vá se ferrar.

– Estão todas prontas? — Pergunta Charlie nos analisando.

– Sim – Respondemos juntas.

– Que bom, agora só temos que esperar a Natalie.

– Por que ela tem que ir? — Tess faz birra, outra vez.

– Tess, já conversamos sobre isso – Eu digo.

– Só porque ela tem carro? É só eu pegar o carro do meu pai e então podemos ir!

– Não, eles vão dar falta, sua anta – Diz Charlie.

– Ah tá, dane-se.

Ouço uma buzina do lado de fora.

– Nossa, que garota sutil – Tess revira os olhos.

– Cala a boca e vamos – Digo e então vou até a porta. Natalie está em pé do lado do carro, toda arrumada e o que me surpreende é que o cabelo dela está de volta ao ruivo natural, era a cor de antes, mas ela pintou de vermelho forte quando soube que cabelo ruivo é raridade e não se pode pintar. Eu juro que quando ela apareceu com o cabelo vermelho eu tive vontade de dar um soco nela. Porra, eu aqui querendo ter o cabelo ruivo e ela pinta o dela .

– E aí gente – Ela cumprimenta enquanto entramos no carro.

– E aí? — Charlie e Becky cumprimentam, Tess fica em silêncio e então ela resolve implicar.

– Oi Tess, adorei o vestido – Tess dá um mínimo sorriso e então ela completa – Mas eu acho que Tókio ainda não o viu – O sorriso some e então nós rimos. Ela dirige e conecta o celular no rádio, ela escolhe a música “Bang Bang” da Ariana Grande, Jessie J e Nicki Minaj para tocar. Charlie pula animada no banco de trás e começa a cantar, Rebeca também canta, eu danço igual a uma louca no banco da frente, essa animação contagiou até a Tess e em um segundo o carro estava uma algazarra só. Quando a música acaba, uma música estranha começa a tocar e fala sobre Vegas.

– Que merda é essa, Natalie? — Pergunto.

– Achei que combinaria com a viagem – continuo confusa – Elvis Presley, Viva Las Vegas, é antiguidade.

– Quem é Elvis Presley? — Pergunta Rebeca.

– Cara, como você é burra – Tess briga – Ele foi um ator muito famoso e fazia bico como cantor, imbecil – Rebeca faz um barulho de compreensão e eu sou obrigada a bater minha cabeça na janela várias vezes.

– Elvis Presley foi um cantor, sua anta – Diz Charlie e antes de outra briga começar, Natalie muda a música e coloca “Hangover” para tocar e cantamos até chegar em Vegas e só tenho uma coisa a dizer. UAU! Cara, as luzes são capazes de te cegar, literalmente, Natalie quase bateu em um poste, 3 carros, 4 motos e 2 limousines e ela conseguiu tirar nota máxima na auto- escola.

– Opa, Natalie, não quero morrer antes de jogar pôquer – Zomba Becky.

– Essas luzes estão queimando meus olhos.

– Ok, para onde vamos? — Pergunto olhando pela janela.

– Para um lugar legal – Ela diz estacionando em frente a um prédio meio caidinho, o letreiro estava apagado, as janelas quebradas, o lugar parecia estar abandonado.

– E aqui é legal? — Pergunto saindo do carro junto com elas.

– Eu já vim para Vegas, Jolie – Natalie diz indo até a entrada – Fiquei semanas aqui, conheci vários lugares, inclusive – ela abre a porta de entrada – esse. – E então ela vai até uma porta, nós a seguimos e entramos na tal porta, nela tinha uma escada e depois outra porta, ela a abre e nos deparamos com um tipo de balada. Está tudo muito cheio, mulheres seminuas com bandejas indo para lá e pra cá, gente dançando loucamente, um bar e esse eu não consegui ver direito pois Natalie entrou na minha frente.

– Só tem uma coisa ruim – ela grita pois a música está muito alta – Foi aqui que eu conheci o Noah, ele trabalha aqui fins de semana – E então ela sai e vai para o lado de Rebeca e nos dá a visão privilegiada dele conversando com 2 garotas loiras e siliconadas.

– E desde quando isso é uma coisa ruim? — Grita Tess visivelmente animada.

– Desde que eu terminei com ele.

– Que bom que vocês terminaram, agora ele está livre para mim – Nat revira os olhos com a cara de pau de Tess – NOAH! HEY! — Ela se aproxima e acena freneticamente para ele.

