Tomoeda High escrita por Uma Qualquer


Capítulo 14
Feira Mística




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/481738/chapter/14

Os movimentos fluidos da gueixa hipnotizavam a plateia, que assistia encantada a apresentação.

Syaoran e Sakura tinham sido atraídos pelo som das cordas do shamisen, que uma mako tocava para a gueixa dançar. Era um som bonito, a jovem pensou admirada. Jamais ouviu de perto algo parecido. Apenas ao final da apresentação, quando as cordas pararam e o único ruído era o que vinha da multidão, todos aplaudiram.

– Lindo, não é? –uma garota de sorriso gentil falou com os dois.

– Rika! –Sakura e Syaoran a cumprimentaram. – Chegou tem muito tempo?

– Um pouquinho só. Eu saí no intervalo entre as danças pra ver se achava alguma das meninas, mas não encontrei ninguém...

– Estavam todos aqui um momento atrás, mas a gente acabou se perdendo deles... Vamos dar uma procurada?

Com os cabelos presos num coque, brincos de pérola e um vestidinho solto em vez do kimono, Rika parecia estranhamente mais velha. Sakura então percebeu que havia uma maquiagem leve no rosto dela, e usava um perfume mais doce que o de costume. Será que tinha se arrumado assim para encontrar alguém?

Sakura se sentiu meio frustrada. Ela mesma não havia feito nada tão especial para encontrar Syaoran. Esqueceu de por perfume e sequer passou um brilho nos lábios. Lembrando do acabamento perfeito na maquiagem pesada da gueixa de minutos atrás, pensou se já não era hora de largar aquele desleixo de criança e se cuidar mais. Não queria que Syaoran namorasse uma garotinha destrambelhada que nem sabia o que era um primer.

“Será que Rika sabia o que era?” Sakura pensou em lhe pedir ajuda assim que a encontrasse na escola. Tomoyo poderia ajudar também, mas Rika parecia entender melhor do assunto. Naquela noite, ela estava realmente parecendo uma mulher de verdade.

– Olha vocês aí– Chiharu exclamou, acenando para eles ao longe.

Estavam diante de um tablado longo, onde um grupo de tambores tradicionais se apresentava. O som vigoroso e ritmado abafava qualquer conversa normal, de forma que eles precisavam gritar para ouvir uns aos outros.

– Você tá linda, Rika-chan– falou Naoko.

– Obrigada, você também!

– Nós te vimos mais cedo, mas você parecia ocupada.

Todos ficaram em silêncio, assistindo a apresentação enquanto Rika enrubescia mais e mais.

Ao final da apresentação, enquanto todos aplaudiam, uma voz anunciou pelos megafones que a queima de fogos começaria em dez minutos.

– Vamos procurar um lugar pra poder assistir– Syaoran disse no ouvido de Sakura. Diante do olhar interrogativo dela, ele acrescentou: –Um lugar só pra nós dois.

Ela sorriu, tímida e animada. Pegou a mão que ele lhe estendia e os dois sumiram de vista, antes mesmo que os outros percebessem.

O caminho que levava ao santuário passava por uma seção do festival que parecia destoar um pouco do evento. Naquele corredor as barracas eram mais fechadas, parecidas com tendas. Os artigos vendidos eram estranhos, a maioria desconhecidos a Ciel, mas muitos ele reconhecia como artefatos místicos. Havia menos clientes perambulando por ali, e o ruído que vinha da multidão adiante chegava como um leve murmúrio. A calma e o mistério pairavam sob a brisa fresca, que carregava odores de diferentes incensos.

Por algum motivo, aquele lugar perturbou Ciel. Sem perceber ele agarrou a mão de Sebastian, que longe de se surpreender, apertou com segurança a pequena mão. Ele também não estava gostando nada daquele local.

– A escadaria, jovem mestre– sussurrou, apontando a construção adiante.

A presença emanava dali, antes efêmera, agora forte como nunca. Ambos apressaram o passo, subindo os degraus rapidamente.

Assim que chegaram ao pé da escadaria, deram com um pátio extenso e vazio. Exceto por uma gigantesca cerejeira, se erguendo bem diante deles, plena em sua floração apesar da época do ano. As milhares de pétalas rosadas eram estranhamente luminosas, lançando um halo sobrenatural ao redor da árvore.

– É ela– Ciel murmurou.

Uma rajada de vento levou varias pétalas de encontro ao rosto do garoto. A sensação foi de lábios suaves e perfumados tocando sua pele. Ele afastou as pétalas, corando levemente.

– Você não cresceu muito– a voz, vinda da cerejeira, era doce e juvenil, e por sinal um tanto familiar. – O contrato com o vampiro deveria deixá-lo mais forte, mas parece estar sugando suas forças...

– Para alguém que me deixou órfão, você se preocupa bastante comigo– Ciel respondeu secamente.

Um suspiro de insatisfação ecoou no ar.

– Eu não o deixei órfão, Phantomhive-kun. Apenas cumpri a vontade de seus pais.

– Acha mesmo que eu acredito nisso? –ele exclamou indignado.

