Newdreams escrita por Skydreamer


Capítulo 3
A Capital dos Doze Reis.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/482406/chapter/3

Dez minutos atrás, os garotos estavam cobertos pela noite na capital goiana e agora, inacreditavelmente como tudo que tinha acontecido em somente um único dia, tinham diante dos seus olhos o mar, ao leste algumas montanhas, e bem atrás, uma belíssima floresta com uma variedade de ipês colorindo-a completamente. Elizabeth os observava com seus olhos verdes e um quase imperceptível sorriso nos lábios comportados. Ambos estavam atônitos, observando tudo ao redor e Alex chegou a procurar aquela estrada a qual haviam atravessado, porém não a encontrou.

–Elizabeth... – pela primeira vez ela escutou seu nome sendo chamado por um dos garotos, este era Yuri – Como disse que se chama esse mundo?

–Newdreams.

–Significa “novos sonhos”, não é? – perguntou Alex.

–Oh, parece que me enganei ao pensar que ambos eram completos ignorantes. – ela disse sarcástica e Yuri estreitou-lhe o olhar, claramente se sentindo provocado – Mas não acho que seja esse o nome correto para esse mundo, embora esse nome tenha realmente partido do inglês. Digam-me, qual língua vocês estão falando agora?

–Português.

–Português, óbvio. – frustrou-se Yuri.

A mulher deixou uma risadinha escapulir e tapou rapidamente a boca com uma das brancas – e bem enfeitadas com anéis – mãos.

–Vocês não sabem. A verdade é que aqui, todos os idiomas da Terra são convertidos para o nosso único idioma predominante. Ou seja, se por acaso encontrassem alguém de Londres ou Paris nesse mundo, poderiam conversar entre si sem o menor problema.

–Que demais! – sorriu Alex, fascinado.

–Grande coisa. – Yuri revirou os olhos e começou a sacudir sua camisa preta – Esse sol, argh!

–Não queremos ficar aqui o dia todo. Melhor irmos logo. – Elizabeth os chamou com um gesto de mão.

Os três seguiram para o interior da floresta até encontrarem uma quase invisível trilha. Pétalas amarelas caiam lentamente sobre os cabelos loiros de Yuri, que estava fazendo uma careta horrorosa por saber que não adiantaria limpar até saírem daquela floresta e que mais lembrava a Cachinhos Dourados, por outro lado, pétalas roxas pousavam sobre o boné de Alex, que olhava abismado para tudo a sua volta enquanto caminhavam naquela já tortuosa trilha. Nenhum pássaro, nenhum vestígio de vida animal, o que para uma floresta era bem incomum.

–Por que essa floresta é tão vazia de animais?

–Essa floresta se chama Lar da Solidão de Primavera. Os animais simplesmente não se aproximam daqui, nem pelo céu, descendente do rei Hermes.

–Você fala sobre isso de descendente dos reis. Se for assim, somos príncipes. – zombou Yuri.

–Um príncipe precisa ser reconhecido de tal maneira pelos seus súditos. – Elizabeth pareceu mais preocupada e aflita ao dizer isso – E... Bom, acho que não é bem esse o caso. Mas... Vocês... – ela parou de andar e abruptamente os garotos também o fizeram – Vocês são as nossas únicas esperanças.

Ela voltou a andar e não disse mais nada, tampouco os garotos se atreveram a perguntar qualquer coisa, apesar de se entreolharem confusos. Ficaram sem jeitos, pois perceberam que aquele assunto realmente deveria ser sério e conhecendo um pouquinho dela, falaria assim que fosse necessário.

Quando a floresta finalmente teve um fim no trajeto, a trilha continuou através de uma ladeira e a visão era bem privilegiada. Uma cidade muito imponente, que parecia quase toda construída com pedras bem montadas, surgiu diante deles. Havia um considerável movimento que já era notável mesmo há duzentos metros de distância. Porém, conforme iam descendo a ladeira, os grandiosos muros de aproximadamente vinte e cinco metros que cercavam a cidade foram ocultando cada vez mais a vista de seu interior, deixando visível apenas o que havia através dos tão gigantescos portões de madeira e ferro que, se fechados, formariam o desenho de um enorme escudo redondo e um raio cortando-o transversalmente.

–O que acha disso? – murmurou Alex para Yuri, sorrindo entusiasmado.

–Acho que viemos parar na Idade Média. Cara, que sede!

–Qual é?! Se anima um pouco. – colocou as mãos atrás da cabeça, fazendo careta.