– Cara, isso vai ser demais – Diz Charlie e então puxa Becky e as duas vão ao bar.

– Você conheceu ele aqui? — Pergunto cruzando os braços.

– É.

– E por que viemos aqui já que você odeia ele agora?

– Sei lá – ela dá de ombros – Esse foi meu lugar preferido em Vegas. Tem umas bebidas fortes com o poder da amnésia – ela sorri e se vira para mim – Você tem de sentir a adrenalina da amnésia, é legal acordar no outro dia e não se lembrar de nada, você se sente na pele do Stu, Phill e Alan.

Fico em silêncio por alguns segundos.

– Você é estranha – Digo/ grito por fim.

– Eu sei – E então ela também vai ao bar e eu não tenho alternativa a não ser segui-la. Tess está, mais uma vez, dando em cima de Noah, Charlie está bebendo uma bebida de cor azul e eu não mais onde Becky está.

– Jolie! — Ele abre os braços como se dissesse “Bem vinda”.

– E aí, Noah.

– O que vieram fazer aqui?

– Ah, sabe como é, viemos comprar carne com um urso perneta que flutua e é feito de purpurina, mas ele está hibernando – Natalie dá de ombros e bebe uma bebida violeta (?) de uma só vez.

– Não perguntei para você.

– Não ligo – ela coloca o copo no balcão – Agora me serve – Ele revira os olhos, pega o copo e vai para o outro lado do bar.

Tess também já sumiu e eu estou começando a ficar preocupada.

– Aqui está, milady – ele zomba e coloca o copo no balcão – O que vai querer? — Ele agora está perguntando para mim.

–Ér.. Tem refrigerante? — E então ele começa a rir e eu apenas fico em silêncio o olhando com raiva, logo cai a ficha e ele para.

– Perai, é sério?— não digo nada – Ok, escuta, aqui é raro de se encontrar refrigerante.

– Que legal – É claro que ali não iria ter refrigerante, eu sei disso, ok? Não sou burra, mas sei lá, eu nunca bebi antes, me julguem...

Não, tô brincando, não me julguem.

– Ah Jolie, vamos lá – Charlie chega do meu lado se escorando em mim – Duas doses da mais forte que tiver.

– Charlie, você já está bêbada?

– Bêbada de loucura, Jolie – nossa, ela tá muito louca, as palavras saem engroladas e eu quase não entendo – Viemos fazer loucuras na terra do errado.

– Cidade do peca... Ah, foda-se.

Noah chega com as bebidas e Charlie bebe tudo em um só gole, a olho espantada.

– Bebe, praga – Ela pega o copo do balcão e leva até meu rosto e quase derrama. Pego o copo e tento fazer o mesmo que ela, mas eu engasgo e começo a tossir como se estivesse com tuberculose. Ela cai na risada e vai para não sei onde, olho para o lado ainda tossindo e não encontro Natalie. Estou sozinha, agora posso deitar e morrer ~le drama~.

– Epa, o que é isso? — Alguém diz, eu acho que foi isso pois a música está alta e ainda mais, não posso usar minhas habilidades com leitura labial - essas habilidades que eu não tenho - já que eu estou curvada, me apoiando nos joelhos e tentando ao máximo respirar direito. Alguém começa a bater em minhas costas, mas não adianta muito e eu continuo tossindo, alguns instantes depois eu começo a respirar direito e me debruço sobre o balcão.

– Nossa, esse começo de fim de domingo está sendo ótimo – Ironizo para ninguém em especial, mas alguém ouve.

– Você é muito azarada com bebidas, Jolie – Olho para cima e vejo Noah passando pano em um copo – E de nada.

Franzi a testa.

– Hã?

– Esquece – revira os olhos – E então, veio para Vegas para ficar tossindo feito uma doente?

– Olha aqui, vou te mostrar a doente já, já.

– O que eu quero dizer é que você não fugiu para ficar debruçada em um balcão de um bar, né?

Suspiro e olho para todas as direções do bar tentando achar minhas primas e Natalie. Nada. Olho novamente para ele.

– Uma dose da violeta – Que é? Eu gosto de colorido e beber uma bebida colorida deve ser maneiro. Ele sorri e vai preparar a bebida, logo ele trás um copo de vidro com a líquido violeta dentro.

– Não beba tudo em um gole só, não queremos cadáveres aqui – Ele zomba antes de me entregar o copo.