– Bom, eu não me importo com o que você acredita. Só espero que, enquanto eu estiver aqui, nem você nem o seu tutor descumpram as regras de Tokyo.

– Então você pretende ficar? –Sebastian indagou, interessado. –Bem, nesse caso, esperamos de você a mesma coisa.

Ciel olhou para o homem, sem entender. Ele apenas sorriu levemente, voltando-se para a árvore.

– Por ora isso é uma trégua, então– concluiu. –Mas chegará um momento em que meu mestre desejará acertar contas com você. E isso, regra de lugar algum poderá impedir.

– Espero que ele não seja tão imprudente– a voz agora tinha um tom risonho. –De qualquer forma, estarei pronta.

Ciel ia retrucar, mas percebeu as pétalas desgarrarem-se dos galhos lentamente, subindo aos céus como uma grande nuvem rosada. Ao chegar a certa altura, a nuvem dispersou-se numa explosão, formando o traçado de uma flor de cerejeira no céu, como se fosse criada por fogos de artifício.

– Jovem mestre– Sebastian exclamou.

Ciel havia caído no pátio, desmaiado.

O local que Syaoran escolheu era um playground, na parte mais alta do parque. A vista era ótima, mas como aquele local era bem afastado do resto do festival, havia poucas pessoas ali.

Quando respondeu que não tinha medo de altura, Sakura viu Syaoran apontando para a montanha de aros quadrados de ferro, que as crianças costumavam escalar e se pendurar. Ele subiu rapidamente e sentou-se no topo, e só então percebeu que, com seu kimono, suas sandalinhas altas e sua falta de jeito natural, Sakura jamais conseguiria chegar até ele.

– Vem cá– ele desceu e segurou em sua cintura.

Para ele parecia tão fácil erguê-la no ar. A menina ficou sem fôlego, literalmente, sentindo as mãos dele levantarem seu corpo. Afinal chegou ao topo, e Syaoran a alcançou em poucos segundos.

– É mais fácil pra você subir– ela comentou casualmente, tentando esconder o nervosismo. –Mesmo estando de kimono também.

– Né –ele respondeu numa voz baixa. – Ainda bem. Se não fosse, eu nunca ia poder te segurar daquele jeito.

Estavam ambos corados, embora mal se visse na pouca iluminação do playground. Era a primeira vez que ficavam realmente a sós. Na escola ou fora dela, sempre tinha alguém por perto. Sem saber o que fazer, Sakura baixou a cabeça, as mãozinhas sobre o colo, torcendo para que Syaoran falasse ou fizesse alguma coisa logo. Senão, ela ia acabar pirando.

Será que todo primeiro encontro é assim?

– Olha– ouviu-o dizer e ergueu o rosto. Ele apontava para o céu, onde se viam algumas estrelas. – Aqui na cidade é difícil ver muitas delas, com toda essa iluminação e tudo mais. Mas em lugares desertos é melhor. Desde que a gente esteve naquela praia, fico pensando em como seria, ver o céu da noite lá.

Ele parecia tranquilo, ou ao menos mais tranquilo que ela. Sakura tomou coragem e pôs sua mão sobre a dele.

– Nós dois... Nós dois vamos ver um dia! –prometeu.

Parecia séria e fofa ao mesmo tempo, com toda aquela determinação no olhar. Mas Syaoran acreditou nela. Acreditaria sempre.

– Vamos sim– ele sorriu de lado, acariciando o seu rosto.

Podia sentir a mão dela estremecendo sobre a sua, a face suave e quente, o modo ansioso com o qual ela lhe fitava. Podia sentir o quanto estava apaixonado por ela, só de apreciar aquele instante. Como que para selar a promessa, ele segurou o queixo delicado e o puxou devagar para seu rosto, colando os lábios aos dela.

Aquilo era bom, Sakura pensou, o coração palpitando. Os lábios dele, quentes e macios, entreabriram os dela com cuidado e o beijo se aprofundou mais. A essa altura ela já não percebia mais nada, além deles dois. Entregou-se ao rapaz devagar, sentindo seu gosto, consciente do seu perfume e do seu calor e de como eles a envolviam completamente.

Ao final eles trocaram um selinho demorado, quase começando tudo de novo. Mas estavam ficando sem ar, e precisavam dar um tempo para seus corações voltarem a bater normalmente.

– Ah, olha– Syaoran exclamou, apontando para o céu. – Acho que já começou!

Um dos fogos de artifício acabava de ser lançado. Tinha a forma perfeitamente elaborada de uma flor de cerejeira em vários tons de rosa. Enquanto ele reluzia e se desmanchava no céu negro, Syaoran pensou no quanto ele parecia ligeiramente diferente dos outros fogos que já viu na vida.

Sentiu então um peso repentino ao lado do ombro, e apressou-se em segurar a namorada. Por algum motivo, Sakura havia apagado de repente.

– Eles estão caprichando bastante esse ano– comentou Yamazaki.

