E: Heitor eu.. (chora) Eu tentei protegê-los.

Est: (gritando e chorando) Sua tentativa de nos proteger, nos fez sofrer durante todos esses anos.

E: Eu não queria que passassem pelo que eu passei quando Maria teve que ir. Sentir a dor que eu senti, a vergonha que eu...

H: Vergonha?

Maria estava ali, ela sabia que não poderia adiar mais toda a verdade, era uma aposta no escuro, na tentativa de fazer com que os filhos perdoassem o pai, eles poderiam odia-la, mas eles precisavam saber.

M: Sim, vergonha. (Heitor, Estrela e Estevão olham para ela, olhando para os filhos lágrimas dessem do seu rosto) Vergonha de ver sua mãe presa.

Est: O quê?

M: Essa era a parte da história que eu preferia que vocês não soubessem por ora, no entanto, não é justo privar vocês disso. Eu fui presa acusada injustamente, e por isso durante 10 anos me vi obrigada a ficar longe de vocês meus filhos.

Com um pesar no coração Maria revelou toda a verdade aos filhos.

H: Mas se você é inocente, porque a condenaram?

M: As situações eram bem distintas, naquela época não haviam provas concretas contra mim, mas o meu erro foi ir ao local e tocar na arma do crime, ninguém acreditou na minha inocência, nem mesmo aqueles que me amavam (com tristeza lança um olhar para Estevão). Eu fiquei sozinha e então me condenaram. Só anos depois, encontrei um ótimo advogado, ele me ajudou, buscou provas ao meu favor, me fez acreditar novamente que era possível ser livre e em fim conseguiu me libertar. Mas quando eu voltei, e que descobri tudo o que haviam falado à vocês, eu senti uma dor horrível, uma dor pior de quando eu fui presa. Vocês nem sequer sabiam que eu existia, minhas lembranças foram apagadas quando puseram o quadro daquela mulher. Eu fiquei desesperada, minha vida não fazia mais sentido, eu queria voltar para minha cela, eu queria não poder respirar, porque eu não queria viver sem vocês, eu não suportaria isso. (chorava descontroladamente) E então Estrela apareceu, eu não sabia que era a minha filhinha, mas instantaneamente senti minhas forças sendo renovadas, meu coração voltou a pulsar quando ela me abraçou. (à Estrela) Você me devolveu a esperança meu amor, você foi minha luz, naquele momento eu queria tê-los de volta, para poder tê-los nos meus braços, e eu senti que isso era possível. Não sei em que momento eu entendi o porquê Estevão fez tudo isso. Mas eu fui capaz de perdoá-lo porque entendi que era o melhor para vocês, eu não queria que tivessem crescido sem mim, mas não queria que crescessem visitando sua mãe na prisão, não queria que passassem por esse sofrimento.

Est: Mas como podemos entender isso mamãe? Ninguém podia escolher isso por nós. Eu preferiria mil vezes ter que visitá-la na prisão do que visitar um tumulo que nem era seu. Isso foi pior que tudo.

H: Estrela tem razão. Papai não tinha esse direito. Inventou uma história terrível, e a alimentou ano após ano. Não vê o quanto foi cruel comigo, Estrela e com a mamãe?

E: Eu sei que nada justifica o quanto eu errei com vocês. Eu tentei protegê-los e magoei a pessoa que mais amava no mundo (olha para Maria).

H: Como pode dizer que a amava? Você não foi capaz de acreditar nela, você a abandonou nunca cadeia. Não tem o direito de dizer que a ama.

M: Heitor, está sendo muito duro.

H: Não mãe, não posso aceitar isso.

E: Tem razão Heitor, eu mereço tudo o que está dizendo, só muito tarde percebi meu erro, mas não podia voltar atrás, não sabe o quanto eu me arrependo de ter feito isso. Foi a pior coisa que eu fiz, eu expus meus próprios a um sofrimento terrível, eu abandonei a minha esposa quando ela mais precisa de mim, e fui cruel comigo mesmo que não podia viver sem ela. Eu sou culpado, o único culpado, e eu aceito isso, mas se me equivoquei, se eu errei foi por amor. Não sei como posso pedir perdão.

Est: Não sei se podemos perdoar você papai.

E: Estrela! Heitor!

H: (abraçando-se com Estrela) Não! Não nos peça isso, não sabe o mal que nos fez. Não podemos perdoa-lo agora, sinto muito! (puxando Estrela pelo braço e saindo do quarto)

E: (atônito) Maria! Eu os perdi.

M: (abraçando-o) Não meu amor, eles precisam de tempo Estevão.

E: (Ainda abraçado a ela vai escorregando até o chão) Não Maria! Não posso suportar perdê-los, não posso perder você.

M: (acariciando seus cabelos) Você não vai me perder, nunca mais. Nós vamos conseguir juntos. Deixa eles se acalmarem.

E: Eles me odeiam, não vão me perdoar, e o pior é que é isso que eu mereço. Eu só estou pagando pelo que eu fiz Maria, eu não mereço ser feliz.

M: Não fala isso nunca mais, eles não te odeiam, eles te amam, estão confusos porque tudo foi muito rápido, mas vão acabar compreendendo. Vamos dar um tempo para pensarem. Eu vou ficar aqui com você está bem?

E: Não Maria! Vai vê-los, eles precisam de você agora.

M: (segurando o rosto dele com as duas mãos) Tudo bem, eu vou. Mas não esqueça em momento algum que eu te amo, dissemos que venceríamos tudo juntos lembra? E assim vamos ficar: juntos! Não importa que tentem nos separar, permaneceremos unidos. Nossos filhos estão confusos e magoados, mas vão superar isso. Seremos mais uma vez uma família, não temeremos que nada e nem ninguém atrapalhe nossa felicidade. (o beija e sai do quarto)

Maria os procurou em toda casa porém não os encontrou. Então foi até o jardim, e os viu sentados em um pequeno banquinho olhando para o céu.

M: (Vendo-os ali teve algumas recordações) Esse é meu lugar favorito de toda a casa.

H: (sorrindo) Nós sabemos.

M: (sentando-se com eles) Ah é? E como sabem?

Est: Papai não mentiu quanto a isso. Ele nos falou.

M: Sério?

H: E agora que a conhecemos e sabemos da verdade, temos que concordar com ele. Você é tudo e talvez mais do que ele falava. Ele costumava dizer que você era a melhor das mulheres, que nos amava mais que tudo, e que era extremamente linda.

M: Oh meus amores. (emocionada com a revelação dos filhos) Por isso devem perdoá-lo, para Estevão também foi difícil, ele os ama demais, por isso pensou estar fazendo o certo.

H: É aí que tudo se complica, sabemos que ele nos ama, mas também a amava ou ainda ama, percebíamos isso na forma como ele falava de você, seus olhos brilhavam, não dá para entender como ele pôde abandoná-la, como foi capaz de apagar tudo em relação a você.

Est: Por isso não podemos simplesmente dizer que o perdoamos se não sentimos isso. Papai nos fez muito mal com essa história, ele tanto mentiu como também pôs outra pessoa no seu lugar. Isso foi terrível demais.

M: Eu compreendo, e não vou forçar vocês a nada, só peço que pensem bem.

H: Já pensamos, e decidimos que por ora não queremos ficar aqui.

M: O quê?

Est: Queremos que nos leve com você.

CONTINUA...