– Há há há – Pego o copo e bebo devagar. Não posso ficar bêbada, eu desisti dessa ideia de fazer loucuras quando eu cheguei no bar, se todas as minhas “acompanhantes” ficarem doidonas, ferrou, eu vou ter de cuidar de tudo pois eu com certeza não vou ficar bêbada, não tem como ficar bêbada com uma só bebida.

Ok, agora diga isso para os borrões que você está vendo, querida;

...

Acordo com os raios de sol batendo em meu rosto. Que clichê. Olho para os lados e vejo que estou em um quarto... Que não é meu.

PERAI! Merda, merda, merda, merda... Por favor, que eu não esteja em Vegas ainda. Olho em volta e encontro três caras estranhos deitados no chão, Charlie está desmaiada no sofá e Tess está em uma poltrona.

Meu Deus, me diga que isso não foi uma Orgia.

Não, eu estou vestida. Então ok... O que aconteceu ontem? Eu me droguei? Só pode. Então essa é a sensação do Stu, Phill e Alan? Isso é horrível, vou começar a assistir o filme com uma visão diferente agora. Natalie aparece de não sei onde, talvez de outra dimensão, tropeçando nos próprios pés, estava visivelmente “encachaçada”, ela vem carregando uma panela e um pedaço de madeira (que criatividade) e quando eu iria perguntar o que ela faria com aquilo, ela grita e começa a bater a madeira na panela, tampo os ouvidos pois esse barulho fez minha cabeça explodir quase que literalmente. Mas o que essa vaca escrota pensa que está fazendo? E por que a cara dela parece um borrão laranja? Nossa, eu devo estar muito louca.

Todos acordam num pulo. Becky e mais um homem saem do chão e se arrastam até onde estamos.

– Vocês – ela aponta para os homens – Se lembram de alguma coisa da noite passada? — eles demoram a responder, mas por fim acenam negativamente – Ok, não serão de grande ajuda, peguem seus pertences e deem o fora.

Eles se olham estranhando tudo, provavelmente também não sabem quem nós somos, mas mesmo assim pegam uns troços que estavam espalhados pela sala e saem. Depois de alguns instantes, Rebeca começa a chorar de repente.

– O que houve? — Pergunto assustada.

– O que fizemos ontem? — ela pergunta aos prantos – Mas que merda nós fizemos ontem? — ela continua chorando – Quem eram aqueles caras? — Vendo que não saberíamos respondê-la, ela começa a gritar cada vez mais alto nos assustando mais ainda.

– O QUE ACONTECEU? O QUE ESTÁ HAVENDO? — Noah aparece da outra dimensão também segurando uma meia de forma ameaçadora.

Mas espera aí. Noah? Que merda esse troço está fazendo aqui? E SEM CAMISA? POR QUE ELE ESTÁ SEM CAMISA? TÁ CERTO ISSO, PRODUÇÃO?

– Noah? — Pergunta Tess com a voz arrastada.

– O que faz aqui? — Pergunto com meus olhos quase se fechando.

– Ah, sei lá, não me lembro, só sei que acordei com uns gritos e pensei que fosse um ladrão ou talvez um...

– Perai – Natalie o corta – Você achou que fosse um ladrão?

– É.

– E para se defender, pegou uma meia? — E então ele olha para a meia branca que está em suas mãos.

– Foi a primeira coisa que eu vi – ele analisa a meia – Seria útil.

– Como uma meia seria útil, imbecil? — Natalie parece ser a menos pior daqui, consegue até discutir.

– Bem, é a sua meia – ele dá de ombros – Ele poderia desmaiar com o chulé.

Ela rosna e começa a ir para cima dele, mas ouvimos um barulho de macaco em uma das salas.

– O. Que. Foi. Isso? — Pergunto pausadamente.

– Pareceu um barulho super alto – Charlie responde com as mãos nos ouvidos. De repente um chimpanzé, ou será que é um orangotango, ah dane-se, um macaco médio, aparece segurando uma garrafa de Vodka, ou será que é Absolut? Foda-se, tem um MACACO na mesma sala que nós e por que diabos ele está de fralda? Por favor, que seja uma alucinação causada por o que quer que eu tenha tomado ontem. Não, não é uma alucinação, minha visão está ficando melhor agora e falando nisso... Eu tô percebendo umas mudanças nas garotas: Natalie cortou o cabelo e o fez ficar super curto, tipo um chanel picotado. Becky pintou o cabelo TODO de rosa forte com as pontas brancas, como eu não percebi antes? Parece que ninguém percebeu ainda as mudanças que aconteceu. Charlie não tem nada de mais, bem, se tiver, eu ainda não vi. Tess também pintou o cabelo, tirou as mechas dando lugar a um cabelo totalmente dourado, não loiro, dourado! Charlie se levanta para ir até o macaco e como sua blusa é transparente atrás, deu para ver uma tatuagem enorme de um dragão em chamas.