Os outros concordaram. Depois que a flor rosada se desfez no ar, outros fogos começaram a explodir, envolvendo o céu numa sucessão mágica de cores, formas e luzes. A multidão ficou a admirar o céu por vários minutos, encantada.

– Não estou vendo o moleque – Touya observou.

– Cara, relaxa um pouco– Yukito riu. – Eles estão assistindo em algum lugar. Daqui a pouco a gente encontra eles. Agora tenta aproveitar o espetáculo um pouco.

– Se você diz– ele respondeu de cara fechada. Mas sua mão buscou a do rapaz e se entrelaçou à dele, sob os kimonos. –Pensando bem, é a primeira vez que nós dois vamos a um festival juntos.

– É mesmo. Como está sendo, pra você?

Touya pensou por um momento.

– Não consigo parar de pensar naquele moleque, sozinho com a minha irmã.

– Você não tem jeito mesmo– o mais baixo riu novamente, e apertou com firmeza os dedos dele nos seus. – Mas mesmo com a sua paranoia, você é uma companhia agradável pra mim.

– Fico feliz de ouvir isso.

No entanto, Tsubasa compartilhava a mesma preocupação. A queima de fogos havia acabado e não havia nem sinal daqueles dois. Pior, ele sentia apenas a presença de Syaoran, um pouco distante dali. Tentou aparentar naturalidade enquanto seguia o grupo, que tinha resolvido fazer uma visita ao santuário.

– Olha, a feira mística! – Naoko puxou a manga da roupa dele. –Aquela que eu te falei, Tsubasa-kun. Onde comprei aquele caderninho.

– Sério? –ele olhou ao redor. –Realmente, uma feira só de artigos místicos. Será que a gente encontra o cara que te vendeu aquele?

– Não sei, mas a gente pode procurar.

Mas ela acabou se perdendo numa banca de revistas de contos de terror, enquanto Chiharu e Yamazaki pararam numa tenda de amuletos para namorados.

– Não era para a Sakura e o seu irmão estarem de volta? –Tomoyo indagou, preocupada.

– Pois é– Tsubasa soltou um ruído de impaciência. –Espero que ele saiba o que está fazendo.

– Tomara que nada tenha acontecido – Rika comentou, uma leve aflição na voz.

Tomara mesmo, Tsubasa pensava enquanto passava pelas diversas tendas, vendo as tabuletas delas distraído. Ilusionistas e bailarinas se apresentavam ao ar livre, ao som de bandolins e violinos. Havia uma dezena de lugares onde se adivinhava a sorte, por meio de leitura de mãos, de cartas, de bolas de cristal e outros. Havia livros e mangás de misticismo a cada duas tendas que ele passava. Havia centenas de filtros dos sonhos e amuletos para proteção contra diversos males, poções, ervas e artefatos para as mais variadas magias. E havia objetos que ele nem desconfiava o que fossem.

Ia olhando para as bancas, distraído, quando afinal uma figura capturou sua atenção. A gravura de uma coruja, na trama da capa de um pequeno bloco de anotações.

Ele ergueu o olhar para o vendedor, e afinal entendeu quem era o tal cara loiro e bonito de quem Naoko tinha falado. Por sinal a garota o reconheceu de longe, e correu ao encontro deles. Vendo o olhar que trocavam, no entanto, ela ficou confusa.

– Vocês... Se conhecem?

– Só conheço ele de vista– Tsubasa respondeu, quase sem piscar. –Fai-san, não é mesmo?

– Isso– o homem jovem sorriu. –E se você tem os olhos iguais, deve ser Tsubasa-kun, certo?

– Meu sensei falou de você. Mostrou uma foto de quando vocês eram mais novos.

– Puxa, eu nunca ia imaginar que ele ia guardar algo assim– ele debruçou-se sobre a banca, fitando Tsubasa com interesse. – E como está o Kuro-san?

– Está bem. E vivo– ele respondeu secamente. No fundo, queria acrescentar “não graças a você”.

Os olhos de Fai reluziram, um brilho vermelho que mesmo Naoko não pode deixar de ver.

– Então me faça um favor– disse suavemente. –Diga a ele que também estou bem. E vivo. Graças a ele, claro.

Tsubasa cerrou os dentes e se afastou, seguido por uma Naoko um tanto assustada.

Sebastian abria caminho entre a multidão, com Ciel adormecido em seu colo. Como não havia sido o vampiro a apagá-lo, não tinha o poder de lhe despertar a mente. Só podia esperar que ele acordasse agora.

Ao longe, ele também viu outra pessoa com alguém nos braços. Syaoran corria aflito, procurando por alguém, com Sakura desacordada em seu colo.

– As coisas deveriam estar fazendo sentido agora– disse para si mesmo. –Mas por que será que ainda não fazem?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Todos desmaia nesse capítulo aushshashashss
Enfim, obrigada a vocês que leem e acompanham essa fic, especialmente vocês que comentam e me motivam a não desistir de publicá-la. Agradeço de coração!
Se puderem comentar e dizer o que estão achando da fic, agradeço ainda mais. Té maisinho!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tomoeda High" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.