Luz Noturna escrita por Frenzy Maah


Capítulo 1
One shot


Notas iniciais do capítulo

Há muito tempo que penso em escrever algo assim, mudando o ritmo de ficar só nas poesias. São apenas relatos de uma garota apaixonada, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.



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Eu podia ser loira, morena, ruiva. Alta, baixa, magra, gorda. Anormalmente linda ou feia. Eu podia ser rica, ser pobre, ser tudo ou não ser nada. Se eu quisesse poderia ter super poderes, ou não, ser qualquer besta mitológica. Não há nada que me impeça de ser o que eu quero. Eu poderia estar ali e aqui ao mesmo tempo, ou em qualquer outro lugar. 

Eu só preciso ser uma coisa, escritora.

Só é necessário saber arranjar e re-arranjar as palavras, combiná-las, criar harmonia entre elas, enfeita-las até que alguém as leia, então a história seria criada, um mundo, um amor, um conflito.

E nem dessa maneira posso escrever sobre nós. Nós não existimos. Nem em histórias de ficção. Aparentemente só posso lhe ter em sonho. E que não ousem ser relatados.
Nem manipulando as palavras eu posso ter você, não importa que seja apenas um conto ou minha imaginação, que dos seres, criou o mais perfeito.

Não. Eu não posso ter você. Isso ainda me mata.


                                                            ~//~

Ela estava rindo, aquela risada mais gostosa de todas, saudosa, mas a confusão por de tras daquelas risadas só era sentida por ela. Ainda que não entendesse como o riso ainda poderia ser dado com toda aquela dor que sentia, e era incrível como ninguém havia percebido.

Ela se despediu das amigas com um baita sorriso no rosto, mas só foi preciso meio segundo após elas virarem para que a máscara da dor se instalasse em sua face.

Já era um costume fingir que estava feliz e também necessário. Não precisava mais entristecer todos à sua volta, cansara de esconder as lágrimas, no entanto aguentar que outros aguentassem a dor por ela era ainda mais inquietante. 

- Já basta. - Murmurou para si.

De novo ela sentia o choro deixando sua voz embargada, mas não era aquela a hora de chorar. Não ainda. Por isso continuou andando rumo ao seu trabalho, ainda tinha alguns minutos livres antes de ter que entrar para aquela biblioteca vazia e quieta e não era de solidão que precisava no momento. Ainda dava tempo de parar no seu lugar favorito do centro de sua cidade.
Uma viela, onde costumavam abrir alguns bares, que agora já todos abandonados, ainda deixavam o lugar com uma paz inexplicável.
Caminhou até o seu banco favorito, sentou e acendeu um cigarro.

- Essa porcaria ainda me mata. - E com isso deu a primeira tragada do dia.

Para ela, era simplesmente calmo ficar ali, porém perigoso. Não havia mais novidade no lugar, ou qualquer coisa nova que lhe chamasse a atenção. Com isso, seus pensamentos se desprendiam muito rápido e nesses tempos, divagar era perigoso. Nada melhor para uma crise depressiva do que memórias e pensamentos obscuros sobre o futuro. 

Não, aquilo não era bom.

Ainda era difícil para ela entender como o céu e o inferno estavam tão próximos. Era a prova viva dessa contestação. Ora impossivelmente feliz, ora esmigalhada. Uma mente inquieta poderia aguentar quanto tempo nessas repentinas e constante mudanças?
Um arrepio subiu lhe a espinha quando pensou em nunca mais ter o extremo da felicidade. Era assim para ela, sempre oito ou oitenta.
Naquele seu esconderijo, desejou passar incólume àquela tarde. Mas estar acompanhada de sua mente extremamente fértil, não era exatamente estar sã e salva. Estava na hora de ir.

                                                            ~//~

Havia um livro aberto sobre a mesa, mas a leitora mal prestava atenção às palavras. Já devia fazer uns bons dez minutos que não virava a página.

"Maldita mente".