P . Q . P

Tess grita assustando a todos, ela olha a todos em volta e começa a gritar também, então todas nós gritamos ao perceber as burradas que fizemos ontem.

– Omg, Rebeca, não pira, mas seu cabelo está rosa! — Tess exclama apontando freneticamente para Becky.

– O QUÊ?

– E seu cabelo, Tess, está dourado – Digo tentando manter a calma.

– DOURADO? EU ODEIO ESSA COR!

– Jolie, fica calma, ok? — Charlie começa e minhas esperanças de eu ter sido a única a sair ilesa dessa vão embora – Mas...

– OH MY GOD! VOCÊ TEM UM PIERCING! — Rebeca grita – E UMA TATUAGEM!

O QUÊ? Não Deus, por favor, fala que elas estão de zoa, por favor, me diz que eu estou dormindo na aula e esse é mais um dos sonhos estranhos que eu tenho, me fala que minha vida está normal como ela nunca foi. Quando percebi, todos correram para tentar achar o banheiro e se olhar no espelho. Quando chego no maldito banheiro, todos se aglomeravam em frente a um espelho médio, todos menos Noah que ficou parado na sala.

– Ai meu Deus, eu vou morrer – Becky.

– AAHHH – Tess.

– Deus do céu, me fala que eu to bêbada e tô vendo coisas – Charlie.

– Cara, eu tô muito ferrada – Eu.

– Eu gostei do meu novo visu – Diz Natalie fazendo poses em frente ao espelho. Nós paramos de gritar em frente ao espelho e a olhamos com cara de tacho. Por fim a empurramos para longe e continuamos a prever nosso futuro e a nos xingar.

Eu tenho um piercing no nariz e uma tatuagem!

EU VOU MORRER!!!

...

– Ah, qual é, não é tão ruim assim – Noah tenta nos animar, mas o resultado são várias coisas voando em sua direção.

– É fácil pra você falar – digo – não aconteceu nada com você e ainda não sabemos porquê você está com a gente.

– Ok – Charlie diz – temos que resolver isso logo, devem estar preocupados com a gente lá em Summerlin.

– Quer saber? — me levanto – Vai ser impossível resolver isso rápido, você tem uma tatuagem enorme nas costas, o cabelo de vocês está totalmente diferente e eu tenho um piercing e de bônus uma tatoo. Ainda temos esse macaco que não para de beber ABSOLUT!

– É Vodka. — Ela corrige e eu lanço-lhe um olhar mortal.

– Ela tem razão, vamos ter de arcar com as consequências, vamos devolver esse macaco e ir embora pois...

– Gente! — Tess interrompe Natalie – Temos problemas: 1° De onde veio esse macaco? 2° Onde estamos? 3° Onde está nosso carro?

– Você quis dizer meu carro, né queri...

– Cala a boca – digo – Ela tem razão, nem sabemos se viemos com o nosso carro e que merda de lugar é esse?

Todos olham em volta. Ninguém diz nada.

– Cara, essa é a continuação do “The Hangover” — Natalie exclama animada —, então vamos conseguir dar um jeito, eles sempre dão.

– É, mas acontece que eles não eram menores de 18 anos e seguiam o roteiro – Reviro os olhos.

– Que roteiro? — Becky pergunta inocentemente.

– Esquece – passo a mão no rosto e sinto o piercing no nariz – Droga, eu tô muito ferrada.

– Noah, o que é isso na sua bochecha? — Charlie pergunta passando a mão no rosto dele.

– Ah, é um machucadinho.

– Foi ontem?

– Ah não – ele sorri com deboche – Sua prima querida me deu um soco – e então ele me olha, desvio o olhar como se não estivesse ouvindo nada e fosse totalmente inocente.

– Jolie! — Todas exclamam bravas e Natalie só ri.

– Bem feito, Romeu.