–É fácil falar quando se aguenta o sol com um boné.

Alex tirou o boné e ofereceu, mas logo voltou a coloca-lo quando gestualmente o amigo recusou.

–Tudo bem, já que não quer. Mas pelo menos tira essas pétalas do seu cabelo. – falou, segurando-se para não rir.

–O que? Argh!

Yuri ficou sacudindo os cabelos loiros e passando as mãos neles também, enquanto por fim o outro começava a rir da cena, para o seu desgosto.

Assim que chegaram próximo aos portões da cidade, viram que de ambos os lados haviam soldados em armaduras de metal que permitiam apenas a visão dos seus olhos. Eles seguravam lanças que pareciam ser bem afiadas e estavam de prontidão, bem parados de costas para a entrada, exceto um que foi imediatamente ao encontro de Elizabeth e os garotos.

–Identificação. – pediu o soldado com uma voz ameaçadoramente calma.

–Elizabeth de Atena. Missão número dois, quatro, dois, seis, dois, oito.

O soldado abriu a barbudas – a parte móvel do seu capacete responsável por proteger os olhos – e deu uma boa olhada nos garotos, analisando-os. Em seguida, ele marchou até uma mesa de madeira no canto direito do portão e dela pegou um pergaminho do monte organizado que ali havia. Alex olhou atentamente a cena e entendeu que talvez estivesse checando o que significava o número dois, quatro, dois, seis, dois, oito. Yuri, por sua vez, estava mais interessado no que dava para ver no lado de dentro dos portões.

–Podem passar, descendentes. – autorizou o soldado, batendo com o cabo da lança no chão e erguendo a cabeça enquanto os três adentravam.

A enorme rua de pedra parecia ser constante naquela cidade. De um lado, casas e lojas construídas com pedras e madeira, muito bem feitas. Do outro, a mesma coisa. Os garotos observavam a tudo e Elizabeth era a única que não dava atenção a nada que não fosse o trajeto e, a cada cinco segundos, uma espiada para confirmar se ambos ainda a seguiam. As pessoas daquele lugar, em sua maioria, pareciam camponeses pelo modo de se vestirem, exceto por alguns que trajavam armaduras, outros que vestiam túnicas e estranhamente haviam ali alguns animais que deveriam ser selvagens, se comportando como bichos de estimação, tais como leopardos, tigres, javalis e cobras.

–Qual é a desses animais? – indagou Yuri, ficando ao lado de Elizabeth.

–Depende. Talvez sejam animais domésticos de alguém. Ou talvez sejam druidas.

–Druidas? – Alex, que já estava do outro lado da mulher enquanto continuavam a caminhar.

–Pessoas que tem uma grande afinidade com a natureza. Quando muito talentosas, podem se transformar em algum animal.

–Uau! Bom, aposto que o Alex seria um bode. – debochou Yuri.

–Cala a boca! Você não pode falar isso, já que provavelmente seria uma mula teimosa.

–Quem você tá chamando de mula?

–Você. Uma mula feia, teimosa e de pelagem amarela.

–Parem já com isso! – repreendeu Elizabeth, sem necessariamente olhá-los – Ou eu coloco uma mordaça em ambos até chegarmos ao castelo.

–Castelo? – indagou Alex.

–Sim, castelo. Calem a boca e me sigam!

–Como é mal humorada. Aposto que isso é falta de... – Alex tapou imediatamente a boca do amigo com uma das mãos e quando Elizabeth os olhou, ele deu um sorrisinho para disfarçar.

–Segura a onda! – murmurou ele a Yuri, tirando a mão de sua boca antes que o garoto tentasse arrancar-lhe o braço.

Chegando em frente a um córrego, que poderia ser facilmente atravessado por uma pequena ponte, que não era surpresa ser de pedra, em formato de meia lua. As águas eram bem cristalinas e seguiam um curso tortuoso, desaparecendo de vista no que parecia ser um bueiro.

–Que tal um mergulho? – zombou Yuri.

–Que tal fechar a boca? – retrucou Alex, sarcástico.

–É uma ótima ideia, descendente de Hermes.

–Argh! Vocês são muito chatos.

Durante o resto do trajeto até o castelo, Yuri manteve um bico bem notável de frustração.

–Finalmente, chegamos. – anunciou Elizabeth.