O pior de tudo era a espera. Os segundos se arrastando. Faltava muito ainda para a noite chegar, para enfim terminar o trabalho, juntar suas coisas e ir embora. Não que isso fosse bom, era horrível chegar em casa e ter que se ocupar com afazeres inúteis e depois deitar em sua cama e esperar que o sono viesse, obviamente ele nunca vinha.
Parece que ela estava fadada a conviver com seus pensamentos, seus amores, suas emoções. Durante o dia era assim, a noite não poderia ser diferente, mas podia ser pior. 

Ela sempre gostara da noite e isso era o que amenizava, a noite era fria, era quieta, a noite lhe pertencia. Assim ela não precisava fingir, não no aconchego do seu quarto.
Contudo, nos últimos tempos, não havia nada mais bonito que o nascer do sol, haviam motivos secretíssimos para que ela aprendesse a gostar.
A luz entrando sorrateiramente em seu quarto, iluminando o seu rosto, causando-lhe um turbilhão de emoções. Um torpor intenso. 

Era por isso que ansiava a saída do trabalho, sabia que alguns dias, ela poderia ver o sol nascer, mesmo que de longe, mesmo que vez ou outra, ainda tímido ele mal aparecesse para ela, o importante era que ele estava la, ainda que por tras das nuvens.
Talvez o sol gostasse de aparecer para ela, tanto quanto ela gostava de vê-lo. 
Ela gostava de acreditar nisso com todas as suas forças. Amava isso. 

"O seu sol, aparecia durante a noite."

Inebriante, inevitável. Ela se sentiria dessa maneira por longos meses, talvez anos. Mas quando a felicidade por ter o sol tão perto de si chegava ao ápice, ela esquecia o sofrimento.

- Finalmente. - Murmurou novamente.

Nos últimos tempos ela murmurava bastante, expressava seus pensamentos ao vento, quando não havia mais ninguém para escuta-la.

Quase correndo, saiu de seu trabalho, o sonoro som de seus passos não fazia muita diferença naquelas ruas agitadas, era apenas mais uma no meio de tantas outras pessoas.
Mais um cigarro. Aquilo provavelmente se tornaria algo que ela não pudesse controlar. 
Outro cigarro. Não ia ser tão cedo, mas se tornaria recorrente com o passar dos anos.

Do outro lado da rua a garota avistou alguns amigos. Não era isso que ela queria, talvez a sua luz noturna estivesse presente aquela noite, precisava ser ágil e chegar em casa a tempo, quanto mais tempo visse a luz, mais tempo duraria a felicidade.

Mas ela não foi rápida o suficiente, os garotos correram até ela.

- Quanto tempo!
- Sim, muito tempo! - Não custava nada ser simpática.
- Vem, senta com agente, relembrar os velhos tempos, cachaça e violão. - A risada dele tinha sido convincente o suficiente para a garota aceitar o convite. E quem sabe assim o tempo não fosse mais ligeiro?

Não ajudou, ela se sentia mais ansiosa do que antes, estava pior, ainda por cima tinha que fingir. Cigarro, outro cigarro, conhaque. A ansiedade só aumentava.

Ela já tinha desistido de ir embora, não adiantaria mais ficar em casa entregue à solidão.

Algo vibrava em seu bolso.
Ela pegou o celular já pensando que não veria nada de interessante, apesar de seu coração sempre fazer uma reviravolta em seu peito toda vez que o celular tocava. Era esse o motivo dele sempre estar no silencioso, embora ela mentisse para si que era menos chamativo o deixando silenciado, não era, era apenas para deixar mais claro que sempre seria daquela maneira, silencioso.

Não dessa vez. A mensagem continha três palavras, mais que o suficiente.

"Cade você? Saudades..."

A garota se despediu dos amigos e foi ao encontro da sua luz noturna.











 


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Notas finais do capítulo

Caso alguém leia isso, muito obrigada e se puder mandar um review =D Não perderás os dedos.
Sim, está cheio de metáforas, exageros e algumas "inverdades", ou não. =x