Esse soco foi na época do meu primeiro beijo. Quando ele tirou meu BV a força (ok, nem tão forçado assim) e então, eu acho que não contei essa parte, eu lhe dei um soco e como sou super forte, o machuquei – na verdade, eu estava com um anel naquele dia. E então ele começou a gargalhar da minha força de barata, me desafiou a dar outro soco nele, mas sem o anel e eu não queria passar vergonha mais do que já tinha passado e então dei uma de fêmea alfa (What?) e o mandei ir embora. Sem querer eu dou um sorriso com a lembrança. Foi engraçado e eu não estava ferrada naquele dia.

Meia hora depois, nós achamos nossos celulares e checamos para ver se tinha alguma coisa -método The Hangover – mas não achamos nada. Descemos e não conseguimos achar o carro e nem as chaves. O macaco já estava louco e não conseguia mais se manter acordado.

Ok, um macaco bêbado não estava nos meus planos.

Também não estava nos meus planos perder o carro, acordar em um lugar estranho com pessoas estranhas, ter uma tatoo e um piercing e etc...

– Ok. E agora? — Tess pergunta olhando em volta.

– Deve ter algum abrigo de animais aqui, ou um zoológico – Dou de ombros – Noah, você vem aqui todo fim de semana, sabe se tem algum abrigo de animais aqui ?

– Tem um – suspiro aliviada – Mas é bem longe daqui – Ele completa e eu bufo.

– Como você sabe se é longe daqui? Sabe onde estamos? — Natalie coloca as mãos em seus ombros e o chacoalha.

– Não – ele a afasta – Mas o abrigo é perto de Paris Las Vegas – ele olha para um ponto atrás de mim, me viro e vejo a réplica da torre Eiffel, mas ela está minúscula vendo daqui – E parece ser muito longe.

– E como vamos chegar nela a pé com um macaco praticamente morto? — Pergunta Charlie cutucando o macaco desmaiado com o pé.

– Eu só quero saber onde está o meu...— Natalie foi abaixando o tom de voz conforme seu carro ia passando na rua a nossa frente – … Carro.

– Meu Deus, seu carro está acabado! — Exclama Tess com um sorrisinho no rosto. Realmente, estava acabado. A lateral estava amassada e arranhada, a parte de trás também estava, os vidros que conseguíamos ver estavam quebrados e os faróis haviam sumido. Mas pelo menos ele ainda estava andando... Mas com outra pessoa dirigindo. Perai! E se esse não for o carro dela?

– Mas e se não for o seu carro, nat – Digo com esperanças de que o carro não foi roubado e estava intacto em um lugar seguro.

– É ele sim, a placa é a mesma e tem o adesivo.

Ah, o adesivo, nem o percebi, mesmo ele rondando todo o carro. Natalie cismou que o carro era muito masculino e então comprou uma uma faixa adesiva grossa roxa e até ficou bonitinho. Mas agora está HOR-RÍ-VEL. O carro virou a curva.

– Gente, temos que fazer alguma coisa! — Natalie se desespera.

– Mas o que podemos fazer? — Pergunta Becky. Natalie a agarra pela gola da blusa.

– Eu não sei – e então ela começa a chacoalhá-la – MAS MEU CARRO ESTÁ INDO EMBORA! TEMOS DE FAZER ALGUMA COISA – Ela começa a surtar e eu me assusto, Noah a afasta de Becky e então ela lhe dá um pisão no pé que não parece ter tido efeito. Ela começa a puxar seus cabelos agora curtos e a andar de um lado para o outro. A seguro pelos ombros e lhe dou um tapa.

– Meu Deus, se controla, mulher! — Mas ela não se controla e começa a me estapear e então eu começo a lhe estapear e ficamos nessa briga de mariazinha até que um barulho de carro sendo destravado é ouvido, paramos e olhamos Noah segurando a chave, apontando para o carro.

– Vamos logo – Ele joga a chave para nat e pega o macaco. Nós corremos para o carro azul escuro que fez barulho. Quando estamos todos no carro, inclusive o macaco, Natalie dá partida e vai com toda a velocidade na direção onde foi seu carro.

– Ok – começo – Como conseguiu o carro?

Olho pelo retrovisor ele dar de ombros.

– Pedi carinhosamente à recepcionista.

Reviro os olhos. Pedi, aham. Olho para a frente, depois eu vou mais fundo nessa conversa. Vejo o carro acabado um pouco mais a frente.

– Ele deve ter parado em algum lugar – Ela diz percebendo minha cara de confusão já que ele nem devia estar no nosso campo de visão.