Estavam diante a uma bem esculpida entrada, porém aquela mais parecia à parte detrás do castelo, que por sua vez era consideravelmente grande e majestoso, visto por fora. Tinha na torre central, a mais alta, uma bandeira com o mesmo símbolo dos grandes portões da entrada da cidade. As várias e largas janelas que ele possuía, em sua maioria, estavam cobertas por cortinas do lado de dentro.

–Dois, quatro, dois, seis, dois, oito. Missão bem sucedida. Eu mal posso acreditar nisso. – disse um homem que usava óculos rigidamente quadrados, tinha cabelos grisalhos, uma expressão simpática e um sorriso labial contagiante, sem falar que usava uma desgastada túnica cinza que arrastava cinco centímetros de tecido no chão, cobrindo mais da metade de seus pés calçados por uma sandália – Vocês são os descendentes dos reis Ares e Hermes. Sejam muito bem vindos ao castelo da Capital dos Doze Reis.

Os garotos olhavam para ele, cada um com uma expressão diferente. Yuri se perguntava a razão pela qual o homem sorria daquele jeito. Alex apenas observava receoso.

–Elizabeth, eles são tímidos?

–Não, eles...

–Tem água aí, tio?

–Tio? – indagou o homem, confuso.

–Ele quis dizer “senhor”. – explicou Alex.

–Tanto faz.

Elizabeth revirou os olhos e o homem começou a rir antes de responder.

–Toda a água que quiserem. Aposto que estão com fome também.

–E cansados. – completou Yuri.

–Exato. Me acompanhem!

Os três, incluindo Elizabeth, acompanharam o homem até o interior do castelo. As paredes também deixavam claro, assim como do lado de fora, que eram feitas de pedras muito bem montadas. Alex percebeu embaixo dos pés um grande tapete vermelho escuro, com alguns detalhes em dourado nas extremidades e o amigo estava mais focado nas armaduras recostadas nas paredes durante todo o trajeto. A cada cruzamento de corredores, haviam alguns soldados patrulhando, nada diferente daqueles que estavam na entrada da cidade.

–Bom dia, Conselheiro. – disse um dos soldados que de longe era o mais simpático que os garotos tinham visto.

–Bom dia! – respondeu de bom grado o homem que os guiava, então este olhou para os garotos – Estamos quase lá. Mandei que preparassem tudo assim que atravessaram a estrada das dimensões.

–Como sabia que já estávamos chegando, Alastor? – para a surpresa dos garotos, dessa vez era Elizabeth que estava com dúvida.

–Conseguimos reestabelecer a monitoração da parte do meio da estrada. Mas só é prudente monitorar meia hora antes e depois da abertura do portal para a Terra. – respondeu o homem, sem tirar do rosto o seu tão tranquilo sorriso.

Assim que chegaram em um grande salão, onde além dos belos quadros paisagísticos, um relógio bem antigo de parede que parecia funcionar perfeitamente e marcava exatas dez horas da manhã, havia uma grandiosa mesa com incontáveis cadeiras, talvez vinte, repleta de uma fartura maravilhosa de comida, bebida e o que Yuri tanto queria, água.

–Fiquem à vontade! – disse o Conselheiro Alastor.

–Nem precisa falar duas vezes. – sorriu um Yuri radiante, que logo em seguida bebia água antes mesmo de se sentar.

Alex, por outro lado, estava mais interessado no único quadro daquele salão que não era uma paisagem somente. Havia um homem velho, com o rosto coberto de cicatrizes que não perdoavam nem a sua completa careca, uma barba prateada que deixava claro não ter sido pintada por completo de tão grande e um bigode que praticamente lhe cobriam a boca. Seus olhos estavam abertos, mas as pálpebras estavam baixas e o olhar era penetrante.

–Quem é esse?

Elizabeth olhou para Alex e de boa vontade respondeu:

–O rei Richard de Hefesto. Ele é o nosso atual e único rei. Em outras palavras, um sobrevivente.

–O mais inacreditável é saber que uma só pessoa matou metade dos doze reis dessa geração. – complementou Alastor, suspirando.

Yuri, que dava fim em uma grande asa de frango assada, finalmente sentado em uma cadeira, olhou para o homem e engoliu antes de fazer uma pergunta.

–Não acho que esses reis sejam fracotes. E se não são, quem os matou?

Alex olhou do amigo para o homem que pareceu hesitante em responder a pergunta. Este por sua vez olhou para Elisabeth e ela assentiu, foi quando respirou fundo e respondeu:

–Seu nome é... Lilith, A Predadora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem! Isso ajuda bastante.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Newdreams" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.