– Essa é a única explicação.

Depois de longos minutos, o carro para em frente a um prédio enormemente alto que eu não ligo em saber o nome. Natalie estacionou um pouco mais longe e então ficamos vigiando uma garota vestida totalmente de preto- até mesmo seu cabelo é preto- sair do carro e entrar no prédio. Não me lembro dela de jeito nenhum. Saímos do carro, mas deixamos o macaco. Não íamos ficar desfilando aí com um orangotango, né?

– Eu acho que é um chimpanzé – Rebeca diz ao meu lado.

– Pensei alto outra vez – Não foi uma pergunta, mas mesmo assim ela acenou positivamente. Chegamos ao prédio e eu automaticamente me senti uma mendiga já que eu estou acabada (me esqueci de lavar o rosto e arrumar o cabelo e devo estar parecendo a Lindsay Lohan — morena - depois das drogas... Ok, sem exageros) e todas as pessoas lá dentro estão impecáveis. A garota estava falando com um cara que tinha mais piercing no rosto do que pele (o que esse bando de gente estranha veio fazer aqui?) a chave estava pendurada em sua calça.

– Lá está a chave – Natalie diz, mas não tira os olhos da menina.

– Não é melhor ficarmos com o carro da recepcionista? — Tess dá de ombros e então elas começam a discutir.

– Gente – Becky interrompe a briga – Vamos resolver isso logo? O Tobias deve ter acordado.

– Tobias? — Noah pergunta.

– É o nome que eu dei pro macaco. Ele tem cara de Tobias.

– Eu acho que ele tem cara de Tim – Charlie diz.

– Na verdade, ele tem cara de macaco – digo interrompendo uma possível briga, elas me olham com a sobrancelha arqueada – Que ideia. Vamos logo pegar as chaves, deixar o macaco, ir embora e... — Paro de falar quando me viro e não encontro mais a garota – Onde ela foi?

– Enquanto vocês discutiam – Natalie começa a andar, a seguimos – Ela foi por ali – Ela aponta andando na mesma direção. Nós entramos em um corredor (escondidos, é claro), a garota está beijando o piercing ambulante, como ela consegui achar a boca dele eu não sei, só sei que eles estão se beijando.

– HEY! GAROTA! — Natalie grita e então a morena para de beijar o cara estranho e a olha.

– Natalie, ela está a menos de 100 metros, não precisa gritar – Ela me ignora e anda até a garota.

– Como conseguiu meu carro?

A morena começa a rir junto com o piercing ambulante, os dois gargalham tanto que ficam sem ar por uns segundos.

– Você perdeu seu carro, queridinha.

– É, mas agora eu achei – E então ela começa a rir de novo.

– Gente, você é uma piada – ela finge secar uma lágrima – Não lembra de nada mesmo? — ela acena negativamente – Pois bem, noite passada, sua amiguinha do cabelo rosa fez uma aposta comigo, não lembro qual foi, só sei que ela apostou seu carro e apostou também que iria pintar o cabelo. Ela cumpriu a aposta – Ela abre os braços com um sorriso de deboche. Natalie escancara a boca, olha para Becky que está do mesmo jeito e depois olha para a garota de novo.

– O quê?

– Da próxima vez, pense bem antes de ficar louca a ponto de deixar apostarem seu carro – E então ela abraça de lado o cara estranho e os dois saem do corredor e vão para algum lugar.

Depois de longos minutos com a boca aberta, Natalie trinca o maxilar e cerra os punhos. Iiihh.

– Eu. Vou. TE MATAR!— ela corre até Becky e consegue pegá-la – SUA VACA! COMO PÔDE APOSTAR MEU CARRO? APOSTAVA O CU, PORRA! — Natalie começa a estapeá-la e às vezes dá um soco aqui e ali, de repente a garota aparece ainda abraçada no cara estranho e diz:

– Ela apostou isso também – automaticamente, nat para de bater nela – Toma, pode ficar – ela joga as chaves para Noah – O carro está todo ruim mesmo – E sai rebolando.

– Vish – Charlie diz.

– EU FIZ O QUÊ? — Becky começa a gritar – AI MEU DEUS, POR FAVOR, DIZ QUE EU NÃO FIZ ISSO...

Ela iria começar a chorar, mas dois seguranças enormes adentraram o local onde estávamos e nos chutou, quase que literalmente, para fora do prédio. Fomos em direção ao carro da tal recepcionista, Becky estava chorando, Charlie estava consolando-a, Natalie estava desesperada, Noah estava... Como ele sempre está, Tess estava rindo pois segundo ela : “É melhor rir do que chorar” Mas eu sei que ela está rindo porque está achando graça da situação.

De repente, Natalie para no lugar e olha para o carro.

– Que foi? — Pergunto.

– As janelas – ela diz ainda olhando o carro com os olhos arregalados – Puta que pariu, as janelas!— Ela corre até o carro.

– O que tem as janelas? — Charlie pergunta enquanto corremos até ela. Ela destranca o carro e abre a porta de trás. Automaticamente eu me lembro de uma coisa, o macaco. OMG, AS JANELAS ESTÃO FECHADAS! Natalie tira o macaco do carro, felizmente está vivo... E com uma garrafa de alguma bebida alcoólica, onde diabos ele arranjou isso?

– Putz, esse macaco é mais forte que eu – Charlie diz e eu sou obrigada a concordar.

...

Depois de uma breve discussão sobre o que poderíamos fazer nos nossos enterros - não - Noah foi levar o macaco para o abrigo no carro da tal recepcionista e nós fomos de volta para onde estávamos e a primeira coisa que reparei quando cheguei era que o prédio é horrível. Raridade aqui. Enquanto esperávamos Noah, eu fiquei fora do carro tentando me acalmar, se eu ficasse no carro junto com aquelas desesperadas eu iria acabar surtando mais ainda.

Daqui de fora eu ainda escuto os gritos de Rebeca. Isso tá começando a me dar medo. Quando vejo o carro azul se aproximando, vou até onde provavelmente ele vai estacionar.

– Ah, é você – Ele diz quando sai do carro.

– Não, imagina – ironizo – Sou uma prostituta, não está vendo?

– Não é isso – ele revira os olhos – Eu achei que fosse a recepcionista vindo cobrar o … — Ele para bruscamente, me deixando curiosa.

— “O” o quê? — Cruzo os braços, mas alguém me empurra para o lado e eu só tenho tempo de ver uma mulher de cabelos acobreados beijá-lo. Sabia que tinha alguma coisa nisso aí, quem em estado normal iria emprestar o carro de bandeja para um completo desconhecido?

Mas isso também tá errado... Ela emprestou o carro para um estranho em troca de um beijo? De um estranho? Cof cof piranha cof cof.

Ela corta o beijo, pega as chaves e vai embora. Cof cof piranha retardada cof cof.

– O que foi... — paro, não ia adiantar questionar, esse garoto é gostosamente estranho, sim, eu o chamei de gostoso, problem? — Quer saber? Esquece, vamos logo pra casa pelo amor de Deus – Vou até o carro e ele me segue.

É né, partiu morte certa.

Quando chegamos perto do carro, tudo o que ouço são gritos e isso me faz hesitar entrar dentro do carro, mas antes mesmo de eu tomar uma decisão, Charlie sai do carro e diz:

– Perdemos a Rebeca.

Arregalo os olhos.

– O QUÊ?!

– Eu não sei, ela disse que ia tomar um ar e não voltou mais e a Tess acabou de falar que viu ela correndo para o outro lado da rua, por entre os prédios.

Arregalo mais ainda os olhos, se é que isso é possível. Entro no carro.

– VOCÊ É RETARDADA?! - grito para Tess que toma um susto – Ah, não, espera, eu falei errado. VOCÊ É RETARDADA!

– PARA DE GRITAR! - Ela grita. Reviro os olhos ainda com raiva.

– PARA DE GRITAR VOCÊ! VOCÊ VIU ELA CORRENDO, POR QUE NÃO DISSE NADA?

Ela dá de ombros como se não fosse nada e eu fico com mais raiva ainda. Começo lhe dar tapas e ela revida e como eu estou no banco de passageiro e ela no de trás, fica uma confusão só. Sinto alguém me puxar e com esse “alguém” quero dizer Noah. Ele me tira do carro e me segura até eu conseguir me acalmar.

Já temos problemas demais por hoje e agora acabam de acrescentar mais um. Eu sabia que ia dar tudo errado, por que eu me deixei levar mesmo? Ah tá... ELAS IRIAM ME INFERNIZAR PELO RESTO DA VIDA E EU IA ACABAR MATANDO UMA. Mas agora também não é diferente pois eu também vou acabar matando uma e essa “uma” tem nome. Rebeca Halle Mckylle.